Dez anos depois de iniciar a sua carreira em Portugal, Ott Tanak venceu a prova portuguesa do WRC pela primeira vez. Um triunfo dominador, face aos seus principais rivais no campeonato, Thierry Neuville (Hyundai) e Sébastien Ogier (Citroën) que terminaram no pódio.
Não faltou absolutamente nada a este Vodafone Rally de Portugal. Espetáculo, emoção, equilÃbrio, acidentes, público e também polémica. Desta feita nem sequer faltaram Arganil, Góis e Lousã, que dezoito anos depois, estão no lugar que merecem.
A luta pelo triunfo deu-se quase até ao fim do rali, com desistências de ‘última hora’ a mudarem in-extremis o que já se julgava ‘fechado’.
Nem sequer faltou a presença de espÃrito do vencedor do rali, que preferiu perder dois pontos na PowerStage, do que passar a liderar o campeonato e com isso ter que abrir a estrada no próximo rali, na Sardenha. Uma travagem ‘a mais’ permitiu a Tanak passar de um parcial em que perdia 0.1s para outro em que cedeu 1.6s. Um passo atrás, para dar dois à frente no próximo rali. Esta foi uma prova complexa, cheia de acontecimentos, e um evento em que todas as quatro equipas do WRC teve um dos seus carros nos primeiros quatro lugares.
Num fim de semana anormalmente quente para a época do ano, a Toyota começou por impressionar ao colocar os seus três carros nas primeiras três posições, até que Jari-Matti Latvala caiu para sétimo depois de uma falha na suspensão do Yaris WRC, e depois de Kris Meeke bater no último troço.
Foram também utilizadas táticas ‘atrevidas’ (mas legais). Depois de uma primeira manhã de rali marcada por problemas com os sistemas de combustÃvel em dois dos seus carros, Dani Sordo e Sébastien Loeb, a Hyundai fê-los ajudar Thierry Neuville, ao penalizarem e saÃrem para os troços depois de Sébastien Ogier, de modo a que este tivesse a estrada menos ‘limpa’, ao contrário de Neuville. Não é bonito, mas numa equipa, entreajudam-se, e foi o que a Hyundai fez.
O rali ficou marcado também pela estreia do novo Skoda Fabia R5 Evo, que venceu a sua categoria, o WRC2 Pro, com cinco Fabia R5 a terminarem no top 6 do WRC2, e mais dois na frente do WRC2 Pro. O Volkswagen Polo GTI R5 de Ole Christian Veiby liderava o WRC2 até que o fogo consumiu boa parte do carro, outro dos pontos ‘quentes’ deste fim de semana de Rali de Portugal, já que o VW Polo de Pedro Meireles também ardeu.
Dueto e um intruso
À primeira vista este WRC 2019 tem vindo a tornar-se num duelo de duas equipas, a Hyundai e a Toyota, com um verdadeiro ‘intruso’, o hexacampeão do Mundo de Ralis, Sébastien Ogier, que continua a encontrar formas para a Citroën se imiscuir na luta, ultrapassando handicaps que eliminariam qualquer outro comum dos mortais. Tal como Ogier explicou antes do rali, a ordem na estrada tinha tudo para o impedir de obter um bom resultado, mas o francês ‘desafiou’ novamente a ‘regra’ e ultrapassada que está o meio da época, continua à frente do campeonato. Não cometeu erros, aproveitou todas as oportunidades e com alguma sorte, terminou no pódio.
Ott Tanak e Thierry Neuville venceram ambos cinco troços, com o único triunfo de Ogier a ser na PowerStage. Só que, neste caso, isso foi-lhe oferecido, por razões táticas, pois Tanak desacelerou deliberadamente, para não sair na frente no Rali na Sardenha. Pensou-o bem e executou-o melhor.
As estradas do Rali de Portugal são traiçoeiras, e os carros são sujeitos a grande ‘stresse’ do que noutras provas de terra. A Toyota já tinha sofrido problemas este ano, com furos e rodas partidas e o stress nas suspensões é parte do problema. Quando Jari-Matti Latvala e Tanak tiveram problemas de suspensão no sábado à tarde, parecia que as esperanças da Toyota vencer residiriam apenas em Kris Meeke, mas Tanak teve sorte, pois enquanto o seu carro pode ser reparado, o de Latvala, não.
Mas não estiveram sós na aflição. A Hyundai teve problemas eletrónicos que forçaram Dani Sordo e Sébastien Loeb a perder muito tempo na sexta-feira, deixando Neuville como único ponta de lança da equipa. O belga foi cuidadoso no difÃcil primeiro dia – que não tinha assistência a meio – mas isso atrasou-o um pouco face aos rivais. No final do primeiro dia, o belga estava a 24.2s do lÃder Tanak, com outros dois Toyota, os de Latvala e Meeke no pódio provisório.
