Timo Salonen: O Campeão do Mundo improvável

Por a 25 Janeiro 2023 13:23

De óculos, aspeto pesadão e até desleixado, sempre de cigarro na mão, eis o aspeto de Timo Salonen, o segundo piloto da Peugeot em 1985. Mas o finlandês teve a sorte pelo seu lado, ao beneficiar do azar de Ari Vatanen que quase morreu num acidente na Argentina. E, no final do ano, foi Salonen quem deu à Peugeot o seu primeiro título no WRC.

Timo Salonen nasceu na capital da Finlândia e começou a correr mal fez 18 anos, comprando para isso um Datsun 1600. Cinco anos mais tarde, em 1974, fez a sua primeira prova do Mundial – claro que em casa, no “seu” Rali dos Mil Lagos, com um Mazda 1300, terminando-o em 22º lugar. Repetiu no na seguinte agora com um Datsun Violet e foi 6º classificado.

Nos anos seguintes continuou a correr no seu país natal com um Datsun 160 J e um Volvo 142, com resultados lisonjeiros nas poucas provas que realizou, pois na verdade não nadava em dinheiro, até conseguir forma de, em 1977, correr com um bem mais competitivo FIAT 131 Abarth. E a sua rapidez viu-se na primeira prova que fez fora do seu país: o Critérium Molson do Québec, no Canadá e que então fazia parte do calendário do WRC – ganhando-a. Foi ainda 2º nos Mil Lagos nesse e no ano seguinte ainda com o carro italiano.

A partir de 1979, correu sempre com carros japoneses, deixando sempre a marca de muita rapidez, mas também alguma inconsistência. Na realidade, em especial nos primeiros anos, muitas vezes acabou longe dos limites da estrada. Mesmo assim, lá foi ganhando provas e subindo ao pódio, em 1979 e 1980 com o Datsun 160 J, depois com o seu sucessor, o Violet GT – que, a partir de 1982, se “transformou” em Nissan.

Em 1983 e 1984 não fez grande coisa, pois o Nissan 240 RS era pouco competitivo, subindo somente por uma vez ao pódio, quando terminou em 2º lugar o Rali da Nova Zelândia de 1983. Porém, isso atraiu as atenções da Peugeot, que o contratou para segundo piloto a partir de 1985, com a missão de proteger Ari Vatanen, o piloto escalado para vencer o título no WRC.

Sorte de Campeão

Afinal, como todos os campeões, Timo Salonen teve a sorte do seu lado. E não foi uma pontinha de sorte – foi toda ela e em grande plano de evidência.

Na prova de abertura do campeonato, o tradicional Rali de Monte Carlo, foi 3º – atrás de Walter Röhrl e de Vatanen, que ganhou com o outro Peugeot 205 Turbo 16 E2. Na Suécia, repetiu a classificação, desta feita atrás de Stig Blomqvist e, claro está, de Vatanen, pela segunda vez vencedor. Então, chegou o Rali de Portugal/Vinho do Porto, que se tornou a sua primeira vitória do ano e com a Peugeot – tudo, porque estava no sítio certo na hora certa (lá está, a sorte de Campeão…) quando, primeiro Vatanen, depois Röhrl, abandonaram enquanto lideravam a prova.

No Safari, foi 7º e Vatanen desistiu com a junta da cabeça do 205 Turbo 16 E2 queimada. A Volta à Córsega foi péssima para as cores da Peugeot, pois Salonen abandonou com problemas elétricos e Vatanen depois de um acidente, quase no final e quando era o principal rival de Jean Ragnotti, intratável nas sinuosas e estreitas estradas de asfalto, com o Renault 5 Maxi Turbo de tração traseira.

