10 Factos do Mundial de Ralis em 2008

Por a 28 Dezembro 2008 17:00

Desde a consagração total de Sébastien Loeb até ao súbito e inesperado desaparecimento da Subaru e Suzuki no final do ano, sem esquecer o triunfo da Citroen sobre a Ford no Mundial de Marcas e só para referir os mais importantes, foram múltiplos os assuntos que encheram os ecrans de televisão ou preencheram as páginas dos jornais. O que não restam dúvidas é que este pode ter sido o último Mundial de Ralis verdadeiramente animado nos próximos anos.

1 – Loeb, o melhor de sempre

Sébastien Loeb entrou para a história do Campeonato do Mundo de Ralis, ao tornar-se o primeiro piloto a vencer por cinco vezes o título reservado a Pilotos e logo de forma consecutiva, desempatando com Juha Kankkunen e Tommi Makinen. Depois de uma temporada onde bateu ainda o recorde de vitórias consecutivas numa só época que já era seu – de 10 passou agora a ser 11 -, o francês da Citroen aumentou também a sua vantagem no “ranking” de vitórias absolutas, registando agora 47 triunfos, mais 17 que o segundo classificado, Marcus Gronholm. Em 2008, Loeb subiu ainda ao pódio 13 vezes e apenas desistiu no Rali da Suécia. A fórmula mágica para tudo isto, encontrou-a o piloto no seu talento natural, no entrosamento com o navegador Daniel Elena e na competitividade e fiabilidade do Citroen C4 WRC. E como se os resultados não fossem suficientes, Loeb ainda impressionou ao volante de um Toro Rosso de F1 e do Peugeot 908!

2 – Debandada das marcas japonesas

Quando nada o fazia prever e já depois da temporada concluída, o Mundial de Ralis perdeu, numa espaço de uma semana, duas – Suzuki e Subaru –  das quatro marcas que alimentaram nos últimos anos o campeonato. Primeiro foi a Suzuki. Baseando a decisão na conjuntura económica desfavorável, a “casa-mãe” decidiu pôr um ponto final no desenvolvimento do SX4 WRC que somou (entre Toni Gardemeister e PG Andersson) 10 desistências nos oito primeiros ralis, mas que teve uma ponta final de campeonato bastante competitiva logo que os problemas de motor dos carros amarelos foram sanados. Usando o mesmo “pretexto”, a Subaru seguiu também o exemplo no final do ano em que estreou a geração S14 do Impreza. Com 47 vitórias no seu palmarés, mas sem nenhuma nos últimos três anos, a marca japonesa despediu-se do Mundial de forma inglória empurrando Petter Solberg e Chris Atkinson para o desemprego.

3 – Anunciada a revolução

Tardou mas foi. A FIA acabou por anunciar em definitivo os moldes que estão na base do futuro do Mundial de Ralis a partir de 2010, mesmo se não explicou ainda todos os pontos. No que concerne à calendarização das provas e à esperada redução do número de ralis, ficou-se a saber que o sistema de rotatividade é para manter e que o próximo ano terá apenas 12 ralis (contra os 15 desta temporada), sendo que apenas a Polónia é totalmente novo. Relativamente às novas viaturas do Mundial, foi confirmada a exclusão dos WRC a partir de 2011, sendo que em 2010 poderão coexistir com uma nova geração de carro (faltando ainda definir de que forma os actuais WRC serão restringidos nas suas “performances” nesse ano de transição) baseados nos actuais Super 2000. A ideia é que os S2000 recebam um kit onde será aplicado um turbo e diversos apoios de alargamento da carroçaria. Por explicar está ainda se os construtores poderão conceber os novos “S2000 +” de raiz ou se terão que ter primeiro um S2000 e aplicar-lhe depois o kit de transformação proposto pela FIA.

4 – Citroen vence Ford

Após dois anos de espera, a Citroen Total acabou por regressar ao lugar mais elevado do pódio entre os Construtores. A marca do “double chevron” bateu a formação da BP Ford Abu Dhabi num braço-de-ferro que durou até à derradeira prova e onde Sébastien Loeb foi nitidamente o elo mais forte. As vitórias do piloto francês abriram caminho para o título, mas só foram possíveis porque o C4 foi quase sempre mais rápido que o Focus, mesmo se perdeu no capítulo da resistência mecânica para o modelo da marca oval. Importante também foi o papel de Daniel Sordo que, mesmo sem vitórias, bateu por sete pontos e somou menos uma desistência que o segundo piloto da Ford, não comprometendo, assim, o resultado da equipa. Provando ser um digno sucessor de Guy Fréquelin, Olivier Quesnel também assume uma quota parte importante de responsabilidade no sucesso da equipa pela forma como soube comandar as suas “tropas”.

