O Rali Amarante Baião, para além da ter realizado a sua estreia no Campeonato de Portugal de Ralis foi também um marco na principal competição portuguesa de estrada, já que foi a 500ª prova pontuável para o campeonato da especialidade, cuja jornada inaugural remonta ao Rali das Camélias, organizado pelo Clube Arte e Sport, em 1966.
Os primórdios
O ano de 1902 marcou o arranque do automobilismo português, com a realização da primeira corrida em circuito fechado, no Hipódromo de Belém. Contudo, e à semelhança do que aconteceu na maioria dos países, foi nas provas de estrada que a modalidade atingiu os seus maiores índices de popularidade e competitividade – como ainda hoje sucede – em especial a partir dos anos 30, quando se começou a consolidar como alternativa às corridas disputadas em circuito, que implicavam grandes gastos e complicadas diligências administrativas.
Num ápice, descobriram-se as virtudes de uma competição que utilizava automóveis sem grandes exigências e em estradas absolutamente normais, sob a fórmula de ralis turísticos.
Por essa altura, a velocidade não era um elemento fundamental, na medida em que os participantes deveriam apenas superar o percurso estabelecido a uma determinada média horária, por norma, entre os 40 e os 50 km/h. Mas como estas médias eram relativamente fáceis de cumprir, mesmo para a época, os organizadores sentiram a necessidade de acrescentar uma ou duas provas complementares de perícia (aceleração, marcha-atrás ou slalom) para determinar a classificação daqueles que terminassem a prova de estrada sem penalizações.
No fundo, era este o figurino europeu da época.
Durante 25 anos, os ralis portugueses continuaram fiéis a este modelo, à semelhança do acontecia em Inglaterra, enquanto no resto da Europa as provas de estrada já começavam a oferecer verdadeira competição.
Nesse período, os automóveis utilizados eram estritamente de série, vivendo o desporto um período verdadeiramente popular. Com qualquer automóvel de utilização quotidiana, era possível efetuar a prova automobilística de estrada mais importante, como a Volta a Portugal ou o Rali Internacional do ACP.
Mudança de figurino
No início da década de 50, os ralis assistiram a uma profunda revolução, graças à visão de Carlos Fonseca (Estrela e Vigorosa Sport) e Heitor de Morais (100 à Hora). O primeiro mostrou o caminho a seguir no seu Rali de Montanha de 1952, enquanto o segundo transformou em definitivo o panorama dos ralis nacionais a partir da sua Volta a Portugal de 1963.
Assim, de meros passeios de regularidade, com uma ou duas provas complementares, os ralis passaram a ser decididos na estrada, onde já não era possível fazer “tudo a zero”, com a colocação de Controlos Horários consecutivos, a maioria deles com mais quilómetros do que os indicados nas cartas de itinerários, o que tornava as médias pouco menos que impossíveis de cumprir, levando todas as equipas a penalizar.
Usando este artifício legal, estava aberto o caminho para os ralis modernos e para o nascimento das chamadas Provas Especiais de Classificação (vulgo, PEC), solução encontrada pelos organizadores escandinavos, desde o início da década, para fazer face às muitas restrições impostas pelas autoridades locais, quando o aumento do tráfego se tornou evidente.
Por esse motivo, os organizadores apresentaram a possibilidade de realizar ralis em estradas fechadas ao tráfego, somando no final os melhores tempos em cada troço cronometrado.
Mesmo assim, não foi uma transição pacífica e fácil, pois era necessário mudar as mentalidades dos organizadores e dos próprios pilotos, até aí habituados a ganhar nos piões e travagens das provas complementares.
O primeiro campeonato
Aprovada esta alteração, que depressa se alargou a outras latitudes, os ralis ganharam ainda mais competitividade e popularidade, nomeadamente em Portugal.
Sem ser indiferente a este novo contexto, a Comissão Desportiva Nacional, antecessora da actual Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting, decidiu dividir o Campeonato Nacional de Condutor Completo, existente desde 1955, em Campeonatos Nacionais de Ralis, Velocidade e Regularidade a partir de 1966.
Nesse ano de estreia, o Campeonato Nacional de Ralis foi dividido em oito provas, cabendo ao Rali das Camélias o pontapé de saída, numa organização do Clube Arte e Sport e que tinha por centro nevrálgico a vila de Sintra, consagrando o Austin Cooper S de Manuel Lopes Gião.
Ao longo destes 40 anos de competição (em 1974 não houve campeonato, devido à crise do petróleo), vinte clubes, alguns dos quais já desaparecidos do desporto automóvel, como é o caso do Sport Lisboa e Benfica e do Sporting Clube de Portugal, levaram a efeito as 500 provas que contaram, até hoje, para o Nacional da especialidade.
