Grupo R foi Horizonte longínquo: Quase 1000 R5 a correr…
Demorou a chegar, mas quando isso sucedeu, o sucesso foi estrondoso. oito anos depois pode dizer-se que foi dos melhores regulamentos que a FIA já criou em termos de competição automóvel de estrada. Relembre o caminho até chegarmos aos R5.
Para que se perceba o tempo que por vezes as coisas demoram a acontecer, fique a saber que a FIA em 2006 já pensava num completo novo agrupamento para os ralis, o Grupo R. Em 2006, lia-se no Autosport pela primeira vez: “A FIA está prestes a terminar o esboço do regulamento que levará à criação de um novo agrupamento na cena mundial dos ralis. Com a denominação “R”, deverá, ao que tudo indica, fazer a sua aparição a partir da temporada de 2008 (foi em 2013).
No essencial, a FIA quer lançar um conjunto de regras que tem como objetivo principal contrariar a escalada de custos inerente às modificações e evoluções que as marcas operam regularmente nas suas viaturas de Produção. Veja-se o caso do Lancer Evolution. Para o delegado- técnico da FIA, Jacques Berger, «há duas razões essenciais para pensarmos em novas regras. Em primeiro lugar, o Grupo N está-se a tornar demasiado caro; e, em segundo, queremos reduzir a tentação de se produzirem carros vez menos fiáveis, em prol da sua cada vez maior competitividade. No essencial, queremos que os ralis tenham mais aceitação e sejam mais atrativos para um maior número de construtores”.
“A principal mudança surge no campo técnico, já que a FIA apenas quer admitir peças que façam parte dos produção da gama de outros modelos do construtor ou itens específicos que estejam disponíveis nos fornecedores especializados. Até 2008, os construtores poderão ambientar-se cada vez melhor com estas mudanças porque qualquer alteração rumo ao Grupo R poderá ser feita a partir da regulamentação do Grupo A”.
“Se o Grupo R avançar mesmo, então tratar-se-á da maior mudança técnica regulamentar desde 1982 (quando nasceu o Grupo N). Em termos práticos, e para já teóricos, a ideia da FIA parece ser a de manter os atuais WRC e substituir os carros de Produção pelos novos Grupo R que poderá ser dividido em quatro diferentes categorias: até 1400 cc, até 1600 cc, até 2000 cc e acima dos dois litros. Neste caso, os carros de Grupo A desapareceriam e os Super 2000 poderiam correr numa classe à parte, no designado Grupo R4, para veículos com motores superiores a dois litros de cilindrada”.
Como se percebe, as coisas não foram exatamente como foram pensadas de início, demorou tempo a ser implantadas, mas a revolução fez-se, e ainda bem. Hoje, como se sabe, temos carros de motores turbo de injeção direta de 1.6 Litros e tração às quatro rodas. No topo a potência dos WRC (futuros Rally 1) está limitada a 380 cv, os WRC 2 (RC2, futuros Rally 2) anda pelos 280 cv, e por aí fora.
Mas vamos recuar um pouco e relembrar como se chegou onde estamos agora. Os primeiros tempos do Mundial de Ralis foram disputados com carros divididos em agrupamentos numéricos, que foram utilizados até dezembro de 1981, sendo nessa altura substituídos pelos grupos alfabéticos atuais. Durante o período de transição, os carros de ralis mantiveram-se muito semelhantes e foram agrupados com classificações temporárias. O Grupo 1 era para carros de Produção em série de carros de turismo, equivalente ao Grupo N como o conhecemos desde sempre. Eram carros de produção regular de quatro lugares, não modificados, com um mínimo de 5000 unidades construídas anualmente.
