Lancia Delta Integrale de 1992: O último ‘Deltona’ oficial

Por a 29 Maio 2024 09:32

Agora que a Lancia confirmou o regresso aos ralis, ainda que para já apenas através do segundo nível da Pirâmide dos Ralis da FIA, os Rally4, recordamos aquele que foi o último Lancia oficial no Mundial de Ralis.

Com o recente novo triunfo da Toyota no Rali de Portugal, a Lancia passou a ser a segunda marca que mais triunfos tem no Rali de Portugal a contar para o Mundial de Ralis – seis, com Stratos e com o Delta HF e depois o Integrale (os dois triunfos com o Fulvia foram pré-WRC). É da última versão deste último modelo que vamos falar, o ‘Superdelta’, ou ‘Deltona’, que assinou a última vitória da Lancia no Rali de Portugal, por intermédio de Juha Kankkunen, em 1992.

O ano de 1992 foi o último da Lancia no WRC: no final da temporada, a equipa Martini Racing retirou-se e deixou entregue a equipas privadas, como a Jolly Club ou H.F.Grifone, a defesa da ‘honra’ a partir de 1993. Nesta hora próxima do Rali de Portugal, recordamos o Delta Integrale que ganhou a prova nesse ano, pilotado por Juha Kankkunen. Foi a última vez que isso sucedeu em Portugal – no WRC, foi preciso esperar mais seis triunfos, até ao Rali de Sanremo, então por intermédio de Andrea Aghini. Nesse ano, Kankkunen foi vice-Campeão entre os Pilotos e a Lancia venceu o título de Construtores.

O canto do cisne

Em 1991, a Lancia revalidou os títulos de Pilotos e de Construtores e, embalada por esse sucesso, decidiu criar aquela que seria a derradeira evolução do Lancia Delta Integrale – a que ficou conhecida como ‘Superdelta’, ou ‘Deltona’. Apresentada no Rali de Monte Carlo de 1992 – que acabou por vencer, através de Didier Auriol, após uma prova em que o francês teve que recuperar de um erro inicial – tinha os eixos dianteiro e traseiro mais largos e a suspensão tinha sido melhorada, tornando o carro mais estável a velocidades elevadas. Na carroçaria, pontuava agora um ‘spoiler’ ajustável no tejadilho, existiam novas entradas de ar na frente e as cavas das rodas eram mais proeminentes, tornando o carro mais musculado e visualmente impressionante. As jantes tinham medidas definidas pelas regras da FIA, mas cresceram das 16 para as 17”. O motor era o mesmo, mas com maior potência. O objetivo era simples e único: voltar a vencer, quer nos Pilotos, que entre os Construtores, coisa que vinha fazendo sem parar, desde 1987 – com exceção de 1990, em que o Campeão do Mundo foi Carlos Sainz. No final da temporada, apenas o título de Construtores foi renovado, e ainda hoje Didier Auriol deve estar sem perceber como é que tendo de longe o melhor carro, vencido seis provas do Mundial, o terminou em terceiro atrás do Campeão Carlos Sainz e do seu colega de equipa Juha Kankkunen, bem mais regulares que o francês.

Até lá, no entanto, o último dos ‘Deltona’ (o primeiro tinha sido o Delta S4…) foi espalhando charme – perdão! Centelha de vencedor… – pelas estradas do WRC. Primeiro, foi o triunfo na prova de estreia, o Monte Carlo, com Juha Kankkunen também no pódio (3º). Tendo sido o ‘Monte’ uma prova maioritariamente de asfalto, os adversários ficaram logo a perceber o que ali estava… Ausente na Suécia, que apenas pontuava para o campeonato de Pilotos, a Lancia regressou em Portugal, para segunda vitória em outras tantas provas, mas agora através de Juha Kankkunen. Batida pela Toyota nas picadas do Safari, a Lancia voltou aos triunfos na Córsega, de novo com Auriol – que voltou a dominar tudo e todos na prova seguinte, a Acrópole.

Também ausente na Nova Zelândia, pontuável somente para os Pilotos, a Lancia parecia bem lançada para garantir o título entre os Construtores, mas já tinha hipotecado praticamente a corrida entre os Pilotos, pois, a seguir à Nova Zelândia, Sainz era o líder, com 77 pontos, mais 15 que Kankkunen e 17 que Auriol.

