World RX: Quem riu por último foi Kristoffersson

Por a 29 Novembro 2021 10:19

Johan Kristoffersson sagrou-se Tetra Campeão Mundial de Ralicross. O sueco do Audi S1 quattro recuperou 17 pontos de desvantagem face a Timmy Hansen na dupla jornada de Nürburgring para terminar o campeonato empatado em pontos na classificação com o piloto do Peugeot 208 WRX. Mas Kristoffersson riu por último por ter o maior número de vitórias.

O mítico Nürburgring foi o palco anfitrião do último fim de semana de corridas do Mundial de Ralicross 2021. Inicialmente programado para se correr no final de Julho, esta dupla jornada acabou por ser recalendarizada para o último fim de semana de Novembro como consequência da forte inundação que afetou a região do circuito em Julho passado. A lista de inscritos contava com 14 pilotos à partida desta que foi também a última prova do campeonato mundial disputada com os Supercar equipados com motor de combustão interna. À semelhança do que tinha acontecido em Portugal, o piloto dos Países Baixos Kevin Abbring esteve novamente ausente do volante do Renault Mégane RS RX da GCK. Para a prova da Alemanha, Abbring foi substituído por Guerlain Chicherit, o proprietário da equipa francesa. Destaque também para os regressos ao campeonato de Anton Marklund, com um Hyundai i20 da Hedströms Motorsport, e do francês Davy Jeanney, também aos comandos de um Hyundai i20, o exemplar habitualmente tripulado pelo francês Patrick Guillerme. Também gerava expectativa a estreia no Mundial do novo Campeão Europeu Super1600, Yury Belevskiy, com um Audi S1 quattro da Volland Racing. Pela batalha pelo título mundial estavam à partida do fim-de-semana cinco pilotos matematicamente elegíveis para o conquistar: Timmy Hansen, Johan Kristoffersson , Kevin Hansen, Niclas Grönholm e Krisztián Szábo. Com a experiência do título conquistado em 2019, Timmy Hansen tinha aqui uma maior dose de favoritismo em relação aos seus rivais, pela pequena vantagem de conforto de 17 pontos sobre Kristoffersson e 18 pontos sobre o seu irmão mais novo Kevin. Pragmaticamente, o título seria decidido entre Timmy Hansen e Johan Kristoffersson. No despertar da manhã de sábado percebeu-se que seria um fim-de-semana de condições extremas, com chuva, neve, gelo e lama a poderem aparecer sobre o circuito alemão. A sessão de treinos livres da manhã acabou adiada por causa da pista se encontrar coberta de neve, o que causava stress adicional na direção de prova por nos encontrarmos numa época do ano com pouca duração da luz do dia. Como tal e após mais alguns atrasos, foi decidido pelos comissários realizar no sábado apenas duas Qualificações, Meias-finais e Final. Na Q1 Kristoffersson teve um bom começo com uma vitória na corrida de abertura. O russo Belevskiy estreava-se da melhor forma no Mundial e vencia a segunda corrida e estabelecendo o segundo melhor tempo da geral. Timmy Hansen, que estava na terceira corrida da Q1, batia Jeanney para conseguir o terceiro tempo mais rápido. Na Q2 Grönholm foi o mais forte, com Belevskiy outra vez em grande plano a fazer o segundo tempo, na frente de Kristoffersson e Timmy Hansen. Assim após a Q2 Kristoffersson era o melhor qualificado, à frente de Belevskiy e Grönholm, com Timmy Hansen e Krizstián Szábo a completaram o top5.

Incidentes prejudicam Timmy Hansen

Na primeira meia-final tudo correu de forma tranquila para Kristoffersson que teve uma vitória clara, com os dois pilotos dos Hyundai da GRX, Grönholm e Szábo a terminaram em segundo e terceiro. Kevin Hansen ficou em quinto depois do motor do seu Peugeot 208 WRX morrer no arranque, ficando assim de fora da Final. Na segunda meia-final, Belyavskiy voltou a dar boa conta de sim com mais uma vitória, na frente de Timmy Hansen e de Enzo Ide. No entanto, a condução de Timmy Hansen na ultrapassagem ao belga do Audi foi considerada fora da lei (“por o ter empurrado”), com o sueco do Peugeot a receber como consequência uma penalização de 5 segundos, o que o prejudicou no alinhamento da grelha para a Final, ficando assim com uma posição na terceira linha. Era o início de uma série de incidentes controversos em que se envolveu Timmy Hansen e que acabaram por ser decisivos para o desfecho do campeonato.

