Um ano de transições no WRC
Em 2007, o Mundial de Ralis foi um dos mais bem disputados da última década, preservando alguns ícones e deixando partir outros. Entre os que ficaram, Sébastien Loeb foi o centro das atenções e dos partiram ou já não estarão presentes no próximo ano, Colin McRae e Marcus Gronholm são os que mais saudades deixarão.
Num ano de transições, à anunciada queda da Subaru correspondeu a emergência de um valor chamado Jari-Matti Latvala. Mas o Mundial foi muito mais que um jogo da bolsa, com subidas e descidas. Foi palco para o regresso nostálgico do “nosso” Rali de Portugal e de uma irregular estreia de Armindo Araújo no PWRC, entre tantos outros factos que vale a pena recordar…
1º – Loeb chega ao tetracampeonato
Quando à entrada da 10ª prova do Mundial, Sébastien Loeb somava já 13 pontos de desvantagem face a Marcus Gronholm, poucos acreditavam que o francês se conseguisse tornar o terceiro piloto a averbar o quarto título e o segundo a fazê-lo de forma consecutiva. Mas, daí para a frente, o gaulês, tirou mesmo todo o “sumo” do C4 e quatro vitórias até ao final da temporada (a somar às outras quatro já conquistadas), colocaram-no novamente na trajectória do título que “fechou” na última prova. De qualquer modo, Loeb não teve problemas em assumir o título «mais difícil da carreira», enquanto prometia que tudo vai fazer para se tornar o primeiro piloto a chegar ao penta!
2º – Desaparecimento de Colin McRae
Aos 39 anos, Colin McRae perdeu a vida inesperadamente aos comandos do seu helicóptero e deixou mais pobre a família dos ralis. O escocês assegurou 25 triunfos, 42 subidas ao pódio e tornou-se o primeiro britânico a conquistar um título de Pilotos no Mundial, para além de ter juntado ao seu pecúlio ainda três vice-títulos e, claro, 20 abandonos por despiste! Mas, McRae foi também muito versátil tendo passado pelas 24 Horas de Le Mans e pelo Dakar, na altura em que já tinha dado nas vistas também no Todo-o-Terreno. Colin McRae, nunca será esquecido!
3º – Abandono de Gronholm
No final de uma temporada onde falhou o seu terceiro título de Pilotos, mas onde foi uma peça-chave na construção do segundo título consecutivo de Marcas da equipa BP Ford, Marcus Gronholm deu por encerrada a carreira de 18 anos no Mundial e 20 nos ralis. E mesmo sem terminá-la com chave de ouro (devido a dois excessos no Rali do Japão e da Irlanda), o finlandês jamais será esquecido na história do Mundial. Sendo praticamente o último piloto da sua geração a tirar as luvas, Gronholm deixa o campeonato com o sabor do dever cumprido após 150 participações, onde conseguiu 30 vitórias (embora nenhuma em asfalto), 83 pódios e 541 vitórias em provas especiais.
4º – Menor diferença de sempre
Nunca uma prova do Mundial de Ralis teve um desfecho tão equilibrado como Rali da Nova Zelândia de 2007, onde apenas 0,3 segundos separaram Marcus Gronholm e Sébastien Loeb. Em 353 quilómetros disputados ao cronómetro, o feito corresponderia, figurativamente, a uma diferença de sete metros, se imaginarmos que o Ford Focus do finlandês e do Citroen C4 do francês, tivessem partido lado a lado. No terreno, os dois pilotos nunca estiveram separados por mais de 15 segundos e só na última etapa trocaram três vezes de posições, mas a vitória de Gronholm foi atribuída a uma escolha menos acertada de pneus de Loeb, na derradeira etapa e, provavelmente, a menos um pestanejar de olhos dentro do carro que o seu adversário!
