WRC: Conseguirá a M-Sport/Ford obter títulos em 2022?
A M-Sport/Ford teve mais tempo para desenvolver o Ford Puma Rally1 do que os seus adversários: será que isso é um bom avanço para chegar aos títulos?
A vitória de Sébastien Loeb e Isabelle Galmiche no Rali de Monte Carlo, ‘teve muito’ de piloto, mas como se percebe pelos resultados de Craig Breen e Gus Greensmith, também teve muito de carro.
Não restam dúvidas a ninguém que o Ford Puma Rally1 nasceu bem, e se devemos ser cautelosos quanto a colocar a equipa no rol de favoritos a vencer provas e campeonatos, a verdade é que dificilmente será por culpa do carro que isso não sucederá.
Olhando para o que foram os resultados da equipa na ‘era’ pós Sébastien Ogier, que esteve na M-Sport entre 2017 e 2018, vencendo os dois títulos mundiais, com a equipa a ser campeã em 2017, percebe-se que as coisas já foram totalmente diferentes em 2019 especialmente por causa dos pilotos.
Em 2018 a M-Sport tinha nas suas fileiras Sébastien Ogier, Elfyn Evans e Teemu Suninen e no ano seguinte, teve Teemu Suninen, Elfyn Evans e Gus Greensmith.
Em 2019 o melhor que conseguiram foram dois pódios em 14 ralis, ambos por Elfyn Evans, e quando o galês preferiu ir para a Toyota ao invés de ser chefe-de-fila na M-Sport, foi por uma boa razão.
Em 2020 a M-Sport conseguiu por intermédio de Teemu Suninen o seu último pódio, terceiro no México, antes deste triunfo agora de Sébastien Loeb no Rali de Monte Carlo. A última vitória da equipa tinha sido na Grã-Bretanha em 2018, com Ogier.
São conhecidas as dificuldades da M-Sport nos últimos anos para se manter à tona, a ida de Sébastien Ogier para a equipa em 2017 com o patrocínio da Red Bull, foi o empurrão que a equipa precisava para melhorar, mas quando o francês foi novamente para a Citroën em 2019, já se desconfiava que as coisas iriam mudar muito. Tal como sucedeu…
A pandemia no início de 2020 em nada ajudou a equipa, bem antes pelo contrário, mas por esta altura abriu-se também uma janela de oportunidade na M-Sport.
Historicamente, uma equipa com menores recursos, precisa de mais tempo para desenvolver os seus carros e com os novos Rally1 a passarem do ‘estirador’ para a oficina, a M-Sport pode dedicar muito mais dos seus recursos ao novo carro, não se preocupando tanto com os resultados que Adrien Fourmaux e Gus Greensmith iam fazendo no Mundial de Ralis em 2021, do que a Hyundai e a Toyota, que em luta direta pelos dois campeonatos, não se podiam dar ao luxo de fazer a mesma coisa.
Por isso a M-Sport ganhou tempo precioso, para além de que historicamente, a equipa de Malcolm Wilson sempre desenvolveu bons carros completamente novos.
Passo atrás e dois à frente
Se olharmos para a história mais recente do WRC, desde 1997 que, as equipas do Mundial de Ralis que estiveram na luta pelos títulos no ano anterior a uma mudança grande de regulamentos nos ralis, não estiveram nessa luta no ano seguinte, porque as equipas fora da luta pelo título faziam ‘jogadas’ com o desenvolvimento dos carros.
É verdade que por exemplo a Subaru de 1996 para 1997 continuou a lutar pelo campeonato, enquanto a Mitsubishi se manteve com o Grupo A, mas mais para a frente, a Citroën antes de introduzir o Xsara WRC fez dois anos de campeonato francês, antes de introduzir o C4 WRC entregou o Xsara à Kronos (2006) e fez um ano desenvolver C4 WRC, e com o DS3 WRC, em 2013, lutou no ano anterior e continuou no ano a seguir, mas a Ford ficou muito longe no campeonato em 2012, atrás da Citroën.
A Ford antes de introduzir o Focus WRC 03, em 2003, libertou-se do Colin McRae e do Carlos Sainz para ter tempo e meios para desenvolver o carro para o Markko Martin, que veio a ser um grande piloto no WRC, e mais tarde, antes de introduzir o novo Ford Focus em 2006, tinham como pilotos o Roman Kresta e o Toni Gardemeister que andavam a lutar pelo 5º e 6º lugares da geral.
A Volkswagen quando chegou em 2013, entrou completamente do zero com muito tempo de desenvolvimento do VW Polo WRC, a Peugeot com o 307 WRC, sucessor do 206 WRC, que era um carro ganhador, perderam-se nessa transição, a Mitsubishi também não conseguiu com o WRC o que tinha conseguido com o Grupo A, portanto historicamente sabe-se que é muito difícil a uma equipa que está a lutar até ao final de um campeonato no ano anterior, voltar no ano seguir a lutar.
M-Sport/Ford ganhou tempo
Fazendo um ‘regresso ao futuro’, há dois anos, já se ouvia falar do carro da Ford, desde o início de 2021 que começou a testar, portanto a Ford tem 18 meses de trabalho no carro, muita simulação na casa mãe da Ford em Detroit, na América, portanto é natural que o Ford Puma Rally1 Hybrid esteja forte, e para já parecem ser a referência.
A Toyota, por exemplo teve muito menos tempo para desenvolver o GR Yaris Rally1, e a Hyundai, ainda por cima, alterou por completo o projeto que já estava ‘meio feito’, e ainda teve o azar de ficar sem um chassis de testes com o acidente de Thierry Neuville em França. Portanto entraram tarde, o Christian Louriaux quis fazer tudo de novo, e isso atrasou tudo, agora vamos ver se recuperam.
Portanto, tudo isto junto deixa perceber que o Ford Puma Rally1 ter apresentado no Rali de Monte Carlo aquela competitividade não é por acaso, ainda que basta olhar para as estatísticas do rali para perceber que em termos gerais o Toyota foi o carro mais rápido no Rali de Monte Carlo, ainda que por pouco. Por exemplo, nove triunfos em troços contra os sete do Puma.
Sébastien Loeb e Sébastien Ogier estiveram à vontade para andar no Rali de Monte Carlo, mas também sabemos que Craig Breen é rápido o suficiente para ter andado mais, mas depois do acidente de Adrien Fourmaux, o irlandês tinha mesmo que somar pontos, e por isso teve de levar o carro até ao fim sem grandes riscos.
No Rali da Suécia já vai ter que andar…
Portanto, resumindo, o Ford Puma Rally1 é um bom carro, mas não começou o campeonato a ‘milhas’ da concorrência e sem Sébastien Loeb, daqui para a frente, vamos ver como os seus pilotos se saem.
E vamos também esperar pelo que pode conseguir recuperar a Hyundai, porque em termos de pilotos está muito bem servida. Há outro ponto importante: a M-Sport fez um carro em que Gus Greensmith pareceu outro piloto. E isso pode ser um excelente indicador para a época.