Foi então que a sorte começou a mudar – e não apenas para Salonen, mas para a própria equipa Peugeot, que viu o seu principal piloto, Ari Vatanen, desistir na Acrópole e ser “apenas” 2º na Nova Zelândia, provas que Salonen venceu, aproximando-se do seu compatriota na tabela de Pilotos. E nem sequer o fato de, nos Antípodas, ter sido selada a primeira dobradinha da casa francesa alegrou as hostes: logo na prova seguinte, o Rali da Argentina, o céu caiu sobre as cabeças dos Gauleses – a maior tormenta possível, desde os celebrados tempos de Asterix e Obelix: logo na segunda classificativa, Ari Vatanen não viu uma vala que atravessava a estrada, numa parte em que se seguia a mais de 180 km/h e capotou várias vezes. Retirado em coma dos destroços do 205 Turbo 16 E2, depois de um acidente com uma dinâmica horrorosa, esteve durante meses no hospital, regressando à competição mais de um ano depois, mas no TT. A equipa não se retirou da prova e Timo Salonen voltou a vencer, pela terceira vez consecutiva – repetindo a dose no rali seguinte, o Rali dos Mil Lagos. E, com o 2º lugar em San Remo, ficou selado o destino do Mundial de 1985, apesar de ter desistido, com problemas de pressão de óleo, na última prova, o RAC. Salonen acabou por ser primeiro Campeão com a Peugeot no WRC, com 52 pontos de vantagem sobre Stig Blomqvist – a maior de sempre na história da competição.

No ano seguinte, manteve-se na Peugeot, ganhado as duas últimas provas (Mil Lagos e RAC), terminando o campeonato em 3º e vendo o seu compatriota Juha Kankkunen suceder-lhe no Álbum de Ouro.

A partir de 1987, com o final dos Grupo B e o abandono da Peugeot, tornou-se piloto oficial da Mazda no WRC, permanecendo na equipa até 1990. O seu melhor resultado conquistou-o logo no primeiro ano, ao ganhar na Suécia aquela que foi também a sua derradeira vitória no WRC. Na verdade, Salonen apenas por duas vezes mais subiu ao pódio com o algo frágil 323 4WD – no RAC de 1989 e nos Mil Lagos de 1990, em que foi 2º classificado.

Pior: nunca mais teve semelhante prazer nos dois anos em que se manteve ativo no WRC, então com o pesado Mitsubishi Galant VR-4, carro com que conseguiu, com o 4º lugar no RAC de 1991, a sua melhor classificação. A sua última prova o WRC foi o Rali de Portugal de 1992, que terminou em 5º lugar.

Nessa altura, já se tinha dedicado às provas de Todo-o-Terreno, como piloto oficial da Citroën. No Dakar de 1993 foi 5º com um ZX Rally Raid, ganhando mesmo a primeira Etapa. O seu melhor resultado foi a vitória no Rali dos Faraós, no Egipto, em 1995, ainda com a marca francesa.

Voltou em 2002, convidado pela Peugeot para pilotar um 206 WRC no Rali da Finlândia. Gordo e envelhecido, e tendo a seu lado Launo Heinonen, foi apenas 14º classificado. Este acabou por ser o final cinzento daquele que chegou a ser considerado um dos mais rápidos pilotos da sua geração – e um dos mais corajosos e eficazes a lidar com os monstruoso carros de Grupo B.

A vitória no Rali de Portugal 1985: no sítio certo na hora certa

Timo Salonen sagrou-se Campeão do Mundo de Ralis (WRC) em 1985, com o Peugeot 205 Turbo 16 E2. Nesse ano, venceu um total de cinco provas, a começar exatamente no Rali de Portugal/Vinho do Porto. Mas a sua não foi uma vitória da ciência de uma maior pilotagem – ou tão-somente, de um domínio inequívoco na estrada.

Na verdade, Salonen parecia destinado a terminar o rali português no segundo lugar, atrás de Walter Röhrl, rapidíssimo e inalcançável, ao volante do imponente Audi Sport Quattro – e isto apesar de os carros franceses serem nitidamente os favoritos.

Só que a fiabilidade trocou as voltas aos que mais fizeram para ganhar. Primeiro, foi Ari Vatanen a desistir, em Arcos Portela, deixando Röhrl no comando. Só que a sorte deste não foi melhor – em Arganil, problemas com a caixa de velocidades fizeram-no penalizar cinco minutos, entregando de bandeja o triunfo a Salonen. Que agradeceu e o comemorou com um dos seus famosos cigarros, fumado avidamente ainda dentro do “cockpit” do 205… Nessa prova, José Miguel foi o primeiro entre os pilotos portugueses, com o velhinho Ford Escort RS 1800.

