Equipa de António e Miguel Nunes retira-se no final da época e deixa críticas à FPAK
“Após 7 temporadas a constar nas listas de inscritos, o Team Tomiauto Total/Cepsa retirar-se-à no final deste ano. Com início de carreira a bordo dos Citroën C2, passando pelos Peugeot 206 S1600 e atingindo o pico do automobilismo com o Peugeot 207 S2000 de Miguel Nunes, os irmãos Nunes terminarão a sua carreira a bordo dos Mitsubishi Lancer Evolution X. Procurando sempre competir com armas iguais e não enveredando por vitórias fáceis, António e Miguel Nunes há muito que já haviam deixado bem patente o seu desagrado sobre o rumo que o automobilismo segue e agora, após a vinda a público de mais notícias negativas para os ralis regionais, a equipa decide colocar o travão nas suas participações. Miguel Nunes, entristecido confirma o abandono, apontando “…um conjunto de factores que fazem-nos abandonar o Campeonato Regional de Ralis. Ao longo destes 7 anos algumas situações menos agradáveis e injustas foram causando algum desgaste na equipa. Com o aumento das dificuldades financeiras que se foram sentindo gradualmente nos últimos anos, tudo fizemos e tentamos sempre alertar para onde caminhavam os ralis na Madeira, no entanto nada foi feito, continuando o campeonato a ser completamente desajustado à realidade que vivemos na região…”, situação esta última que António corrobora na totalidade: “…temos uma regulamentação que entendemos ser desajustada à realidade que vivemos e uma federação que não defende minimamente os interesses da modalidade…”, afirmando ainda que o abandono acontece também devido “…a uma série de azares que me têm afectado particularmente ao longo da minha carreira, culminando agora no último Rali Vinho Madeira com a maior decepção que tive nesta modalidade. Tudo isto aliado à crescente dificuldade em angariar apoios e ao cansaço acumulado ao longo dos anos devido ao esforço e sacrifício que temos de fazer para conseguirmos por o nosso projecto de pé, fez-nos tomar a decisão de por termo à nossa carreira…”. Com um empobrecimento cada vez mais generalizado, nem mesmo “…as dificuldades aparentes da maioria das equipas fizeram com que os responsáveis da modalidade dessem o braço a torcer e criassem as condiçõess necessárias para ajudar as equipas as ultrapassar as dificuldades. Ano após ano assistimos a uma verdadeira degradação da modalidade. Continuamos a não ter legislação que defenda os praticantes da modalidade, sendo estes presas fáceis para as autoridades que cada vez mais “caçam” o dinheiro fácil através das multas…”, situação que ocorreu recentemente com a equipa, causada por uma denúncia, e que a fez passar por “…momentos muito difíceis, com uma clara perseguição por parte de algumas autoridades que nos obrigaram a ter um elevado custo com uma re-expedição inesperada das 2 viaturas da equipa até Espanha, com a agravante de ter ficado em causa a participação no Rali do Marítimo, o que nos traria ainda mais problemas pelo incumprimento de alguns contratos de patrocínio assumidos por nós…”, sublinha Miguel.
Se a nível legislativo o panorama é negativo, António afirma convincentemente de que “…o automobilismo tem vindo a degradar-se na região não é de agora, mas sim consequência de nunca se terem tomado medidas ajustadas à nossa realidade de há uns anos a esta parte, obrigando as equipas a acompanhar uma evolução que não era adequada a uma região como a nossa, de forma a que agora surgem as dificuldades e aparecem os reflexos de tudo o que foi mal feito anteriormente…”, também a nível desportivo as condições criadas para a verdade desportiva estão-se a esfumar pois, segundo Miguel, “…rali após rali sentimos um maior facilitismo no cumprimento dos regulamentos, cada vez se sente uma maior permissividade por parte das entidades competentes, situação que irá concerteza criar um clima desagradável entre as diversas equipas participantes e, por consequência natural, ficará cada vez mais abalada a verdade desportiva!..”, o sentimento de que “…em tempos difíceis o melhor é fechar os olhos a tudo para ninguém se chatear…” tem tido, na opinião do piloto, “…o efeito completamente oposto…”. A situação torna-se ainda mais saturante quando se assiste “…à dualidade de critérios que sentimos perante algumas situações vividas, nomeadamente o rigor e severidade da aplicação de uma penalização de 1m30s à nossa equipa no RVM de 2011, quando noutras situações mais graves assistimos sempre a uma resolução fácil em benefício das equipas infratoras…”. Se a todas estas situações “…e a algo mais que fica por dizer, somarmos a crescente dificuldade em angariar os apoios necesssários para voltar a colocar o projeto na estrada, reflectimos muito e chegamos à conclusão que não há condições nem devemos continuar a nos esforçarmos para contribuir para este desporto, não podemos remar a vida toda contra a maré!”, confessa Miguel Nunes. A causa para tamanha degradação do automobilismo está, segundo o mais novo dos irmãos Nunes, “…no conflito de interesses que surgem à volta da modalidade, cada um puxa para seu lado e ninguém se entende. Desta forma acaba-se sempre por prejudicar uma maioria, maioria essa que faz falta à modalidade quando se vão embora…”. Por entre muitas vitórias, títulos e espectáculo, aconteceram também muitas polémicas e no Rali do Porto Santo “…ocorreu por uma simples razão: nós conseguimos sempre lutar pelas vitórias, se andasse mais lá para trás de certeza que não incomodaria ninguém e nenhuma polémica surgiria. Na altura do 207 S2000 foi normal que essa polémica tomasse uma outra proporção, afinal de contas estava o Campeonato Absoluto em jogo, que felizmente acabou por vir juntar-se ao nosso palmarés…”.
