Famílias dos Ralis: Luís e André Mota
Os ralis correm no sangue da família Mota. Pai e filho partilham uma paixão que nasceu há quase 20 anos no ferro velho da família e que perdura até hoje no Open de Ralis. Luís Mota, o Pai, nos lugares da frente, e o filho, André, no Desafio Modelstand. Mas isso pouco importa, pois quem gosta, tanto faz, nem que seja à beira da estrada a vê-los passar. Ao AutoSport, Luís e André Mota falam dos carros que lhes passaram pelas mãos, dos muitos ralis e das peripécias que têm vivido. Por fim, colocámo-los a avaliarem-se um ao outro. Que melhores críticos poderiam ter?
AutoSport: A vossa família ‘vive’ os ralis. Contem-nos como tudo começou, e o que levou a que enveredassem por esta modalidade, nos dois casos?
Luís Mota: Desde pequeno que ia ver o rali de Portugal quando passava no Montejunto, e desde essa altura que gostaria de fazer rali, mas não tinha possibilidades. Mais tarde, quando já as coisas mudaram, e com a sorte de o meu pai ter uma sucata, montei com a ajuda de amigos um Renault 12 TS 1.4, onde me estreei em provas piratas, e a partir daí foi sempre a subir, até hoje, aos Regionais e ao Open de Ralis.
André Mota: Mais intensamente ou menos, segui os ralis com o meu pai. Ia com o meu avô ver provas piratas onde ele começou, e mais tarde quando se iniciou nos regionais muitas vezes acompanhava-o. Á medida que fui crescendo fui lendo muitos jornais e revistas que acompanhavam os ralis internacionais e o quando o bicho veio mesmo para ficar foi quando fui com o meu pai acompanhar o rali de Portugal em 2000 no Piódão.
AutoSport: Como tem sido o vosso percurso, desde carros que tiveram, às vitórias alcançadas, mas também os momentos marcantes, as dificuldades, etc?
L.M: O primeiro rali em que pilotei foi em 93, num Renault 12 TS, onde a publicidade era pintada a spray. Fiz 27º num total de mais de 60 participantes. Naquela altura os ralis piratas eram muito disputados. Em 94 construi um novo Renault 12 com a ajuda de amigos, com mecânica 2.0 e carburadores duplos. Dado que o motor pesava, instalei 2 amortecedores por roda na frente, e como o motor ocupava bastante espaço na frente, tivemos de cortar umas travessas e aplicar o radiador fora da carroceria. Para o proteger fizemos um novo para-choques e uma nova grelha.
Mais tarde, em 97 comprei o Opel Kadett Gsi que ainda hoje tenho. Ainda fiz alguns ralis piratas com ele em 98 e em 1999 tirei licença e comecei a disputar o primeiro regional. Na altura o Troféu Regional de Ralis Oeste.
O primeiro rali que ganhei foi o Rali Praia das Rocas em 2003. Andava com o Ricardo Domingos ao lado, e nessa altura tínhamos outro Opel Kadett GSI, que destruímos num Rali no Algarve uma semana antes, e a nossa equipa passou a semana inteira a mudar o material do Kadett acidentado para o mais antigo, que nessa altura estava em descanso dos ralis. Fomos então fazer o Rali Praia das Rocas e ganhámos, no que foi um belo prémio do esforço feito para ter o carro pronto.
Depois de mudarmos de montada de encontrarmos a fiabilidade nos Mitsubishi, ganhámos os primeiros campeonatos em 2006, e logo o Sul, Centro Terra e Regional de Asfalto e fomos ainda vice campeões no Regional Norte. Foram os campeonatos que me marcaram mais, por serem os primeiros. Como maiores dificuldades, é inevitável falar dos poucos apoios que nos dão, a gestão dos meios e os sacrifícios que fazemos para fazer ralis.
