PLANO PARA SALVAR O WRC 2020
Está em marcha um plano para salvar o Mundial de Ralis de 2020. Depois do recente cancelamento dos ralis da Finlândia e Grã-Bretanha, a FIA e o Promotor podem incluir ralis tão díspares quanto Estónia, Chipre, Canárias, Re. Checa e Ypres. Em tempo de guerra, não se limpam armas…
Até ao momento em que a pandemia de coronavírus atacou em força, o Mundial de Ralis já tinha disputado duas provas, os ralis de Monte Carlo e da Suécia, com o Rali do México a ‘salvar-se’ in-extremis, sendo-lhe cortado o último dia de prova, devido a receios que os aeroportos norte-americanos fossem fechados e a caravana do WRC ficasse presa entre o México e os EUA.
Nesse mesmo fim de semana, a Fórmula 1 ficaria totalmente apeada na Austrália.
Foi nesse momento que a crise sanitária decorrente da Covid-19 começou a afetar o resto do mundo depois de instalar na Ásia. A partir daí foi arrasadora. Não vale a pena recordar os terríveis momentos que se viveram na Europa, maioritariamente em Itália e Espanha, sendo que o Campeonato do Mundo de Ralis 2020 depressa começou a sentir os efeitos devastadores da pandemia: O Rali da Argentina foi adiado, os ralis de Portugal e Itália foram adiados pouco depois, a prova portuguesa foi cancelada. Depois foi a vez do Rali Safari a ser inicialmente adiado e posteriormente, também cancelado.
O tempo foi passando e vimo-nos chegados a um momento em que se pensava que o WRC 2020 iria recomeçar na Finlândia, no início de agosto, mas não há muito tempo, essa possibilidade foi por água abaixo, quando os organizadores finlandeses perceberam que seria demasiado arriscado esperar que as condições para a realização da prova fossem efetivas na data prevista. Mas esse risco era enorme e a única solução restante era cancelar, o que aconteceu.
Logo a seguir, foi a vez da Nova Zelândia, algo que já era esperado face à forma como a país estava a combater (bem) a pandemia, sendo altamente improvável que arriscassem qualquer abertura em tempo útil.
Nessa altura, ‘sobravam’ quatro ralis agendados, Turquia, Alemanha, Grã-Bretanha e Japão, mas o recente cancelamento do Rali da Grã-Bretanha veio fazer soar todos os restantes alarmes que ainda não tinham ‘tocado’ no WRC. Com esta anulação, só seria possível realizar quatro provas, somando dessa forma as sete que a FIA ‘exige’ para haver um campeão, mas isso só seria possível com a inclusão do ‘adiado’ Rali de Itália/Sardenha, o que não é algo que se possa dar como certo neste momento. Por isso, e sob o risco de ‘caírem’ mais eventos e dessa forma acabar com o que resta do WRC 2020, eis que a FIA desencanta um Plano B…
‘Fora da caixa’
E o que fez a FIA? Como “quem não tem cão, caça com gato”, ao invés de ficarem sentados à espera que acontecesse algo, que provavelmente seriam mais cancelamentos, os homens da FIA arregaçaram mangas e foram à procura de soluções, e pouco depois de se ter ficado a saber que os dois ralis que mais vezes pertenceram ao Mundial, desde 1973, 46 vezes, Finlândia e Grã-Bretanha, não se realizariam este ano devido à pandemia de coronavírus, eis que a FIA, o Promotor e as equipas tiram um coelho da cartola, que pode incluir provas fora da ‘caixa’, leia-se do calendário inicialmente previsto para 2020.
Na reunião do Conselho Mundial da FIA, prevista para a próxima semana, vai saber-se mais relativamente a um novo calendário do Campeonato do Mundo de Ralis. Há muito que se sabe que a FIA e o promotor do WRC desejam pelo menos sete provas para poder haver um Campeão esta época, e por isso surgiram novas possibilidades. Algumas totalmente surpreendentes.
Chipre, Estónia, República Checa e Bélgica. Está surpreendido? Nós também, mas há alguma lógica na questão, se a aprofundarmos.