Isso ficou ainda mais patente com a vitória do ‘Deltona’ nas quatro jornadas seguintes, as três últimas com três ‘dobradinhas’ fechadas por Kankkunen. Três desses triunfos foram, portanto, com Auriol (Argentina, Mil Lagos e Austrália) e o outro com Aghini (Sanremo). Este foi o derradeiro para o ‘Deltona’, que também não foi ao Costa do marfim e, nas duas últimas jornadas do campeonato, teve que se ‘contentar’ com dois pódios – o melhor deles o 2º lugar na Catalunya, com ‘KKK’.No final, o ‘Deltona’ assinou seis triunfos, um recorde, na altura, numa só temporada.

A vitória da despedida

Depois de 1992, a Martini Racing nunca mais apareceu no Rali de Portugal – claro, no final do ano deixou o WRC. Mas a sua despedida das estradas que lhe deram a lenda e a glória foi feita ao melhor estilo – com aquela que ficou com sendo a oitava vitória da Lancia no nosso rali. Foi, também, a primeira de duas de Juha Kankkunen, que voltou a subir ao lugar mais alto do pódio nacional em 1994, então com um Toyota Celica Turbo 4WD. Já agora, para quem gosta de grande detalhe, o ‘Superdelta’ vencedor tinha o nº 4 nas portas e a matrícula TO 832288. Para Kankkunen, a vitória em Portugal foi a única que conseguiu nesse ano – e a 15ª da sua carreira no WRC, onde venceu por 23 vezes.

Mas como foi a 26ª edição da prova, nesse ano denominada Rallye de Portugal – Vinho do Porto e que se realizou de 3 a 7 de março?Muito simples: Didier Auriol liderou até desistir, muito cedo, deixando Kankkunen na frente, mas atacado pelo espanhol Carlos Sainz. Só que este teve problemas com o turbo do Toyota Celica4WD na Pampilhosa e atrasou-se, acabando mesmo por ser passado, na luta pelo último lugar do pódio, por Miki Biasion, num Ford Sierra Cosworth 4×4.

Lancia e o Rali de Portugal: A marca mais vitoriosa

A Lancia é a marca que mais edições do Rali de Portugal venceu – oito, entre 1968 e 1992. Além disso, é um dos seus modelos um dos dois que tem mais vitórias no “cadastro” da prova nacional – o Delta Integrale, com quatro – 1988 (Miki Biasion), 1989 (Miki Biasion), 1990 (Miki Biasion) e 1992 (Juha Kankkunen). Curiosamente, o outro desses modelos é também da casa italiana – mas da ‘divisão’ principal, a FIAT. Trata-se do 131 Abarth, carro que ganhou em 1977 (Markku Alén), 1978 (Markku Alén), 1980 (Walter Röhrl) e 1981 (Markku Alén).

A primeira vitória da Lancia aconteceu em 1968, naquela que foi apenas a segunda edição da prova, que ainda não pontuava para qualquer competição internacional – o WRC apenas foi criado em 1973 e o Rali de Portugal apenas na sua terceira edição foi integrado no Campeonato da Europa. Mesmo assim, o prestígio da prova nacional, criada por um grupo de funcionários da TAP no início da década de 60 e que, desde 1965, teve ao leme o carismático Alfredo César Torres [2702/1933 – 30/11/1997], registou em 1968 um primeiro recorde de inscritos, com 190 equipas.

Nesse ano, o britânico Tony Fall [23/03/1940 – 01/12/2007], acompanhado por Ron Crellin, levou o Fulvia HF ao triunfo, na frente do BMC Cooper 1300 dos seus compatriotas Paddy Hopkirk/Tony Nash. Em 3º, ficou a primeira equipa nacional, constituída por António Peixinho/”Jocames’, num Morris Cooper S. A prova ficou marca por um extremo duelo entre Fall e Hopkirk, que se decidiu apenas no final a terceira etapa, que ligou o Porto ao Estoril, numa extensão de 870 km (!). Sempre debaixo de mau tempo, as equipas sobreviventes enfrentaram as temíveis classificativas da zona de Baião, Lousã, Poiares e Arganil. No rápido troço da Serra da Lousã, o melhor tempo foi assinado pro Tony Fall que, desta forma, embalou para o triunfo, apesar de ter ainda que enfrentar as classificativas da Carvoeira e do Alto da Mula. Mas a sua tarefa ficou facilitada quando Hopkirk cometeu um erro, já quase no final a prova, que entrou definitivamente nos roteiros dos grandes eventos internacionais de ralis. Reflexo disso foi a apoteose que recebeu os 22 concorrentes que resistiram à provação de 2438 km, nas Arcadas do Estoril.