A.M: O primeiro rali que fiz foi em 2004 como navegador no Rali de Vila Velha de Ródão. Posteriormente fiz, como navegador, o Rali de Mortágua em terra, e o Rali de Góis no que foi a estreia do Evo 2 FM, que se saldaram em 2 desistências por avaria. Em 2005 fiz novamente o rali de Vila Velha de Ródão como navegador, onde alcancei a primeira vitória como navegador e estreei-me ao volante no mesmo ano no Rali de Cheganças do Troféu de Ralis de Alenquer com o Ricardo Domingos ao meu lado. Foi uma prova difícil para mim, com alguns contratempos mas que me marcou muito e me deu uma grande experiencia de condução. Em 2006 fiz a estreia no asfalto no Campeonato Regional de Ralis Asfalto, onde obtive o 4º lugar final, mesmo tendo 2 desistências e tendo entrado a meio do campeonato. Em 2007, na estreia do Open, tive uma saída de estrada e destrui por completo o carro (Peugeot 309 Gti). Posteriormente ainda em 2007 fiz o Rali Rota do Folar com o Kadett GSi do meu pai e depois parei. A cabeça não acompanhava o coração e queria andar mais rápido do que o que sabia. Então parei e esperei que as ideias amadurecessem…
Em 2009 regressei como navegador do meu pai no Open e regionais, e cheguei mesmo ao título de navegador no Regional Centro 2009. Este ano, fiz com o meu amigo David o Open completo, com o Peugeot 206 GTI inseridos no desafio Modelstand. Evoluímos os dois muito ao longo do ano, e se eu estou mais solto e mais confiante na condução agora, foi graças á grande evolução do David como navegador. Para ele era tudo novo este ano, mas tem respondido muito bem ao desafio.
AutoSport: Quais são para vocês as personalidades (nacionais e internacionais) mais marcantes nos ralis, de sempre?
L.M: A nível internacional destaco o Loeb pelos sucessivos sucessos, o Solberg pelo espírito de luta e antiga ligação á Subaru e o inevitável Colin McRae. A nível nacional destaco o Rui Madeira, por ter sido o primeiro português a ter sucesso fora de portas e a ganhar um titulo mundial nos ralis. Orgulhamo-nos de possuir o carro que o piloto usou nesse ano, o famoso Evo 2 95-16-FM. Mais recentemente, destaco o Armindo Araújo pelo bicampeonato mundial, que é um grande feito!
A.M: A nível internacional, destaco o Carlos Sainz e o Colin McRae como ídolos que sempre admirei. Apesar de terem estilos de condução diferentes, andaram sempre taco a taco e ambos impressionavam sempre a ver passar. A nível nacional admiro muito o Rui Madeira, que já tive o prazer de conhecer e que é um grande senhor e o Ricardo Teodósio pelo espetáculo que dá e enorme vontade de correr. Vai a todo o lado, corre nem que seja com um skate e dá sempre o máximo, e isso é digno de registo.
AutoSport: Comparando os vossos atuais dois carros, qual é a diferença de budget num caso e noutro. Quanto custa (mais ou menos) a participação ao longo do ano, as manutenções, etc?
L.M: A manutenção do Mitsubishi custa cerca de 30 mil euros por ano, contra cerca de 10 mil euros para o Peugeot. Depois há que somar a inscrição nas provas, deslocações, alimentação, estadias, etc, por isso o melhor é mesmo nem fazer contas!
A.M. – No meu caso, o Desafio Modelstand ajuda a controlar um pouco as despesas. A organização dá prémios monetários, o que é um grande incentivo. De certeza que se não fosse o troféu corria na mesma, mas era quase certo que gastava mais. O mais caro é adquirir o carro, depois a manutenção é relativamente baixa.
AutoSport: E relativamente ao futuro. O que pensam fazer daqui para a frente na modalidade?
L.M: Como sei que sou um piloto rápido, com provas dadas e campeonatos ganhos, quando parto para os ralis vou apenas com o intuito de me divertir ao máximo. No futuro gostaria de participar em algumas provas que ainda não disputei, como o Rali de Portugal, e quem sabe uma ou outra prova internacional.
