Seguramente que foi mais fácil à FIA atribuir a Portugal o título de “Melhor Rali do Mundo” do que ao AutoSport eleger agora o ‘top’ dos ‘tops’ em matéria de pilotos, carros, edições e classificativas da nossa mais importante prova de estrada pois as escolhas são tudo menos consensuais, ora resultando da própria memória de quem assistiu a tudo ao vivo, ora da própria paixão por uma marca, piloto ou classificativa. E como se já não bastasse eleger apenas cinco de entre um leque tão diversificado de escolhas, ainda tivemos que as classificar num ranking que é tão subjetivo como preferir Arganil a Fafe, a Ford à Lancia ou McRae a Sainz. Seja como for, aqui ficam, com um ligeiro ‘desconto’ quanto ao balizamento das escolhas: até ao final do Séc XX.
1) 1978 – O GP de Sintra
Criada em 1976, a famosa ‘noite de Sintra’ teve o seu ponto alto em 1978, com o épico duelo entre Markku Alen (Fiat 131 Abarth) e Hannu Mikola (Ford Escort RS 1800). Os dois finlandeses discutiram a liderança ao segundo durante 12 classificativas, adiando a decisão até à última especial, os 10,50 km de ‘Sintra’. Mikkola estava pela primeira vez em toda a noite no comando da prova. E arriscou tudo ao retirar todos os pneus sobressalentes do seu Ford. Alen, por seu turno, numa lógica do ‘tudo ou nada’, mandou retirar o limitador de rotações do Fiat nº 4. Caminhava-se então para as quatro e meia da madrugada e o decisivo troço estava prestes a ter início… Com ordens para conduzir em ‘maximum attack’, Alen pulverizou todos os anteriores recordes, concluindo a especial em 7m01s! Para vencer, Mikkola não podia agora demorar mais que 2m05s… O tempo passou e nem sinal do Ford! Ao contrário do esperado, quem apareceu a seguir foi Jean-Pierre Nicolas, informando que Mikkola tinha batido algures e vinha a arrastar a roda dianteira esquerda em cima da jante… Também ele dera o seu máximo, até bater numa pedra e furar um pneu.
2) 1998 – O mais renhido de sempre
No primeiro rali organizado sem o contributo de César Torres, apenas 2,1s separaram à chegada o Corolla WRC de Carlos Sainz do vencedor Colin McRae, em Subaru Impreza. Disposto a vingar o desaire do ano anterior, o escocês assumiu a liderança logo a partir da terceira especial… e parecia ter o rali perfeitamente controlado. Só que na última etapa, o espanhol deu o tudo por tudo, vencendo cinco dos oito troços, incluindo os dois últimos (Seixoso e Amarante). Mais uns metros e talvez tivesse ganho… A diferença final é ainda hoje a mais curta de sempre em 42 edições do Rali de Portugal e a segunda em todo o historial do Mundial, sendo apenas superada pelos 0,3s que separaram Loeb de Gronholm no Rali da Nova Zelândia de 2007.
3) 1981 – Alen sem uma roda
O mais improvável dos triunfos de Markku Alen em Portugal aconteceu em 1981, depois do célebre despiste que protagonizou logo na segunda especial do rali (Peninha), quando cortou demasiado uma curva e arrancou a roda da frente direita do 131 Abarth – que só voltou a encontrar 25 anos mais tarde! Mestre da improvisação, Alen concluíria o troço em apenas três rodas e… de marcha-atrás, lançando-se a partir daí numa louca recuperação, rumo à quarta vitória na prova. Apesar de tudo, à custa dos azares de Mikkola (Audi Quattro) e Vatanen (Ford).
1995 – Carlos Sainz sem travões
Numa das mais emocionantes provas do Mundial de 1995, Sainz e Kankkunen protagonizaram um duelo à parte e que durou praticamente todo o rali. Liderando 29 dos 33 troços, ‘KKK’ parecia embalado para repetir o triunfo do ano anterior, pelo menos, até ser surpreendido pelos pisos enlameados da última etapa, onde teve mais dificuldade em fazer valer a potência do seu Toyota Celica GT Four. Sainz recuperou então algum terreno e assumiu o comando a duas classificativas do fim. Só que na última não ganhou para o susto, após um tubo se romper e ficar sem travões no seu Subaru Impreza. Louco, o espanhol viria a ganhar por meros 12 segundos de diferença: “Sin frenos, sin frenos”, gritou ele no final.
5) 2001 – Tommi Makinen no último troço
Edição determinante para a saída do Rali de Portugal do quadro do Mundial e que marcou também a despedida do seu figurino tradicional. Foi também o ano do dilúvio, já que todo o rali foi marcado por inclementes condições atmosféricas, com chuvas torrenciais e muita lama. Makinen (Mitsubishi Lancer Evo 6,5) foi quem melhor sobreviveu à tempestade, após empolgante luta com Sainz (Ford Focus RS WRC 01). O espanhol ainda chegou a sonhar com a sua quarta vitória em Portugal, roubando a liderança ao finlandês na penúltima especial do rali, por 0,3s. Só que Makinen recuperou-a novamente nos derradeiros 11,15 km de Ponte de Lima-Sul, vencendo a prova (a sua 100º no Mundial) por 8,6 segundos de diferença.