Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen venceram o Rali de Portugal, elevando para três o número de triunfos seguidos no WRC. A partir de agora não há dúvidas: são os principais candidatos ao título. Elfyn Evans/Scott Martin bem tentaram, mas nada puderam fazer face à dupla finlandesa. Um forcing final permitiu a Dani Sordo/Candido Carrera chegar ao pódio.
Caiu o pano sobre a 55ª edição do Rali de Portugal, uma prova que ficará para a história não só pela estreia a vencer em Portugal de um piloto que todos auguram números na linha de todos os grandes nomes da história de 50 anos do Mundial de Ralis, mas também porque a FIA escolheu Portugal para comemorar o WRC50, a 50ª temporada do Mundial de Ralis.
Para lá da Gala na Exponor, onde dezena e meia de Campeões do Mundo de Ralis se juntaram para um convívio, e contaram histórias das suas experiências, a FIA trouxe a Portugal uma lista grandes de carros que fizeram história na competição, entre eles vários Grupos B, que puderam ser vistos nas super especiais e na Power Stage de Fafe.
Ver Walter Rohrl a fazer ecoar naquelas Serras de Fafe de novo o 5 cilindros do Audi Sport Quattro, foram momentos inesquecíveis.
Para a história fica ainda um recorde batido de forma estrondosa. O mais jovem piloto até este fim de semana a vencer o Rali de Portugal chama-se Markku Alén, tinha 24 anos quando em 1975 venceu a prova portuguesa, um recorde que é agora batido por… três anos. Aos 21 anos, Kalle Rovanperä tornou-se no mais jovem vencedor de sempre em Portugal, depois de um rali em que deixou totalmente claro que dificilmente terá adversários na luta pelo título.
Sendo verdade que na Hyundai estão dois pilotos, Ott Tanak e Thierry Neuville que lhe podem dar luta, mas como se percebeu mais uma vez, não têm carro para isso. Em ‘casa’, Elfyn Evans bem tenta, mas a naturalidade com que o jovem Rovanpera se expressa ao volante é quase avassaladora. Na Ford, ao contrário da Hyundai, parece ‘haver’ carro, como Sébastien Loeb voltou a deixar claro quando colocou o Puma Rally1 na liderança, no 1º dia de prova, mas não há pilotos com andamento suficiente para fazer muito melhor.
Com este resultado, Kalle Rovanpera reforçou fortemente a sua candidatura ao título, já que tem agora 46 pontos de avanço sobre Thierry Neuville. Paralelamente, a Toyota ficou mais perto de fazer história, já que com mais este triunfo em Portugal fica apenas a uma vitória de igualar a Lancia e Citroën (8 vitórias cada) no nosso país.
Bater a Lei de Murphy
Todos anteviram ‘desgraça’, mas nem mesmo tendo que abrir a estrada em troços como a Lousã, Góis e Arganil, atemorizou Rovanpera, que depois de vencer na Suécia e na Croácia, cedeu apenas 13,6s para Elfyn Evans no difícil 1º dia, e logo aí se percebeu para onde ‘apontava’ o triunfo nesta prova.
Depois disso, travou uma bela luta com o galês, que ‘vendeu’ cara a derrota. Quem pensava que tudo só se decidiria na Power Stage, as contas foram ficando equilibradas até à penúltima especial, quando Rovanperä ganhou mais 2,4s a Evans e acabou com a emoção na Power Stage.
E quem achava que o jovem iria controlar e assegurar o triunfo… venceu a Power Stage. Uma força mental destas arrasa qualquer adversário! Mais uma pontuação máxima.
Antes, terminou o 1º dia em segundo lugar, algo que até ele próprio disse não esperar. Evitou problemas e terminou o dia a 13.6s de Evans, que tinha saído de nono na estrada. No segundo dia, Evans começou melhor, alargou a margem para 18.4s, mas Rovanperä arrasou na parte da tarde, terminando o dia com 5.7s de avanço para o colega de equipa. No dia seguinte, atacou cedo, Evans reagiu, mas o finlandês deu a ‘estocada’ final ainda antes do último troço. Uma brilhante atuação.
