Crónica: Rali da Finlândia – Mais do que um Rali
O Rali dos 1000 Lagos ou dos 1000 Saltos ou também conhecido como o Grande Prémio da Finlândia faz parte do imaginário de qualquer adepto dos ralis. Uma viagem de sonho a um evento que é vivido intensa e apaixonadamente pelos finlandeses. Os 1000 Lagos são mais do que um Rali.
É considerado o rali com maior velocidade média do Mundial, tendo este ano Ott Tanak completado os 322 kms de troços com a média final de 125,3 km/h. É uma prova onde os pilotos nórdicos se sentem como um peixe na água, com apenas oito pilotos de outros países para além da Finlândia ou da Suécia a terem conseguido vencer a prova (incluindo os “semi-nórdicos” Markko Martin e Ott Tanak). A simpática cidade de Jyväskylä na região da Finlândia Central, com os seus cerca de 150.000 habitantes serve de base ao rali, o que nos levou a fazer a primeira ligação com o nosso furgão de 9 lugares, no final da tarde de quinta-feira, a partir do aeroporto de Helsinquia. Apesar do dia já ir longo em viagens e escalas, com o “primeiro controlo horário” do despertador a ter tocado ás 03h30m da madrugada, a viagem fez-se de forma animada, por uma via rápida sem portagens e com a ajuda da luz do dia que se prolonga em regime lusco-fusco até perto da meia-noite. Sexta-feira despertava cedo, com o primeiro objetivo a ser o troço de Lankamaa, a cerca de 50 kms de distância. A marcha parecia ligeira, mas chegados já à estrada secundária (em terra) de acesso ao troço, o engarrafamento apareceu, com o público a estacionar ordeiramente. Há quem vá de moto, mesmo desportivas, pois as estradas de terra têm bom piso e outros em bicicletas que transportam nas auto-caravanas ou furgões.
Aonde é que pára a Polícia?
Chegados ao troço, mesmo no interior da floresta, ao longe já se fazia ouvir o motor do Yaris de Rovanpera, que se aproximou “instantaneamente” em alta velocidade a uma esquerda apertada negociada em contra-brecagem: finalmente estava servido o aperitivo! Rapidamente nos apercebemos que as Zonas Espetáculo (ZE), apesar de terem as suas fitas e indicações de zonas perigosas, não são um espaço limitado para os espectadores, que dentro do seu bom senso, podem livremente percorrer a floresta à beira-estrada rumo ao ponto que mais interessa. E zonas rápidas, com lombas ou saltos são relativamente fáceis de encontrar. Os Marshalls limitam-se a avisar com o seu “apito” a aproximação dos carros e a esclarecer dúvidas que possam surgir no público. Não têm de se preocupar com o comportamento do público, pois este em regra tem consciência e sensatez onde se deve colocar e onde fica o perigo. Polícia? Nem vê-la, nem nas ZEs e muito raramente se encontra nas estradas de acesso aos troços. Aliás a coordenação do trânsito chega a ser feita diretamente pelos próprios Marshalls dos Clubes que colaboram com a Organização. Seria um cenário impossível num rali disputado num país latino, mas que ali acontece, com um grande “saber estar” dos finlandeses, que na sua maioria carrega uma leve cadeira para se sentar enquanto espera pela passagem dos seus heróis voadores.
O fenómeno Rovanpera
De tarde, a aventura levou-nos até à Arena “Kalle Rovanpera”, uma gigante Zona Espetáculo pública, com várias tendas de comes e bebes, stands de Merchandise e Memorabilia onde não faltava um Volvo 142 ex-Markku Alen, casas de banho, bancadas, ecrãs gigantes para acompanhar o resto do troço e um speaker! É fácil reconhecer que o fenómeno dos Ralis na Finlândia é um autêntico desporto nacional. Vêm-se facilmente em conjunto três gerações da mesma família a disfrutar da prova, mães com bébés de 1-3 anos de idade e um conhecimento da modalidade ímpar. As passagens de Rovanpera, Lappi e Huttunen faziam o pêlo arrepiar, tal era a efusividade transmitida pelos frios finlandeses! A popularidade de Rovanpera é notável, existe uma fome dos finlandeses voltarem a ter um Campeão do Mundo, 20 anos depois de Marcus Gronholm, e estes enchem-se de entusiasmo ao falar do seu valor e dotes de condução. Nesta Arena, o Rali torna-se numa verdadeira festa, facilmente se confraternizando com outros grupos de adeptos vindos da Estónia, Espanha e até dos Estados Unidos da América, de onde conhecemos um pai e filho que estavam a viver pela primeira vez as emoções do WRC. Ficaram convencidos para em 2023 visitarem o nosso Rali de Portugal… Para regressar a Jyväskylä, um engarrafamento fez-nos chegar tarde ao jantar no centro da cidade, que transforma o “coração da sua baixa”, numa feira do rali, com vários espaços de restauração montados especialmente para o efeito deste fim-de-semana. No dia seguinte a chuva apareceu para baralhar as contas, mas não o nosso plano. De manhã optámos por mais uma Arena, a Himos-Jamsa, onde ficamos impressionados com as linhas de tarjetória similares de Tanak e Rovanpera. Almoçámos por ali e como sobremesa pudemos saborear o muito bom espetáculo proporcionado pelos concorrentes da “prova nacional”, que juntava uma vintena de BMWs a uma série de trações dianteira “com saúde”, não faltando um raro Opel Corsa S2000. De facto se percebe porque os finlandeses têm a condução no seu “ADN”. De tarde apareceu o sol e um troço para recordar: Rapsula. Na realidade a especial de Rapsula faz parte do antigo Ouninpohja, um dos troços mais famosos da história dos Ralis. Uma zona “de prado”, com longo campo de visão onde se destacava uma arrebatadora sequência de lombas feitas a fundo para terminar num salto a fazer cortar a rotação do motor, mesmo antes da entrada na densa floresta, era o prato da tarde. Estávamos convencidos de que iríamos ver os carros durante “tempo suficiente” para atentar em todos os pormenores mas quando chegou Adrien Formaux, que abria a estrada no sábado com o Ford Puma, ficámos “parvos” com a velocidade da passagem! Se impressiona na televisão, ao vivo muito mais! Na viagem de volta a Jyväskylä, novamente trânsito elevado com pára-arranca, talvez tenha sido este o único ponto negativo a apontar, pelo facto dos acessos aos troços se efetuarem na sua grande parte pela mesma estrada nacional/via rápida. Esse e a “realidade económica” da Finlândia, onde uma garrafa de água nas ZEs pode chegar aos 3 eur e uma lata de cerveja aos 8 eur. Domingo era dia de Power Stage e da viagem de regresso a Helsínquia, o rali tinha passado literalmente “a voar”.
DESPESA | PESSOA |
Voos Avião | 284,58 |
Alojamento Jyväskylä | 277,25 |
Aluguer Furgão | 129,53 |
Gasóleo | 22,48 |
Rally Pass | 85,00 |
Refeições | 81,00 |
TOTAL | 879,84 |