“Não tenho assim grandes histórias do Rali de Portugal… Eram ralis muito grandes, que demoravam muito tempo a preparar e, depois, nem havia tempo para mais nada! O primeiro que fiz, foi em 1971,com um Porsche [911 S] e o LuÃs Pedreira. Foi um rali curto, demos um toque num muro logo em Sintra.
Em 1972, fiz a prova com o mesmo Porsche, mas com o Pedro Garcia. Passei o rali todo cheio de frio e ele cheio de calor! A questão era que eu comia muito pouco e ele era um grande comilão! A certa altura, começou a cheirar-me a frango assado dentro do carro e eu sem saber de onde aquilo vinha! Foi então que descobri que ele tinha escondido um frango assado debaixo do banco e, quando o carro começava a aquecer, o frango também… e deitava cá um destes cheirinhos!
No ano a seguir, em que fui 6º com um um Alpine, o que de mais curioso sucedeu foi depois do rali acabar, quando a Renault me foi biscar a casa, para eu ir ao jantar que eles iam fazer em Sintra. Foram todos num autocarro e, como eu morava nessa altura no Paço do Lumiar, que era então feito de azinhagas estreitas, o autocarro acabou por ficar entalado numa delas e não andava nem para um lado, nem para o outro.
1974 foi o ano em que levei um [FIAT] 124 Spyder, que tinha sido no ano anterior da equipa Torralta. Fiquei com um dos carros, outro foi para o Giovanni [Salvi] e o terceiro para o LuÃs Netto. O meu navegador era o Miguel Sottomayor e, à partida do rali, ele perguntou-me se eu sabia que rotações podÃamos atingir com o motor. Respondi-lhe que não fazia a mÃnima ideia e ele sugeriu irmos perguntar aos outros. Eu recusei: ‘É melhor não!
O Giovanni diz-te aà umas 7.000, o Netto vai dizer-te que são umas 10.000… O melhor é ficarmos no meio!’
Então, decidimos que o máximo iriam ser 7.500 rotações e fizemos a prova toda assim, sem nunca passarmos disso. E ainda hoje não sei até onde o motor podia ir! Mas o pior de tudo é que o Miguel, que tinha chegado havia pouco tempo da guerra [colonial] passou a prova toda cheio de medo dos esquerdistas que passavam o tempo a mandar parar os carros na estrada. Isso foi pouco depois do ‘25 de abril’ e eu só uns 30 anos mais tarde, durante uma reunião de antigos pilotos, que ele organizava no Porto, é que fiquei a saber que fizemos o rali todo com um pistolão dentro do carro, para o caso de haver alguma coisa!
Em 1976, fiz a prova com um [Porsche] Carrera [RS], que não tinha um motor do Carrera, mas sim um 2.4 do [911] E. O João [Anjos] era o meu navegador e chegámos ao Autódromo [do Estoril] em 8º Fizemos uma revisão ao carro antes de entrarmos no Autódromo, onde os carros ficavam até começar a ronda de Sintra, à noite. Arrancámos e, logo no primeiro troço, Alcabideche, o carro começou a aquecer. Continuou a aquecer cada vez mais nos outros troços mas, mesmo assim, subi dois lugares, até que chegámos à Peninha e, ao desacelerar antes da tomada de tempos, o motor ‘agarrou’ e parou. Ficámos ali uma meia hora até ele arrefecer e voltar a pegar, mas já não havia nada a fazer, pois já tÃnhamos desistido, numa prova que poderÃamos ter terminado pelo menos em 6º lugar. E a razão era uma correia da turbina de arrefecimento, que era nova e tÃnhamos acabado de colocar! Uma semana depois, com o carro exatamente assim, fui a Espanha fazer um rali e não aconteceu nada!»
ANTÓNIO BORGES (7 de maio de 1948)
1971 – Rali Internacional TAP (Porsche 911 S) – c./LuÃs Pedreira – Abandono
1972 – Rali Internacional TAP (Porsche 911 S) – c./Pedro Garcia – Abandono
1973 – Rali Internacional TAP (Alpine-Renault A110 1800) – c./António Lemos – 6º
1974 – Rali Internacional TAP (FIAT 124 Spyder) – c./Miguel Sottomayor – 10º
1976 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (Porsche Carrera RS) – c./João Anjos – Abandono (motor)
1979 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (Ford Escort RS Mk II 1800) – c./Pina de Morais) – Abandono (motor)
1983 – Rallye de Portugal – Vinho do Porto (Opel Kadett GT/E) – c./Alfredo Lavrador – Abandono