A Final tinha assim Kristoffersson e Belevskiy na primeira linha, com Grönholm e Ide a partirem da segunda linha, enquanto Timmy Hansen se juntava a Szábo na terceira linha da grelha. Quando os sinais vermelhos se apagaram, Kristoffersson foi o mais forte e fazia a apertada curva 1 na frente. O “rookie” Belevskiy também tinha um bom arranque e era o segundo depois da curva 1, à frente de Timmy Hansen que tinha um arranque forte mas depois travava muito em cima do Hyundai de Grönholm para o ultrapassar por dentro, bem como a todos os demais. Timmy Hansen foi o primeiro a fazer a Joker-lap na segunda volta, enquanto Kristoffersson e Belevskiy só a fizeram na última volta. Esta estratégia de Hansen era bem-sucedida, pois permitiu-lhe ultrapassar Belevskiy para reclamar o segundo lugar atrás do vencedor Kristoffersson. No entanto, após o final da corrida, os comissários acabaram por desqualificar Timmy Hansen e Enzo Ide por “empurrar e ultrapassar” Niclas Grönholm. Após as desqualificações Yury Belevskiy foi promovido ao segundo lugar e Krisztián Szábo a terceiro.

Gestão da pressão crucial

Com uma maior dose de pressão para gerir durante todo o dia de domingo, pois a sua vantagem no campeonato face a Kristoffersson tinha diminuído de 17 para apenas 4 pontos, Timmy Hansen sabia que lhe bastaria seguir na sombra do Audi para conquistar o título. Era fundamental assegurar corridas limpas e evitar repetir envolver-se em toques desnecessários como os de sábado, que o pudessem colocar em risco para mais penalizações. Já para Kristoffersson, só a vitória lhe interessava e o sueco da EKS voltou a mostrar-se novamente como o mais rápido nas Qualificações, desta feita com um Timmy Hansen “vigilante” e na expectativa, a ser o segundo classificado. Na meia-final 1, Kristoffersson fez a prova que lhe competia, com uma vitória clara e “guardado” pelo seu colega de equipa Enzo Ide na segunda posição, com Guerlain Chicherit a fechar em terceiro. Para a meia-final 2, Timmy Hansen partia da pole mas tinha a seu lado na grelha um cada vez mais rápido Niclas Grönholm. No arranque, o finlandês do Hyundai conseguiu reagir melhor e com uma maior tração, ganhando uma vantagem ligeiramente superior a meio carro sobre o Peugeot de Timmy, começando a direcionar o volante rumo à trajetória da linha interior. Timmy Hansen resolveu “não tirar o pé” e acabou por entrar em contacto continuado com o Hyundai de Grönholm até à travagem da curva 1, o que causou um pião completo ao finlandês e uma nova penalização de 7s a Hansen, num fim-de-semana que se revelava desastroso para o sueco do Peugeot. A meia-final 2 acabaria por ter Kevin Hansen como vencedor, na frente de Grönholm e Timmy Hansen. Assim sendo na grelha de partida para a última corrida do fim-de-semana, tínhamos Kristoffersson e Kevin Hansen alinhados na frente, com Ide e Grönholm posicionados na segunda linha e Timmy Hansen e Chicherit a partirem da última linha da grelha.

Depois do apagar das luzes vermelhas, Kevin Hansen era o mais forte no arranque e assumia a liderança da corrida, com o Team Hansen a aplicar uma estratégia de tentar conter o ataque de Johan Kristoffersson, permitindo assim que Timmy Hansen, arrancando como um foguete lá de trás, pudesse por seu lado pressionar o sueco do Audi. Esta estratégia acabou por deixar o campo aberto para Niclas Grönholm, que assinou assim a sua terceira vitória da temporada. Em segundo lugar terminou Kevin Hansen, aguentando bem a pressão de Kristoffersson, enquanto Timmy Hansen não conseguiu mostrar ritmo suficiente para lutar com o seu grande rival, terminando assim em quarto lugar. Empatados em pontos na classificação geral do campeonato, Johan Kristoffersson acabou por ser considerado o Campeão do Mundo 2021, graças a um número de vitórias superior ao do piloto do Peugeot 208 (três vitórias para Kristoffersson, duas para Timmy Hansen).

Kristoffersson sem palavras

Contra todas as expectativas antes deste último fim de semana da temporada, Johan Kristoffersson levou para casa o seu quarto título mundial. No final, o piloto do Audi S1 quattro da EKS demorou a encontrar as palavras certas para descrever o que sentia:

“Chegar aqui com 17 pontos de diferença e conquistar o título em igualdade pontual com o Timmy é um cenário inacreditável! Vai demorar um pouco para eu conseguir digerir tudo isto que se passou. A Final foi totalmente louca, a visibilidade estava muito complicada pois os limpa-para-brisas começaram a deixar de funcionar, o ambiente dentro do Audi estava muito tenso. Ser capaz de conquistar o quarto título depois de uma temporada tão difícil significa muito para mim. Começámos a preparar a época muito tarde com uma nova equipa e um novo carro e o resultado é simplesmente fantástico, considerando tudo o que vivemos ao longo da temporada. Ainda me lembro de Barcelona onde fui desclassificado e pensei que aquele erro acabaria por desequilibrar o campeonato, mas não foi bem assim. Obviamente, quando chegas a uma prova tão decisiva como a de hoje, são todos esses pequenos pontos que podem fazer a diferença. Em Lohéac também foi complicado pois lutei pela vitória e depois não conseguimos chegar à Final por causa da caixa de velocidades. Todos da equipa na altura ficaram em lágrimas, mas agora é diferente, por isso estou com muita pressa em poder levar o troféu para todos os membros da equipa com a garantia de que suas lágrimas terão, desta vez, uma conotação bem diferente.”