Curiosamente, coube a uma coletividade estreante no Campeonato de Portugal de Ralis, o Clube Automóvel de Amarante, assinalar a 500ª prova do Nacional. No próximo fim-de-semana, inicia-se o caminho para as 1000 provas, com o Rali Casinos do Algarve, palco da decisão de vários títulos, nacionais e internacionais. A este ritmo, lá para 2074, festejar-se-á a milésima prova…
Palmarés
1956 | Fernando Stock |
1957 | Horácio Macedo |
1958 | José Luís Abreu Valente |
1959 | José Luís Abreu Valente |
1960 | José Manuel Pereira |
1961 | Horácio Macedo |
1962 | José Baptista Dos Santos |
1963 | Horácio Macedo |
1964 | Fernando Basílio Dos Santos |
1965 | César Torres |
1966 | Manuel Gião |
1967 | Américo Nunes |
1968 | Américo Nunes |
1969 | Não houve Campeão Absoluto |
1973 | Não houve Campeão Absoluto |
1974 | Não se realizou |
1975 | Manuel Inácio |
1976 | António Diegues |
1977 | Giovani Salvi |
1978 | Carlos Torres |
1979 | José Pedro Borges |
1980 | Santinho Mendes |
1981 | Santinho Mendes |
1982 | Joaquim Santos |
1983 | Joaquim Santos |
1984 | Joaquim Santos |
1985 | Joaquim Moutinho |
1986 | Joaquim Moutinho |
1987 | Inverno Amaral |
1988 | Carlos Bica |
1989 | Carlos Bica |
1990 | Carlos Bica |
1991 | Carlos Bica |
1992 | Joaquim Santos |
1993 | Jorge Bica |
1994 | Fernando Peres |
1995 | Fernando Peres |
1996 | Fernando Peres |
1997 | Adruzilo Lopes |
1998 | Adruzilo Lopes |
1999 | Pedro Matos Chaves |
2000 | Pedro Matos Chaves |
2001 | Adruzilo Lopes |
2002 | Miguel Campos |
2003 | Armindo Araújo |
2004 | Armindo Araújo |
2005 | Armindo Araújo |
2006 | Armindo Araújo |
2007 | Bruno Magalhães |
2008 | Bruno Magalhães |
2009 | Bruno Magalhães |
2010 | Bernardo Sousa |
2011 | Ricardo Moura |
2012 | Ricardo Moura |
2013 | Ricardo Moura |
2014 | Pedro Meireles |
2015 | José Pedro Fontes |
2016 | José Pedro Fontes |
2017 | Carlos Vieira |
Armindo Araújo | 2003 | 2004 | 2005 | 2006 | 4 |
Carlos Bica | 1988 | 1989 | 1990 | 1991 | 4 |
Joaquim Santos | 1982 | 1983 | 1984 | 1992 | 4 |
Adruzilo Lopes | 1997 | 1998 | 2001 | 3 | |
Bruno Magalhães | 2007 | 2008 | 2009 | 3 | |
Fernando Peres | 1994 | 1995 | 1996 | 3 | |
Horácio Macedo | 1957 | 1961 | 1963 | 3 | |
Ricardo Moura | 2011 | 2012 | 2013 | 3 | |
Américo Nunes | 1967 | 1968 | 2 | ||
Joaquim Moutinho | 1985 | 1986 | 2 | ||
José Luís Abreu Valente | 1958 | 1959 | 2 | ||
José Pedro Fontes | 2015 | 2016 | 2 | ||
Pedro Matos Chaves | 1999 | 2000 | 2 | ||
Santinho Mendes | 1980 | 1981 | 2 | ||
António Diegues | 1976 | 1 | |||
Bernardo Sousa | 2010 | 1 | |||
Carlos Torres | 1978 | 1 | |||
Carlos Vieira | 2017 | 1 | |||
César Torres | 1965 | 1 | |||
Fernando Basílio Dos Santos | 1964 | 1 | |||
Fernando Stock | 1956 | 1 | |||
Giovani Salvi | 1977 | 1 | |||
Inverno Amaral | 1987 | 1 | |||
Jorge Bica | 1993 | 1 | |||
José Baptista Dos Santos | 1962 | 1 | |||
José Manuel Pereira | 1960 | 1 | |||
José Pedro Borges | 1979 | 1 | |||
Manuel Gião | 1966 | 1 | |||
Manuel Inácio | 1975 | 1 | |||
Miguel Campos | 2002 | 1 | |||
Pedro Meireles | 2014 | 1 | |||
Não houve Campeão Absoluto | 1969 | 1973 | 1 | ||
Não se realizou | 1974 | 1 |