Campeonato de Portugal de Ralis/Rali Alto Tâmega: Bem vindo de volta
O Rali Alto Tâmega regressa ao CPR 28 anos depois, numa prova que terá o condão de definir melhor o rumo da competição. Armindo Araújo e Bruno Magalhães chegam destacados a Trás-os-Montes, mas Ricardo Teodósio e José Pedro Fontes ainda têm margem para reagir. Prova fulcral para uns, indicativa para outros.
Quem se habituou a olhar para a história do Campeonato de Portugal de Ralis, recorda-se das 10 edições do Rali do Alto Tâmega, que atravessam um período de ouro dos ralis em Portugal, e a transição dos grupos B para os Grupos A. Uma prova diferenciadora, numa zona magnífica de história e cultura, como é Trás-os-Montes. Em boa hora o CAMI Motorsport voltou a colocar na estrada (já pela terceira época consecutiva), o Rali do Alto Tâmega, este ano no CPR, onde regressa passados 28 anos. Independentemente dos calendários de cada ano, é importante que o CPR tenha alternativas distintas, ímpares, que se diferenciem, até pelo facto de ‘esticar’ o CPR, das ilhas, Açores e Madeira, Algarve, Beiras, Minho a Trás os Montes.
Esta prova chegou a ser uma das mais mediáticas para além duma referência em piso de asfalto, e pelo que já conhecemos deste rali, os concorrentes podem esperar uma prova muito rápida desafiadora, em nada semelhante às restantes provas de asfalto do campeonato.
Convém no entanto relembrar que este regresso se dá ainda num período em que se combate a Covid-19, e por isso o mais importante é salvaguardar a saúde de cada um. Isto significa que é imperativo o cumprimento das regras da Direção Geral de Saúde implementadas pela FPAK, por parte de todos, para que, tal como sucedeu desde o recomeço em Castelo Branco, e depois na Madeira, se continue a vencer esta luta contra a pandemia, impedindo que ela se propague. Quanto à prova, estão previstas seis classificativas, dois dias de prova, sábado e domingo, dias 29 e 30 de agosto.
Para Nuno Loureiro, presidente do CAMI Motorsport, clube organizador: “É com um enorme sentimento de orgulho que o CAMI Motorsport vai colocar na estrada, e pela terceira época consecutiva, o Rali do Alto Tâmega, mas esta edição 2020 terá, por motivos óbvios, um significado muito especial. Nos últimos dois anos, com o precioso e inestimável apoio das autarquias da Região do Alto Tâmega e dos nossos patrocinadores, unimos esforços com o objetivo de recolocar o rali no patamar que lhe era devido. A história da prova assim o exigia e as condições ímpares desta região convidavam ao desafio de a trazer de volta ao mapa do campeonato mais mediático do automobilismo português”.
COMO FOI ATÉ AQUI…E COMO PODE FICAR
O Rali Alto Tâmega marca precisamente o meio do CPR e tendo em conta que o calendário tem este ano apenas sete provas, a partir daqui as definições vão começar a clarificar-se. Até aqui já houve altos e baixos para todos os candidatos, uns mais do que outros é certo, mas com 140 pontos ainda para distribuir tudo pode acontecer. Esta é a teoria dos números, a realidade é algo diferente, pois com dois pilotos já destacados na frente do campeonato, Armindo Araújo e Bruno Magalhães, a Ricardo Teodósio e José Pedro Fontes já só resta recuperar pontos consistentemente, e depressa. Como é habitual, o pior resultado fica para trás, mas nesse particular, Teodósio e Fontes já têm a sua conta menos positiva, pelo que neste dois casos não restam muitas dúvidas quanto à abordagem que vão fazer à prova do CAMI.
Líderes do campeonato, Armindo Araújo e Luís Ramalho, venceram as duas primeiras provas da competição, mas as coisas já não correram tão bem na Madeira, onde permitiram que Bruno e Carlos Magalhães recuperassem quase toda a margem que os homens do Team Armindo Araújo/The Racing Factory tinham conseguido até aí. Com uma adaptação perfeita ao seu novo Skoda Fabia R5 evo, Armindo Araújo e Luís Ramalho começaram bem em Fafe, cedo se percebendo que estavam acima da concorrência. Foram-no traduzindo troço a troço, e acabaram mesmo por vencer o rali à geral, depois de Nykolai Gryazin se despistar. Estava dado o mote para o campeonato.
