Gonçalo Henriques venceu FPAK Junior Team: “Tenho muita vontade de vencer nos ralis”

Por a 10 Dezembro 2022 11:19

Há muito que os ralis em Portugal precisavam de um troféu que ‘lançasse’ jovens. A FPAK chegou-se à frente, e agora é aproveitar o embalo. Gonçalo Henriques é o primeiro vencedor da FPAK Junior Team.

Não é novidade para ninguém que os ralis em Portugal, tal como a população do país, estão a envelhecer. Curiosamente, as causas não são muito diferentes. No dia a dia, a cada vez maior dificuldade dos jovens encontrarem o seu caminho no mundo do trabalho e da vida, é crise atrás de crise, um país que tarda em crescer como crescem muitos que entraram muito mais tarde na União Europeia. Nos ralis, os jovens têm as mesmas dificuldades. É um desporto caro, e a isso não há grande volta a dar, por isso é muito mais difícil que os jovens tracem um caminho e façam uma carreira.

Daí a importância de surgirem competições como este FPAK Júnior Team. Basicamente a federação está agora a investir no seu próprio futuro, pois se não ajudarmos agora os nossos pilotos de futuro, nem eles, nem o desporto motorizado, ralis em particular ganham nada com isso. Bem antes pelo contrário..

Por isso é de salutar esta iniciativa da FPAK, o FPAK Junior Team, competição que deu oportunidade a seis jovens, de seis equipas (Befast; Domingos Sport; PT Racing; Racing4You, Sports&You, The Racing Factory), de lutar por um prémio que pode ser muito importante nas suas carreiras.

E o vencedor deste primeiro ano foi Gonçalo Henriques, que com António Santos a seu lado, triunfaram na competição, cujo triunfo esteve incerto até ao final da última prova, o Rali de Viana do Castelo.

Começaste mal o ano com um acidente, mas depois um segundo lugar no Alto Tâmega e três vitórias seguidas em Viseu, Marinha Grande e Viana do Castelo, conta como foram os altos e baixos da época?

“Começamos mal o troféu, fruto de um erro meu nos reconhecimentos que nos fez aprender da pior maneira possível, com um acidente. Apesar do acidente, foi um rali em que nunca tivemos velocidade para lutar pelo primeiro lugar. O Rafael (Cunha) estava muito forte e aquando do acidente, já tínhamos uma desvantagem de 20.5s.

O segundo rali também não nos correu da melhor maneira, o segundo troço era bastante perigoso e muito sujo e sabíamos que teria de haver mais cautela, depois de um primeiro troço que nos correu bem e nos faz ganhar alguma vantagem, 10.9s, fomos demasiado lentos sem qualquer problema no carro, perdendo 27s. No resto do rali vencemos cinco das sete classificativas, mas acabamos por perder o rali por apenas 2.3s. E estes foram os pontos baixos…

Os pontos altos foram os últimos três ralis em que fomos sempre muito rápidos e vencemos a grande maioria das classificativas disputadas, que davam 1 ponto por cada uma delas em que fossemos os mais rápidos.

Vencemos o rali de Vouzela, numa prova muito disputada, onde houveram classificativas com diferenças muito pequenas, por exemplo, Penoita 2, fomos mais rápidos apenas 0.2s que o nosso mais direto adversário, o Rafael Cunha. No fim vencemos sete das oito classificativas disputadas, ganhando o rali com 12.3s de vantagem.

Na Marinha Grande beneficiamos de uma saída de estrada do Rafael, numa altura em que estávamos a discutir o rali à décima de segundo, fazendo-o perder muito tempo e tirando-lhe a possibilidade de fazer bons tempos devido às mazelas do carro. Acabámos por fazer um rali um pouco mais descontraídos, sem nunca baixar o ritmo, porque o José Bastos também estava a fazer um rali muito bom em que nunca nos facilitou a vida. Vencemos e encurtamos a distância pontual para seis pontos.

O ponto mais alto da nossa época, foi a última prova do troféu em Viana do Castelo, onde só a vitória interessava. Entrámos muito fortes desde a primeira classificativa, vencemos as seis primeiras e construímos assim uma vantagem de 56.2s. A partir daí não podíamos arriscar nada, só precisámos de levar o carro até ao final da prova sem cometer erros e foi o que fizemos, vencendo o rali com 40.7s de vantagem e a primeira edição do troféu FPAK Júnior Team com uma diferença de quatro pontos para o segundo classificado.”

Qual foi para ti o momento-chave da época?

“O momento chave foi a primeira parte do rali de Viana do Castelo, numa prova que seria decisiva, entrámos muito fortes, ganhando todas as classificativas da manhã, adquirindo uma margem muito confortável para a segunda metade do rali.

Ao vencer a primeira classificativa da tarde, ficámos com a pontuação suficiente para vencer o troféu, isto é, se chegássemos ao fim na mesma posição da classificação. Nesse momento senti uma pressão muito grande para não errar. Mas consegui gerir muito bem mentalmente, e na estrada, de forma a chegar ao final sem problemas.

Depois foi uma felicidade enorme passar a última tomada de tempos, e o sentimento de missão cumprida. Foi a recompensa de uma época em que trabalhámos muito para atingir este objetivo. Foi um sentimento inexplicável.”

Qual foi o Rali que gostaste mais e menos, e porquê?

