CRÓNICA: Rali Monte Carlo, Turini, Frio e Segurança
Por João Costa
Ir ao Rali de Monte Carlo sempre foi um sonho de criança. Desde pelo menos 1998, pelo menos, e através dos resumos do Eurosport que acompanho à distância a prova inaugural do Campeonato do Mundo de Ralis. Este ano decidi lá ir.
Mal aterrámos
em Nice, e antes de rumar a Gap, fomos directos a Sospel para daí subir a
Moulinet, Col de Turini e descer até La Bollène-Vésubie. Ainda antes de sequer
de chegar a Sospel, passagem obrigatória pelo Col de Braus e pela sequência de
ganchos intervalados por pequenas rectas.
O troço do
Turini quando começava, ou terminava, em Sospel passava por uma garganta funda
onde os avisos de queda de pedras são constantes. É impressionante como se
rasgou ali uma estrada quase sempre a subir até à aldeia de Moulinet. Após
Moulinet a estrada pendura-se na encosta e de gancho em gancho sobe
paulatinamente até ao Col de Turini.
O Col de
Turini hoje em dia está um pouco diferente do que foi antigamente. Fazem falta
aqueles rails que criavam uma estreita passagem e que com neve e espectadores pendurados
deram fama aquele vulgar cruzamento do topo de uma montanha.
Hoje o
cruzamento é largo, demasiado largo, o que tira um pouco de interesse ao sitio.
Sobrevive mais pelas memórias e misticismo do local do que pelo espectáculo que
hoje em dia proporciona.
Para os
amantes de história para além da história do desporto automóvel também se
passou ali parte da história da segunda guerra mundial com a presença dum
pequeno memorial aos que ali foram fuzilados pelas tropas alemãs, antes do
inicio da descida.
Após o Col vem
a descida alucinante até La Bolléne-Vesúbie. A primeira parte da descida é
feita no meio da floresta, mas assim que as árvores desaparecem são os
precipicios a pintar a paisagem. De gancho em gancho e após muitos quilometros
a descer lá chegamos a La Bolléne-Vésubie e dali rumamos a Gap após uma longa
viagem e umas quantas aventuras devido a um GPS mais aventureiro que o normal.
As
temperaturas baixas foram sempre uma constante ao longo desde seis dias que estivemos
em França. Sair do hotel com quinze graus negativos não é propriamente a melhor
das perspectivas para o restante do dia. No sábado, em Ancelle, tivemos a visão
mais impressionante de todo o rali que foi
ver pessoas a caminhar em direção ao troço com dez graus negativos e a duas
horas e meia do inicio do troço.
De baguetes
nas malas rumo ao troço duas horas e meia antes e com dez graus negativos é
para mim uma nova bitola de dedicação a este desporto dentro do desporto, que é
ver ralis. Nunca em Portugal senti tanto frio quando fui ver ralis. No domingo,
já nos Alpes Maritimos, os zero graus que se registavam no Col de Braus eram
uma temperatura amena comparando com os troços mais a norte. Já permitia pelo
menos não usar o casaco para a neve o que dava outra liberdade de movimentos.
O Rali de
Monte Carlo sempre teve uma certa aureola de rali intocável. A organização
pareceu sempre ser a dona do rali e de fazer o que bem entende da sua prova,
veja-se quando saiu do WRC para ir uns anos para o IRC, mas parece que após a
exclusão da Polónia do Campeonato do Mundo de Ralis, os sinais de alerta devem
ter tocado no Monaco e a organização viu-se na obrigação de ser mais rigida no
que toca à segurança da prova.
Sempre me
venderam o Rali de Monte Carlo como o rali da liberdade quase total, no entanto
hoje em dia já não é bem assim. Nos dias que por lá estive assistimos a
verdadeiros excessos de zelo, a reposicionamento de publico que estava a largas
dezenas de metros da estrada em sitios que por certo não constavam no plano de
segurança e por isso, e por falta de bom senso, os espectadores não poderiam
estar ali.
No ultimo dia,
no Col de Braus, assistimos a um Gendarme a correr com dois espectadores que
estavam a mais de 50 metros da estrada, no entanto para um carro chegar a eles
teria de passar por cima de fotografos credenciados, passar por cima de carros
de marshalls e da televisão , passar por cima de um monte de areia e por pedras
e após isso tudo acertava nos espectadores. Mesmo assim foram convidados a sair
do sitio onde estavam.
Em Ancelle,
num cruzamento onde os concorrentes chegavam a 50 km/h e após uma sequência
lenta de curvas, as pessoas estavam a mais de 50 metros da estrada, atrás de
largas dezenas de metros de fita, longe da estrada e dos carros, num sitio que
não oferecia qualquer perigo. Parece-me que se passou do oitenta para oito em
Monte Carlo.
Para terminar,
após seis dias pelas estradas de França e Monaco, fica a certeza que um dia
voltarei lá nem que seja num passeio de verão, com temperaturas mais amenas,
para fazer os troços de Monte Carlo (nem que seja apenas o Turini) e comer os
deliciosos croissants na boulangerie de uma portuguesa em Sospel que
descobrimos por acaso quando iamos a caminho do Col de Braus. Venha o Rali de
Portugal!
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