Como se é Campeão do Mundo de Ralis a 14.000 Km de distância…
Na maior parte dos casos, a maioria dos adeptos recorda-se da decisão do Mundial de Ralis de 1998 quando Carlos Sainz viu o motor do seu Toyota Corolla WRC ceder a 300 metros de se tornar Campeão, mas a verdade é que em 2006, Sebastien Loeb festejou o seu título antecipadamente… a 14 mil quilómetros de distância!
No momento em que Marcus Gronholm saiu de estrada e caiu para último na terceira especial do Telstra Rali da Austrália 2006, o francês percebeu que iria experimentar uma sensação totalmente nova: ser Campeão do Mundo sem ter o fato de competição vestido e sem sequer guiar o Citroen Xsara WRC. No fundo, a 14 mil quilómetros do epicentro do rali ou, se quisermos, do local onde todas as decisões deveriam acontecer.
Mas, um título é um título e o sabor não é muito diferente. A verdade é que, a duas provas do final do calendário, já ninguém lhe poderia negar o seu terceiro campeonato absoluto consecutivo. Mas se a história da conquista deste ceptro, pelas circunstâncias bizarras em que sucedeu, foi a primeira linha de todos os jornais, isso não reduziu o mérito ao primeiro triunfo na carreira de Mikko Hirvonen que, lhe valeu de passaporte para a sua manutenção na equipa BP Ford em 2007.
Num rali onde Gronholm cedo ficou fora da luta pela vitória, devido a despiste, foram muitas as movimentações na frente da corrida, a ponto de três pilotos passarem pela liderança ainda antes de Hirvonen, numa dinâmica há muito desconhecida numa prova do Mundial. Para além de Gronholm, que liderou nos dois primeiros (curtos) troços da prova, também os pilotos da Subaru chegaram a fazer uma declaração de intenções quanto à vitória. Mas tanto Chris Atkinson – devido a um excesso que deixou o Subaru Impreza fora de estrada na quinta classificativa – , como Petter Solberg – que perdeu quase 30 segundos quando se viu obrigado a parar na nona especial devido à poeira – , nunca conseguiram concretizar essas mesmas intenções. Assim sendo, o primeiro lugar acabou por cair naturalmente nos braços de Hirvonen, premiando não só a sua rapidez como, mais importante, a sua maturidade.
Campeão pela Internet!
Não foi a primeira vez que alguém recebeu a notícia que era Campeão do Mundo pelo telefone porque também Tommi Makinen a tinha recebido em 1998 quando Carlos Sainz desistiu a 300 metros do final do Rali de Inglaterra. Contudo, mesmo sem essa originalidade, a notícia de Sebastien Loeb se ter sagrado tricampeão do Mundo de Ralis levou as emoções ao rubro. Num campeonato onde todos tinham dúvidas se o Citroen Xsara WRC ainda seria competitivo pelas mãos de uma equipa privada como a Kronos Total Citroen, Loeb resolveu rapidamente todas as equações tirando partido do seu talento e rapidez inata consubstanciada em oito triunfos e quatro segundos lugares, o que significa que não somou qualquer desistência antes do seu infeliz acidente extra-ralis e que o seu pior resultado nas 12 provas em que participou foi, efetivamente, uma segunda posição! Se a isto somarmos que o seu terceiro título chega, então é praticamente obrigatório aplicar a lei da objetividade e dizer que a conquista do ceptro foi inteiramente justa! Alguém discorda?
As primeiras declarações de Sebastien Loeb quando, no final do Telstra Rali da Austrália, teve finalmente a certeza que se sagraria novamente Campeão do Mundo foram: «ganhar o título é uma sensação muito boa». A fonte é a própria equipa BP Ford que oficializou a notícia ao piloto francês que desde quinta-feira anterior ao começo do rali adaptou os turnos do sono (passando a dormir de dia e a acompanhar o rali à noite) devido ao fuso horário entre a Suíça (onde reside) e a Austrália (onde se disputava o rali) às necessidades informativas que, a maior parte das vezes, foram satisfeitas via internet. Segundo o piloto, «felizmente tinha um bom número de pontos de vantagem antes do meu acidente,
mas posso dizer que quando se está em casa, se sabe que não se pode guiar e se tem que acompanhar o rali pela Internet, tudo se torna mais difícil e frustrante pois não se pode lutar com armas iguais. De qualquer modo, foi muito bom saber que ganhei o campeonato». Em jeito de balanço, o campeão gaulês explicou que «o título só foi possível porque a Kronos, desde o início da temporada, sempre me colocou nas mãos
um carro perfeito, tal como aconteceu com a Citroen». Agora só falta mesmo regressar antes da temporada terminar para «poder celebrar convenientemente com a equipa!»