O AutoSport por dentro de um Ford RS200
Há alguns anos, o AutoSport, por intermédio de Francisco Sande e Castro, ensaiou uma unidade do Ford RS200.
Uma das ‘especiais’, aquelas que a marca designou como Evolution e que tinham mais de 350 cv – mas menos 100 que os de ralis cuja potência ‘declarada’ era de cerca de 450.
As más línguas diziam que tinham na verdade, mais de 500 – coisa que era também válida para os Audi, Lancia e Peugeot ‘paralelos’ do Mundial de Ralis dessa altura. Este Ford RS200 é um carro raro, o seu conta-quilómetros mostrava apenas 5000 quilómetros percorridos. Verdadeiro ‘monstro’ de estrada poderoso e impressionante, o RS200 era, na altura, o mais rápido carro de estrada existente.
Galgava até aos 100 km/h, em arranque parado, em 3,5 segundos – menos do que um Porsche ou um Ferrari de então, e mesmo dos dias de hoje.
Essa capacidade nota-se logo “quando arrancamos com o carro” – é que “ele foi feito a pensar na competição e não para circular em estrada. A embraiagem, que deve ter disco metálico, pega de repente e ouve-se o barulho do disco a agarrar o volante do motor”. Outra coisa que se nota é o barulho do motor, ali mesmo junto ao ‘piloto’ de serviço: “O carro é pouco isolado e tanto o motor como a transmissão fazem-se ouvir, e bem, dentro do habitáculo, à mistura com um cheiro a gasolina queimada. O motor, certamente com árvores de cames talhadas para competição, ‘embrulha-se’ um pouco a baixa rotação e ‘pede’ para andar nos regimes a que está mais habituado”.
Uma curiosidade, que mostra bem para que foi feito o Ford RS200: “Do lado direito da manete de mudanças, uma outra manete, mais pequena, permite [ao condutor] regular a transmissão de potência entre os dois eixos”. Uma coisa “pouco útil num carro de estrada” mas que “dava muito jeito aos pilotos”, numa época em que ainda não existia regulação eletrónica de potência.
Como bom carro de competição que se preza, há que ter alguns cuidados no arranque: é preciso fazê-lo “a baixa velocidade, até aquecer o motor e a caixa de velocidades.” Uma altura em que “a direção parece muito estranha (e desmultiplicada) talvez para não se tornar muito pesada (…) em estrada a baixa velocidade”.
Porém, tudo muda quando se calca o pedal do lado direito: “A aceleração é de facto fora do comum e, quando o turbo ‘pega’, talvez um segundo depois de termos pressionado o acelerador e fundo, o carro dispara autenticamente”. Isso, aliado à “eficiente suspensão, ajudada pela tração às quatro rodas que permite que o carro curve a velocidades muito elevadas em estrada acompanhado pelos rateres do motor e de chamas a sair pelo escape quando passamos de caixa rapidamente e voltamos a acelerar a fundo”, ajuda a criar um “ambiente entusiasmante, que nos faz apetecer andar cada vez mais depressa na procura dos limites do carro”.