Então, Andrea Adamo ordenou a Sordo e Loeb que penalizassem, de modo a proporcionar uma estrada mais limpa a Neuville, e menos a Ogier, que tinha dois carros à sua frente. Mas a verdade é que foi o problema na suspensão do Yaris WRC de Latvala que ‘promoveu’ Neuville ao pódio, acabando depois por chegar ao segundo lugar quando Meeke fez um pião na penúltima especial e depois bateu na PowerStage, desistindo.
Nessa altura da prova, Tanak controlava por completo o rali, mas antes teve Meeke muito perto, sendo que o estónio esteve sempre muito calmo, ao contrário de Meeke, que estava notoriamente ‘incomodado’ quando a WRC TV lhe perguntava se ia tentar vencer. Será que foi isso que ‘desfocou’ a atenção de Meeke e o levou a cometer erros? Será que Makinen ordenou que as posições ficassem como estava, apesar da curta margem?
Altos e baixos
Para Ott Tanak, este rali foi uma perfeita demonstração da sua velocidade, numa prova difÃcil, sendo que apesar de ser segundo na estrada, no primeiro dia, enquanto liderava o rali, enquanto Thierry Neuville era quarto a 24.2s e Sébastien Ogier, quinto a 25.8s. Esse dia, valeu-lhe a vitória, e também Makinen, que muito provavelmente terá impedido Meeke de lhe ‘meter’ pressão e lutar pelo triunfo.
Thierry Neuville foi premiado com um bom segundo lugar. Lutou muito para chegar ao pódio, mas em condições normais já não conseguiria passar Meeke, caso este não fizesse um pião em Montim.
Acabou por ser Sébastien Ogier a ser premiado com dois brindes e uma… fava. Herdou um lugar no pódio, fruto do acidente de Kris Meeke na derradeira especial (o irlandês desistiu), venceu a PowerStage, mas ainda lidera o campeonato, e por isso vai ter que abrir a estrada no pior de todos os ralis, a Sardenha. Até aÃ, Ogier lutou até à exaustão, e esta persistência face à s adversidades continuam a mostrar a sua fibra de Campeão. Começou o rali em 10º, era quinto no final do primeiro dia, ganhou uma posição no sábado, e ainda foi ao pódio.
Teumu Suninen e Elfyn Evans foram quinto e sexto, depois de um rali em que mostraram bom andamento. Suninen teve um desempenho impressionante durante os primeiros troços, chegou a ser terceiro até ficar sem travões. Perdeu mais de um minuto, e caiu para fora dos cinco primeiros, recuperando a posição com o andar da prova, um merecido prémio num evento que lhe costuma correr bem.
Quanto a Evans, lutava pelo pódio provisório até que um conector solto o fez cair na classificação. Forçado a abrir a estrada durante o resto do evento, não teve qualquer chance de fazer melhor. Gus Greensmith estava a andar bem, mas ‘borrou’ a pintura quando saiu de estrada em Amarante. O acidente no Salto de Fafe não foi culpa sua. Fez o que se exigia, pena não ter terminado.
Latvala estava a fazer uma boa prova, era segundo atrás de Tanak, rodando apenas a 5,1s do estónio depois de ter estado a 17,3s, aproveitando os problemas de travões que afligiram Tänak. Contudo, em Amarante, Latvala danificou uma suspensão do Yaris em Cabeceiras de Basto, e atrasou-se muito.
Depois de Latvala, foi a vez de Meeke se aproximar de Tanak, terminando o segundo dia a 4.3s do seu colega de equipa, mas na derradeira manhã de prova, o irlandês ‘passou-se’, e converteu o que seria o seu melhor resultado do ano, o segundo, num inglório abandono.
Esapekka Lappi continua sem conseguir fazer com o C3 WRC o que fazia com o Yaris, e para piorar tudo, quando já era quinto, e se preparava para dar bons pontos à marca, um capotanço em Montim, a que se seguiu uma suspensão danificada em Luilhas levaram-no ao abandono.
Quem também ficou pelo caminho foi Sébastien Loeb, que depois de ter aceite o convite para vir ao Rali de Portugal, depois da sua boa exibição do Chile, as contas saÃram furadas, ao francês e à equipa, devido aos problemas mecânicos do i20 WRC, algo que também afetou Dani Sordo, que foi o mais rápido no primeiro troço, antes da mecânica o trair. Foi uma grande prova, onde nada faltou.
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