Entrevista a Miguel Cunha: “Temos uma oportunidade de ser Campeões este ano e é para isso que estamos a trabalhar”
Portugal tem uma longa lista de mecânicos, engenheiros, navegadores, e muito mais, espalhados por esse mundo fora neste fabuloso mundo que são os desportos motorizados. Miguel Cunha é um dos mais antigos a levar longe o nome de Portugal…
Há um provérbio português que refere “Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”, e neste caso, é mais, atrás de grandes pilotos, há muita gente que, na ‘sombra’, contribui muito para o seu sucesso. Miguel Cunha é um perfeito exemplo. Na M-Sport desde o ano de 2000, portanto, há dezassete anos, o atual Chefe de Mecânicos do carro de Sébastien Ogier e também o português honorário de Cumbria, e traz consigo uma enorme bagagem, com dois títulos mundiais de Construtores em 2006 e 2007, à cabeça, ainda nos tempos de Marcus Gronholm e Mikko Hirvonen, e muitas histórias para contar. Numa entrevista realizada imediatamente antes do Rali da Suécia, vamos conhecer um pouco melhor um dos homens que pode ajudar Sébastien Ogier e Julien Ingrassia a alcançarem outro título. Mas para lá chegar, vamos recordar como tudo começou: “Sempre fui uma pessoa muito determinada e ambiciosa. Em 2000, queria um novo desafio, e então vim de Portugal para a norte de Inglaterra, para a M-Sport, mas na altura não imaginava o desafio que tinha pela frente. Não falava inglês, e essa foi claramente a parte mais difícil e tive que aprender bem depressa. Com podem calcular tive de início muitas saudades de casa, e confesso que pensei várias vezes em regressar. Mas esse não sou eu! Não é desse material que sou feito, desistir! Não desisti e estou feliz com isso. Adoro o meu trabalho e agora vivo em Cockermouth com a minha mulher e os meus dois filhos” começou por dizer Miguel Cunha, que apesar de já ter passado uma década, recorda bem os títulos de Construtores: “O grande feito na equipa? Essa é fácil, os títulos de Construtores, o primeiro em 2006. Estávamos na Nova Zelândia, e foi uma sensação fantástica. Toda a equipa se uniu muito pois sabíamos que tínhamos conseguido, éramos os melhores, ganhámos o campeonato. Foi uma enorme festa essa noite!” recordou Miguel Cunha, que foi Campeão com a Ford, numa era em que Sébastian Loeb e a Citroën davam cartas.
Com o Campeão nos braços
Muito tempo passou desde aí, mas as coisas mudaram muito, a Ford deixou de apoiar a M-Sport a nível oficial, embora a parceria se mantenha forte. Mas a vida dá, por vezes, muitas voltas e de repente a M-Sport vê-se com Ogier nos ‘braços’. E quem é que ‘trata’ do carro do tetracampeão? Miguel Cunha: “O meu papel passa por tomar conta do carro do Sébastien Ogier. Sou o Chefe dos Mecânicos e o meu trabalho passa por garantir que tudo está a correr como deve. Tenho uma equipa de mecânicos a meu lado, muito unida, que faz bem o seu trabalho. Falo muitas vezes com o engenheiro para garantir que tudo o que precisa ser feito, o é realmente. E pode ser tudo, desde uma pequena mudança de afinação ou mudar uma parte grande do carro. Não há uma assistência igual à outra, e há que estar bem organizado, ter uma boa estrutura para dar resposta a qualquer desafio. Já na fábrica, é um pouco diferente, já que sou responsável por montar ou remontar todos os World Rally Cars. No ano passado não fui às provas, fiquei com a equipa de testes e aprendi tudo sobre os novos carros. É uma tarefa muito grande, mas quando se tem um resultado como o de Monte Carlo, também é muito gratificante”, disse.
Logicamente, hoje em dia a pergunta que mais lhe fazem é como é trabalhar com um piloto como Sébastien Ogier, pois o facto de ser Campeão todos os anos, desde 2013, leva a que as pessoas sintam curiosidade e vejam no francês um ‘monstro’ de exigência: “Duma forma geral é um ‘gajo’ normal, mas noutros aspetos percebe-se perfeitamente a razão pela qual ele é tão bom quanto os seus resultados demonstram. O Sébastien e o Julien (Ingrassia) são duas pessoas fantásticas e muito depressa pudemos ver o respeito que têm pela equipa. E há uma razão que justifica terem ganho quatro títulos de Campeões do Mundo, e eu penso que isso se deve à sua atenção ao detalhe. Nesse aspeto, fazem-me lembrar muito o Carlos Sainz. Ele era igual. Tudo tinha que estar absolutamente perfeito, pois é esse nível de precisão que constrói os bons resultados”, explicou Miguel Cunha.
Reviver emoções
Como se pode calcular, a vitória em Monte Carlo fez regressar um conjunto de emoções que já não se viviam na M-Sport há muito tempo, mas bem antes disso, houve um momento que começou a catapultar o ‘momento’ da equipa, foi quando Malcolm Wilson juntou toda a gente na M-Sport e anunciou que iam ter consigo o Sébastien Ogier: “Reuni-os aqui hoje para vos apresentar o carro, mas infelizmente o trabalho atrasou-se e não pode ser. Mas quero agradecer a todos o trabalho, a resposta que deram foi fenomenal, o carro é fantástico. Olhando para as estatísticas da equipa, o que fazemos aqui é muito grande, e por isso quero agradecer a todos…” disse, virando-se, como que a terminar o discurso, mas havia mais: “Ah! Merda, desculpem-me. Faltou uma ‘pequena’ coisa: Sébastien Ogier vai pilotar para nós no próximo ano” Vale a pena ver o vídeo, está no youtube, chama-se “A big moment for all at M-Sport…”. “O espírito da equipa desde esse dia foi muito bom, pois sabíamos bem a oportunidade que estava à nossa frente, para mostrar aquilo que somos capazes de fazer com um orçamento muito menor que o das outras equipas todas. A motivação agora é muito maior…” disse Miguel Cunha, que em Monte Carlo começou a viver sensações que já não experimentava há algum tempo: “A sensação em Monte Carlo foi de missão comprida, mas antes disso foi preciso manter os pés em terra firme e ter o máximo concentração desde o primeiro dia de rali. Foi um grande trabalho de equipa, que no final deu os frutos que todos queríamos, mas aqueles momentos junto aos ecrãs à espera dos tempos finais foram vividos com um bocado de apreensão, pois o carro do Ott Tanak tinha um problema e o mesmo poderia acontecer no carro do Ogier, mas quando ele terminou foi uma ótima sensação…” disse o Chefe de Mecânicos do carro #1, que tem agora a possibilidade de viver mais e melhores sensações, mas será que sente mais responsabilidade? “Sinceramente, sinto a normal, como todas as épocas que já fiz no Mundial. Mas sei que temos uma oportunidade de ser Campeões este ano e é para isso que estamos a trabalhar dia após dia”, revelou Miguel Cunha, que tem a seu lado na equipa o jovem Bernardo Fernandes, outro português da M-Sport, que no caso colabora diretamente com o Miguel Cunha, pois é o engenheiro da dupla Sébastien Ogier/Julien Ingrassia.
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Boa Miguel! excelente!!! A oportunidade está aí; tirem o máximo proveito da evolução e da competição.
Amanhã, a experiência será mais exigente, mais motivadora e… muito mais gratificante!
Em maio cá estaremos, boa sorte até lá… AHH! gente boa de Portugal!