Após uma hiato de vários meses, Armindo Araújo e Luís Ramalho estiveram novamente imperiais e repetiram o triunfo de 2019 em Castelo Branco. Atacaram nos momentos certos, geriram o andamento quando tinham que gerir, e mesmo depois de Bruno Magalhães esboçar uma reação, Araújo reagiu bem e venceu pela segunda vez este ano.
Na Madeira, as coisas correram mal. Duas vezes! Armindo Araújo e Luís Ramalho foram sétimos da geral e terceiros do CPR, num rali que lhes começou a correr mal duas semanas antes, no Rali da Calheta. Várias equipas continentais utilizaram essa prova para afinar bem os seus carros para a prova ‘grande’, mas um toque já perto do final despoletou uma reação em cadeia que culminou num mau diferencial traseiro montado no carro de testes (o de prova teve que regressar à The Racing Factory), que condicionou toda a prova à dupla no Rali Vinho Madeira. Tal como, por vezes, um fabrico duma qualquer peça em determinada altura vai ‘roubar’ um campeonato a uma qualquer piloto meses depois, neste caso, Armindo ‘afinou’ um diferencial no Rali da Calheta, mas ‘tocou-lhe’ um bem diferente quando realmente interessava. São por vezes estas histórias que marcam a diferença e esta teve o condão de criar condições para que Armindo Araújo, pela primeira vez este ano, fizesse um rali bem abaixo das suas possibilidades. Seja como for, lidera a competição, tem duas vitórias e o que o resultado da Madeira lhe tirou foi apenas alguma da ‘folga’ que acumulou.
Quem aproveitou muito bem foram Bruno e Carlos Magalhães (Hyundai i20 R5), que triunfaram facilmente entre os concorrentes do CPR na Madeira, o que aliado aos dois segundos lugares obtidos em Fafe e em Castelo Branco, lhes permitem distar apenas 1.63 pontos dos líderes.
Em Fafe, no arranque do campeonato, tiveram algumas dificuldades, mas conseguiram minimizar as perdas, e após uma grande luta pelo segundo lugar com Ricardo Teodósio e José Teixeira no último troço do rali, levaram a melhor. Em Castelo Branco, andaram na luta pela liderança no primeiro dia, no início do segundo dia, Armindo Araújo atacou e assegurou uma margem de 10.5s para a dupla da Hyundai, que reagiu, mas sem sucesso. Novo segundo lugar, num rali em que tiveram mais dificuldades nas partes ‘sujas’ da prova.
Na Madeira, a reação. Já se esperava que Bruno e Carlos Magalhães pudessem andar bem na pérola do Atlântico, o Hyundai I20 R5 esteve bem, e, tudo somado, fizeram um boa operação para o campeonato, vencendo com grande clareza entre os concorrentes do CPR. Depois de chegarem ao fim do primeiro dia de prova com 22.8s de avanço, limitaram-se depois a controlar o andamento, minimizando os riscos. Com dois segundos lugares e uma vitória, Bruno e Carlos Magalhães chegam ao ‘intervalo’ do jogo basicamente empatados, com “tudo por jogar” na segunda parte.
RECUPERAR OU…ATIRAR A TOALHA
Os dois primeiros classificados do campeonato chegaram aqui com uma margem que, talvez, poucos esperassem para as duplas Ricardo Teodósio/José Teixeira (Skoda Fabia R5 Evo) e José Pedro Fontes/Inês Ponte (Citroen C3 R5), mas a verdade é que, mais coisa menos coisa, a diferença dos dois primeiros para o terceiro (Teodósio) e quarto (Fontes) ronda os trinta pontos o que é muito significativo nesta altura.
Por isso é de capital importância para estas duas duplas inverterem a situação. Caso se chegue ao fim do Rali Alto Tâmega com margem semelhante ou maior, ficará definitivamente traçado o rumo do campeonato quando à luta pelo título. De qualquer forma, com a prova pela frente, tudo está em aberto, não sendo em nada descabido que tudo possa, pelo menos, começar a mudar.