Na Sardenha, o 1º dia costuma ser ainda mais complicado que em Portugal. Vamos ver mais do mesmo?
Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota Gr Yaris Rally1) terminaram em segundo, mas fizeram um grande rali, na linha do ano passado. Só que há um ano chegou para vencer, mas este ano há Rovanpera. Nada há a apontar a Evans. Quem dá o que tem a mais não é obrigado…
É o seu melhor resultado do ano até agora, terá na Sardenha outra oportunidade para ir à luta com o seu colega de equipa.
O ponto decisivo, terá sido quando revelou ter apanhado muita chuva em Amarante 2, e isso pode justificar os 13s que perdeu para Rovanpera. Para não falar dos 30.8s para Neuville, nesse troço.
Dani Sordo/Candido Carrera (Hyundai I20 N Rally1) terminaram em terceiro depois duma grande luta com Takamoto Katsuta, que bateram na Power Stage, convertendo um atraso de 2.2s num avanço de 2.1s, dando à Hyundai um saboroso e merecido pódio, pelo trabalho que a equipa tem feito para recuperar o atraso competitivo que tem.
Sordo gosta e costuma andar bem em Portugal. Desta feita demorou tempo ‘pegar’, porque não tinha qualquer experiência competitiva com o carro.
Não aproveitou o facto de rodar muito atrás na estrada e em vez de acumular vantagem, ‘andava à procura do carro’. Foi melhorando pouco a pouco e para isso basta ver as suas posições nos troços. Começou com 9º, 8º, no fim do 1º dia já fazia 3º. No 2º dia já só fez 3º e 4º. Sintomático. Se o Rali de Portugal fosse após a Sardenha e Sordo disputasse os dois, estamos certos que lutaria pelo triunfo em Portugal.
Teve, claro, os seus altos e baixos, mas ficou claro que não é por acaso que a Hyundai não prescinde dos seus serviços, nem que sejam por apenas algumas provas.
Foi pena para Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota Gr Yaris Rally1) serem batidos assim no último troço, caindo de 3º para 4º. O jovem japonês ficou sem palavras, mas tal como Sordo lhe foi dizer, deve estar orgulhoso do que fez, pois lutou com um piloto que anda no WRC desde… 2004. Há 18 anos.
É sempre bom sinal quando um jovem termina uma prova do WRC em 4º e fica tão desiludido. Significa que por mais. Apanhou uma desilusão, mas a certeza que está cada vez mais perto de conseguir pódios na carreira, pois tem feito uma grande evolução. A Toyota esteve muito perto de conseguir colocar três carros no pódio o que já não consegue desde o Rali da Alemanha de 2019, quando Tanak venceu na frente de Kris Meeke e Jari-Matti Latvala.
No 1º dia, mostrou consistência, chegando a 3º na frente de Sordo. Chegou a parecer que iria assegurar a posição, mas depois Sordo foi melhorando e passou-o.
Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai I20 N Rally1) terminaram em quinto, mas mereciam mais. E mereciam também que a equipa lhes desse um carro mais resistente. Desta feita, eram segundos da geral perto do final do 1º dia, quando mais um problema mecânico, desta vez transmissão, os atiraram para o sétimo lugar, a quase dois minutos da frente, quando estavam a 7.0s de Elfyn Evans, líder na altura. É frustrante. Depois disso, foi profissional, pois não deve ser fácil arranjar motivação depois duma ‘desfeita’ daquelas.
Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai I20 N Rally1) terminaram em sexto, e são outro exemplo semelhante aos belgas. Eram segundos da geral em Góis 2, mas tiveram azar duas vezes em troços sucessivos; um pneu saiu da jante do seu Hyundai i20 N Rally1 na PE6 antes de um furo lento na retaguarda esquerda na PE7. Perderam mais de três minutos, e ficaram com o resultado totalmente condicionado. Começaram logo a pensar no próximo, portanto talvez isso se reflita na Sardenha…
Para Pierre-Louis Loubet/Vincent Landais (Ford Puma Rally1) terminarem como melhores representantes da M-Sport, imaginem o que foi o fim de semana da equipa de Malcolm Wilson. É que desta feita, nem Sébastien Loeb, que cometeu, segundo disse, o erro mais estúpido da sua carreira nos ralis.
