A cronologia de um ‘Annus Horribilis’ no WRC

Por a 20 Dezembro 2020 13:12

O ano de 2020 vai ficar marcado na história do Mundial de Ralis, como um ano muito difícil, que muitos vão querer esquecer rapidamente. A pandemia ‘permitiu’ apenas sete provas, e só mesmo o Rali de Monte Carlo foi ‘normal’. Recordemos então alguns momentos que marcaram a temporada.

O acidente de Ott Tänak

Ott Tänak e Martin Järveoja tiveram um horrível acidente no Rali de Monte Carlo, mas felizmente puderam contar com um Hyundai i20 Coupe WRC à prova de bala. As coisas poderiam ter corrido muito mal, mas poucas ou nenhumas foram as consequências físicas para a dupla. Um má estreia com a nova equipa, a Hyundai, por parte da dupla estónia. Uma pequena lomba, que a 180 Km/h foi decisiva para o assustador acidente que tiveram, saindo violentamente de estrada, capotando por uma ravina de 25 metros até se imobilizarem. A razão: “Batemos numa lomba que não identifiquei nos reconhecimentos”, disse Tanak.

O pior Monte Carlo de Loeb

Sébastien Loeb e Daniel Elena tiveram um Rali de Monte Carlo muito difícil. As condições complicadas dos troços surpreendem qualquer um, até um sete vezes vencedor do Monte Carlo e nove vezes Campeão do Mundo de Ralis: “As condições dos troços foram difíceis de ‘ler’, a aderência mudava quase constantemente, em termos gerais tentei manter-me seguro, mas mesmo assim cometi vários erros. Não correu bem, não foi o meu melhor Rali de Monte Carlo.”

Rali da Suécia: Um triste recorde para o WRC

O aquecimento global tem ‘baralhado’ a meteorologia um pouco por todo o mundo, e o Rali da Suécia foi vítima dessa situação. A prova realizou-se, mas o evento ficou na história do Mundial de Ralis como o evento mais curto de sempre desde a sua criação em 1973,realizando-se apenas 171.64 km de troços. Caso o Rali da Austrália de 2019 se tivesse realizado (e não cancelado como acabou por ser) teria batido o recorde por muito, já que esteve previsto realizarem-se apenas 94 Km de especiais.

Kalle Rovanpera fez história

Grande Rali da Suécia para Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC), que depois do quinto lugar no Rali de Monte Carlo, foram terceiros na Suécia, e ainda venceram a Power Stage. O jovem finlandês chegou ao derradeiro troço a 0.5s de Ogier, e bateu-no por 3.9s na Power Stage. É o melhor elogio que se pode fazer ao jovem finlandês, que, recordamos, fazia apenas o segundo rali da sua carreira num World Rally Car.

Rali do México encurtado

O Rali do México foi encurtado para que os elementos das equipas não tivessem problemas em regressar aos seus países de origem, já que a Europa estava a ‘fechar-se’ devido ao coronavírus, os EUA a endurecer medidas, e existia por isso risco que as equipas não conseguissem viajar conforme planeado. Não foi fácil o regresso à Europa por toda a caravana, mas as coisas resolveram-se. Na verdade, as equipas foram unânimes na aceitação desta medida, sendo que o percurso que ficou por realizar não impediu que a totalidade dos pontos fosse atribuída. Mas poucos tiveram a cabeça a 100% na prova.

Fogo ‘tramou’ M-Sport no México

O primeiro dia de Rali do México ficou marcado pelo dramático abandono de Esapekka Lappi e Janne Ferm, já que o seu Ford Fiesta WRC foi ‘engolido’ pelas  chamas no final da PE7. Os finlandeses eram quartos, quando o desastre aconteceu. Apesar dos melhores esforços da equipa, o carro ardeu por completo: “Foi o pior que nos podia acontecer, tendo em conta o nosso orçamento que já é tão apertado”, disse no final Richard Millener.

Morreu Martin Holmes

Não há muito tempo tínhamos festejado o 80º aniversário de Martin Holmes, o ‘nosso’ mais antigo jornalista em atividade, mas em junho perdemos o Martin Holmes, um nome incontornável do Mundial de Ralis. Fez a cobertura de 520 ralis do WRC e assinou trabalhos e reportagens para o AutoSport desde 1978 até 2020.

Rali de Portugal cancelado

Depois de ter sido inicialmente adiado, o Rali de Portugal 2020 foi cancelado. A prova do ACP já passou por momentos difíceis, dos quais soube sempre dar a volta, mas desta feita não houve volta a dar. Até a falta de combustível de 1974 foi ultrapassada, a tragédia de 1986, também, uma intempérie descomunal em 2001, dificultou imenso. Só mesmo um maldito vírus foi capaz de ajoelhar o Rali de Portugal, que mais uma vez será capaz de ultrapassar todos os obstáculos, e ressurgir mais forte em 2021.

