Martin Holmes: “Poderá não ser a mais fantástica fotografia que tirei, mas é a que mais significado tem para mim”


Martin Holmes é um dos mais carismáticos e conhecedores jornalistas que seguem o “Mundial” de Ralis. Dividindo a sua actividade pela reportagem fotográfica e pelo jornalismo, Holmes tem granjeado, ao longo dos anos, a simpatia e o respeito dos mais distintos intervenientes, reconhecendo-lhe, todos sem excepção, uma bagagem de conhecimentos notável e uma objectividade foto-jornalística inigualável. Colaborador “de sempre” do AutoSport, Martin Holmes respondeu ao nosso desafio com uma fotografia e consequente história, que nos remete para um dos mais dolorosos momentos que a modalidade atravessou.

“A foto objecto desta crónica diz respeito a Henri Toivonen, sentado no seu Lancia Delta S4, em Bastia, na manhã do dia em que, infelizmente, acabou por morrer no decorrer do Rali da Córsega. Esta imagem é, para mim, a mais emotiva entre todas as que me lembro de ter tirado.

Um sentimento terrível e de grande perplexidade começou a assaltar-me, enquanto esperava, em vão, pela chegada dos carros a Croce d’Arbitro, percebendo que algo de muito preocupante tinha acontecido, principalmente quando vi, através do Collo di S. Quilico, uma pálida coluna de fumo a subir para o céu. Pouco tempo depois a rádio local noticiou que Toivonen tinha batido e, quase de seguida, que ele e o seu co-piloto, Sergio Cresta, tinham morrido.

Senti-me tal como tinha acontecido um ano antes quando Attilio Bettega tinha falecido e, sete anos mais tarde quando o mesmo aconteceu a Rodger Freeth, na Austrália. De repente os pensamentos sucederam-se num turbilhão e, para mim, a morte de Henri provocou-me uma súbita obsessão. Queria lembrar-me da última vez que tinha falado com Henri, mas não o conseguia fazer. As imagens passavam pela minha mente, retrospectivamente, mas nada conseguia fazer com que me recordasse.

Regressei ao quartel-general do rali em Ajaccio onde poderia aceder a toda a informação que necessitava sobre a vida de Henri, as consequências do sucedido e a forma como o acidente poderia afectar o desporto no seu todo.

Então alguém aumentou o som de uma televisão e o noticiário da TF1 estava a relatar o acidente. O “cameraman” focava Henri sentado no seu carro, conversando e rindo com um desconhecido, ao mesmo tempo que o flash de um fotógrafo iluminava, periodicamente, a cena. Ele estava a conversar comigo, rindo (tal como ele e os outros pilotos finlandeses sempre faziam) do tamanho ridiculamente pequeno das minhas câmaras, as câmaras “Rato Mickey”, tal como Kankkunen as apelidava. Os tais flashes eram da minha câmara e a sua presença removeu, de imediato, a minha obsessão.

Esta peça jornalística fala sobre a última fotografia que tirei a Henri Toivonen, um dos mais talentosos e controversos pilotos de ralis, uma espécie de Gilles Villeneuve da “estrada”. Tinha seguido a carreira de Henri desde os seus 16 anos de idade. Tinha assistido ao Rali do Ártico quando conquistou a sua primeira grande vitória, estive no carro atrás dele quando venceu o Rali do RAC em 1980. Poderá não ser a mais fantástica fotografia que tirei, mas é a que mais significado tem para mim.

Martin Holmes

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