5º – Desaire da Subaru
A equipa Subaru voltou a ter um ano verdadeiramente para esquecer não conseguindo triunfar em nenhuma das 16 provas e, mais importante que isso, prolongou o jejum de vitórias que vai já nos 36 ralis (ou 45 se considerarmos que a último triunfo aconteceu devido ao abandono voluntário de Loeb no Rali de Gales de 2005). Mais do que Petter Solberg, Chris Atkinson ou Xavier Pons, o maior culpado desta autêntica “travessia no deserto” foi a última versão do Impreza WRC que nunca se mostrou verdadeiramente competitivo. Com o carro da Prodrive a inspirar pouco confiança aos pilotos, os erros sucederam-se e agora só a nova versão WRC2008 poderá salvar o futuro da equipa.
6º – A revelação de Latvala
Jari-Matti Latvala foi talvez a maior revelação da temporada. Se, ao início, partia apenas com o objectivo de bater o seu colega de equipa (Henning Solberg), o segundo piloto da Stobart acabou por superar largamente esse objectivo. Ganhou 18 especiais ao longo do ano, esteve na liderança do Rali da Sardenha (até à 3ª especial) e do Rali do Japão (até 2ª e depois na 5ª classificativa), dando provas de enorme rapidez e maturidade. No final, o prémio foi a subida de escalão ou seja, irá integrar a equipa oficial BP Ford ao lado de Mikko Hirvonen.
7º – Regresso do Rali de Portugal
Depois de seis anos de ausência, o Rali de Portugal regressou ao calendário do Mundial de Ralis, tornando-se, desde logo, uma das provas que melhores resultados obteve nos relatórios finais da FIA, mesmo senão evitou uma mancha com o acidente de Armindo Araújo no “shakedown” e a polémica desclassificação dos Ford Focus oficiais e privados no final. Sem recorrer às “catedrais” de Arganil ou Fafe, a prova organizada pelo ACP e disputada no Algarve provou ter todas as qualidades para manter um lugar cativo no Mundial. Contudo também voltou a ser vítima da acção reformista da FIA e só poderá regressar ao Mundial em 2009.
8º – Estreia problemática da Suzuki
Um mini-programa de duas provas (Córsega e Finlândia) lançou o SX4 WRC na “arena” no Mundial de Ralis. Mas rapidamente ficou a certeza que Patrick Bernardi e Sebastian Lindholm, os dois pilotos surpreendentemente escolhidos, não iriam dar nas vistas devido aos muitos problemas de juventude revelados pelo motor, travões e diferenciais do 14º WRC construído. Com muito trabalho de desenvolvimento pela frente, em 2008, será a vez de Toni Gardemaister e Pier-Gunnar Andersson tentarem provar que o salto da JWRC para o WRC valeu, de facto, a pena.
9º – Arai e Andersson estrelas do PWRC e do JWRC
Os dois campeonatos paralelos do Mundial de Ralis consagraram, pela primeira vez na sua história, pilotos repetentes. No PWRC, Toshi Arai (que já tinha tomado as rédeas do poder em 2004) festejou o título em casa depois de ter faltado às duas últimas provas (por opção de calendarização), dando vantagem ao Subaru Impreza que nos últimos cinco anos derrotou o Mitsubishi Lancer na categoria. No PWRC, Pier-Gunnar Andersson também repetiu a vitória de 2004, levando, desta vez, de vencido o seu companheiro de equipa Urmo Aava, contribuindo para o domínio dos Suzuki Swift S1600.
10º – Armindo Araújo entre o melhor e o pior
Armindo Araújo estreou-se no Mundial de Produção e conseguiu provar ser dono de uma rapidez acima da média entre os “rookies” que não conseguiu, todavia, materializar em resultados. Em seis provas, o seu melhor registo acabou por ser um quarto lugar logo na prova de abertura, mas chegou a lutar pela vitória e pelos lugares no pódio em todas as provas onde participou (excepção feita da última), sendo não raramente traído pela mecânica do Lancer Evo IX. Para a história fica, o facto de ter ganho uma classificativa em termos absolutos no Rali do Japão e uma estreia num Lancer WRC, em Portugal, pouco mais que discreta.
Monte Carlo
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