Rali de Espanha/Catalunha: Thierry Neuville imparável, título adiado
Tal como sucedeu no campeonato português, também no WRC a luta pelo título ‘segue’ para a última prova, o Rali de Monza. Thierry Neuville venceu na Catalunha, batendo um dos candidatos ao título, Elfyn Evans, que não teve argumentos para o belga. Dani Sordo foi ao pódio em casa e a Hyundai adiou também a decisão dos construtores.
É nestas coisas que se vai percebendo que os tempos mudam e as coisas já não são o que eram. Depois de ganhar seis títulos quase sem ‘espinhas’, Sébastien Ogier vai pela segunda vez em dois anos à negra com Elfyn Evans.
Se no ano passado o galês teve o pássaro na mão, este ano é o francês que continua na mó de cima, mas em boa linguagem do ténis, falhou o match-point e agora tem que ir ao tie break.
As contas continuam a não ser fáceis para Evans, mas pode ter este ano a sorte que lhe faltou o ano passado.
Neste rali, Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 Coupe WRC) foram a força dominante, ainda que tenham demorado um pouco a ‘pegar’. Tal como o Hyundai antes do último troço, quando pregou um valente susto aos belgas, pois recusava-se a sair do parque fechado antes do último troço.
Inicialmente, foi Elfyn Evans que ‘arrasou’ a concorrência, mas Neuville a pouco e pouco foi melhorando, e assumiu o controlo da prova na PE5 aproveitando um deslize de Evans. A partir daí, foi sempre a ‘abrir’. No segundo dia ganhou seis dos sete troços e com isso criou uma margem de 16.4s que se percebeu ser suficiente para vencer, como sempre, em condições normais. Mais uma vez a fiabilidade dos Hyundai ia tramando a equipa.
Martijn Wydaeghe teve que empurrar o i20 e o carro lá pegou, com os belgas a suspirar de alívio. Stress desnecessário.
Para além disso, o 1-2 de Sordo e Neuville na Power Stage significou que a luta da Hyundai com a Toyota Gazoo Racing segue para Monza.
Este é o segundo triunfo de Neuville em 2021, o 15º da sua carreira, mas o segundo lugar de Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota Yaris WRC), significa que o título de pilotos se decide em Itália, com Ogier 17 pontos na frente.
O galês tinha que ganhar e esperar que Ogier ficasse o mais para trás possível, mas não cumpriu o seu objetivo, pois Neuville foi claramente mais forte. O segundo lugar não deixa de ser positivo, mas depois de ter começado tão bem o galês terminou o rali com um sabor agridoce. Resumidamente, não teve o nível de performance que precisava para vencer. Foi vendo Neuville afastar-se sem conseguir reagir.
Grande luta pelo pódio
Dani Sordo/Candido Carrera (Hyundai I20 Coupé WRC) terminaram na terceira posição, depois duma bela prova.
O espanhol começou o rali em quinto, cedo subiu à quarta posição em que passou a maior parte do evento, mas foi-se aproximando de Sébastien Ogier e no início do último dia passou-o na classificação, ganhando mesmo todos os troços de domingo. Com a família e amigos a vê-lo nos troços, mostrou grande combatividade e ofereceu-nos uma grande luta com um grande campeão. Foi o nono pódio do espanhol em 15 ralis em casa e o seu 50º pódio no WRC.
Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) esperava mais deste rali, mas como lhes é habitual nos últimos tempos, quando percebem que as coisas não se afiguram fáceis, já não usam o ‘killer mode’ que tantas vezes utilizaram ao longo da carreira.
