Regresso ao futuro

Por a 19 Julho 2007 08:25

Para onde estão a caminhar os ralis? Será que os WRC têm mesmo os dias contados? E a rotatividade das provas? Será a solução para salvar o Mundial do “fardo” económico em que se tornou nos últimos anos? FIA, Construtores e Organizadores procuram urgentemente respostas concretas para estas e outras perguntas. Só assim conseguirão traçar o perfil do Campeonato do Mundo de Ralis das próximas duas décadas…

Martin Holmes

O último Conselho Mundial da FIA, do mês de Junho, foi um exemplo perfeito das dúvidas que percorrem actualmente o Mundial de Ralis. Muitas perguntas, poucas respostas e apenas uma conclusão: as palavras invisíveis, as denominadas “entre linhas”, assumem um peso cada vez mais importante no desporto automóvel, ao contrário das palavras que aparecem a preto e branco!

Senão vejamos. O regulamento técnico dos actuais WRC deverá, em breve, mudar. É do domínio público que a FIA pretende fazer alterações nesse sentido, preparando-se para alterar a fisionomia dos carros de ralis, senão revolucionariamente, pelo menos, deixando marcas precisas de inovação. Na prática, isto significa que as recentes recomendações ou acordos de princípios avançados pela FIA (ainda sem carácter vinculativo), precisamente, na derradeira reunião do Conselho Mundial, deixam indicações claras que o futuro regulamento do Mundial irá forçar os construtores a desenvolver os carros de Grupo N ou os S2000, em prejuízo dos actuais WRC. A sugestão da entidade reguladora do desporto automóvel internacional é que as marcas que pretendam participar nas próximas edições do campeonato deverão primeiro homologar os carros de Grupo N ou Super 2000 e, depois, basear as suas versões de WRC nesses carros, o que, no caso dos S2000, aconteceria, através da junção de um turbocompressor e, no caso dos veículos de Produção, a solução de desenvolvimento poderia ser ainda mais fácil ou seja, bastaria permitir maiores diâmetros do turbo ou mesmo banir os actuais restrictores.

Antecipar o futuro?

Importante é dizer que a sugestão agora avançada pela FIA aponta o seu ano de vinculação apenas para 2012 e que o actual “período de validade” dos WRC se extingue em Dezembro de 2009, de onde é forçoso concluir que ficam dois anos de hiato entre o final dos WRC (como os conhecemos) e a entrada em cena de uma nova categoria que ainda não tem identidade definida. A grande questão será saber se a FIA avalizará a entrada destes “novos WRC” antes mesmo do inicialmente previsto ou se terá que procurar uma fórmula intermédia que possa servir as necessidades dos construtores na produção dos seus modelos, em 2010 e 2011. Para o Presidente da Comissão de Ralis da FIA, Morrie Chandler, «seria bom conseguirmos ter pronta uma nova regulamentação que coexistisse já com a introdução dos novos calendários em 2009, mas temo que tal possa ser prematuro». E porquê…? É aqui que se lêem as “entre linhas”!

Com carros baseados nos veículos de Produção e S2000, a FIA pretende que mais marcas respondam ao apelo dos vários campeonatos nacionais, que, nos últimos anos, foram apenas dominados pelos Mitsubishi e Subaru. A FIA precisa de forçar, particularmente, outros “nomes grandes” dos ralis (ou seja, Citroen e Ford) a tornarem-se competitivos numa dessas duas categorias, até porque a última a nascer – a Super 2000 – começa a gozar duma notável popularidade nos diversos campeonatos nacionais, europeus e IRC, mas tarda em se fazer notar no Mundial. E é também aqui – no factor “timing” – que surge o problema já que se Malcolm Wilson (director da M-Sport, responsável pela preparação dos Ford Focus oficiais) confirmou no início deste mês não estar em desenvolvimento nenhum projecto para um carro de Produção ou um S2000 (apesar de existirem homologações nacionais desta variante na Ásia e Austrália para o modelo Fiesta), da mesma forma que a Citroen só parece querer avançar para a construção do sucessor do C4 WRC quando a FIA definir correctamente as regras do jogo e a calendarização do novo regulamento técnico.

Calendarização à pressão

Mas a questão da “fisionomia” dos futuros carros não é único ponto “quente” num Mundial que poderá estar prestes a entrar em ebulição. O tema da calendarização das provas aparece também na primeira linha da agenda de todos os agentes envolvidos no campeonato. A recente decisão (também ainda não vinculativa) de reduzir o número de provas para 12 parece agradar a quase todos, o que já não acontece com o reaparecimento do sistema de rotatividade que obrigaria à entrada e saída alternada de 12 das 24 provas propostas pela FIA. Na verdade, é difícil de acreditar que possam existir mais de 18 provas com qualidade dignas do Mundial, o que, mesmo sendo este um factor subjectivo, deixa de novo muitas dúvidas acerca da “selo de qualidade” que o Campeonato do Mundo possa albergar nos próximos anos. A questão é que a FIA, em nome das críticas que se levantaram ao excessivo número de provas (que, para muitos, começavam a estrangular este desporto), tinha que fazer qualquer coisa, mesmo que não tenha ainda e agora total confiança na decisão que irá tomar no próximo Conselho Mundial. Uma coisa é certa: qualquer que ela seja, acabará por influenciar a trajectória do Mundial de Ralis nos próximos anos.

Luta pelo poder

Mas qual é o ponto de ligação entre a problemática da nova categoria de carros no Mundial, a problemática da calendarização das provas e a questão da ISC (ver caixa)? Numa palavra, é o “poder”. Algo de que ninguém fala, mas que, em última instância, está na base de todas estas questões. Quem deve fazer as regras desta disciplina? A FIA tem tido até ao momento a “mão pesada”, mas parece cada vez mais vulnerável à pressão dos construtores até porque necessita urgentemente de reunir condições que possam atrair mais marcas para o palco do Mundial. E é por isso que a sua influência se nota cada vez mais nas entrelinhas e se escreve cada vez menos a preto e branco!

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