Puzzle do WRC quase pronto

A pouco e pouco começam a encaixar-se as peças do puzzle do WRC 2020. Com o Rali da Alemanha em perigo, a competição deverá ressurgir com um formato totalmente novo, agrupando provas geograficamente para facilitar as deslocações. As novidades oficiais estão para breve.

A vida não tem sido fácil para a FIA e para os promotores dos dois principais campeonatos, a Fórmula 1 e o Mundial de Ralis. Para os homens das pistas o recomeço já está agendado para o início de julho, mas no caso dos ralis as coisas estão a ser bem mais complicadas, já que ao contrário do que sucede com eventos realizados ‘entre portas’, as provas de estrada têm outras nuances, e daí advém a dificuldades dos diversos países em levar a bom porto os seus eventos. Seja como for, a FIA e o seu Presidente, Jean Todt, já vislumbram um caminho e o francês revelou que o WRC recomeça em setembro, provavelmente nos países do Báltico. Mas a isso já lá vamos.

Depois de ter sido adiado devido à pandemia que afetou fortemente Itália nos últimos meses, o Rali de Itália deve agora realizar-se em outubro. Por outro lado, e com o Rali da Alemanha em perigo, perfilam-se várias outras hipóteses, nomeadamente provas que habitualmente militam no Europeu de Ralis, que pode ter este ano, a título excecional, uma coexistência com o WRC. Já está confirmado, os ralis de Ypres, Valais, Chipre, Letónia e Estónia estão em conversações com o promotor e a FIA para colocarem de pé provas do WRC, num calendário que deverá ser conhecido em breve. Mas vamos ao detalhe…

No seu discurso de abertura no âmbito da 1ª Conferência económica da FIA, realizada na passada semana, Jean Todt, Presidente da FIA revelou que o WRC tem previsto novo arranque em setembro: “o Campeonato do Mundo de Ralis está atualmente a considerar cenários alternativos com um reinício em setembro, incluindo a reintrodução de eventos adiados para garantir que temos a melhor oportunidade possível de completar a série de 2020”, disse Todt.

Um deles deverá ser o Rali de Itália/Sardenha, que poderá realizar-se em outubro. Depois de vários cancelamentos consecutivos, ficou a saber-se que a prova italiana poderá realizar-se em outubro. Com a época do WRC marcada por cinco cancelamentos (Portugal, Quénia, Finlândia, Nova Zelândia e Grã-Bretanha), entre as duas provas adiadas, Argentina e Itália, esta última dá o primeiro sinal recente de se poder vir a realizar.

Mas o Wrc tem sido uma montanha-russa e informação positiva e negativa. Reentra a Itália, provavelmente sai a Alemanha. E porquê? Devido às novas medidas que a Alemanha colocou de pé de modo a prevenir uma nova ‘carga’ da pandemia de coronavírus, proibindo grandes eventos até ao final de outubro. Logicamente, estando previsto para 15 a 18 de outubro, isto coloca em grande perigo o Rali da Alemanha, que quase de certeza – ainda não exista comunicação oficial – vai ficar de fora do WRC 2020. Quando os primeiros-ministros dos 16 estados alemães, exortam as pessoas a serem cautelosas e a manterem o distanciamento social, pouco há a fazer quando se tratam de grandes eventos.

A Alemanha tem conseguido manter a sua taxa de mortalidade Covid-19 relativamente baixa, já reabriu lojas, fábricas, escolas e restaurantes, mas

os grandes eventos, em que não é possível localizar e distanciar os contactos, proibidos pelo menos até ao final de outubro, deixa claro o futuro da prova.

É neste contexto que surge a possibilidade dos Rali de Ypres e Valais, sendo que um deles quase de de certeza vai avançar, o mesmo sucedendo com o eixo Estónia/Letónia. O que vai ser do resto do calendário é uma incógnita, mas com a prova italiana, na Sardenha, prevista para outubro, Chipre é quase um caminho lógico.

WRC no Báltico

Há pelo menos duas semanas que se fala da Estónia ser possibilidade para receber o WRC, algo que já foi confirmado pelos promotores locais, mas a pista do Báltico afinal aponta também para a Letónia, depois dos organizadores do Rally Liepäja, a ronda letã do Europeu de Ralis, terem confirmado que deram início a discussões com o promotor do WRC com vista à sua possível inclusão no calendário da WRC 2020.

A prova letã está prevista para 14 a 16 de agosto, tal como sucede com o Rali da Estónia, também o Rali Liepäja tem estradas semelhantes e pode acolher as duas competições em paralelo, mantendo-se como ronda do ERC da FIA. Neste contexto, já se percebeu que a FIA está a encontrar solução nas provas europeias do ERC para ‘resolver’ o WRC 2020, sendo que desta forma ao invés de dispersar ralis, junta-os.