Pierre-Louis Loubet repetiu o sétimo lugar da Estónia no ano passado, o seu melhor até agora, mas com a diferença que em Portugal mostraram um andamento que ainda não tinham evidenciado. A dupla chegou a ser quarta classificada no 1º dia, terminou-o em 6º mas depois um erro aqui e ali não lhes permitiu fazer melhor. O piloto está a crescer muito mais este ano do que o fez no ano passado.
O oitavo lugar de Craig Breen/Paul Nagle (Ford Puma Rally1) foi a melhor prova foi desastroso rali da M-Sport. E o mais curioso é que houve ‘ementas’ variadas.
Para o irlandês, a um furo na sexta-feira, seguiu-se más escolhas de pneus no sábado e por fim um problema de travões no domingo, levaram que quase não déssemos por Breen neste rali, tão apagado que andou. Globalmente fez dos piores ralis que já lhe vimos dos tempos mais recentes. Notou-se muito o facto de não vir a este rali desde 2018. Terá feito uma grande diferença.
Gus Greensmith/Jonas Andersson (Ford Puma Rally1) sofreram danos da suspensão no sábado, ficando fora de ação, e até tinham começado bem com o 2º posto após a Lousã 1, mas logo a seguir um problema com o pó a entrar no habitáculo e…queda para 10º. Terminaram o 1º dia em 5º, o que não foi nada mau, mas um furo logo a abrir o 2º dia estragou tudo. Depois veio o problema de suspensão e ‘foi-se’ o resultado…
Adrien Fourmaux/Alexandre Coria (Ford Puma Rally1) foram nonos, tendo perdido três minutos com um furo no sábado, mas fizeram um rali totalmente de contenção porque tinham mesmo de terminar esta prova. Até aí tudo, bem, mas não podem fazer ralis a terminaram a oito minutos dos vencedores. Nada justifica tamanha diferença.
Melhores capazes do pior…
Por fim, Sébastien Loeb/Isabelle Galmiche (Ford Puma Rally1) que ainda foram um dos quatro líderes do rali, ao lado de Neuville, Evans e Rovanperä, ficando de fora com o ral “erro estúpido” logo na sexta-feira.
Acontece aos melhores.
Ironicamente, muito poucas vezes na história do AutoSport se deve ter falado de Loeb e Ogier no fim do texto, mas desta vez teve que ser. Sébastien Ogier/Benjamin Veillas (Toyota Gr Yaris Rally1) terminaram o rali a mais de duas horas dos vencedores. Logo no 1º dia, dois furos consecutivos e tiveram de terminar o seu dia mais cedo, em Arganil. Aproveitou o resto do fim-de-semana como um teste, mas cometeu um erro na segunda especial, depois de perder a concentração, pois tinha perdido o sistema híbrido. Não ouviu uma nota, e saiu de estrada. Conseguiu voltar à estrada, mas muito atrasado. Talvez o Safari corra melhor.
Foi pena, tanto Ogier como Loeb poderiam ter dado um colorido ainda melhor a este rali.
E assim caiu o pano em mais um Rali de Portugal. Sabem bem escrever que este ano estiveram cá Walter Röhrl, Miki Biasion, Ari Vatanen, Petter Solberg, Sébastien Loeb, Sébastien Ogier, Carlos Sainz, Marcus Gronholm, Ott Tanak… Entre todos, acumulam 28 títulos mundiais.
Várias ‘mulheres de armas’ do WRC, como Isolde Holderied, Louise Aitken-Walker, Tina Thörner, Michèle Mouton e Fabrizia Pons, vencedoras do Rally de Portugal de 1982, há precisamente 40 anos. E ainda Campeões do Mundo de Navegadores, David Richards, Tiziano Siviero, Robert Reid, Luis Moya, Christian Geistdörfer, e ainda team manager da mítica Lancia, Nini Russo. Podemos festejar assim todos os anos?