Há pilotos assim: sem serem uns bafejados pela sorte, acabam sempre por dar nas vistas. O seu talento é o principal responsável por isso. Per Eklund é um deles.
Per Eklund foi piloto de fábrica enquanto não houve WRC. Ou melhor, o seu derradeiro ano como piloto oficial de uma marca de automóveis foi em 1979, o no do primeiro campeonato mundial de ralis (WRC) para Pilotos. Entre 1980 e 1984, correu para a Toyota Team Europe, tanto no WRC como no campeonato britânico. Depois disso, andou a saltitar de carro para carro, pregando a arte de bem pilotar. Quase como se fosse o anátema vivo daquela máxima (errada, é certo…) que garante que todos os carros são iguais – e que para os bem conduzir, basta ter três pedais e um volante. Então, e a peça por trás deste? Pois é: neste caso, ela era a coisa mais importante e chamava-se Per Eklund.
Piloto da SAAB
Nascido em Skönnerud, na pequena municipalidade de Värmland, Per Torsten Eklund foi um dos mais versáteis pilotos de ralis da sua geração. No WRC, nunca atingiu o topo, mas distinguiu-se pela sua velocidade em terrenos difÃceis, nomeadamente na neve sueca e nas picadas, como na Costa do Marfim, onde subiu o pódio por três vezes consecutivas – 1981 (2º), 1982 (2º) e 1983 83º), as primeiras duas ao volante de um Toyota Celica 2000 GT e na última com um Celica Twincam Turbo.
Eklund começou como navegador do seu irmão mais velho, porque ainda não tinha feito os 18 anos. Mas, mal isso sucedeu, pediu ‘emprestado’ ao pai o Volvo PV544 para começar a fazer ralis… ao volante. O seu primeiro carro de ralis foi um VW Carocha, que depressa trocou por um Saab 96 de dois cilindros em 1966 e, no ano seguinte, por um mais competitivo V4. Começou assim uma ligação à marca sueca que se tornou oficial em 1970 e durou até 1979. Antes disso, deu nas vistas no campeonato sueco e, quando foi contratado pela SAAB, tornou-se, com o seu compatriota amigo Stig Blomqvist, parte da equipa júnior de ralis da marca.
A luta entre ambos fez correr muita tinta e durou mais de uma década. Eklund saiu a perder largamente, com um único triunfo a seu cargo, no Rali da Suécia de 1976. Na verdade poderia ter também ganho os Alpes AustrÃacos em 1973, sem um controverso protesto da BMW… Mas dos ‘ses’ não reza a história.
E, quase como se fosse uma vingança, já depois da SAAB ter deixado oficialmente o WRC, Eklund levou ao 4º lugar na Suécia (1982) um privado 99 Turbo – resultado que o deixou tão orgulhoso do que se tivesse ganho, pois lutou contra adversários equipados com carros de tração total… e a prova foi toda disputada com neve!
Enfim, numa espécie de reconhecimento ou homenagem, a derradeira aparição de Eklund numa prova do WRC foi feita ao volante de um SAAB 900 Turbo inscrito pela filial local – no RAC de 1997, mas o sueco abandonou com problemas na direção.
… e da Toyota
Depois da SAAB e antes de começar a saltitar de carro para carro, colhendo alguns parcos resultados com modelos da Triumph, Lancia, VW, Nissan ou Subaru, nas provas do WRC, Per Eklund correu durante quatro temporadas (1980 a 1984) com as cores da TTE (Toyota Team Europe).
A estreia foi na Costa do Marfim, onde foi 7º, preparando o terreno em que brilhou nos três anos seguintes – oferecendo mesmo à segunda geração do Celica um dos seus melhores resultados no WRC, quando acabou em 2º a prova africana, em 1981. Depois de a Toyota ter abandonado o Celica 2000 GT, fez algumas provas selecionadas com o Celica TC Turbo e, no campeonato britânico, correu com um Corolla AE86 de Grupo A e um Sura 2800 GT, conseguindo o 4º lugar tanto em 1983, como em 1984.
Depois disso, correu em 1986 com o poderoso MG Metro 6R4 de Grupo B mas, nos três ralis do WRC que fez, apenas terminou em dois – sendo 7º quer no Mil Lagos, quer no RAC.