A.M: Mais Ralis! Adorava fazer o Rali dos Açores, já fui duas vezes acompanhar a prova e venho cheio de inveja de não correr lá também. Daqui por uns anos gostava de fazer alguns ralis de asfalto com um kit car e terra com um Mitsubishi. Sonhar não custa! Entretanto, temos sempre a Playstation.
AutoSport: Os ralis em Portugal estão em crise. Se fossem líderes da FPAK, que medidas tomariam para que os ralis ficassem melhores do que o que estão atualmente?
L.M: Eu já estive na comissão de ralis e tal como os meus colegas, dei algumas opiniões. Fico contente de ter sido criado o Open de Ralis com base em ideias oriundas da Comissão de Ralis.
Outra das coisas que mudava enquanto líder seria o esquema de avaliação das provas. Não acho justo como a avaliação se desenrola nestes moldes, uma vez que a quem mais dói, que são os concorrentes, não têm voto nenhum na avaliação da prova. Criava por isso um sistema de voto anónimo durante a prova, onde os pilotos avaliavam a prova e a organização e em conjunto com o relatório da FPAK, se decidia o rumo da prova. Mudava também o sistema de pontuação e acabava também com o sistema de deitar resultados fora.
A.M: É complicado apontar o dedo sem termos conta ao certo da situação, ou do que tem sido feito. No entanto, eis algumas coisas que sugeriria: Dar continuidade á Comissão de Ralis e dar lhes mais poder executivo. Mudava o regulamento no que concerne aos resultados a deitar fora, e passava a contar o total dos resultados. Acho que o “incentivar a andar depressa” afasta depois quem é regular e vai a todas. A desculpa de não contar todos os resultados para diminuir custos não serve, até porque depois os pilotos vão fazer provas extra campeonato e lá se vai a poupança. Mudava inclusive o esquema de pontuação da geral e das diferentes classes. Os pontos da classe deviam só contar para a classe e não para a geral, não faz sentido que um segundo lugar na geral faça mais pontos que o primeiro, como tem acontecido tantas vezes. Os pontos nas classes deviam distinguir melhor quem anda na frente (neste momento ser 3º ou 20º recebe o mesmo).
No que toca ao Campeonato júnior, limitava o campeonato a carros 2 rodas motrizes. Fazia duas divisões de classe : Até 1500 e de 1500 a 2000. Eu sei que o campeonato Júnior no início era para carros de duas rodas motrizes e até 1.6 e face ao reduzido número de participantes abriram os regulamentos para mais carros pontuarem. No entanto, acho que um campeonato que está a crescer e a fazer de montra a novos valores devia ter um regulamento de forma a dar mais hipóteses de andamentos equiparados. Mesmo assim, este foi o ano mais disputado, desde que o CPJR existe e estou contente de ter dado a minha contribuição para isso.
AutoSport: Temos tido alguns pilotos a conseguir resultados a nível internacional, para além dos que lá estão hoje em dia, que pilotos pensam que possam vir a despontar na modalidade nos próximos anos?
L.M: A mim parece-me que o Ivo Nogueira é um piloto a seguir no futuro. Também acho que o Bernardo Sousa, com mais experiencia internacional, é capaz de chegar longe.
A.M: É complicado correr a nível internacional, e ainda mais difícil é manter-se a esse nível. Penso que o Armindo Araújo está a fazer uma grande carreira, e espero que continue a subir ainda mais e chegue ao WRC. Se ele singrar lá, é mais fácil para outros lá chegarem. Ás vezes basta um para fazer a diferença. Penso que o Bernardo Sousa tenha talento e apoios para fazer uma grande carreira internacional também, apesar de ser menos consistente que o Armindo.
No caso do Bruno Magalhães, está na altura certa para a internacionalização, tem talento que chegue e agora só falta mais experiencia a nível internacional para se bater sempre com os melhores. No que toca a novos valores a despontar, no nacional destaco o Ivo Nogueira, que tem andado muito bem e o João Silva da Madeira que me parece ser um piloto bastante rápido.