Carlos Sainz, o melhor de sempre no WRC

Com surpresa para muitos e justiça para tantos outros, Carlos Sainz foi escolhido pelos adeptos do WRC de todo o Mundo com o Melhor Piloto de Sempre a História do Mundial de Ralis, ‘batendo’ Sébastian Loeb na final, depois de um conjunto de eliminatórias em que os 20 melhores pilotos da história da modalidade se ‘defrontaram’ online. Foi através duma votação online no www.wrc.com que os adeptos puderam escolher, e no final, a escolha recaiu em ‘El Matador’: “Não posso estar mais feliz e orgulhoso com este reconhecimento. Não preciso de vos dizer o quanto avalio Sébastien Loeb e o quanto ele merece ser o maior, ele e todos os campeões do mundo merecem este reconhecimento. Toda a família dos ralis deu-me um grande sorriso e este grande reconhecimento”, disse Sainz.

Mais cancelamentos

À medida que os meses passavam, mais provas do WRC foram sendo canceladas, Safari, Argentina, Finlândia, Nova Zelândia, Grã-Bretanha, Rali da Alemanha em perigo, Rali de Itália remetido para outubro, o Japão indefinido. Perfilaram-se várias outras hipóteses, os ralis de Ypres, Valais, Chipre, Letónia e Estónia. Finalmente, foi decidido que a Estónia iria acolher o recomeço do Mundial de Ralis, no início de setembro, os ralis da Alemanha e Japão foram definitivamente cancelados, e o WRC salvou-se entre os pingos da chuva com as provas da Turquia, Sardenha e Monza.

Triunfo de Tanak na Estónia

Ott Tänak venceu o Rali da Estónia, naquela que foi o seu primeiro triunfo na Hyundai, colocando-se nessa altura na luta pelo título.

Na prova que marcou o regresso do WRC após um hiato de seis meses, e que foi uma estreia absoluta nos 47 anos de história do WRC. Dois dias num rali sprint em que os favoritos eram Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 Coupe WRC), confirmaram esse favoritismo ao vencer “nas calmas”, nunca dando grandes hipóteses aos adversários. Foi também um grande rali para Craig Breen e Paul Nagle (Hyundai i20 Coupe WRC), que fez uma das suas melhores exibições de sempre no WRC, e também para Kalle Rovanpera e Jonne Halttunen.

Elfyn Evans perto do título

Com o triunfo no Rali da Turquia, Elfyn Evans recuperou a liderança do Mundial e passou a ser o principal candidato ao título. Ott Tänak e Sébastien Ogier desistiram enquanto Thierry Neuville minimizou estragos com um segundo lugar, depois de furar, numa prova muito marcada pela…falta de ar nos pneus. Foi isso que decidiu o rali, pois Elfyn Evans foi o mais cauteloso, inteligente ou eventualmente o mais sortudo.

O último pódio de Loeb no WRC?

Sébastien Loeb foi ao pódio do Rali da Turquia, depois quase um ano fora do WRC num rali que desconhecia, pois nunca o tinha disputado naquela zona, e foi a ver muitos vídeos que se preparou. Segundo revelou, foram “dois longos dias a comparar os onboard com as notas, para ter um pouco os troços na cabeça antes dos reconhecimentos”, disse. Depois a sua rapidez e experiência fizeram o resto. 

Sordo vence na Sardenha

Dani Sordo alcançou na Sardenha a sua terceira vitória no WRC, curiosamente, repetindo o triunfo do ano anterior na mesma prova.

Elfyn Evans saiu de Itália com um avanço de 14 pontos, apenas com duas provas pela frente, julgava-se na altura, Ypres e Monza.

Tanak ficou com 28 pontos para recuperar em duas provas, e Neuville 24. Boas prestações de ambos mas para surpresa de muitos, foi Dani Sordo a vencer, depois de aproveitar de forma excelente a sua posição na estrada no primeiro  dia de prova, dando depois boa sequência ao trabalho. Os astros estavam a alinhar-se para a Grã-Bretanha voltar a ter um campeão depois de Colin McRae e Richard Burns, e as coisas ainda ficaram mais risonhas quando se ficou a conhecer o cancelamento do Rali de Ypres, mas ainda falta uma prova, Monza…

7º título para Sébastien Ogier

Sébastien Ogier e Julien Ingrassia asseguraram em Monza o seu sétimo título Mundial de Ralis, selando o campeonato com o triunfo na prova. O despiste de Elfyn Evans na PE11 foi o momento-chave da prova e do campeonato. A Hyundai assegurou o título de Marcas.

As coisas estavam a correr a contento a Evans, ao perseguir sempre de perto Ogier, mas com a neve e o gelo na estrada, as hipóteses de algo suceder eram grandes e a Lei de Murphy entrou em ação. O que podia correr mal, correu mesmo, Evans saiu de estrada na PE11 e a partir daí perdeu grande parte das hipóteses que tinha de ser campeão. A partir deste momento, Ogier só tinha de fazer 15 pontos mais que Evans, e conseguiu-o, levando o carro até ao fim sobre ‘carris’, acabando mesmo por vencer o rali.

São assim mesmo, os ralis, e é isso que fica para a história duma temporada que teve apenas sete ralis.

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