A sua melhor temporada no WRC foi a de 1982, quando foi 5º, sempre ao volante do Celica 2000 GT, com o qual conquistou nesse ano três 2º lugares – no Rallye de Portugal-Vinho do Porto, na Nova Zelândia e na Costa do marfim, aqui elo segundo ano consecutivo. Além disso, foi 4º na Suécia com um SAAB 99 Turbo e 9º no RAC, com o Celica.
Per Eklund esteve 15 anos sem dar sinais de vida nos alis, dedicando-se às provas de ralicrosse, a sua outra (há quem diga que a verdadeira…) paixão. Regressou m 2012 às provas de estrada, ao participar no Rallylegend Stars, com um VW Golf GTI, que repetiu no ano seguinte, mas agora com um Golf G60 Rally.
Rali da Suécia de 1976: A única vitória no WRC
Per Eklund somente venceu uma prova do WRC. Foi no ‘seu’ Rali da Suécia em 1976, ainda não tinha sido instituÃdo o Campeonato do Mundo de Pilotos – nem, sequer, a Taça FIA de Pilotos, que o antecedeu.
Ao volante de um SAAB 96 V4 oficial, Eklund protagonizou, nessa prova, o ‘enésimo’ duelo com o seu colega de equipa Stig Blomqvist, que durou o rali todo e terminou, por uma vez sem exemplo, a seu favor, ao terminar com escasso 1m36s de vantagem.
Esse Rali da Suécia foi, praticamente, um assunto ‘particular’ entre os dois suecos, que dominaram a quase totalidade das classificativas. O último lugar do pódio foi ocupado por outro sueco, Anders Küllang, ao volante de um Opel Ascona, mas já com mais de 20 minutos de atraso – mas precisamente, 22m44s. O primeiro estrangeiro foi o finlandês Simo Lampinen, com um Lancia Stratos HF, em 4º, a 37m22s. Prova perfeitamente ‘regional’, para especialistas e ‘heróis’ locais, o Rali da Suécia, então, era ainda inalcançável para pilotos que não fossem oriundos da penÃnsula escandinava – a atestar essa verdade ‘palissiana’, está o fato de, entre os 14 primeiros, nenhum dos pilotos ser de outra nacionalidade que não fosse sueca, finlandesa ou norueguesa! Outros tempos…
O especialista em ralicross
Per Eklund, talvez mais que piloto de ralis e no WRC, foi um especialista em provas de ralicross, onde conquistou a sua coroa de glória quando, em 1999, foi Campeão da Europa ao volante de um SAAB 9-3 T16 4×4 com cerca de 750 cv. Cinco anos mais tarde, venceu a competição sueca, aos 58 anos e, neste ano em que se está a realizar a primeira edição do campeonato do Mundo, a sua maior mágoa é… não ter ‘idade’ para se manter ativo e continuar a fazer aquilo que mais gostava: divertir-se nas rápidas e curtas provas de ralicross. Mesmo assim, ainda há bem pouco tempo, ele era um dos mais competitivos pilotos que competiam no Europeu.
Além disso, têm-se dedicado a passar o testemunho naquela modalidade, protegendo e encaminhando o seu jovem pupilo Toomas Heikkinen, de 23 anos, desde 2010. Utilizando o SAAB 9-3 que foi pilotado, com sucesso e espetáculo, pelo próprio Eklund, ‘Topi’ Heikkinen, que é finlandês e não sueco, ganhou nesse ano de estreia o campeonato do seu paÃs, enquanto fazia algumas provas do Europeu, para ganhar experiência. Em 2013, participou no Global Rallycross, ganhando cinco provas consecutivas e sendo eleito o Piloto do Ano na Finlândia.
Heikkinen esteve este ano em Montalegre, com a Eklund Motorsport, que lhe fez um SAAB mais de acordo com as suas caraterÃsticas de pilotagem, como o motor em posição mais recuada e um novo sistema de transmissão. Infelizmente, teve que abandonar, depois de um toque noutro piloto. Mas, bem acolitado pela enorme experiência de Eklund – que, como fazia com tantos dos carros que usou nos ralis, é quem prepara o seu SAAB – decerto que ainda irá dar que falar, no futuro.