No Open também existem juniores bastante rápidos, e este ano tive o prazer de os conhecer quase todos. Com o tempo e uma evolução constante serão uma mais valia para o espetáculo e interesse da disciplina. Se chegaremos longe não sei, mas espero, por todos, que sim.
AutoSport: Qual é a análise que fazem um do outro? Destaquem na vossa opinião quais são os vossos defeitos e virtudes.
L.M: O maior defeito do André era a ambição de ganhar e não saber gerir um rali, e consequentemente bater. Mas felizmente já mudou bastante e passou a ser mais consistente. É rápido no asfalto e está a aprender a andar bem na terra.
A.M: O maior defeito do meu pai é a confiança no asfalto. Fruto de só ter feito ralis de terra no início de carreira e nem sequer gostar de andar de Kart. Vejo que na maioria das vezes que trava cedo demais e noutras não faz trajetórias limpas. Por outro lado, é bastante forte na terra, resiste muito bem á pressão, e é muito consistente. Seja de Opel Kadett ou Mitsubishi Lancer, dá gosto andar ao lado dele.
AutoSport: querem contar uma história engraçada que tenham tido nos ralis?
LM: Já algumas vezes que fizemos um rali no Norte ao sábado e um no Algarve ao domingo. O que pouca gente sabe é de outras histórias ainda com mais quilómetros. Por exemplo, em 2006 estávamos a disputar o rali Vila Velha de Ródão. Eu e o Ricardo Domingos com o Kadett e o André com o Visa GTi. Ambos desistimos no primeiro troço. De Vila Velha de Ródão eu e o Ricardo seguimos para Fafe, para treinar o Rali Futebol Clube do Porto, e ainda de noite partimos para o Algarve para disputar o Rali de Martinlongo com o Evo IV no domingo, o qual ganhámos e se não estou em erro foi a nossa primeira vitória no Algarve. Tudo somado deu muitos quilómetros e uma multa por excesso de velocidade!
A.M: Em 2005 tínhamos disputado o rali de Mortágua com o Kadett, no sábado, e desistimos no primeiro troço com uma transmissão partida. Viemos para baixo, carregamos os carros e siga para o Algarve, para corrermos no domingo. O meu pai ia alinhar com o Mitsubishi Evo III e desiste no primeiro troço com uma roda arrancada depois de aterrar mal num salto e dar um toque numa pedra. Eu estava na fila para arrancar, mas entretanto o rali para porque um concorrente bateu. O Paulo Vicente, meu navegador na altura, sai do carro para ir ver o que se passava, e quando chega ao pé do carro diz-me para encostar para o lado que a água do radiador estava toda no chão. Ainda nem tinha arrancado e já tinha ficado! Nisto, no meio do troço o meu pai estranha o rali ter parado. Entretanto, passa um carro da organização e ele pergunta o que se passou. Respondem-lhe que o carro amarelo tinha batido com alguma força e era preciso os bombeiros lá irem. Ele ficou a pensar que era eu, e já metia as mãos na cabeça. Entretanto chegamos nós a pé! Foi um péssimo fim de semana, porque tentámos dois ralis com três carros e nenhum passou do primeiro troço!
AutoSport:: Pensem numa pergunta que queiram colocar um ao outro e respondam-na…
A.M: Qual é o rali que mais gostaste de fazer e o que menos gostaste?
L.M: O Rali que menos gostei de fazer foi o Rali Cereja do Fundão em 2009, apesar de ser bem organizado. Mas o tipo de troços com muitas retas longas não é do meu agrado.
O rali que mais gosto de fazer é o Rali de Góis, que infelizmente não é realizado desde 2007.
L.M: Que carro gostarias de conduzir?
A.M: Tenho um grande fascínio pelo Peugeot 306 Maxi. Por ser um carro ágil, rápido e muito potente, pelo barulho e por ser desafiante de guiar.
Gonçalo Bispo
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