Jari-Matti Latvala: “Estar na Toyota é uma oportunidade de ouro”
Apesar do susto do abandono da VW, Jari-Matti Latvala surgiu na Toyota como um menino revigorado com o novo brinquedo que lhe puseram nas mãos. Andava desmotivado e farto viver debaixo da ‘asa’ de Ogier, tem agora uma oportunidade de construir algo para ele próprio…
Há males que vêm por bem e se nada tivesse sucedido com a VW, também não seria Jari-Matti Latvala a querer sair para a Toyota, um projeto que tem (quase) tudo a provar, mas da forma que tudo se processou, a oportunidade abriu-se e o finlandês agarrou-a com as duas mãos, mostrando-se bem entusiasmado com o desafio. Pudera, ao contrário do que sucedeu até aqui, agora pode construir algo à sua volta, ao invés de ter um ‘monstro’ como Ogier a ditar a lei. Esse é um aspeto positivo, mas há mais…
Jari-Matti Latvala saiu feliz do Rali de Monte Carlo, aquela que foi a sua primeira prova com as cores da Toyota, marca que regressou ao Mundial depois de uma longa ausência. O antigo piloto da Volkswagen ficou no segundo lugar, um resultado que pode servir de trampolim para a longa época que falta disputar: “Estou contente com resultado que obtive. Se me dissessem antes do rali começar que iria ficar em segundo não acreditaria. Este resultado iguala o meu melhor desempenho no Mónaco” começou por dizer o finlandês que ainda assim, não traça muitas metas para este início de ano.
Vindo de duas equipas como a M-Sport e depois a Volkswagen, a primeira curiosidade passa por saber como são as coisas agora na Toyota Gazoo Racing: “A TGR tem uma filosofia completamente diferente, as coisas são feitas de uma maneira distinta. É muito emocionante trabalhar com uma nova equipa, ainda mais finlandesa. Eu já vi o mundo, vi como as coisas acontecem numa equipa inglesa e depois noutra alemã e agora quando cheguei à Toyota Gazoo Racing devo dizer que o ambiente na equipa é brilhante, realmente gosto. Desde que eu comecei a pilotar o Yaris, o carro foi ficando sempre melhor. Com o andamento na neve eu estou muito feliz, no asfalto seco está bom, mas falta experiência em condições de piso húmidas, pois testámos apenas um dia, embora tenhamos agora um pouco mais de experiência do Monte Carlo. Na terra há coisas para aprender. Agora só precisamos ver como tudo funciona nos próximos ralis. Todos têm carros novos, e ainda não sabemos muito bem a que nível estamos. Acho que será interessante para todos”.
A equipe está sediada na Finlândia, todos os pilotos são finlandeses, mas no resto da equipa não e bem assim: “Muitos engenheiros são da Grã-Bretanha, na verdade temos vários elementos que são finlandeses e eu diria que de um modo geral, 50% dos mecânicos são estrangeiros. Do Reino Unido, Estónia, Alemanha, trouxe mesmo alguns ‘velhos’ mecânicos Volkswagen, que estão comigo aqui. E também da Polónia. Portanto, há diferentes nacionalidades na equipa que é bastante grande”. Várias pessoas que trabalham na TGR são velhas conhecidas. “Eu trabalhei com o Tom Fowler na M-Sport (Chefe dos Engenheiros). Também trabalhei na M-Sport com Paul Murphy, que agora é engenheiro do Juho (Hanninen), e o meu engenheiro, o Anthony Sharpe tinha acabado de se juntar à M-Sport, quando saí em 2012″ disse Latvala a quem não pudemos deixar de colocar uma questão que todos os que estão mais envolvidos com os estilos de pilotagem dos diversos pilotos, os pneus, que este ano vão sofrer mais fruto da maior potência dos carros: “Quando se tem mais potência, um carro mais largo e com mais aerodinâmica, os pneus são muito mais ‘pressionados’, isso é um facto. Portanto, o desgaste dos pneus é bem maior e por isso eu acho que de um modo geral eu preferiria ter mais pneus do que o que costumávamos ter” disse Latvala, fugindo do cerne da questão pois o que queríamos saber era o que vai ou está a fazer para ultrapassar o facto de ser, historicamente, um piloto que ‘consome’ muito os pneus, mas quanto a isso… nada.