Para trás ficam “…muitas boas recordações fruto da elevada competititvidade que sempre procurei, venci todas as competições por onde passei, troféu Citroën C2, Classe S1600, Campeonato Absoluto, Agrupamento de Producao, 3 Vice Campeonatos… Para alcancar todas estas vitorias em apenas 7 anos de competição foram muitas as situacoes de grande adrenalina vividas dentro do carro que serão sempre as melhores recordacões. Levo como melhor recordaçao o RVM de 2011, foi uma recuperacão que ficará para sempre na minha memória. Tenho muitos motivos para sair de cabeça erguida e orgulhoso por tudo o que consegui alcançar…”, conclui Miguel Nunes. António coloca um ponto final “… a 5 anos e meio porque tive de fazer um ano de intervalo por falta de apoios e outro ano interrompido por um acidente. Durante todo este tempo aconteceu-me do melhor e do pior em ralis, guardo excelentes momentos passados dentro do carro que não são possíveis descrever, guardo poucas mas boas amizades que ganhei, levo também algumas amarguras e desilusões, mas no final só posso sentir-me um priveligiado por ter feito um desporto que era a minha verdadeira paixão e por ter provado a mim próprio que também era capaz de fazer o que via os meus ídolos de infância fazerem…”.
Não querendo estender-se muito mais, Miguel endereça um último agradecimento “…com muito carinho a todos os patrocinadores que estiveram connosco, a todos os que apoiaram e colaboraram com a equipa e um muito muito especial agradecimento à equipa que nos possibilitou alcançar todos estes resultados, eles foram uns verdadeiros heróis que trabalharam sempre nos bastidores, a todos os elementos que passaram na nossa equipa um muito obrigado, e sem qualquer desrespeito por ninguém gostava de salientar todo o empenho do Martinho Fernandes e do Gabriel Reynolds que estiveram connosco desde o primeiro momento, desde a montagem do primeiro parafuso dos Citroën C2 até hoje e concerteza até ao final do campeonato. Um agradecimento muito especial tambem a todos os co-pilotos que estiveram connosco, o Henrique Freitas, o Jorge Gonçalves, o José Camacho, o Roberto Castro e o Victor Calado…”, enquanto o irmão mais velho dos Nunes quer “… agradecer em primeiro lugar, e porque foi devido a eles que conseguimos concretizar o nosso sonho, à nossa equipa, além de serem competentes ao mais alto nível que sempre nos permitiu ter a máxima confiança nos carros, são pessoas do melhor que lutaram connosco, sofreram nas derrotas, festejaram nas vitórias e foram incansáveis em todos os momentos, todas as palavras que possa dizer não são suficientes para expressar o meu agradecimento e admiração por todas as pessoas que fizeram parte da nossa equipa. Quero tambem agradecer a todos os que directa ou indirectamente nos apoiaram e fico feliz por além de serem patrocinadores ganhamos principalmente amizades, a todos os que na estrada, em mensagens, ou de alguma outra forma manifestaram apoio a nossa equipa, o nosso muito obrigado!”.
Termina assim todo o trajecto de uma equipa que sempre quis lutar com armas iguais, que sempre quis defender a verdade desportiva e o desportivismo por entre os vários intervenientes. Treinamos, aplicamo-nos, lutamos, vencemos, perdemos, batemos, choramos e algumas vezes tivemos que nos resignar mas, no final desta temporada que poderá trazer mais um título a Miguel Nunes e a Victor Calado, sairemos com cabeça erguida e com a certeza de que enquanto estivemos presentes honramos os nossos compromissos com os nossos patrocinadores e com os adeptos que se deslocavam à estrada para nos ver passar. Obrigado a todos!”
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