Ricardo Teodósio e José Teixeira entraram mal em Fafe. Com o carro mal afinado para o estado dos troços, cedo foram perdendo terreno, que não mais conseguiriam recuperar. Em quatro troços já estavam a 21.8s de Araújo, pois com a chuva que caiu em Fafe, Teodósio não teve confiança para andar mais depressa. No dia seguinte, com o piso mais seco ainda conseguiu suplantar Bruno Magalhães, mas com a chuva a intensificar-se voltou a perder a posição para o piloto da Hyundai, terminando no lugar mais baixo do pódio. Em Castelo Branco, Teodósio começou a atrasar-se cedo, e só chegou a terceiro porque Fontes danificou a suspensão, e afundou-se na classificação. Terminaram no pódio, mas longe dos dois da frente.
Na Madeira, foram quartos no CPR, um resultado ainda pior do que os dois pódios que tinham conseguido até aí. Chegaram bem preparados, provavelmente, como nunca, nessa prova, mas a concorrência também, e sabendo-se que a Madeira nunca foi um rali para Teodósio, este ano isso repetiu-se, ficando cada vez mais longe do seu objetivo, que passa por renovar o título. O ano passado por esta altura, com três provas tinha duas vitórias e um terceiro lugar. Neste momento conta com dois terceiros e um quarto lugar. O Rali Alto Tâmega vai ser para si um forte indicador quanto à permanência na luta pelo título.
Por fim, e quanto quanto ao ‘poker’ de candidatos, estão ainda José Pedro Fontes/Inês Ponte (Citroen C3 R5), dupla que reagiu bem aos resultados menos bons das duas primeiras provas e tudo vai fazer no Alto Tâmega para dar sequência a esse embalo. Até porque sabem que precisam de vencer para manter intactas as esperanças de chegar ao título. Por fim, as estradas escolhidas pelo CAMI adequam-se bem a Fontes, um piloto que já correu nas pistas, bem mais recentemente que Teodósio. O piloto do C3 R5 é, reconhecidamente um especialista de asfalto e esta é a prova perfeita para o demonstrar.
No arranque do campeonato, em Fafe, Zé Pedro Fontes e Inês Ponte cedo perceberam que não conseguiriam acompanhar o ritmo da frente pois ao cabo de dois troços, já estavam a 40.5s, que se converteram em quase dois minutos no fim da manhã de sábado. Foram quartos.
Em Castelo Branco, tiveram azar, já que no primeiro dia estiveram envolvidos na luta pela liderança, chegando-se ao fim do dia com três duplas separadas por 4.2. No dia seguinte, logo no primeiro troço, num ‘corte’ de berma, a suspensão do C3 R5 cedeu e o resultado estava comprometido. Na Madeira, o melhor resultado do ano. Embora não tenha conseguido lutar pelo triunfo no CPR, chegando ao fim do primeiro dia já a 22.8s de Bruno Magalhães, impuseram-se na luta pelo segundo lugar e com isso ganharam um balão de oxigénio no campeonato, sendo, no entanto, totalmente imperativo que vençam esta prova. O resultado que a dupla fizer, definirá o ‘resto’ do ano. Ou se mantêm na luta pelo título, ou passam a ser ‘jokers’ nessa luta.
ESPREITAR BONS RESULTADOS
Não em termos de números, mas em teoria, Pedro Meireles e Mário Castro (Volkswagen Polo GTI R5) já não estão na luta pelo título, mas são, claramente uma dupla que pode ter uma interferência muito significativa nas contas da competição, pois têm carro e andamento para bons resultados, e com isso ‘roubar’ pontos a outros que também precisam deles.
Depois do abandono de Fafe, devido a um problema mecânico no VW Polo GTI R5, em Castelo Branco voltaram a não ter ritmo para os homens da frente, mas posicionaram-se foram claramente como os melhores dos ‘outros’. Na Madeira, foram quintos do CPR, e ainda pressionaram Teodósio na luta pelo quarto posto. Serão sempre ‘outsiders’ nas lutas da frente, mas nunca é de descurar, pelo menos, um pódio.
Outra das duplas a considerar seriamente na luta pelo lugares da frente são João Barros e Jorge Henriques, que, cada vez melhor adaptados ao Citroën C3 R5. Ainda agora venceram em Mesão Frio, num bom teste para este rali.
Para lá destas seis duplas, há ainda um conjunto de equipas com potencial para os lugares cimeiros, acima de todos, Miguel Correia e António Costa, que com o Skoda Fabia R5 evo, exceção feita ao contratempo mecânico na Madeira, têm andado entre o quinto e sexto lugares.