5 – Tácticas decidem ralis

No final de Abril, a equipa BP Ford Abu Dhabi “estreou” no Mundial uma nova forma de conseguir resultados: a estratégia baseada no ordenamento de partida para o último dia de prova. No Rali da Jordânia, Hirvonen e Latvala abrandaram de propósito, oferecendo a liderança a Sordo que não conseguiu mantê-la na derradeira “etapa” por “limpar” a estrada. Sete semanas mais tarde, no Rali da Turquia a vítima foi a Loeb e Hirvonen conseguiu mesmo passar para a liderança do campeonato depois de mais uma manobra bem arquitectada por Malcolm Wilson que fez o seu piloto perder cinco posições à entrada do último dia. Como a vingança se serve fria e a Citroen e Loeb serviram-se de uma táctica semelhante para vencer o Rali da Nova Zelândia, provando, definitivamente, que o Mundial de Ralis está em mutação. Já não basta ser o melhor piloto ou ter o melhor carro! Tão ou mais importante é ter na equipa “cérebros” que digam aos pilotos quanto tempo tem que perder num troço ou que tipo de avaria terão que inventar. Tudo isto, perante o olhar passivo da FIA…

6 – Pirelli melhor que o esperado

Pela primeira vez o Mundial de Ralis teve um único fornecedor de pneus, no caso, a Pirelli. Com a interdição das “mousses” e a proibição regulamentar dos carros chegarem aos Parques de Assistência só em três rodas, antevia-se muitas desistências devido aos furos. Mas, a verdade é que a resistência das borrachas italianas foi uma agradável surpresa, se se excluir o Rali da Grécia e da Turquia, onde os pneus se revelaram demasiado macios para as exigências dos pisos. Condenáveis foram as situações vividas no Rali da Argentina (onde as classificativas molhadas não eram esperadas) e em Gales (onde o gelo também surpreendeu) e que deixaram os técnicos da Pirelli de “braços cruzados” devido à regra da FIA que limita a escolha de misturas para cada prova. No último caso, uma greve de pilotos esteve mesmo eminente devido a um cenário onde a entidade federativa teve, sem dúvidas, mais responsabilidade que o construtor italiano.

7 – Latvala, o mais jovem de sempre

Logo na segunda prova do ano, aconteceu uma verdadeira surpresa. O segundo piloto da Ford, Jari-Matti Latvala, venceu o Rali da Suécia, tornando-se o mais jovem piloto de sempre a triunfar numa prova do Campeonato do Mundo. Aos 22 anos e na sua 54ª participação num rali do Mundial, o piloto finlandês de Toysa deu um impulso à equipa Ford, devolvendo o voto de confiança em si depositado por Malcolm Wilson no final de 2007 quando o contratou para a equipa principal. No entanto, para quem considerava que Latvala poderia ser chamado a desempenhar o papel de principal chefe de fila da formação principal da Ford, acabou por se enganar já que o finlandês não evitou também muitos erros, só pontualmente se revelando mais rápido que Hirvonen. De qualquer modo, ninguém tem dúvidas que Latvala é um campeão em potência!

8 – Acidentes graves

Por mais medidas que se tomem em prol da segurança, os ralis serão sempre perigosos. A prova está nos acidentes de Gigi Galli no Rali da Alemanha e de François Duval no Rali do Japão que tiveram consequências graves, mas, felizmente, não fatais. No primeiro caso, o italiano sofreu uma violentíssima saída de estrada deixando o Ford Focus WRC da Stobart entalado entre árvores, acabando por recolher ao hospital com várias fracturas no fémur e com a indicação clara que de que a época estava terminada. Ao volante de um carro em tudo idêntico, François Duval imitou os passos do italiano, acabando também ele por não evitar um violento encontro imediato com um poste em terras orientais, o que por pouco não tirou a vida ao seu navegador, Patrick Pivato que chegou a estar em coma induzido antes de iniciar uma bem sucedida recuperação.

9 – Uma surpresa chamada Ogier

O nome Sébastien Ogier tem algo de vagamente familiar. Jean-Claude Ogier (sem qualquer relação com Sébastien) foi piloto de fábrica da Citroen nos anos 60. Por outro lado, há também outro piloto chamado Sébastien que… dispensa apresentações! Portanto, afrontadas as coincidências, não se podia esperar que do nome Sébastien Ogier saísse alguém verdadeiramente discreto. E não saiu. O piloto francês participou pela primeira vez este ano no Campeonato do Mundo Júnior, ao volante de um Citroen C2 S1600 e venceu a primeira prova, o Rali do México e também a segunda, na Jordânia. Depois ganhou ainda na Alemanha e…chegou facilmente ao título! Não contente com a proeza de ser Campeão quando era “rookkie”, aproveitou da melhor forma o facto da Citroen Sport pôr à sua disposição um C4 WRC na última prova do ano, para impressionar ainda mais, ao liderar o rali da primeira à sexta especial. Agora já ninguém duvida que o nome Sébastien tem qualquer coisa de muito especial.

10 – Bernardo impressiona e Armindo desilude

Em 2008, foram dois os portugueses a marcarem presença no PWRC. Mas enquanto Bernardo Sousa partiu com o único objectivo de conhecer as provas e acumular quilómetros e experiência, Armindo Araújo apontava baterias para os três primeiros lugares do campeonato depois das boas expectativas criadas em 2007. No final das sete provas do calendário, o piloto mais velho foi o melhor sucedido em termos de resultados (terminando em oitavo), mas ficou longe de cumprir as metas propostas. Rasgos de rapidez não lhe faltaram, mas em cada rali houve sempre um problema mecânico que lhe estragou ou condicionou o resultado. Já a Bernardo Sousa também não faltaram contratempos mecânicos ou de outra ordem, mas nem isso impediu que, por exemplo, terminasse o seu terceiro rali na segunda posição e se mostrasse um valor seguro para 2009.

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