OPINIÃO WRC: histórias de pneus, e a paixão que vive este desporto…
São vários os motivos do ‘marcar passo’ do WRC e a inexistência de escolhas múltiplas de pneus no WRC é só mais uma delas. Por uma questão de custos, os custos, esses malfadados custos que a FIA e os consecutivos promotores olham de uma forma totalmente absurda, quando se preocupam demais com o acessório e esquecem-se completamente do essencial, ao ponto de permitirem que os atuais carros, desenvolvidos e pensados para serem mais baratos que os WRC 2017-21, que já eram caríssimos, pois bem, estes ainda são bem piores.
Voltando ao tema, a FIA entende, há muito, que deve haver somente um fornecedor de pneus, porque, e isto é verdade, poupa custos às equipas. Sem dúvida. Mas esqueceram-se do espetáculo. Nunca devemos tomar uma decisão sem olhar para todos os lados do problema. Só assim é que ele fica bem resolvido. Ou então, o que é o mais provável, assumiram que por uma questão de custos, se lixe o espetáculo. O que não concordo. Mas não sei se foi assim.
Voltando aos pneus, se somarmos as vitórias de todos os construtores de pneus, chegamos a um número superior ao das provas disputadas no WRC. Confuso? A explicação é simples: nos primeiros tempos, era comum os concorrentes recorrerem a mais do que um fornecedor para completar um rali, já que as características do percurso eram muito mais heterogéneas, misturando asfalto e terra ou zonas rápidas com secções de elevado desgaste.
Na volta à Córsega de 1981, por exemplo, a primeira etapa, que incluía classificativas com mais de
80 quilómetros, foi demolidora para os pneus, com inúmeros furos a ‘vitimar’ os candidatos à vitória.
O vencedor, Bernard Darniche, começou por calçar o Lancia Stratos com borrachas Pirelli, mudou pouco depois para a Michelin, optando ainda pelos Kléber para a segunda e última etapa.
E o mais curioso é que, nos guarda-lamas e na traseira do Stratos, a publicidade da marca de pneus também ia mudando, em função das borrachas utilizadas!
Curiosamente, no Rali de Portugal de 2012, marcado pelas péssimas condições atmosféricas, o piloto Jari Ketomaa, cliente da DMack e patrocinado pela marca chinesa, optou por equipar o Ford Fiesta WRC com pneus da adversária Michelin. Este é só um exemplo, os tempos eram outros e não foi assim há tanto tempo.
As histórias que tanto alimentaram os ralis no passado, também se fizeram de borracha e, uma lógica monomarca, mesmo que vantajosa na perspetiva dos custos, dificilmente contribuirá para gerar entusiasmo e paixão. E é de paixão que vive este desporto…