Jari-Matti Latvala: “O acidente do Duval mostrou o lado negro da nossa profissão”

O Rali do Japão marcou o meu regresso à equipa oficial da BP Ford Abu Dhabi e ao Focus WRC versão 2008. Eu e o meu navegador Miikka Anttila tivemos outro “regresso a casa” pois o tempo no Japão fazia lembrar a Finlândia natal, com chuva e frio invernais, muito diferente dos quentes ralis do Mediterrâneo onde tínhamos estado antes.

Depois da Córsega fomos testar no Sul de França e tivemos um percalço: capotámos. Os pilotos costumam culpar os que vão à frente por trazerem pedras para o meio da estrada. Bem, desta vez fomos nós que trouxemos a pedra que mais tarde provocaria o nosso capotanço! Como é habitual nestes testes, percorríamos uma estrada nos dois sentidos e minutos depois de termos voltado para trás, batemos na famosa pedra…

Este ano, o Rali do Japão foi disputado mais a oeste na ilha de Hokkaido. As características dos troços não eram muito diferentes; o mais estranho foi mesmo fazer uma especial em alcatrão… com pneus de terra. Podíamos dividir os troços em dois grupos: uma primeira parte muito sinuosa e técnica, disputada numa zona montanhosa com pisos que sabíamos de antemão que iriam degradar-se para as segundas passagens; depois um outro grupo que me recordava os troços de Dalby, no Yorkshire, em Inglaterra: estradas muito rápidas e estreitas, num local de floresta mais aberta. Aliás, as paisagens do Japão recordam a Finlândia ou a Nova Zelândia em vez daquelas imagens-tipo que temos do país. A atmosfera é mais parecida com a América, nem parece que estamos numa das civilizações mais antigas do mundo!

Sapporo tem o aspecto de qualquer cidade moderna. O Estádio Dome é do mais avançado que existe – aliás, essa foi uma experiência especial. Imaginem uma estrutura enorme em que a relva “desliza” para o lado e deixa a descoberto o piso de betão onde os carros fazem a super-especial. High-tech!

Antes da prova as equipas receberam umas novas bacquets da Sparco, maiores e mais resistentes, que são uma das medidas da FIA para reduzir os riscos num eventual impacto lateral. Ninguém imaginava que a resistência ia ser testada no acidente do François Duval. Felizmente que o Patrick Pivato está a recuperar, mas a gravidade do acidente mostrou-nos o lado negro da nossa profissão. O carro bateu num daqueles postes que esticam os horríveis cabos de aço que os japoneses usam em vez das normais barreiras de protecção.

À parte disso, o rali correu-nos quase na perfeição. O único problema foi um furo no segundo dia mas o meu navegador já foi engenheiro de pneus e anda sempre com umas pequenas garrafas de ar comprimido que usa em emergências.

E aquela chuva! Passávamos de um momento de “aquaplaning” para outro. Foi um bom teste para a última prova, o Rali de Gales. Eu e o Mikko só temos de garantir outra dobradinha e esperar que o Sebastien e o Dani não façam sete pontos para assim darmos o terceiro título de marcas consecutivo à Ford. Depois, é conter a respiração e saber o que o futuro nos reserva…