Depois deste primeiro triunfo, a Lancia ganhou também em 1970 (Simo Lampinen, Fulvia 1.6 Coupé HF), 1976 (Sandro Munari, Stratos HF), 1987 (Markku Alén, Delta HF 4WD), 1988, 1989, 1990 e 1992.

PALMARÉS EM 1992

  1. Rallye de Monte Carlo (23 a 29 de janeiro)

    1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

    3º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

    5º Philippe Bugalski/Denis Giraudet (Jolly Club)

26.Rallye de Portugal – Vinho do Porto (3 a 7 de março)

1º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

Abandono (motor) Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

Abandono (acidente) Andrea Aghini/Sauro Farnocchia (Martini Racing)

40.Safari Rally (27 de março a 1 de abril)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

3º Jorge Recalde/Martin Christie (Martini Racing)

Abandono (incêndio) Björn Waldegaard/Fred Gallagher (Martini Racing)

36.Tour de Corse – Rallye de France (3 a 6 de maio)

1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

3º Philippe Bugalski/Denis Giraudet (Martini Racing)

6º Andrea Aghini/Sauro Farnocchia (Martini Racing)

39.Acropolis Rally (31 de maio a 3 de junho)

1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

7º Alessandro Fiorio/Vittorio Brambilla (Astra Racing)

22.Rothmans Rally New Zealand (25 a 28 de junho)

2º Piero Liatti/Luciano Tedeschini (A.R.T. Engineering)

12º Rally YPF Argentina (22 a 25 de julho)

1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

3º Gustavo Trelles/Jorge Del Buono (privado)

4º Alessandro Fiorio/Vittorio Brambilla (Astra Racing)

Abandono (acidente) Jorge Recalde/Martin Christie (Martini Racing)

42.1000 Lakes Rally (27 a 30 de agosto)

1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

9º Philippe Bugalski/Denis Giraudet (Martini Racing)

5.Telecom Rally Australia (19 a 22 de setembro)

1º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

4º Jorge Recalde/Martin Christie (privado)

34.Rallye Sanremo – Rallye d’Italia (12 a 14 de outubro)

1º Andrea Aghini/Sauro Farnocchia (Martini Racing)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

5º Alessandro Fiorio/Vittorio Brambilla (Astra Racing)

6º Gilberto Pianezzola/Loris Roggia (privado)

7º Piero Liatti/Luciano Tedeschini (A.R.T. Engineering)

8º Pierre-Cesar Baroni/Philippe David (Astra Racing)

Abandono (despiste) Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

Abandono (despiste) Piergiorgio Deila/Pierangelo Scalvini (Jolly Club)

28.Rallye Catalunya – Costa Brava (9 a 11 de novembro)

2º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

3º Andrea Aghini/Sauro Farnocchia (Martini Racing)

4º Alessandro Fiorio/Vittorio Brambilla (Astra Racing)

6º Jesús Puras/Álex Romaní (Mauro Rallye Team)

7º Gustavo Trelles/Jorge Del Buono (Mauro Rallye Team)

8º Pedro Diego/Icíar Muguerza

10º Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

48.Lombard RAC Rally (22 a 25 de novembro)

3º Juha Kankkunen/Juha Piironen (Martini Racing)

10º Andrea Aghini/Sauro Farnocchia (Martini Racing)

Abandono (motor) Didier Auriol/Bernard Occelli (Martini Racing)

WRC (Pilotos)

2º Juha Kankkunen (134 pontos)

3º Didier Auriol (121)

7º Andrea Aghini (39)

9º Alessandro Fiorio (32)

10º Jorge Recalde (28)

12º Piero Liatti (22)

13º Philippe Bugalski (22)

18º Gustavo Trelles (16)

34º Jesús Puras (6)

49º Pierre-Cesar Baroni (3)

49º Pedro Diego (3)

WRC (Construtores)

1º Lancia (140 pontos)

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naranja
naranja
3 anos atrás

Uma correção ao artigo: a Lancia abandonou o mundial como equipa oficial em 1991, daí o Miki Biasion sair para a Ford. Não deixou no entanto de lançar o deltona, que passou a ser assistido em 1992 pela Jolly Club até 1993. Este facto resultou no fraco desenvolvimento do carro que a partir da segunda metade de 1992 foi ultrapassado pela Toyota. Em 1993 com um carro sem evoluções não ganhou um único rally. Cumps

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