Muito perto do seu oitavo título em nove épocas, Ogier cedo começou a lutar por ritmo, e mesmo depois de mudanças de afinação, não conseguiu suster o ataque de Sordo. Depois de ter aguentado o terceiro lugar dois dias, ainda tentou manter o espanhol atrás mas não conseguiu, até porque perdeu tempo ao deixar o motor do Yaris calar-se num gancho. Deverá conseguir assegurar o título em Monza, mas há muito que já nada arrisca. Pode ser que, para o ano, fazendo menos ralis, ainda mostre o que o celebrizou…
Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC) terminaram em quinto após uma prova apagada, mas regular. Depois do que lhe sucedeu na Finlândia, precisava de recuperar confiança, mas fez uma prova totalmente solitária, sem ritmo para chegar mais à frente e sem ninguém a dar-lhe luta atrás. Foi mais uma prova de aprendizagem que outra coisa qualquer.
Gus Greensmith/Elliott Edmondson (Ford Fiesta WRC) foram sextos, na prova que marca a despedida do navegador dos ralis. O piloto inglês suplantou vários pequenos problemas terminando no top 6, mais por exclusão de partes do que outra coisa qualquer. Um furo no sábado atirou-o para trás dois dois Hyundai da equipa 2C Competition, mas não demorou muito a regressar à mesma posição, pois os jovens dos dois Hyundai ainda não têm ‘estatuto’ para mais. Chris Patterson recordou que Greensmith tem evoluído. Talvez, mas não parece muito visto deste lado. A única vantagem é que é ainda muito novo e já tem boa experiência no WRC. Mas ainda não justificou o que prometia ao início, há uns anos.
Oliver Solberg/Craig Drew (Hyundai i20 Coupe WRC) voltou a correr com um RC1, e conseguiu o seu melhor resultado de sempre no WRC, depois de mais um fim de semana de aprendizagem. Desta vez foi bem cuidadoso, pois precisa destes quilómetros. Alguns pequenos erros, aqui e ali, algo natural nesta fase da carreira.
Nil Solans/Marc Marti (Hyundai I20 Coupé WRC) terminou a sua estreia com um WRC em oitavo, apenas a 8.2s de Solberg, o que é positivo, pois o sueco já lhe leva algumas provas de avanço com estas máquinas. O seu conhecimento do rali ajudou, não esteve mal, cumpriu sem deslumbrar ou muito menos desiludir.
Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai I20 Coupé WRC), Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota Yaris WRC) e Adrien Fourmaux/Renaud Jamoul (Ford Fiesta WRC), foram todos vítimas de acidentes nesta prova. O estónio já não regressou. Chegou a andar em quarto, mas já aí tinha feito um ‘360’ perdendo tempo. Bateu na PE4 quando era sexto. Takamoto Katsuta percebeu mal uma nota e bateu nos ralis, arrancando uma roda logo na PE1.
Já Adrien Fourmaux, era sexto até que um erro teve grandes consequências. Numa ligeira danificou muito a frente-esquerda do seu Fiesta WRC.
Desta forma, os melhores Rally2 terminaram no top 10, por exemplo Eric Camilli que venceu o WRC2 e colocou a Sports & You no top 10 numa prova do WRC.
Mads Østberg esteve na luta com Camilli pela vitória, mas um furo na tarde de sexta-feira entregou o título do WRC2 a Andreas Mikkelsen, que não correu em Espanha. Agora, venha Monza, onde se vai fazer história: ou com o 8º título mundial de Ogier ou com um novo campeão no WRC. Logo veremos…
MOMENTO
Thierry Neuville chegou a estar a 7.6s da frente, na PE4, mas um erro de Evan no troço seguinte permitiu ao belga ficar a 0.3s e o homem da Hyundai, respirou fundo e não perdeu a oportunidade. Passou para a frente no troço seguinte e não mais ‘passou cartão’ a quem vinha atrás. Evans bem tentou, mas nada pode fazer.
FIGURA
Thierry Neuville estava zangado com a equipa no final do rali, porque esta lhe colocou stress desnecessário com o i20 WRC a apresentar uma vez mais falta de fiabilidade. Andreas Adamo é um grande líder, mas há quase sempre algo a falhar na equipa, em termos de fiabilidade. E Neuville não merecia isso depois do rali que fez. Ainda bem que nada aconteceu pois seria muito injusto.