2022 já começou para a KMS

A contagem decrescente já começou para a temporada 2022 do campeonato, com as estruturas já a trabalharem para a nova época que só deverá iniciar-se pela altura do Verão. Tommy Kristoffersson, o pai de Johan Kristoffersson e proprietário da equipa KMS abordou a nova época: “o tempo promete ser muito curto se quisermos estar prontos para 2022. Na verdade, temos uma carga de trabalho pesada antes das festividades do final do ano e temos que trabalhar no máximo pois sabemos que os nossos interlocutores geralmente não estarão disponíveis de 15 de Dezembro a 15 de Janeiro. Esta é a razão pela qual nos esforçamos para antecipar tantos fatores quanto possível para evitar a paralisação durante as férias de Natal e que possamos continuar a trabalhar internamente durante este período. Atualmente a nossa principal tarefa é conseguirmos encontrar um construtor para trabalhar conosco. Num mundo perfeito, gostaríamos de começar a trabalhar a partir de uma base Volkswagen ID3. Para nós, esse poderia ser um caminho interessante, mas, no papel, sabemos que o tempo está-se a esgotar e a solução mais simples é certamente usarmos como base um chassis do grupo R5. Esta é claramente a solução mais simples. Estou até convencido de que o VW Polo GTi R5 pode ser muito competitivo neste contexto. A nossa colaboração com a VW Motorsport entre 2017 e 2020 permitiu-nos identificar uma série de pontos que fazem do Polo um produto com muitas qualidades para o Ralicross. Resta saber o que os nossos concorrentes vão preparar também. Alguns talvez comecem com os seus chassis existentes, enquanto outros irão partir de uma base zero.”

Classificação

FINAL SUPERCAR ALEMANHA 1 (SÁBADO)

Cl Piloto Carro Tempo

1º Johan Kristoffersson Audi S1 quattro 6 voltas em 3m44,666s

2º Yury Belevskiy Audi S1 quattro a 4,644s

3º Krisztián Szabó Hyundai i20 N RX a 5,077s

4º Niclas Gronholm Hyundai i20 N RX a 5,751s

DSQ Timmy Hansen Peugeot 208 WRX Desqualificado

DSQº Enzo Ide Audi S1 quattro Desqualificado

Volta mais rápida: Kristoffersson (Audi) em 35,802s

FINAL SUPERCAR ALEMANHA 2 (DOMINGO)

Cl Piloto Carro Tempo

1º Niclas Gronholm Hyundai i20 N RX 6 voltas em 3m40,557s

2º Kevin Hansen Peugeot 208 WRX a 4.031s

3º Johan Kristoffersson Audi S1 quattro a 4,259s

4º Timmy Hansen Peugeot 208 WRX a 5,480s

5º Guerlain Chicherit Renault Mégane RS a 8,759s

6º Enzo Ide Audi S1 quattro a 16,091s

Volta mais rápida: Gronholm (Hyundai) em 35,151s

CAMPEONATO MUNDO PILOTOS

1º Johan Kristoffersson (Audi) 217 Pontos

2º Timmy Hansen (Peugeot) 217

3º Niclas Gronholm (Hyundai) 197

4º Kevin Hansen (Peugeot) 191

5º Krisztián Szabó (Hyundai) 162

6º Enzo Ide (Audi) 125

7º Kevin Abbring (Renault) 97

8º Timo Scheider (Seat) 75

ÁLBUM DE OURO MUNDIAL RALICROSS

2014 – Petter Solberg (NOR) – Citroen DS3 WRX

2015 – Petter Solberg (NOR) – Citroen DS3 WRX

2016 – Mattias Ekstrom (SUE) – Audi S1 quattro

2017 – Johan Kristoffersson (SUE) – Volkswagen Polo GTi RX

2018 – Johan Kristoffersson (SUE) – Volkswagen Polo GTi RX

2019 – Timmy Hansen (SUE) – Peugeot 208 WRX

2020 – Johan Kristoffersson (SUE) – Volkswagen Polo GTi RX

2021 – Johan Kristoffersson (SUE) – Audi S1 quattro

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