FIA quer ‘combater’ os maus espectadores no WRC

Por a 4 Março 2019 08:25

O plano é ambicioso, mas a FIA está

a trabalhar naquele que é o seu projeto mais arrojado na tentativa

de combater os maus comportamentos do público no WRC, em primeiro

lugar, estendendo depois a questão às provas regionais e nacionais.

Há dois anos que a federação internacional trabalha num documento

denominado Rally Safety Guidelines, onde estão determinadas as

diretivas para as boas práticas no que aos espectadores dos ralis em

todo o mundo diz respeito. Para a FIA, os espectadores mal

comportados têm os dias contados.

Curiosamente, e como todos bem

sabemos, o Rali de Portugal sofreu muito no passado com o mau

comportamento do público, mas a direção liderada por Carlos

Barbosa há muito que trabalha no melhoramento da segurança na sua

prova e numa altura em que a FIA vai intensificar a luta contra as

más práticas por parte do público, o ACP já o faz há 20 anos.

As fitas a delimitar espaços para o

público existem há muitas décadas no WRC, mas tanto em Portugal

como um pouco por todo o mundo, na maior parte dos casos, são muito

pouco eficientes nesse controlo. Na prova portuguesa, inicialmente

era a Polícia/GNR, que fazia esse trabalho, mas depois o ACP passou

a introduzir os Marshall ao mesmo e também a medida que mais e

melhor contribuiu para o comportamento do público em Portugal: As

Zonas Espetáculo.

Mais coisa, menos coisa, foi há 20

anos que este processo começou a ser preparado, e quando o rali se

mudou para o Algarve já estava perfeitamente instituído no ACP. As

Zonas Espetáculo, apesar de muitas queixas do público, foram o

grande contributo do ACP para a segurança no Rali de Portugal e hoje

em dia, os espetadores, que já foram dos piores do Mundial de Ralis,

são hoje em dia um excelente exemplo.

O ano passado, na prova portuguesa, em

conversa com Michele Mouton, delegada de segurança do Campeonato do

Mundo de Ralis, dizia-nos que vir a Portugal fazer o seu trabalho era

quase sinónimo de férias, pois o trabalho do ACP é pouco menos que

perfeito a esse nível.

E esse é um grande mérito que tem de

ser atribuído ao ACP e aos adeptos portugueses, que só falta ser

estendido a todas as restantes provas do Campeonato de Portugal de

Ralis, pois o que se vê nesta competição ainda não é – nem de

perto – o mesmo que sucede no Rali de Portugal. Este é um caminho

que urge fazer.

Voltando à FIA, esta quer utilizar a

tecnologia existente hoje em dia para perseguir e sancionar os maus

comportamentos do público, evitando que esses próprios espectadores

se coloquem em perigo. Mas a forma como o quer fazer é uma tarefa

ciclópica.

Em entrevista ao Autosport inglês, o Diretor de Ralis

da FIA, Yves Matton, assegura que a segurança dos espectadores é um

ponto chave para o futuro dos ralis. Logicamente, e todos sabendo

como funcionam a maioria dos media, até podem não estar a ligar

nenhuma a uma prova do WRC, mas se existir um acidente grave, passa

para o topo num ápice.

Daí (e não só, claro) as Diretrizes

de Segurança dos Ralis, ou Rally Safety Guidelines, se preferir.

Este é um trabalho que tem vindo a ser feito por Stuart Robertson,

Responsável pelo Departamento de Segurança em Circuitos e Ralis da

FIA e este trabalho começa no WRC mas está projetado para ‘descer’

aos níveis regional e nacional.

Com este documento, a FIA pretende

educar os espectadores através de diretrizes claras e concisas

relativamente ao que podem ou não fazer quando assistem a uma prova:

“A meta que temos de fixar é zero (mortes e lesões), mas

sabemos como isso é difícil. É essa questão de educação e

conhecimento para que as pessoas entendam o quão perigoso pode ser

se não fizer o correto e essa educação leva tempo”, disse

Matton ao Autosport inglês.

A ideia é utilizar o WRC como montra

do que se pretende seja feito a nível regional e nacional. Lá está

o que referimos anteriormente. No CPR ainda não se chegou em todas

as provas ao nível de segurança que existe no Rali de Portugal. No

entanto, é fácil perceber o quão difícil isto é devido aos meios

disponíveis pela maioria dos clubes para o fazer.

Pouca gente sabe disto, e embora o número de mortos e feridos graves esteja a diminuir, os ralis continuam a representar metade das estatísticas em todos os desportos motorizados. E há mais espectadores feridos do que pilotos, nos ralis. Este é um dado sintomático.

em declarações ao AutoSort inglês

Stuart Robertson diz que: “Mesmo no WRC ainda se vêm

espectadores mal colocados. Essas pessoas, podem ter falta de

conhecimento, talvez seja a primeira vez que vão ver um rali, ou um

agricultor que veio ver o que está a acontecer. Ou então, são os

adeptos fanáticos que querem chegar o mais perto possível. Ou, pior

ainda, são os heróis do Youtube que querem deitar-se à beira da

estrada e filmar as pedras a voar sobre as suas próprias cabeças

quando o carro passa a poucos centímetros deles. Tudo para aumentar

o número de hits que recebem no seu vídeo: “Há uma gama

inacreditável de pessoas que temos de contactar em todo o mundo, mas

é isso que as Rally Safety Guidelines vai fazer”.

Como bem sabemos em Portugal, o que

não falta é gente assim. Mas a partir de agora vão, pelo menos

para já no WRC, mais ‘olhos’ em cima de si: “Iniciámos um

projeto que nos ajudará a detetar os espectadores através do

reconhecimento de imagens, anonimamente, usando câmaras de bordo e

várias outras ferramentas. Estamos a usar tecnologia nova e de alto

nível para identificar onde essas pessoas estão localizadas.

Sabemos que esperam que os carros de segurança passem, para se

colocarem em posições perigosas. O sistema enviará um alerta para

o Diretor de Prova, alertando-o para aquele problema específico e

isso poderá despoletar uma ‘zona lenta’, como uma espécie de ‘zona

de bandeiras amarelas no circuitos’, em que os carros terão de

passar por essa zona a uma velocidade máxima estipulada. Alguns

perguntarão como se fará o ajuste dos tempos? Simples. Basta que a

tecnologia permita atribuir um registo igual para todos naquela zona,

mas esta questão será certamente um problema, tal como muitas vezes

é, quando é atribuído um tempo a um piloto que viu o seu troço

‘interrompido’.

Para os adeptos a mensagem é simples:

“Não podes ser esse espectador renegado. Saberemos onde estás

e iremos buscar-te”. Na primeira vez que um espectador que

coloque em risco uma prova for severamente sancionado, aí tudo

começará a mudar mais depressa. As boas notícias é que em

Portugal as zonas espetáculo e a forma como o ACP interage com as

forças de segurança, já reduzem muito os problemas de toda esta

questão.

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