Raimonds Strokss, Director de Eventos da RA, confirma as conversações com o Promotor da WRC: “A RA Events e o Promotor do WRC realizaram a primeira ronda de conversações esta segunda-feira, onde foram discutidos múltiplos aspetos organizacionais, termos e condições, e muitos outros tópicos que precisam de ser abordados para que a Letónia possa acolher este ano uma ronda do Mundial de Ralis da FIA, juntamente com uma ronda do ERC. Quero sublinhar que esta é apenas uma primeira ronda de conversações e que nenhuma das partes está próxima das decisões finais sobre esta matéria”, disse.

Quanto à Estónia, interessa primeiro fazer um parêntesis porque o primeiro rali na Estónia que se falava era o Rally DirtFish Estonia, que pretendia aproveitar o espaço deixado pelo cancelamento do ‘verdadeiro’ Rali da Estónia. Contudo, os seus organizadores confirmaram que não estavam à procura de um lugar no WRC e depois disso surgiu a informação que o Rali da Estónia (não o do Dirtfish) pode ainda também organizar uma prova.

Há três anos no Europeu de Ralis da FIA, é intenção dos homens comandados pelo antigo pilotos de ralis, Urmo Aava ir para o WRC e pelos vistos têm agora uma oportunidade. Claro que todas estas negociações se estão a desenrolar no maior segredo possível, mas fonte local confirma que já falaram com as autoridades locais e estão a negociar com o WRC. Resta saber o que vai fazer a FIA, escolher um ou outro, ou… optar pelos dois.

Alemanha, Bélgica, Suíça…

No caso do asfalto e com o Rali da Alemanha quase de fora, os organizadores do Rali de Ypres confirmaram oficialmente que são candidatos à integração da sua prova no calendário do Campeonato do Mundo de Ralis 2020, num evento que se deverá alargar um pouco para além do que é habitual, estendo-se até Spa-Francorchamps. Jan Huyghe, do Comité Organizador da prova, em declarações à Speed Magazine disse que “é uma grande honra ser convidado para ter a nossa prova no WRC 2020. Há anos que o Ypres Rally tem sido elogiado em toda a Europa pela qualidade da sua organização, experiência e segurança. Sentimo-nos honrados pelo facto da FIA nos ter pedido para o fazer e, a partir desse momento, o Superstage Club está a trabalhar para definir um novo percurso e a falar com a cidade de Ypres, a federação e outras autoridades. O projeto tem sido bem recebido pois criámos um evento belga que combina dois ícones do desporto automóvel belga: Ypres e Spa-Francorchamps. Mas ainda nada foi decidido. O Superstage Club está atualmente em negociações com a FIA e o promotor da WRC e a decisão será tomada em breve”, concluiu.

Depois, surgiu a pista suíça! Para além de Ypres, que pode substituir o Rali da Alemanha, surgiu também o Rallye International du Valais, numa informação adiantada por órgãos de comunicação social suíços. Segundo Cédric Borboën Président do Rallye International du Valais, prova disputada nos arredores da cidade de Sion, é alternativa: “Muita coisa mudou com a Covid 19 e há oportunidades a surgir. É verdade, estamos a discutir com os promotores da WRC a possibilidade de estar no calendário de 2020 do WRC, mas ainda é muito cedo para avançar mais qualquer dado sobre este assunto”, disse. Logicamente que não vai haver lugar para todos, mas, como sempre este tipo de situações, em que surgem várias hipóteses, tem sempre um fim muito simples de entender: Pressão entre as várias partes que negoceiam, e logicamente, alternativas. Neste caso, é praticamente certo que só um dos dois ficará, provavelmente Ypres.

Aqui convém acrescentar que ainda há mais provas previstas. Do Rali da Turquia não se fala muito e portanto é uma incógnita se vai realizar-se.

Com o Rali do Japão, em teoria, não há grandes problemas, mas não só as equipas não têm muita vontade de fazer uma grande deslocação em tempos de pandemia, como o facto da decisão ter que acontecer em breve pode fazer pender para o lado do não a decisão.

Na verdade, todos os dados apontam para um ‘resto’ de WRC totalmente centrado na Europa, com as possíveis deslocações ponderadas ao pormenor, de modo a reduzir aos mínimos os riscos de contágio. Por isso acreditamos que o WRC vai recomeçar no Báltico, realizar a ‘tal’ prova de asfalto, provavelmente na Bélgica, depois o Rali de Itália Sardenha, ficando por saber o que pode acontecer com o Chipre de que já se fala há algum tempo e com a Turquia. Decisões em breve…