Mário Castro (Ford Fiesta R2T) e Manuel Castro (Skoda Fabia R5) trocaram de carro
Vários níveis de emoção! Mário Castro e Manuel Castro trocaram a bacquet do lado esquerdo dos seus – respetivamente – Ford Fiesta R2T e Skoda Fabia R5, e explicam as principais diferenças entre ambos. O contraste dos ‘cheques’, mas também das sensações vividas. Sente-se ao lado deles…
Mário Castro vs Manuel Castro! Ford Fiesta R2T e o Skoda Fabia R5´. Para quem se lembra deles, os Swing Out Sister eram um grupo musical inglês dos anos 80. Hoje, vamos tratar também de ‘swing’… mas de carros! Os ‘Swing Out Brothers’ Castro&Castro, Mário e Manuel Castro, decidiram fazer ‘swing’ dos seus carros, e ver o que é que vale a máquina do vizinho, tudo para ficarmos a saber um pouco mais do que se pode contar caso pretenda correr com cada um dos carros, e o que custa cada ‘aventura’. É a vez de elevarmos ainda mais o significado do ‘swing’.
É um comparativo inédito o que fizeram Mário Castro e Manuel Castro, que deram a conhecer um pouco o que é cada carro, as suas diferenças técnicas, de pilotagem e também os custos inerentes a cada um.
Logicamente, sendo o Ford Fiesta R2T um carro pertencente ao segundo nível da pirâmide, o Skoda Fabia está no nível imediatamente a seguir aos World Rally Car, futuramente Rally1, e por isso as diferenças são grandes. A começar pela transmissão que no caso do Skoda Fabia R5 é às quatro rodas, enquanto no Ford Fiesta R2T, somente as rodas da frente ‘puxam’. Daí que as diferenças de valores sejam significativas, mas isso deixamos para que o Manuel e o Mário Castro expliquem.
De resto, sabia por exemplo que em termos de consumos, o Skoda Fabia R5 pode utilizar gasolina especial , que custa 7.60€ e faz médias aos 100 Km de 25 litros em ligação e 65 litros em ritmo de prova. Já o Ford Fiesta R2T utiliza gasolina de 98 octanas ou especial. A primeira custa cerca de 1.80€ e a segunda, 5.70€, sendo que o Fiesta faz consumos 20 litros aos 100 Km em ligação e consome 50 litros em ritmo de prova.
Quanto aos pneus, para o Skoda, os de asfalto custam 355.00€ + IVA enquanto os de pisos de terra custam €325.00€ + IVA. No caso do Ford, os custos são bem mais baixos, cerca de 260.00€ + IVA, quer seja para asfalto ou terra. Mas há muito mais.
Mário Castro fala do Ford Fiesta R2T
“O Ford Fiesta R2 T é um carro totalmente construído na M-Sport, tem um motor Ecoboost 1.000 cc, turbo, tem sensivelmente 170-180 cv. As suspensões, quer terra ou asfalto, são da Reiger, de três vias à frente, duas atrás. Os travões, são da Alcon, e ainda nas rodas usamos jante de 15 polegadas em terra e 16 polegadas no asfalto. Passando para o interior, o Ford Fiesta R2T está equipado com uma caixa Sadev, comando sequencial de 5 velocidades,e travão de mão hidráulico. Eletrónica especial para carros de corrida. Há quatro modos para andar com o carro, temos o modo de estrada depois o ‘stage’, que por sua vez tem três mapas de motor diferente. O Mapa 1 é o mais ‘soft’ e o três aquele em que o motor tem mais potência, e consegue ter uma performance melhor. O carro está ainda equipado com launch control, um sistema que nos ajuda nos arranques. Em termos de carroçaria, roll bar, reforços, é tudo feito na M-Sport, é um carro equipado com tudo o que há de melhor nos ralis para este tipo de carros.
Passando para a parte dos custos inerentes a correr com um carro desta categoria, é, como se calcula, muito mais barato que um R5. Consegue-se comprar à volta dos 65.000-70.000 euros, novo. Tem um custo estimado entre os 25,00-30,00 euros o quilómetro, quando o carro é nosso, como é o meu caso. Se for alugado é provável que os valores sejam mais elevados, 35.00-45.00 euros por quilómetro. Eu tenho feito essencialmente provas do ‘regional’ de ralis, e os ralis ficam em média, 3.500 euros por prova, embora dependa um pouco do número de pneus que se gastam, pois isso é uma coisa que influencia muito o orçamento numa prova. Se fizesse, por exemplo um rali como o Serras de Fafe, gastaria sensivelmente do dobro do que numa prova do ‘regional’.
Em termos de outros custos, tem a sua manutenção normal, como é óbvio, mas é um carro muito fiável, e esse é um dos pontos fortes do Fiesta. De qualquer forma, o carro tem muitas peças de série, e por isso há muita coisa que existe a um preço acessível. Não há aqui muitas peças especiais, exceção feita à caixa de velocidades, a eletrónica e às suspensões. Muito é de origem e faz com que o carro tenha uma manutenção barata”.