O Grupo 2 era reservado a Automóveis de Turismo Especiais. Equivalente ao Grupo A, estes carros de produção regular modificados para utilização em ralis. A produção anual mínima era de 1000 unidades. O Grupo 3 era de Produção em Série de Grandes Automóveis de Turismo (GT), carros desportivos com um mínimo de 1000 unidades construídas anualmente e preparação de acordo com a homologação obrigatória do fabricante, com modificações mínimas. O Grupo 4 eram os grandes Automóveis de Turismo Especiais. Carros desportivos modificados para utilização em ralis, com um mínimo de 500 unidades construídas anualmente. Grupos 5 e 6: Protótipos de automóveis, extrapolados livremente a partir de protótipos não comercializados, sem requisitos mínimos de produção.
Desde 1981, passaram a existir dois grupos, N e A. Estes foram introduzidos, juntamente com grupos como B e S, para substituir os grupos numéricos originais 1 a 5 que foram utilizados em 1973-1981. Resumindo, o Grupo N era um carro normal com muito poucas modificações permitidas, enquanto o Grupo A era um carro de ralis totalmente preparado. As classes dentro dos grupo baseavam-se na cubicagem do motor do carro, que redundou em classes: No Grupo N, 1400cc ou menos, N1, 1401-1600cc (N2) 1601-2000cc (N3) e mais de 2000cc (N4). No Grupo A, 1400cc ou menos, A5, 1401-1600cc, A6 (incl. S1600), 1601-2000cc, A7 (incl. F2) e mais de 2000cc, A8 (incl. WRC).
Durante a década de 90, os ‘numérico’ e ‘alfabeto’ coexistiu durante algum tempo, mas depois veio a era dos Grupos B, regulamentos que foram introduzidos em 1982, apenas com algumas restrições e potências quase ilimitadas.
Claro que isto era uma receita explosiva e devido à potência crescente, à falta de fiabilidade e a uma série de acidentes fatais durante 1986, o Grupo B foi banido, passando o topo do Mundial de Ralis a disputar-se com os Grupos A e N, que já existiam. O topo dos ralis foi evoluindo muito, não demorou muito a que os andamentos dos Grupos A se assemelhasse aos registos dos Grupos B, até que em 1997, os carros do Grupo A evoluíram para as especificações World Rally Car, um novo conceito pensado para facilitar o desenvolvimento de novos automóveis e trazer novas marcas para a competição.
O Mundial de Ralis voltou a ganhar grande elan, até que a escalada de custos e a crise de 2008 veio novamente criar pressão sobre a competição. Nesse contexto, em 2011, foram introduzidas novas regras para incentivar mais fabricantes (e privados) depois da recente recessão económica ter levado vários fabricantes a abandonar o campeonato.
A partir de 2011, as classes deixaram de estar ligadas a grupos específicos, mas sim a uma mistura de automóveis com desempenho semelhante de diferentes grupos. Isto resultou numa longa lista classes, até que os grupos mais antigos fossem progressivamente eliminados.
Mas foi a 2013 que queríamos chegar. Nesta altura, foi introduzida uma nova categoria de automóveis de ralis conhecida como Grupo R, em substituição dos Grupos A e Grupo N, com carros classificados numa das seis categorias com base na cilindrada e tipo de motor, distância entre eixos e transmissão. Deixaram de haver homologações ao abrigo dos regulamentos dos Grupos A e N, sendo reclassificados no Grupo R.
Paralelamente, foram reestruturados os Campeonatos do Mundo de Ralis Super 2000 e de Produção. Os Super 2000 e Grupo N foram fundidos num único campeonato conhecido como WRC 2, juntamente com os R4 e R5, enquanto o Mundial de Ralis de Produção passou a WRC 3 para carros com tração a duas rodas, em conformidade com os regulamentos R1, R2 e R3.
Foi um passo que a FIA demorou a dar, mas acertou em cheio, já que na história dos ralis nunca houve uma categoria (onde estão inseridos os R5) que redundasse em tão grande sucesso. Neste momento, oficialmente, há mais de 900 R5 a correr em todo o mundo e já não andará muito longe de se chegar aos 1000. Vamos ver se será ainda este ano…