A neve da Suécia está à porta, mas depois o asfalto da Córsega está perto… “A Córsega aproxima-se rapidamente, é um rali especial, tem muitas curvas é muito exigente com os pneus, mas pelo menos o que eu sei agora é que este ano a prova tem troços mais curtos do que no ano passado e isso vai ajudar, acredito” disse Latvala, que já testou na Córsega: “Na altura em que testei na Córsega pensei logo que a aerodinâmica funcionou bastante bem em asfalto. O carro é também muito bom em travagem, o motor também parece bom. Mas a equipa só testou em asfalto desde outubro. Para mim quando se está a desenvolver um carro têm que se ver as várias opções, com as barras estabilizadoras, as molas. Penso que com a suspensão de asfalto é preciso tempo para experimentar qual é a melhor solução, a mais rápida. Também o diferencial central é novidade. Abrem-se muitas oportunidades, mas é preciso tempo para testar as diversas afinações, neste caso, mas noutros também como a direção, os travões, o acelerador e tudo mais…” explicou Latvala.
Uma das novidades de 2017 é o novo diferencial central. Algo que Latvala já conhece não só de WRCs mais antigos como também do Polo WRC 2017 que já testou: “Eu sei como ‘jogar’ com o diferencial central, mas a questão é que nunca fui eu a fazer o padrão. Conheço o padrão dos carros antigos, mas não os posso transferir para este novo carro. Esse é o problema” explicou Latvala, referindo que não lhe vale de muito o pouco que aprendeu com a VW nos testes do carro de 2017.
Com tantas e tão boas alterações nas regras para 2017, outra das questões que se colocam aos pilotos tem a ver com a eventual mudança do estilo de pilotagem, e nesse aspeto Latvala admite que tem uma preocupação: “Penso que a maior potência e a aerodinâmica vão fazer com que o carro ande mais preso ao chão, e eu diria que o meu grande desafio serão os pneus. Como fazê-los durar pelo menos o mesmo. Tendo em conta que a aerodinâmica vai puxar mais pelos pneus há que saber geri-los bem. A potência dá mais agressividade ao carro, pelo que há que gerir a afinação duma forma mais neutral que não seja demasiado penalizadora para os pneus. Quanto ao feeling dos carros, vai ser diferente porque os carros são mais largos, há diferencial central, mais aerodinâmica. Posso dizer que em estradas rápidas os carros são estáveis, e em estradas sinuosas serão um pouco mais difíceis de pilotar e teremos que ser mais cuidadosos com o acelerador nas zonas escorregadias. Há muita coisa nova a considerar, mas também muitas oportunidades pela frente.”
Outro dos pontos curiosos e que também esteve certamente na mente de Tommi Makinen quando contratou Latvala é o facto do know how que leva consigo duma equipa que venceu quatro títulos de construtores e outros tantos de pilotos, a VW: “Se eu tivesse 22 anos, e fosse para uma equipa nova não saberia o caminho, mas depois de fazer ralis com a Ford e de ter feito parte do trabalho de desenvolvimento do VW de 2017, já sei para onde ir com a suspensão no asfalto, na terra, já tenho muitas ideias. Mas o Yaris é diferente do VW. O conceito do Yaris é diferente, como o chassis trabalha. Recordo-me que quando fui para a VW tentei por o Polo um pouco como o Ford. Não funcionou até eu aceitar que o carro era diferente e a partir daí tentei trabalhar com isso, por-me confortável com o Polo. Depressa comecei a melhorar. Temos que aceitar como é o carro. Podem levar-se ideias doutro carro mas já não se deve tentar extrapolá-las com exatidão. Mas com 170 ralis do WRC tenho uma boa ideia das coisas…”
O que vai ser novidade para Jari-Matti Latvala é o facto de trabalhar com japoneses. Em termos oficiais começou com ingleses, depois passou para alemães, e agora…japoneses. Bem, alguns, pois a maioria é mesmo tudo da ‘casa’: “Não vai ser difícil, na minha carreira sempre quis estar numa equipa Toyota. Para mim é uma oportunidade de ouro. Sei que os japoneses quando começam qualquer coisa são realmente focados” disse Latvala que não revela a extensão do seu contrato: “A Toyota está garantida no WRC pelo menos até 2021, mas do meu contrato não falo!”
Martin Holmes/JLA
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