Manuel Casto fala do Skoda Fabia R5
“O Skoda Fabia R5 é um carro com provas dadas, é o carro mais vitorioso que existe nesta categoria, nos ralis. Este não é um Evo, é uma unidade de 2018. O Fabia F5 é integralmente fabricado e montado pela Skoda MotorSport, o motor tem 1.600 cc e turbo. No caso do Skoda o bloco é oriundo do Grupo Volkswagen, desenvolvido depois pela Oreca e pela Skoda MotorSport. Tem cerca de 285 cv, todos os componentes são originários doutras viaturas da gama do Grupo VW, no entanto são adaptados depois pelos engenheiros da Skoda Motorsport, sendo este um carro desenvolvido especificamente para competição.
Um dos grandes pontos fortes destes carros é o comportamento dinâmico, chassis e suspensões, uma das mais valias é o poder de tração e a velocidade com que curvam. O Skoda Fabia R5 trabalha com suspensões com três vias de afinação, da marca Sachs, os travões são Brembo, às quatro rodas, na mudança de piso de asfalto para terra muda o conjunto de suspensões, as pinças são as mesmas mas mudam os discos, no asfalto são maiores, as jantes são de 15 polegadas em terra, no asfalto usamos 18 polegadas. Os discos de travão na frente, no asfalto são de 355 mm, na terra usamos discos de 300 mm à frente e atrás, usando as mesmas pinças. As suspensões também são totalmente diferentes entre terra e asfalto, depois trabalhando com um conjunto de molas, barras, afinação das rampas diferenciais.
Falando da transmissão estes carros têm tração às quatro rodas, permanentes, no caso do Skoda uma caixa de cinco velocidade da X-Trac.
Tem ainda dois diferenciais, dianteiro e traseiro, e a caixa surge com algumas opções de relação, e essa foi uma das grandes evoluções deste carro no asfalto, quando a Skoda introduziu a caixa de relação curta, que permitiu ao Fabia ser bastante mais competitivo no asfalto.
Na terra usamos a relação longa, que já existia. O carro tem diferenciais mecânicos, transmissões específicas de competição depois o grande trabalho é o desenvolvimento de cada equipa, cada piloto, com os engenheiros no set up, na afinação das rampas, diferenciais, as cargas, assim como depois também a suspensão dinâmica, barras, molas e todo esse trabalho feito permite que este seja um carro muito competitivo, e que dá um prazer enorme de pilotar.
Depois, temos ainda um travão de mão hidráulico, vertical, aquilo que é uma peça os adeptos que gostam de nos ver andar de lado, tem um desconector do diferencial para nos ajudar a rodar o carro, permite-nos fazer as abordagens das curvas lentas como deve ser, rápido, eficaz e bonito para a fotografia. Tem um painel central no carro onde temos os comandos basicamente todos, no cockpit, o carro tem quatro mapas de ALS; de classificativa, para além do mapa de estrada, e depois temos um dashboard que nos dá toda a informação necessária do carro aos engenheiros, parâmetros para o co-piloto. Para o piloto temos apenas um pequeno display que nos indica a velocidade engrenada, e tem um shift-ligh, a luz que nos indica a rotação certa para a troca de caixa. Os R5 já têm comandos no volante. Esta tecnologia, permite-nos ter o limpa para brisas, controlo do faróis, piscas, e temos o que mais interessa ao piloto que é o launch control, para que o carro seja mais eficaz nos arranques para as especiais.
O custo de um Skoda Fabia R5 novo são 225.000 euros, depois o kit de terra, os extras que podem ser adquiridos à parte, o material sobressalente.
Evidentemente, os custos por quilómetro da viatura, que é assim que a gente estima o orçamento da temporada, calculando as provas em que participamos, as inscrições, o custo do trabalho da equipa. O custo real do quilómetro destes carros varia entre os 70 e os 90 euros, dependendo um bocado do tipo de gasolina que usamos, e da utilização do piloto. Por prova, num rali normal do campeonato nacional anda à volta entre os 10 e os 15 mil euros dependendo do número de pneus utilizados na prova. Nos ralis com maior quilometragem, o Europeu, por exemplo, o valor ascende aos 20.000 euros, e numa prova do WRC como o Rali de Portugal e quem o desgaste é muito maior, muito mais consumo de material, os valores podem ascender aos 30.000 euros. Obviamente que estes valores serão controlados pelos orçamentos de cada piloto e a utilização que cada piloto aplica ao carro. Um piloto agressivo obviamente que irá despender de mais material.
