WRC: história do Rali da Acrópole/Grécia

Por a 7 Setembro 2024 10:42

O primeiro Rali da Acrópole teve lugar em 1951 e tornou-se uma ronda do Campeonato do Mundo de Ralis em 1973. Colin McRae venceu-a com um recorde de cinco vezes.

O Rali da Acrópole, também conhecido como Rali da Grécia, é uma das provas mais icónicas e desafiadoras do Campeonato Mundial de Ralis (WRC). Realizado pela primeira vez em 1951, o evento tornou-se parte do calendário do WRC em 1973, sendo um dos membros fundadores do campeonato.

A prova tem uma longa tradição, tendo começado ainda na década de 1950, num período em que o marketing dos eventos já visava atrair competidores para locais de interesse turístico. Isso ajudou a consolidar o Rali da Grécia como um evento de destaque no cenário internacional. O evento é conhecido pelos seus troços difíceis e terrenos acidentados, o que o torna um dos mais exigentes do WRC.

No início o Rali Acrópole era um evento maratona, e decorria em alguns dos terrenos mais desafiadores da Grécia. Nos anos 70 e 80, o rali passava por locais emblemáticos como Kalambaka e Meteora, nas proximidades do Monte Olimpo, Ática, Grécia Central e até o Peloponeso. A largada tradicional ocorria sob a icónica Acrópole em Atenas, com a cerimónia de encerramento no Estádio Panatenaico.

As dificuldades do Rali da Acrópole eram notórias. O terreno montanhoso e as estradas de terra são desafiadores tanto para os pilotos quanto para os veículos.

O Rali da Acrópole é visto como um teste de resistência e habilidade, sendo um marco importante para os pilotos que buscam se destacar no WRC. A sua inclusão no campeonato desde 1973 reforça a sua importância e tradição no mundo dos ralis. A prova é uma oportunidade para os pilotos demonstrarem as suas capacidades em condições adversas, e vencer na Grécia é considerado um feito significativo na carreira de qualquer piloto de rali.

Além disso, o rali tem sido palco de momentos históricos e emocionantes ao longo dos anos, contribuindo para a rica história do WRC e para o desenvolvimento do desporto como um todo.

História resumida do Rali da Acrópole

O Rali da Acrópole sempre foi conhecido pelas difíceis estradas, nos primeiros anos da prova os efeitos da guerra ainda não tinham passado, mas curiosamente começou por ser em asfalto. Ou algo parecido…

Já nos anos 50, os organizadores foram acrescentando estradas de terra, o que mais havia na Grécia.

E com isso depressa a prova se tornou num dos mais conhecidos e difíceis e já começava e terminava junto da Acrópole.

Uma coisa tornou-se hábito na primeira década da prova: a maioria dos concorrentes acabavam o rali bastante cedo, abandonando a prova.

Na década de 1970, o Rali da Acrópole passou a ter cada vez mais troços cronometrados, mas a sua característica de prova de resistência manteve-se. Em 1980 a prova teve 55 troços!

Para lá de 1974, quando foi cancelado devido a uma crise petrolífera, e 1995, quando foi apenas uma ronda da Taça de dois litros da FIA, permaneceu no WRC até 2009, esteve ausente em 2010, regressou em 2011, mas voltou a sair no final de 2013, após o que se tornou uma ronda do Campeonato Europeu de Ralis.

Em 2005, a Acrópole foi nomeada Rally do Ano, na sequência de uma super especial de enorme sucesso num Estádio Olímpico lotado, em Atenas.

Colin McRae é o mestre da Acrópole com cinco vitórias entre 1996 e 2002.

Ganhou duas vezes num Subaru Impreza antes de um hat-trick de vitórias de 2000 num Ford Focus. Outros vencedores incluem os antigos campeões mundiais Walter Röhrl, Björn Waldegård, Ari Vatanen, Miki Biasion, Juha Kankkunen, Carlos Sainz e Sébastien Loeb.

A Ford lidera o livro de honra dos fabricantes com 13 vitórias. Desde o regresso em 2021, a Toyota ganhou duas vezes e a Hyundai, uma, em 2023, com um 1-2-3…

Os pilotos continuam a dizer que o Rali da Acrópole está mais duro do que nunca, mas não é verdade. Pelo menos tão verdade quanto o era no passado. Mas continua duro. Há rochas muito grandes e como sempre apenas os carros mais fiáveis vão sobreviver.

Provavelmente, alguns dirão que alguns troços são piores do que o Safari.