Vitórias no WRC (11: 1977-1987)

1977 – 5º Critérium Molson du Québec (FIAT 131 Abarth)

1980 – 11º Motogard Rally of New Zealand (Datsun 160J)

1981 – 13º Rallye Côte d’Ivoire (Datsun Violet GT)

1985 – 19º Rallye de Portugal/Vinho do Porto; 32º Acropolis Rally; 15º AWA Clarion Rally of New Zealand; 5º Marlboro Rally Argentina; 35º Mil Lakes Rally (Peugeot 205 Turbo 16 E2)

1986 – 36º Mil Lakes Rally; 35º Lombard RAC Rally (Peugeot 205 Turbo 16 E2)

1987 – 37º international Swedish Rally (Mazda 323 4WD)

Nota:

Todas as vitórias foram com Seppo Harjanne (28 de Fevereiro de 1948) como co-piloto. A única exceção foi o Critérium Molson du Québec de 1977, em que foi navegado por Jaarkko Markkula (10 de Maio de 1947)

TIMO SALONEN

Nome: Timo Salonen

Nascimento: 8 de Outubro de 1951 (72 anos)

Local de nascimento: Helsinkii

Nacionalidade: Finlandesa

Estreia na competição: 1970 (Ralis)

Primeiro rali no WRC: Mil Lagos 1974

Último rali no WRC: Rali da Finlândia 2002

Ralis do WRC: 95

Vitórias no WRC: 11

Primeira vitória no WRC: Canadá 1977

Última vitória no WRC: Suécia 1987

Pódios no WRC: 24

Classificativas ganhas no WRC: 256

Pontos no WRC: 524

Títulos no WRC: 1 (1985)

Marcas no WRC: Mazda (1974/1987/1988/1989/1990); Datsun (1975/1976/1979/1980/1981); FIAT (1977/1978); Nissan (1982/1983/1984); Peugeot (1985/1986/2002); Mitsubishi (1991/1992)

PALMARÉS

WRC (1974-1985/1987-1996; 1997-1998; 2003)

1974 – 1 Rali (Mazda 1300). Não pontuou

1975 – 1 Rali (Datsun 160J). Não pontuou

1976 – 1 Rali (Datsun 160J). Não pontuou

1977 – 3 Ralis (FIAT 131 Abarth). 1 vitória (Critérium Molson du Québec). Não pontuou

1978 – 3 Ralis (FIAT 131 Abarth). Não pontuou

1979 – 6 Ralis (Datsun 160J). 3 vitórias (Acrópole, Mil Lagos, Critérium Molson du Québec). 4º CM, 50 pontos

1980 – 8 Ralis (Datsun 160J). 3 vitórias (Acrópole, Mil Lagos, Nova Zelândia). 7º CM, 45 pontos

1981 – 9 Ralis (Datsun Violet GT). 1 vitória (Costa do Marfim). 6º CM, 40 pontos

1982 – 6 Ralis (Nissan Violet GTS/Nissan Silvia Turbo). 1 vitória (Mil Lagos). 11º CM, 20 pontos

1983 – 7 Ralis (Nissan 240 RS). 13º CM, 18 pontos

1984 – 5 Ralis (Nissan 240 RS). 10º CM, 27 pontos

1985 – 11 Ralis (Peugeot 205 Turbo 16/Peugeot 205 Turbo 16 E2). 5 vitórias (Portugal/Vinho do Porto, Acrópole, Nova Zelândia, Argentina, Mil Lagos). 1º CM, 127 pontos (Campeão do Mundo do WRC)

1986 – 9 Ralis (Peugeot 205 Turbo 16 E2). 2 vitórias (Mil Lagos, RAC). 3º CM, 63 pontos

1987 – 4 Ralis (Mazda 323 4WD). 1 vitória (Suécia). 14º CM, 20 pontos

1988 – 5 Ralis (Mazda 323 4WD). 5º CM, 33 pontos

1989 – 4 Ralis (Mazda 323 4WD). 12º CM, 21 pontos

1990 – 4 Ralis (Mazda 323 4WD/Mazda 323 GTX). 25º CM, 9 pontos

1991 – 6 Ralis (Mitsubishi Galant VR-4). 13º CM, 21 pontos

1992 – 2 Ralis (Mitsubishi Galant VR-4). 20º CM, 14 pontos

2002 – 1 Rali (Peugeot 206 WRC). Não pontuou

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