Faltam heróis ao WRC, e já agora a Subaru e a Lancia…
O WRC tem problemas, isso ninguém nega, num mundo em que o marketing cada vez mais se sobrepõe à competição pura e dura, levando a que os heróis consigam chegar a elevados patamares tanto pelo que conseguem através dos resultados que obtêm, como pelo bom trabalho que as suas equipas fazem nas redes sociais.
A era e que Sébastien Loeb assegurou títulos atrás de títulos, no que foi seguido pelo seu compatriota Sébastien Ogier trouxeram para a disciplina dois nomes que muito contribuíram para o engrandecimento da modalidade, sob alguns dos aspetos, mas que também teve outro efeito, este mais nocivo, que passou por uma espécie de efeito eucalipto que secou muito do que se passava à sua volta.
Entre 2004 e 2018 o WRC só inscreveu os nomes de Loeb e Ogier na lista de campeões, e quando em 2004 o francês foi campeão pela primeira vez, já o WRC começava a entrar numa fase de menor qualidade ao mais alto nível.
Petter Solberg e Marcus Gronholm já tinham atingido o seu auge, com os títulos de 2000 e 2002, (Gronholm) e 2003 (Solberg), Carlos Sainz estava na fase descendente da sua carreira nos ralis, havia jovens prometedores como por exemplo Mikko Hirvonen e mais tarde Jari-Matti Latvala, mas só mesmo Gronholm em 2006 e 2007, deu alguma luta a Loeb.
O resto, quase um imenso deserto, especialmente quando comparado com o que tivemos mais ou menos até 2000, quando coexistiam pilotos como Marcus Gronholm, Richard Burns, Carlos Sainz, Colin McRae, Tommi Makinen, Juha Kankkunen e Petter Solberg, isto para não recuar aos anos 90 ou 80.
Registe bem estes nomes, e compare-os com os que vai ver para a frente, durante o ‘reinado’ de Loeb e Ogier.
Em 2009, quando a Ford teve um grande carro, Mikko Hirvonen deu ‘água pela barba’ a Loeb e perdeu o campeonato por um ponto. Já nessa altura o WRC era Loeb, Hirvonen, Dani Sordo, Jari-Matti Latvala, e um ‘privado’ Petter Solberg.
E foi quando apareceu Sébastien Ogier.
Loeb ganhava campeonatos atrás de campeonatos, e os de 2006 e 2009 foram dois oásis de dificuldade para o francês. Tudo o resto foi com “uma perna às costas”.
O ano de 2010 foi fácil para Loeb, mas em 2011 não só a Ford com Hirvonen e Latvala deram alguma réplica (três triunfos contra 10 da Citroën) como Ogier ‘torrou’ a paciência a Loeb na Citroën obtendo ambos as mesmas cinco vitórias durante a época. Foi o ano de transição.
Em 2012, Ogier fez um ano de transição na Volkswagen, ainda com o Skoda Fabia S2000, e em 2013, Loeb deixava de correr a tempo inteiro. Foi o começo do domínio de Ogier.
Foram começando a aparecer pilotos como Thierry Neuville, Andreas Mikkelsen, e esta foi uma fase em que com a entusiasmante entrada da Volkswagen no WRC, parecia que as coisas podiam melhorar e apesar da VW ter vencido 10 em 13 provas, havia 16 World Rally Cars a correr.
Em 2014 as coisas melhoraram com a chegada da Hyundai MotorSport ao WRC, mas Ogier continuava a não ter adversários e a Volkswagen ainda menos, ao colocar os seus três pilotos nas três primeiras posições do campeonato.
No ano de 2015, mais do mesmo, nem sequer Jari-Matti Latvala fazia qualquer tipo de sombra ao domínio de Ogier, mesmo com um carro igual.
Em 2016, a Citroën e a Hyundai triunfaram duas vezes cada uma face aos nove ralis ganhos pela Volkswagen, mas Ogier dominou por completo, novamente o campeonato, e, pior do que isso, ninguém despontava verdadeiramente, nenhum outro conseguia sair da sua (enorme) sombra. Thierry Neuville, Andreas Mikkelsen, Hayden Paddon, Dani Sordo, Jari-Matti Latvala. Ninguém.