Com a pandemia o Rali da Estónia tinha sido anulado, mas no fim de maio o Autosport Union da Estónia anunciou a intenção de organizar um rali internacional no verão, a exemplo do que sucedeu em 2019, mas com uma novidade, seriam utilizados os percursos previstos para o Rali da Estónia, prova do ERC anteriormente cancelada. Chama-se Rally Dirtfish-Estónia, tem forte apoio do Dirtfish, uma empresa que tem escolas de ralis nos EUA, mas que recentemente tem vindo a ser uma espécie de segundo Promotor do WRC, muito particularmente nos EUA. Houve fortes investimentos, e o Rali da Estónia é só mais um. Aproveitando o contexto, podem aproveitar bem o facto do Rali da Finlândia ter sido cancelado e provavelmente o Rali da Estónia irá ser a primeira prova do WRC a seguir ao México. Acha que foi por acaso que a Hyundai foi testar para a Finlândia, que tinha acabado de cancelar a prova? O Rali da Estónia é quase igual ao Rali da Finlândia. Só muda mesmo o país.
Seja como for, isto tem de ser confirmado pelo Conselho Mundial de FIA de 19 de junho, mas a solução deverá começar por aqui.
A época deverá recomeçar em agosto na Estónia sendo que os concorrentes do WRC viajarão depois para a Turquia, como previsto.
A terceira prova pode ser na Bélgica, o famoso Rali Ypres. Se a Estónia calha bem para Ott Tanak, a Bélgica é boa para Thierry Neuville.
Curiosamente, caso se confirme a Bélgica, seria uma estreia absoluta no WRC.
Depois da Bélgica, o WRC rumaria à Alemanha, com o Rali de Itália/Sardenha a ocupar depois a data deixada vaga pelo Rali da Grã-Bretanha, em outubro. Partindo do princípio que a pandemia vai continuar a normalizar-se na Europa e na Ásia, o WRC iria para o Japão, também na data prevista, mas para o WRC 2020 poder ter um total de 10 provas, surge ainda como hipótese uma enorme surpresa: O Rali das Canárias, em dezembro. A prova do Europeu de Ralis foi adiada e pensava-se que pudesse realizar-se lá mais para a frente. Pelos vistos pode ser no WRC.
Há pelo meio outras possibilidades mais ou menos lógicas, o Rali de Chipre, por exemplo, prova que já pertenceu ao WRC, entre 2000 e 2009. Ou o Rali Barum Zlin, uma das melhores provas do Europeu de Ralis.
Confirmando que há algo de muito diferente no ar, numa entrevista a uma TV sueca, a SVT, Oliver Ciesla, diretor-Geral do Promotor afirmou: “Estamos a ponderar todas as opções possíveis. Temos as datas disponíveis e agora há que perceber quanto tempo precisamos para passar de um local para outro. A logística é um fator bastante limitativo neste campeonato e a consequência disso é que estamos à procura de alternativas na Europa.
Seja como for, nós e em especial a FIA, que, neste momento, demonstra flexibilidade com o formato, precisamos de ter garantias que os padrões de segurança estão ao nível de um Campeonato do Mundo. A segurança para nós tem um padrão elevado, e isso limita bastante as opções. Por outro lado, devido a questões logísticas, talvez seja melhor ficar no continente do que ir a uma ilha, isso reduz as possibilidades para quatro ou cinco eventos e esses podem ser provas que tenham estado no Europeu ou que já estiveram em contacto com o WRC e que procurávamos observar como candidatos. Há uma série de eventos que identificámos e estamos já em conversações com todos eles para vermos o mais rapidamente o que é possível”.
E o que significa flexibilidade de formato? Ralis mais curtos, pro exemplo. Não faz grande sentido pedir a organizações sem experiência de WRC que façam provas demasiado exigentes. Se os organizadores, estónio, belga, canário ou cipriota estão habituados a fazer provas do ERC, ou perto disso, não faz sentido tentar algo mais exigente. Portanto, caso se confirmem novos ralis, esperem-se prvas de dois dias, por exemplo.
O mais positivo disto tudo é que a FIA não está a ver tudo desmoronar-se à sua frente: Está a trabalhar para substituir, como puder, algumas provas em falta. Portanto, vamos ver o que acontece.