Per Eklud estreou-se a vencer a que foi a primeira prova de ralicross que existiu na Suécia, em Hedemora, no dia 17 de Outubro de 1971. Ao longo dos anos seguintes, pilotou primeiro o manejável SAAB 96 V4 e, depois, várias evoluções do SAAB 99, com as quais foi 7º e 4º, respetivamente, nas duas primeiras edições com Europeu, em 1973 e 1974.
PALMARÉS
Nome: PER Torsten EKLUND
Nascimento: Skönnerud, Koppom, Värmland, 21 de junho de 1946 (68 anos)
Estreia na competição: 1963 (co-piloto); 1964 (piloto)
WRC: 1973-1997
Ralis WRC: 83
1º Rali WRC: Suécia 1973
Último Rali WRC: RAC 1997
Vitórias: 1
1ª Vitória WRC: Suécia 1976
Última Vitória WRC: Suécia 1976
2º lugares: 6
3º lugares: 6
Pódios: 13
Pontos: 270
Classificativas ganhas: 73
TÃtulos:
1978 – Campeão da Suécia de Ralis (SAAB 96 V4)
1999 – Campeão FIA da Europa de Ralicrosse (SAAB 9-3 T16 4×4)
2004 – Campeão da Suécia de Ralicrosse
PALMARÉS WRC
1973 – SAAB 96 V4: 4 ralis. Não havia campeonato de Pilotos.
1974 – SAAB 96 V4: 2 ralis. Não havia campeonato de Pilotos.
1975 – SAAB 96 V4: 3 ralis. Não havia campeonato de Pilotos.
1976 – SAAB 96 V4: 1 rali. 1 vitória (Suécia). SAAB 99 EMS: 2 ralis. Não havia campeonato de Pilotos.
1977 – SAAB 99 EMS: 3 ralis. Não havia campeonato de Pilotos.
1978 – SAAB 99 EMS: 1 ralis. Porsche 911: 1 rali. SAAB 99 Turbo: 1 rali. Não havia campeonato de Pilotos.
1979 – FIAT Ritmo 75: 1 rali. SAAB 99 Turbo: 1 rali. Triumph TR7 V8: 3 ralis. 54º WRC, 3 pontos.
1980 – VW Golf GTI: 1 rali. Datsun 160J: 1 rali. Triumph TR7 V8: 3 ralis. Toyota Celica 2000 GT: 1 rali. 11º WRC, 27 pontos.
1981 – VW Golf GTI: 1 rali. Porsche 911 SC: 2 ralis. Toyota Celica 2000 GT: 5 ralis. 10º WRC, 29 pontos.
1982 – SAAB 99 Turbo: 1 rali. Toyota Celica 2000 GT: 4 ralis. Porsche 911 SC: 1 rali. VW Golf GTI: 1 rali. 5º WRC, 57 pontos.
1983 – SAAB 99 Turbo: 1 rali. Audi Quattro A2: 1 rali. Toyota Celica Twincam Turbo: 2 ralis. 10º WRC, 22 pontos.
1984 – Audi Quattro A2: 2 ralis. Toyota Celica Twincam Turbo: 2 ralis. 7º WRC, 30 pontos.
1985 – Audi Quattro A2: 3 ralis. 10º WRC, 24 pontos.
1986 – MG Metro 6R4: 3 ralis. 34º WRC, 8 pontos.
1987 – Subaru RX Turbo: 2 ralis. Audi Coupé Quattro: 3 ralis. Nissan 200 SX: 1 rali. 12º WRC, 25 pontos.
1988 – Lancia Delta HF 4WD: 1 rali. Nissan 200 SX: 1 rali. Nissan March Turbo: 1 rali. 20º WRC, 12 pontos.
1989 – Lancia Delta Integrale: 3 ralis. Nissan March: 1 rali. Nissan 200 SX: 1 rali. Nissan March Turbo: 1 rali. 19º WRC, 16 pontos.
1990 – Lancia Delta Integrale 16V: 2 ralis. Não pontuou no WRC.
1991 – Lancia Delta Integrale 16V: 2 ralis. 49º WRC, 3 pontos.
1992 – Subaru Legacy RS: 3 ralis. 32º WRC, 8 pontos.
1993 – Subaru Legacy RS: 1 rali. Não pontuou no WRC.
1996 – Subaru Legacy RS: 1 rali. Não pontuou no WRC.
1997 – SAAB 900 Turbo: 1 rali. Não pontuou no WRC.