O que todos concordam é que é o rali mais duro do ano. Bem pior que a Sardenha ou Portugal. Como em todo o lado, o asfalto avançou na Grécia, o que reduziu a escolha de troços, mas também significou duas coisas: muitas das estradas de terra foram arranjadas, mas muitas mais ficaram ainda muito mais ao total abandono. Resta saber quais as que foram escolhidas para esta prova do WRC.

Até 1986, sem dúvida os furos e os danos nos carros determinavam o destino das provas, mas depois da Michelin ter desenvolvido pneus ATS que eram, em teoria à prova de furos, o Rali da Acrópole foi-se tornando um rali bem diferente, muito mais rápido que duro, sem nunca ter deixado de o ser.

Alguma história e curiosidades

Numa das edições da prova, Colin McRae foi desclassificado por “comportamento antidesportivo”. Durante o rali, após os vedantes do turbo do seu Subaru serem verificados, o capot não foi devidamente fechado pelo Comissário, e levantou-se, quebrando o para brisas no troço, numa prova que Colin McRae liderava. Quando os Comissários exigiram que trocasse o para brisas por segurança, McRae resistiu, para não perder a sua posição na estrada. Isso atrasou o rali em 30 minutos. Mais tarde, os Comissários decidiram que McRae havia causado esse atraso deliberadamente e desclassificaram-no…

No Rali da Acrópole de 1981, a Audi, nos primórdios do desenvolvimento do Quattro, enfrentou problemas de sobreaquecimento no calor grego. Para mitigar isso, a equipa modificou os faróis dos carros para melhorar o fluxo de ar para o radiador, e essas alterações foram inicialmente aprovadas nas verificações, mas a meio do rali, com Hannu Mikkola na liderança, os comissários Técnicos reavaliaram os carros e declararam as modificações ilegais, incluindo as baterias auxiliares. E desclassificaram a Audi, que tentou recorrer, mas foi obrigada a retirar-se do evento e voltar para casa.

Após uma interrupção entre 2014 e 2020, em 2021 o Rali Acrópole regressou ao Mundial de Ralis, com a cidade de Lamia como anfitriã. Entretanto, a prova já recuperou o status lendário do evento no WRC e o Rali Acrópole continua a ser um dos eventos mais aguardados e desafiadores do calendário.

A segunda edição do Rali da Acrópole foi ganha por um Chevrolet conduzido por uma personagem extraordinária chamada Johnny Pesmazoglou, que tinha uma particularidade muito estranha.

O seu Opel tinha um sistema de som com altifalantes atrás do banco, que ele tinha inventado que passava por fazer os reconhecimentos e ditar notas para o gravador, para depois as reproduzir durante o rali. E porquê? Porque odiava navegadores…

Pilotos de ralis com mau feitio há muitos, mas que se possam dar ao luxo de dispensar os próprios navegadores simplesmente por não gostar da sua figura, deve haver poucos. Johnny Pesmazoglou era um deles. Venceu duas edições do Rali de Acrópole, mas muito provavelmente, com o co-piloto mais tempo calado do que a ditar notas!

Johnny Pesmazoglou já não está entre nós, mas ganhou duas vezes o rali mais importante da Grécia, o mesmo que hoje chamamos de Rali de Acrópole. Com os amigos, esse foi também o evento que ajudou a criar no início dos anos 50, tanto na perspetiva de diversão pessoal, como na perspetiva de o tornar como uma das clássicas do desporto motorizado.

A sua posição na Grécia era bem vista pois detinha os direitos de importação para a GM. Nunca ganhou Acrópole depois de 1955, mas continuou a tentar por mais 30 anos, sempre ao volante dos mais recentes carros da GM e sempre com atritos com navegadores.

O ódio aos navegadores!

Era irascível para os organizadores. O seu mau feitio nunca passava despercebido e a imagem de ‘mau rapaz’ era quase de marca, pois só sabia fazer as coisas à sua maneira. Mas a principal curiosidade que rodeava a sua carreira tinha a ver com os navegadores. Simplesmente, detestava-os! Na sua opinião, a única função dos navegadores era… preencher uma parte do regulamento!

E várias vezes lhe foi feita a pergunta: mas não precisa de conhecer antecipadamente a estrada por onde vai passar? Ele alegava que conhecia todas as estradas da Grécia! E também lhe costumavam perguntar se não precisava de notas? E ele respondia que tinha as suas próprias notas. E como lia então as notas enquanto guiava? Em determinado ano, ele abriu a porta do seu Ascona e mostrou o seu interior. Altifalantes ligados a um gravador e botões no volante deram a resposta por si. Para si, era a prova de que os navegadores eram desnecessários.

