11 dias para o Rali de Portugal: Raffaele Pinto venceu em 1974…mas quase não houve rali
São 36 os pilotos vencedores do Rali de Portugal, 11 venceram mais do que uma vez e 25 apenas uma. Entre eles está Raffaele, vencedor do Rali de Portugal de 1974, há precisamente 50 anos.
Vamos hoje recordá-lo…
Piloto oficial da FIAT, venceu o Campeonato da Europa de Ralis de 1972 com um 124 Sport Spider e a Mitropa Rally Cup (que reunia provas realizadas na Áustria, Alemanha e Itália), ganhando para isso seis ralis que eram então emblemáticos: Costa Brava, Hessen, Semperit, Polónia, Yugoslávia e Mille Minuti.
No WRC, não teve tanto sucesso, ganhando somente um rali, e logo em Portugal, no ano de 1974. O ano da crise petrolífera, em que, à semelhança do que havia acontecido com os ralis de Monte Carlo e Suécia, o Rali de Portugal esteve para não se realizar.
Valeu uma vez mais a perseverança de César Torres, que convenceu o governo português a autorizar o rali, depois de a FIA canalizar para a nossa prova parte da gasolina que a Venezuela lhe havia cedido. O itinerário contou com uma estrutura mais compacta, à medida da conjuntura económica do momento, mas igualmente desgastante, com apenas duas etapas.
Os percursos de concentração já não se realizaram, dando lugar a uma partida única, no Parque Eduardo VII, em Lisboa. A FIAT monopolizou o pódio e Raffaele Pinto liderou com à vontade, perseguido por Alcide Paganelli e um terceiro 124 Spyder conduzido pelo jovem Markku Alen.
Mas o popular ‘Lele’ ficou mais conhecido por outro episódio – e também tendo como palco a prova portuguesa. Foi em 1973, o ano do primeiro WRC (ainda pontuando apenas para as Marcas). Como já vinha sendo hábito, a prova portuguesa era longa, difícil, com troços e ligações com médias ‘impossíveis’ de cumprir o que obrigava a notas de andamento para cerca de 2000 Km de percurso.
Acompanhado por Arnaldo Bernacchini, ‘Lele’ percorria as estradas sinuosas das serras, a caminho de Vila Real. A noite estava fria e estrelada e, dentro do FIAT 124 Abarth, o co-piloto gritava as notas de andamento, numa das ligações ‘impossíveis’ atrás referidas: “Média esquerda, abre muito para trás e fecha com esquerda média”. Ao passarem por uma ponte, Bernacchini gritou “volta… VOLTA”.
Tinha visto fortes marcas de travagem, antes de um muro destruído. Voltaram para trás de foram ver o qu7e tinha acontecido ali: 20 metros mais abaixo, na ravina, estava o Toyota Celica de Ove Andersson que, ao vislumbrar alguém, na estrada, lá em cima, gritou por socorro. O sueco estava fora do carro, mas não fora capaz de libertar o seu co-piloto, Jean Todt (o atual Presidente da FIA), que ficara com o braço preso entre o assento e a alavanca de mudanças, num carro que poderia arder a qualquer momento. Mas ‘Lele’ Pinto não era apenas rápido ao volante, era também muito forte e conseguiu libertar Todt.
Com o tempo perdido, chegaram a Vila Real a penalizar cinco minutos, caindo da liderança para o nono lugar. Mas não foi isso que aconteceu, porque o ‘Grande Chefe’ César Torres, assim que ouviu esta história de coragem, não perdeu tempo e anulou o controlo: “Anulado? Mas você não pode, isto é um Campeonato do Mundo!” disse Pinto, que depressa ouviu: “Eu é que mando aqui”, respondeu Torres. E assim foi. Ironicamente, ‘Lele’ Pinto ‘ficou’ pouco depois, na Serra do Marão, com uma suspensão do FIAT 124 danificada, mas isso já nada importava.