Em 2000, os nomes eram Marcus Gronholm, Richard Burns, Carlos Sainz, Colin McRae, Tommi Makinen, Juha Kankkunen e Petter Solberg. Em 2016, Sébastien Ogier, Thierry Neuville, Andreas Mikkelsen, Hayden Paddon, Dani Sordo, Jari-Matti Latvala. exceção feita a Ogier, incomparável.
Foi por aqui que o WRC começou a perder interesse. Não foi de um dia para o outro, mas sim um processo.
Em 2017, houve um abanão no WRC em virtude dos novos carros, mais potentes, mais rápidos, e a chegada da Toyota que se juntou à Citroën, Hyundai e M-Sport/Ford. Apesar da tristeza decorrente da saída da Volkswagen MotorSport, a chegada da Toyota viria a compensar. Mas é da qualidade dos pilotos a que nos referimos neste artigo.
Por esta altura já tinham aparecido Ott Tanak, Elfyn Evans, Kris Meeke, Craig Breen, Esapekka Lappi.
Só mesmo Tanak provou poder competir com o melhor. E em 2019 provou-o, ainda que Ogier tenha cometido o erro de voltar à Citroën, depois de dois títulos com a M-Sport/Ford em 2017 e 2018.
Ott Tanak e Kalle Rovanpera são neste momento os dois únicos pilotos verdadeiramente de topo (e claro, Ogier), que se podiam perfeitamente misturar com o plantel até 2000, de Carlos Sainz, Colin McRae, Tommi Makinen, Juha Kankkunen, Richard Burns, Marcus Gronholm, e Petter Solberg.
É este hoje em dia (boa) parte do problema do WRC, a falta de grandes pilotos que tenham o mesmo impacto junto dos adeptos que tiveram Loeb, Ogier, Gronholm, Sainz, McRae, Makinen, Kankkunen, Auriol, Alen, Mikkola, Biasion, Waldegard, Rohrl, Solberg, Blomqvist, Salonen, Burns e Vatanen, sem esquecer Toivonen, aqui ordenados por número de triunfos no WRC.
O WRC não foi capaz de criar mais heróis nos últimos 20 anos, especialmente na última década em que as redes sociais ‘rebentaram’ com a idolatração dos heróis.
O atual Campeão do WRC, Kalle Rovanpera, é um jovem muito simpático, um fantástico piloto que se arrisca a bater todos os recordes, mas que não ‘chega’ a mais do que os adeptos ‘hardcore’ do WRC, que olham para o fenómenos de uma perspetiva apenas desportiva.
É este hoje em dia parte do problema do WRC, a falta de grandes pilotos que tenham o mesmo impacto junto dos adeptos que tiveram Loeb, Ogier, Gronholm, Sainz, McRae, Makinen, Kankkunen, Auriol, Alen, Mikkola, Biasion, Waldegard, Rohrl, Solberg, Blomqvist, Salonen, Burns e Vatanen, aqui ordenados por número de triunfos no WRC, sem esquecer Toivonen e Michele Mouton.
Imaginem onde chegariam hoje estrelas como Colin McRae, Markku Alen, Henri Toivonen, Marcus Gronholm.
Hoje em dia as pessoas querem cada vez mais os ‘heróis’ para idolatrar, mas o WRC não os tem, e os que tem, estão em pré-reforma, ou são tão ‘apagados’ que quase passam despercebidos fora do meio…
Como se muda isto? Não há uma fórmula fácil, pois da mesma forma que o WRC foi perdendo ‘gás’, não é de um ano para o outro que o consegue readquirir.
A Fórmula 1 tem a sorte, não só de ter esses heróis, dois ou três, Verstappen, Hamilton, Alonso, e teve um ano de 2021 em que tudo ‘rebentou’. O WRC precisava de algo assim, com 3 ou 4 pilotos a lutar pelo título até ao fim, durante vários anos, com novas marcas a chegar. Se pudesse escolher, há duas que seriam outro sobre azul para o WRC.
Só a presença, faria arrepiar toda a comunidade automobilística mundial: A Subaru, e especialmente a Lancia…
Da Subaru, fala-se como se sabe, da possibilidade. A Lancia está a renascer. E faria também renascer os ralis…