Mikko Hirvonen: “O novo WRC não está milhas à frente do do Fiesta S2000”

Por a 7 Fevereiro 2011 18:06

Tal como todos os pilotos profissionais ‘top’ ralis, também Mikko Hirvonen vai entrar, em 2011, num território desconhecido com nova fórmula dos World Rally Cars. Mesmo com a experiência de voltar a ser o número um dentro da equipa Ford Abu Dhabi World Rally Team e ao ser ainda o único piloto que se pode gabar de ter festejado o seu 100º rali do Mundial antes de completar 30 anos, será que o finlandês pode prever o que acontecerá em 2011? Entre os vários temas abordados, falou-nos dum assunto que suscita muita curiosidade entre os adeptos: Será que os S2000 e os novos WRC são assim tão diferentes?

Mikko Hirvonen, que teve a oportunidade de correr com o Fiesta S2000 ‘aspirado’ no início de 2010 quando venceu o Rali de Monte Carlo é um daqueles pilotos que pode ajudar a perceber se os dois carros tem ou não grandes diferenças seja no temperamento ou no cronómetro.

Para o finlandês, “em termos de suspensão não há grandes diferenças. Agora em termos de diferenciais, que já trabalhámos muito no WRC, já se pode dizer que há. Contudo, a maior diferença está no motor. O Fiesta WRC é bastante mais rápido que o S2000, mesmo se ainda estamos a experimentar ‘rapports’ de caixa. Globalmente há muito diferenças entre os dois carros, mas também não se pode dizer que o comportamento do WRC está milhas à frente do do Fiesta que experimentei em Monte Carlo”.

AutoSport -Quais são as expectativas para a Suécia, onde a Ford não é batida desde 2005?

Mikko Hirvoen – O primeiro rali, a Suécia, vai ser interessante, mas só no final do primeiro dia é que vamos saber onde nós e a Ford nos situamos em relação à Citroen. Claro que vamos à Suécia com a esperança de começar a época com outra vitória. Acredito que temos um carro forte e uma boa equipa, logo poderemos vencer.

AS – Com um carro tão novo, sentes que estás suficientemente preparado?

MH – Ainda estamos a aprender o carro. O maior desafio tem sido perceber que quando se fazem alterações de set up no Fiesta, ele reage de forma diferente do Focus. Os dois primeiros testes foram só para mudarmos coisas por forma a percebermos, antecipadamente, como o carro reagia e o que acontecia. E só depois de percebermos como ele funcionava é que traçamos o caminho do desenvolvimento que considerarmos ser o melhor. Nalguns aspetos acho que já o encontramos. Sabemos o que queremos, mas ainda não houve tempo suficiente para testar tudo o que precisamos. Em resumo, há muito trabalho a fazer, mas já sabemos em que direção ir. O carro ainda não está pronto, mas já está muito bom e há ainda muitas coisas em que pode melhorar, sobretudo, ao nível da suspensão e diferenciais. Nestes carros, onde não há diferencial central é preciso encontrar compromissos no set up pelo que para cada rali teremos que ter todos os set ups disponíveis e escolher o que melhor se adaptar.

AS – Há diferenças muito grandes entre os novos carros, ao nível de performances nos troços, e os antigos World Rally Cars?

MH – Acho que não. Pode haver pequenas diferenças nos ganchos e nas curvas mais apertadas onde os atuais carros não curvam tão bem e temos que fazer abordagens mais por fora, mas nas especiais rápidas acho que não veremos grandes diferenças. O motor, contudo, tem um barulho diferente. Não temos tanto binário pelo que temos que estar sempre atentos às rotações. Segundo as regras da FIA, estamos limitados às 8500 rpm temos que andar sempre lá em cima. A primeira vez que guiei o carro era como se tivesse a guiar um Escort MK2 BDA porque tinha que estar sempre a dar ‘kits’ de embraiagem para subir a rotação.

 

AS – Esta mudança, em termos de diferenciais, obrigou-te a procurares um novo estilo de condução?

MH – Não muito porque há muitas coisas que se podem fazer em termos de suspensão e de barras estabilizadoras que resolvem os problemas. Para mim, foi apenas um efeito similar ao passo dado em 2006 quando desapareceram os diferenciais dianteiros e traseiros ativos. Sente-se, nas curvas longas, que não se pode alterar a trajetória tão facilmente, mas é apenas um pequeno passo atrás e não é um grande problema.

AS – O ano passado não foi um bom ano. Fizeste alguma coisa no Inverno que te ajudará a regressar à forma de 2009?

MH – Houve muitas coisas que correram mal o ano passado. Comecei bem na Suécia, mas depois devia ter tentado ser mais agressivo. Tentei ganhar cada troço, em cada rali. E a lição que aprendi é que não é assim que as coisas devem funcionar comigo. Assim, este ano, vou dar um passo atrás e não pensar demasiado nas coisas. Apenas ‘apanhar’ o carro, andar a fundo e ver onde nos situaremos, sem pensar em títulos ou vitórias. Sei que se tivermos relaxados e nos divertirmos a guiar, poderemos fazer bons resultados.

AS – O acidente da Finlândia não deve ter ajudado, certo?

MH – Acho que o acidente não teve nada a ver com o resto. Nos ralis anteriores ao acidente sentia que queria bons resultados e apenas terminar ralis. Comecei a evitar erros, mas quando fiz isso perdi completamente o ritmo. Tinha um bom ritmo no Japão, mas tive um problema mecânico que me impediu de fazer um bom resultado. Houve inúmeras pequenas coisas e pequenos problemas que impediram de obter bons resultados.

AS – O que pensas que Sébastien Loeb poderá fazer este ano? Achas que podes, finamente, parar a sua invencibilidade de sete títulos?

MH – Estamos no mesmo campo e a jogar com as mesmas armas, mas a Citroen começa com um carro completamente novo. Por isso acho que, definitivamente, temos mais hipóteses do que tivemos até agora, talvez mesmo esta seja a maior oportunidade de sempre.

AS – Haver mais ralis de terra no calendário, ajudar-te-á?

MH – Acho que não. Para mim é sempre igual, onde quer que seja. Há novos ralis, como a Austrália, mas isso não faz grande diferença. Os carros são novos. Acho que o desafio de cada rali será sempre o mesmo. Terá mais a ver com a forma como o carro reagir. Temo-nos esforçado no México nos últimos anos pelo será interessante ver como correrão lá as coisas com um novo carro. Estamos mais perto das especificações dos Citroen do que nunca. Por exemplo, agora temos uma caixa de seis, como toda a gente!

AS – Achas que esta será a época mais excitante de todas as que já marcaste presença no WRC?

MH – Em 2006 começámos com um novo carro, mas ainda estava a aprender e não estava preparado para lutar pelo título. Felizmente, agora estou, temos um novo carro, com muita coisa para evoluir e tudo isso fará com que este ano seja, de facto, entusiasmante.

Martin Holmes

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