Manuel Castro e Ricardo Cunha (Skoda Fabia R5) conseguiram até aqui um sexto (Fafe) e sétimo (Castelo Branco), António Dias dois sétimos lugares, em Fafe e na Madeira, Gil Antunes e Diogo Correia vão continuar a aprender o Dacia Sandero R4, Paulo Neto e Vitor Hugo estão cada vez mais adaptados ao seu novo Skoda Fabia R5.
Nas duas rodas motrizes, três provas, três vencedores distintos. Daniel Nunes (Peugeot 208 R2) venceu em Fafe, foi segundo em Castelo Branco atrás de Pedro Antunes, que com o seu novo Peugeot 208 Rally4, venceu a única prova em que participou, Castelo Branco. Ricardo Sousa é segundo no campeonato depois de dois terceiros lugares, na frente de Pedro Almeida, que apesar de ter vencido na Madeira, teve antes alguns azares, com dois abandonos em Fafe e Castelo Branco. Os Clássicos regressam no Alto Tâmega, lidera Luís Mota na frente de Victor Calisto, José Cruz e Pedro Leone. Nos GT, só se realizou ainda Fafe, onde o triunfo foi para Victor Pascoal.
Arranca a Peugeot Rally Cup Ibérica
Arranca no Rali do Alto Tâmega a 3ª edição 2020 da Peugeot Rally Cup Ibérica, competição que este ano tem quatro provas, como sempre, divididas por Portugal e Espanha. O novo Peugeot 208 Rally 4 é a grande novidade e mais valia, pois o nível competitivo sobe bastante, já que este novo carro posiciona-se um bom bocado à frente do anterior 208 R2, não só em termos de prestações mas também nos custos associados, que são agora bastante mais atrativos, em termos de preparação e de manutenção, pressionando menos o budget necessário à participação na copa. Inscritas estão 16 formações (sete dos quais, juniores, até 26 anos), esperando-se que o número aumente nas próximas provas. É certa a presença de duas grandes duplas portuguesas: Pedro Almeida/Hugo Magalhães e Pedro Antunes/Pedro Alves, bem como o espanhol Roberto Blach, vencedor da 1ª edição, que muito provavelmente, vão estar entre os mais fortes candidatos ao apelativo prémio final para o vencedor da competição, que passa por um programa oficial para 2021, no Campeonato de Portugal de Ralis ou no Supercampeonato de Espanha de Ralis, aos comandos de um R5 do Grupo PSA Motorsport. Depois do Rali do Alto Tâmega, a competição prossegue em Espanha, em setembro, com o Rally Princesa de Asturias/Ciudad de Oviedo. Regressa a Portugal em outubro para o Rallye Vidreiro Centro de Portugal e termina em Espanha, no fim de outubro, com o RACC Catalunya/Rally de España.
Horário e estrutura
A edição 2020 do Rali do Alto Tâmega, que terá o seu centro nevrálgico no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, onde vai funcionar o Secretariado e também o Parque de Partida (e Parque Fechado) de cada uma das etapas. O Parque de Assistência está localizado no Aeródromo de Chaves. Na manhã de sábado, a partir das 08h45, os pilotos do CPR terão oportunidade de fazer os últimos acertos na afinação dos seus carros em duas passagens do shakedown no troço de S. Pedro de Agostém-Chaves (3,9 km), estando o Qualifying, no mesmo traçado, agendado para ter início às 10h38. Para além do Campeonato de Portugal de Ralis (CPR), o rali é pontuável ainda no Campeonato de Portugal GT de Ralis, Campeonato de Portugal de Clássicos de Ralis, Campeonato Norte de Ralis, e Challenge R2&You, merecendo destaque especial o Peugeot Rally Cup Ibérica (ler em separado).
SÁBADO (29 agosto)
Partida (Parque Nadir Afonso) 15h30
PEC 1 – Alto Tâmega (15,06 Km) 16h10
PEC 2 – Chaves (18,72 km) 16h53
Final: Parque Nadir Afonso 18h35
DOMINGO (30 agosto)
Partida (Parque Nadir Afonso) 09h00
PEC 3 – Chaves/Boticas 1 (19,40 km) 09h48
PEC 4 – Boticas 1 (14,23km) 11h09
PEC 5 – Chaves/Boticas 2 13h15
PEC 6 – Boticas 2 – POWER STAGE 14h36
Final (Parque Nadir Afonso) 15h39