“O rali que gostei menos foi Castelo Branco, pelo acidente e apesar dos troços serem muito giros, ficam muito sujos o que acabou por tornar o rali muito difícil e perigoso. Também foi o primeiro rali com o carro, e apesar de não ser muito difícil de guiar, é bastante mais pequeno do que estava habituado, por isso acabava por não me transmitir a confiança necessária.

No Rali do Alto Tâmega os troços eram muito giros, mas o melhor, ou o que eu gostei mais, foi ‘Boticas’, era bastante técnico e exigia muito do carro, dos pneus e do piloto, senti uma adrenalina enorme ao correr lá.

Vouzela e Viseu, tem classificativas espetaculares, se por um lado são muito técnicas na zona de Vouzela, em Viseu eram muito mais rápidas, onde chegámos a atingir velocidades superiores a 180 km/h dentro dos pequenos mas ‘muito grandes’ KIA Picanto GT.

O Rali Vidreiro também é muito giro, com as especiais lindíssimas da mata do Pinhal de Leiria, bem como os novos troços na zona de Alvaiázere, um deles muito sujo e técnico, o outro muito mais rápido e muito agradável de fazer.

Viana do Castelo vai ficar sempre na minha memória por ter sido o rali decisivo, mas também pelas espetaculares classificativas que tive oportunidade de realizar. Todas elas, sem exceção, são espetaculares, espero no futuro voltar a Viana para disputar um rali tão bonito e divertido.”

Já tinhas alguma experiência anterior de ralis, sentes-te um piloto diferente no fim deste ano?

“Claro que sim, evoluí muito como piloto, principalmente a minha condução no asfalto, visto que são os ralis de terra onde me sinto mais à vontade, foi uma aprendizagem muito enriquecedora.

O KIA é um carro praticamente de série e, se por um lado isso o torna mais fácil de guiar, por outro tem algumas condicionantes que requerem habituação.

Nunca tinha conduzido um carro de corridas sem autoblocante o que dificultava a colocar a tração no chão, bem como o ABS que nos fez apanhar bastantes sustos durante toda a época, principalmente no piso irregular o carro simplesmente não travava quando o ABS ativava e isso era bastante assustador. Até então tinha corrido no meu Renault Clio Williams e também fiz uma prova num Peugeot 208 R2, dois carros atmosféricos com regimes completamente diferentes dos utilizados no KIA Picanto”.

Explica-nos coisas que tenhas mudado na tua pilotagem, nas notas, poupança de pneus, na forma como encaravas os troços, ou outras coisas. Detalhes que destacas desta tua época?

“Eu utilizo notas numéricas, acabei por acrescer mais um número às minhas notas, comecei a utilizar mais informação que me fazia muita falta, apontamentos como ‘abre’ e ‘fica’, importantíssimos para desenhar a melhor trajetória e ser o mais rápido possível.

Na realidade, depois do acidente, não podia poupar muito os pneus, nem gerir a vantagem que tinha nos ralis porque precisava de recuperar o máximo de pontos possível com vitórias em PECs.

Apenas no último rali pude gerir e encarar os últimos troços de forma diferente.

Mas são coisas que certamente vou limar no futuro, principalmente a poupança de pneus…”

Presumo que tiveste grande ajuda da Domingos Sport? Tiveste ajuda estratégica, quanto à forma de encarar as provas ou mesmo em cada ralis, mudanças de abordagem conforme os acontecimentos?

“Foi um trabalho de todos os intervenientes, esta vitória é de todos, lutámos muito por isto, discutimos sempre várias soluções em conjunto.

A Domingos Sport foi uma peça fundamental para o meu sucesso, ajudaram-me a evoluir muito como piloto e reuniram sempre as melhores condições para que eu lutasse pelas vitórias no troféu.

Apesar das poucas alterações que podemos fazer no carro, conseguimos chegar ao melhor compromisso para o meu estilo de condução devido à grande experiência desta grande equipa.”

O prémio é um Rally5 para 2023, já tens ideia do que vais fazer e em quantos ralis e com que carro?

“Ainda é muito recente, ainda não temos a certeza de como é que tudo vai acontecer, o que é certo é que vai acontecer… É um tema que ainda não me posso alongar muito porque ainda não sei que provas vamos disputar.

À partida o carro será um Renault Clio Rally5, um carro de última geração com algumas evoluções que o KIA não possuía, é um carro mais competitivo e ótimo para continuar a minha evolução.”

Já conheces um Renault Clio Rally5, já correste com um, em Mesão Frio, o que achaste do carro?

É um carro muito giro, um chassis muito bom, é certo que é um carro um pouco limitado, principalmente a nível de travagem, suspensão e potência, se compararmos com os Rally4, mas consegue ser bastante rápido e é um carro muito diferente do KIA, a caixa sequencial torna o carro muito mais interessante e estou expectante com aquilo que conseguiremos fazer ao volante de um carro desta categoria.”

Que objetivos tens para o futuro nos ralis?

“Agora é evoluir sempre, e tentar montar projetos todas as épocas, de forma a continuar a progredir na carreira. Tenho muita vontade de vencer nos ralis e se possível ser campeão nacional, mas tenho noção que o caminho será muito longo e com muitas portas por abrir.

Estou certo que a paixão por este desporto nunca me vai deixar baixar os braços. Vou continuar a sonhar.”

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