Ricardo Cunha: O denominador comum
Para Ricardo Cunha, não houve ‘swing’. É navegador do Manuel Castro e do Mário Castro e por isso um elemento perfeito para ajudar a explicar mais algumas diferenças nos carros, sendo que do seu ponto de vista, há algo que muda muito: A velocidade com que ‘transmite’ informação: “Em termos de notas não há grandes diferenças entre o Fabia e o Ford Fiesta, o que difere é o ritmo. O Skoda Fabia R5 é mais rápido que o Ford Fiesta R2T e depois cada piloto tem o seu método das notas, que por acaso são quase idênticas, usam números que vão de um a seis, um, as mais lentas, tipo ganchos e as seis, muito rápidas, tipo a fundo. Contudo, podemos acrescentar mais qualquer coisa, pois no Fiesta por, exemplo uma esquerda quatro pode ser a fundo, e no caso do Skoda, pode já não ser.
Claro que existem também diferenças na abordagem às curvas, em travagem e o facto do Fiesta ter só tração à frente ao contrário do Fabia que tem tração às quatro rodas, a abordagem é muito diferente.
Em relação ao conforto, curiosamente são ambos muito confortáveis. O Fiesta acaba por ser uma surpresa, porque apesar de ser um carro duma categoria diferente do Skoda Fabia R5, acaba por ter uma capacidade muito boa de absorção do peso. E como tal torna-se bastante confortável.
Manuel Castro guiou o Ford Fiesta R2T
“Parabéns ao Mário pelo belo carro que aqui tem, já não guiava um tração dianteira desde 2004, e era um Fiat Punto de Troféu. Portanto há aqui uma grande diferença entre estes carros, pois desde aí guiei sempre carros de quatro rodas motrizes, fiquei muito surpreendido e agradado. O carro tem uma tração muito interessante, o chassis é fabuloso. Obviamente há diferenças muito grandes quando o comparamos com um R5 ou mesmo um Grupo N, mas fiquei muito surpreendido pois nós estamos habituados a ver estes carros a passar do lado de fora e ficamos com a sensação que o carro é esquisito, parece que não vai em altas, mas é mesmo assim, o interessante disto é que se percebe que em baixa rotação há força, motricidade, tens que dosear muito bem o acelerador, e o Mário faz isso muito bem, para saber onde deves colocar a tração no chão sem esforçar a mecânica. Fiquei muito agradado pois o carro tem uma traseira muito sã, muito sóbria e tu tens muito rapidamente um feeling bom como deves colocar e travar o carro, sair das curvas, já em apoio, a traseira escorrega até um certo ponto depois a motricidade puxa-o para a frente, está um carro mesmo muito bem feito e compará-lo com os carros de duas rodas motrizes que experimentei, fiquei mesmo muito agradado com esta bela surpresa, está aqui um belo carro, e também gostei muito de andar ao lado do Mário, foi uma experiência super divertida. E tenho que lhe dar os parabéns, pois para quem é navegador e e nem 30 quilómetros tem neste carro (Skoda Fabia R5), fiquei super agradado pela condução e pelo à vontade que ele tem no carro”.
Mário Castro guiou o Skoda Fabia R5
“Transmitir o que senti dentro deste carro é difícil. Eu provavelmente devo ser das pessoas cá em Portugal que tenho mais quilómetros no Skoda Fabia R5, mas no banco do lado direito. Foi uma experiência incrível, como é óbvio. Nunca tinha conduzido um carro nem 4X4, muito menos um R5. O carro é fantástico, isso eu já sabia, pela experiência que tenho de andar ao lado, mas também não há a mínima dúvida e isto aqui é mais uma prova que uma coisa é estar do lado direito, outra é estar do lado esquerdo.
Do lado esquerdo, de volante na mão as sensações são completamente diferentes, e este carro transmitiu-me uma confiança mesmo muito boa, gostei dos travões, a caixa é fenomenal, comparativamente com a do Fiesta a do Fabia é muito mais suave, a colocação do carro em curva é muito boa, o carro é muito fácil de conduzir. Mas até um certo ponto, pois desde, para í dos 70% para cima as coisas são outras.
É um carro que dá muito gozo de conduzir, temos a sensação que dá sempre mais. Em termos de condução do carro é um bocado isso, o Fabia tem reações diferentes, o meu carro é super confortável no mau piso, mas o Fabia, como é natural, é melhor ainda, em termos de tração, anda muito mais para a frente, com o meu Fiesta tenho sempre mais dificuldade, uma vez que um duas rodas motrizes de tração à frente a dianteira está sempre a puxar para fora e nós temos que conduzir doutra forma, colocar no chão a motricidade é mais difícil, temos de usar mais, temos por vezes que usar o travão de mão para meter a frente onde nós queremos. No Skoda, não, travamos, balanceamos um pouco de forma a inserir a frente, depois é acelerar a fundo e fazer já a curva em aceleração pois a própria traseira roda e o carro sai logo para a frente”.