WRC: 2024 será o ano de Thierry Neuville? “é agora ou nunca…”, diz
Thierry Neuville anda há mais de uma década atrás do ambicionado título Mundial de Ralis, e tendo em conta o que se vai vendo, está cada vez mais longe. O belga continua a ser um piloto que luta por vitórias, mas o título foi algo que, a última vez que esteve perto, 2017, mas como sempre baqueou em momentos decisivos. Mas desta feita está mais confiante do que nunca…
A verdade é que apesar das contínuas derrotas, continua otimista, e apesar de ir ter Ott Tanak na equipa, está mais confiante do que nunca, pois sente que a equipa está prestes a ultrapassar a falta de fiabilidade, sente que o carro já ‘joga’ taco a taco com o Toyota e sente também que a chefia e a parte técnica têm ‘melhores mãos’ para lidar melhor com o que vem aí em 2024…
Recordando o seu percurso, Thierry Neuville está prestes a terminar a sua 12ª época ao mais alto nível na categoria mais alta do WRC, e o melhor que conseguiu até aqui foi ser cinco vezes segundo no campeonato de pilotos: 2013, 2016, 2017, 2018 e 2019. Foi terceiro nos últimos três anos, ou melhor, está em terceiro este ano e dificilmente perde a posição. “Para o ano é que é…”, tem sido o seu lema, desde 2013, mas nunca o conseguiu e há muito nem sequer está perto de o conseguir.
Mas até que ponto é que é mais culpa sua, do que da equipa? Provavelmente, tem andado desencontrado com a sua equipa, a Hyundai Motorsport desde 2014.
Recuando no tempo, admite-se que em 2013, quando foi segundo pela primeira vez, ninguém esperaria que batesse Sébastien Ogier e a Volkswagen Motorsport. Os anos passaram, em 2016 voltou a ser segundo atrás de Ogier e da VW, o mesmo se aplica, pois a Volkswagen era pouco menos que imbatível, especialmente quando se tratava de Ogier.
Em 2017, com a saída da VW, teve uma excelente oportunidade, foi o piloto com mais vitórias, quatro, mas terminou o ano a 24 pontos de Ogier. Nas duas primeiras provas do ano abandonou duas vezes, quando podia, facilmente, ter somado 50, ou mais. Chegou a estar em igualdade pontual com Ogier, na Finlândia, mas o esforço já não deu para mais. Não merecia tanto azar, nem sequer aquela falha de suspensão na Alemanha. De resto, deu sequência ao martírio de eterno segundo…
Em 2018, mais do mesmo. Venceu três vezes, foi ao pódio as mesmas vezes que Ogier e Tanak, seis, venceu mais dois troços que Ogier, mas também longe de Tanak. Passou para a frente do campeonato com a vitória em Portugal, reforçou-a em Itália, mas daí para a frente a Hyundai perdeu a corrida do desenvolvimento, e os resultados de Neuville refletiram-se muito. Enquanto Ogier ainda conseguiu bons resultados mesmo abrindo a estrada, Neuville e a Hyundai estiveram desastrados nos ralis de terra. O melhor que conseguiu foi um quarto lugar na Catalunha, num rali com dois dias de asfalto. E mais uma vez deixou escapar um título quando tinha 23 pontos de avanço a três provas do fim.
Em 2019, foi a vez de perder para Ott Tanak. Até ao Rali de Portugal ainda andou na luta com o estónio, na altura na Toyota, mas as quatro provas seguintes em que nem ao pódio foi ‘tramaram-no’ fortemente, nem sequer aproveitou um abandono de Tanak na Turquia, mas o triunfo da Hyundai nos Construtores atenuou muito o desgosto, pois a Hyundai Motorsport celebrou o seu primeiro título de Construtores.
Em 2020 e 201 teve dois anos maus e em 2022 a Hyundai entrou tão mal no WRC com os novos Rally1, que a meio da época Neuville já dizia isto: “É cada vez mais difícil e é muito frustrante, estamos aqui para lutar pelo campeonato e eu já ganhei ralis e estive no pódio, mas podemos ver que já há um piloto a afastar-se (Kalle Rovanpera), pelo que a diferença já é bastante grande, o que torna difícil recuperar o atraso. Só podemos felicitar a Toyota pelo seu desempenho e fiabilidade, que é algo que nos falta claramente e que está a fazer uma grande diferença neste momento. É por isso que eles são tão fortes e é por isso que o Kalle consegue marcar vitória atrás de vitória. É algo de que precisamos muito em breve”. Tudo dito.
Este ano de 2023 a Hyundai melhorou, mas a rapidez, fiabilidade e consistência dos Toyota levou a que fossem apenas os seus pilotos a lutar pelo título, com Rovanpera a assegurá-lo antes da competição terminar.
Agora, sente que esse ‘desencontro’ já não existe, e tem agora todas as condições que precisa, mas também admite: “é agora ou nunca…”
Sente que há mais e melhor no departamento de engenharia, graças à contratação de François-Xavier Demaison como diretor técnico, tem outra confiança no novo chefe de equipa, Cyril Abiteboul, e sente que a Hyundai e o seu i20 N Rally1 estão mais bem preparados do que nunca: “Nunca estive tão confiante com as pessoas-chave que estão a trabalhar agora, sem dúvida”, disse.
Há ainda a indefinição na Toyota relativamente a Kalle Rovanpera, o que faz uma diferença grande, pois se não houver um piloto que bata mais facilmente Thierry Neuville e Ott Tanak – Elfyn Evans pode batê-los, mas com muito maior esforço que Kalle Rovanpera, então a Hyundai pode ter uma luta ‘caseira’ pelo título e nesse aspeto Neuville pode estar mais seguro com a chefia de Abiteboul.
De qualquer forma, como sempre, tudo dependerá sempre muito mais das prestações dos pilotos e em tudo o que lemos para trás, não se julgue que não houve culpas no cartório para o piloto belga. claro que houve, o que acontece é que quando precisou, não teve lá a equipa para ‘corrigir’ o que fez de mal. É por isso que a Toyota tem ganho mais vezes…