Audi vs. Lancia: tudo começou no Rali de Monte Carlo 1983
Race for Glory: Audi vs. Lancia é um filme sobre a fantástica história do Mundial de Ralis de 1983. Baseado em factos reais, o filme retrata a rivalidade entre as equipas que colocavam a correr o Audi Quattro e o Lancia 037 Rally no Mundial de Ralis, a Audi Sport e a Lancia Martini. A luta pelo título teve epílogo no Rali de Sanremo, mas nesse ano tudo começou com o Rali de Monte Carlo 1983…
Num terreno em que o favorito era a Audi, a Lancia inscreveu três equipas oficiais – Markku Alén/Ilkka Kivimaki (nº 4), Walter Röhrl/Christian Geistdörfer (nº 1), trânsfuga da Opel e campeão do Mundo em título – e Jean-Claude Andruet-“Biche” (nº 7). Além destas, também Francis Serpaggi/Michel Neri (nº 33) correu com apoio da fábrica italiana. Todos eles, estavam ao volante de Lancia Rally 037. No final, para surpresa geral, o resultado foi clamoroso, contrariando tofos os prognósticos: uma “dobradinha” Lancia, com Röhrl na frente de Alén.
A razão era simples: o Rally 037 estava substancialmente mais competitivo, apesar do pouco tempo que os pilotos tiveram para fazer os testes de desenvolvimento. Por outro lado, a edição desse ano do “Monte” não teve tanta neve nas estradas, coisa que nem sempre acontece… Vencendo 70% das classificativas, ficou ainda na retina o espetáculo dado por Andruet, conhecedor como poucos das estradas locais, depois de se ter quebrado o compressor do seu Lancia, a caminho do 8º lugar em que terminou.
Mas o grande obreiro deste domínio inesperado tem outro nome: Cesare Fiorio, o timoneiro da equipa, apostou num eficiente serviço de batedores, que sinalizaram cuidadosamente todos os perigos nos troços-chave, diminuindo a desvantagem face aos Audi Quattro de tração total. E foi aqui que a marca alemã perdeu tudo, ao acreditar cegamente na vantagem deste tipo de tração, em estradas em que ela não era assim tão evidente… por causa da ausência da neve. Além disso, os mecânicos da Lancia acompanharam com todo o pormenor o desgaste dos pneus traseiros dos Rally 037, substituindo-os mal começavam a dar sinais de fraqueza. Na realidade, a Pirelli, fazendo uso dos seus conhecimentos adquiridos na F1, garantiu à Lancia pneus quase perfeitos, em todo o tipo de piso – e foi mesmo este o maior segredo para o inesquecível primeiro triunfo do Lancia Rally 037 no WRC: uma mistura mais macia e uma estrutura com um elemento amortecedor acrescentado à carcaça, para evitar as oscilações desta durante as transferências de massas (vulgo, curva e contracurva…).
No Monte Carlo, foram dois os tipos de mistura de pneus usados com sucesso: os Y14, particularmente adaptados para o intenso frio noturnos e os PA86, mais duros que os anteriores, para serem usados durante o dia. Com isso, os Lancia Rally 037 foram quase imbatíveis – e não apenas no “Monte”, mas em muitas provas do campeonato. Só para que conste, no Rally de Portugal, que era a seguir, ganhavam entre 1 s e 1,5 s aos seus adversários, mas só na etapa de asfalto. O problema é que os quatro dias seguintes foram em terra, e em todo o calendário, só o Monte Carlo e a Córsega era em em asfalto…