Nos seus últimos anos como piloto, o jovem condenado a sentar-se ao seu lado era Haris Kaltsounis, que foi trabalhar para a GM de Atenas, antes de ‘virar’ piloto, onde conseguiu ser mais respeitado do que como co-piloto ao lado de Pesmazoglou.

A última aparição de Kaltsounis foi ao volante de um Corsa S1600, um modelo que estava desatualizado com 10 anos de idade, mas a GM não tinha nenhum modelo competitivo mais recente. Tal como Pesmazoglou, a Grécia também não tem idade.

Bruno Magalhães venceu o Rali da Grécia

No seu perído fora do ERC a prova esteve no Europeu de Ralis e Bruno e Hugo Magalhães fizeram história ao vencer a prova em 2018, naquela que foi o seu regresso às vitórias no Europeu de Ralis. Numa prova muito difícil, devido ao estado dos pisos, a dupla lusa manteve a calma e quando se viu na dianteira da prova, depois de fugir de armadilhas que outros não conseguiram, soube manter um ritmo propício e adequado ao desfecho que agora asseguram, para Bruno Magalhães: “Por vezes os sonhos tornam-se realidade, e venceu o Rali da Grécia é para mim fantástico. Agradeço aos meus parceiros por terem acreditado em mim estes anos todos, e dedico este triunfo a eles e à minha equipa”.

Palmarés

Ano Vencedor Carro Média

1973 Therier, Jean-Luc Renault-Alpine A110 1800 69.06 km/h

1975 Rohrl, Walter Opel Ascona 62.08 km/h

1976 Kallstrom, Harry Datsun Violet 82.10 km/h

1977 Waldegard, Bjorn Ford Escort RS1800 80.25 km/h

1978 Rohrl, Walter Fiat 131 Abarth 73.31 km/h

1979 Waldegard, Bjorn Ford Escort RS1800 69.44 km/h

1980 Vatanen, Ari Ford Escort RS1800 73.01 km/h

1981 Vatanen, Ari Ford Escort RS1800 72.13 km/h

1982 Mouton, Michele Audi quattro 74.94 km/h

1983 Rohrl, Walter Lancia Rally 037 74.67 km/h

1984 Blomqvist, Stig Audi quattro A2 74.47 km/h

1985 Salonen, Timo Peugeot 205 Turbo 16 78.45 km/h

1986 Kankkunen, Juha Peugeot 205 Turbo 16 E2 78.01 km/h

1987 Alen, Markku Lancia Delta HF 4WD 72.34 km/h

1988 Biasion, Massimo Lancia Delta Integrale 74.62 km/h

1989 Biasion, Massimo Lancia Delta Integrale 78.30 km/h

1990 Sainz, Carlos Toyota Celica GT-4 (ST165) 77.04 km/h

1991 Kankkunen, Juha Lancia Delta HF Integrale 16v 80.14 km/h

1992 Auriol, Didier Lancia Delta HF Integrale 78.32 km/h

1993 Biasion, Massimo Ford Escort RS Cosworth 78.93 km/h

1994 Sainz, Carlos Subaru Impreza 555 76.17 km/h

1996 McRae, Colin Subaru Impreza 555 77.58 km/h

1997 Sainz, Carlos Ford Escort WRC 81.55 km/h

1998 McRae, Colin Subaru Impreza WRC98 82.87 km/h

1999 Burns, Richard Subaru Impreza WRC99 86.33 km/h

2000 McRae, Colin Ford Focus WRC 00 78.87 km/h

2001 McRae, Colin Ford Focus RS WRC 01 82.46 km/h

2002 McRae, Colin Ford Focus RS WRC 02 83.85 km/h

2003 Martin, Markko Ford Focus RS WRC 03 81.12 km/h

2004 Solberg, Petter Subaru Impreza WRC2004 81.07 km/h

2005 Loeb, Sebastien Citroen Xsara WRC 82.94 km/h

2006 Gronholm, Marcus Ford Focus RS WRC 06 90.24 km/h

2007 Gronholm, Marcus Ford Focus RS WRC 06 87.48 km/h

2008 Loeb, Sebastien Citroen C4 WRC 84.68 km/h

2009 Hirvonen, Mikko Ford Focus RS WRC 09 81.94 km/h

2011 Ogier, Sebastien Citroen DS3 WRC 85.51 km/h

2012 Loeb, Sebastien Citroen DS3 WRC 87.10 km/h

2013 Latvala, Jari-Matti Volkswagen Polo R WRC 87.16 km/h

2021 Rovanpera, Kalle Toyota Yaris WRC 84.12 km/h

2022 Neuville, Thierry Hyundai i20 N Rally1 84.69 km/h

2023 Rovanpera, Kalle Toyota GR Yaris Rally1 90.16 km/h

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