Melhor cenário: Desporto motorizado só em julho

Por a 17 Abril 2020 14:47

Fábio Mendes e José Luís Abreu

FOTOS Philippe Nanchino/Arquivo Autosport

 

Numa altura em que em Portugal já se pensa começar a ‘abrir’ o País em maio, este é o sinal que a pandemia está a começar a estabilizar um pouco por toda a Europa, que vive, a esse nível a diferentes velocidades. Nesse contexto, desporto automóvel antes de julho é utopia, e mesmo assim estamos a ser otimistas.

 

A pouco e pouco começa a ver-se alguma luz ao fundo do túnel, ainda que existam personalidades mais otimistas que outras. Enquanto o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa e o Primeiro-Ministro do País, António Costa apontam – compreensivelmente – para o começo da abertura da economia no nosso país, o Presidente da FPAK, Ni Amorim, mostra-se bem mais cauteloso, pois sabe que o desporto sob a sua alçada é de massas e pouco prioritário face ao resto da sociedade. Ou seja, como todas as outras atividades, começar a abrir em maio, mas com o arranque a dar-se nos setores mais essenciais para fazer ‘mexer’ a economia.

Neste contexto, está em curso a ‘operação maio’ em que o país, de quarentena desde meados de março, poderá começar a ver serem reabertos alguns serviços como creches, pequeno comércio de bairro, escolas secundárias (11º e 12º anos), teatros e cinemas. Contudo, para já temos pela frente o segundo prolongamento, por mais duas semanas, até 2 de maio, do estado de emergência. Vamos ver se, tal como o nosso Presidente preconiza, será a última!

Terá que haver massificação da oferta de máscaras e gel de proteção, e novas normas para a higienização dos espaços públicos. Como se percebe, temos que começar a ‘viver’ com maior liberdade e ter cuidados com o vírus.

Neste contexto, o desporto automóvel nacional vai manter-se como o internacional, parado, sendo que as projeções mais otimistas atiram para o início de julho o recomeço de algumas competições. No momento em que escrevemos estas linhas, pelo mundo, a pandemia de covid-19 atingiu 193 países e territórios, registando-se mais de 137 mil mortos e mais de dois milhões de pessoas infetadas.

 

FPAK cautelosa

Ni Amorim, presidente da FPAK, deixou em entrevista algumas notas interessantes, descartando por exemplo a possibilidade dos ralis poderem realizar-se sem público “A FPAK não tem meios para controlar a presença de público na estrada ou fora das ZE à revelia das organizações”, sendo portanto algo que não sucederá, ao contrário da velocidade, embora aí a questão só se coloque – em termos dos principais circuitos – no paddock, pois as bancadas estão normalmente com pouco público: “Talvez tenha que haver uma política específica de higiene e segurança nos paddock”, disse, referindo depois que “penso que o futebol pode ajudar contribuir para que tudo comece mais cedo, mas acho que não vai haver corridas antes do verão. As fronteiras estão fechadas, o transporte de camiões com materiais para as corridas parece-me complicado”, disse Ni Amorim, acrescentando que estamos a viver um “momento que não tem paralelo na história de 25 anos da FPAK” e que “retomar vai ser confuso, difícil, vamos ter que dar as mãos e em conjunto ultrapassar este problema”.

Quanto ao Campeonato de Portugal de Ralis, Ni Amorim diz que “não vai ter 10 provas, claro que não, cinco ou seis, vamos ver, o TT o mesmo, e por aí fora”, esclarecendo ainda o eventual prolongamento dos calendários para janeiro de 2021: “Sim, mas não para as principais competições. Por exemplo o CPR vive de patrocínios pelo que não se pode misturar budget de um ano com o seguinte. Mas noutras categorias, dezembro ou janeiro pode ser indiferente para muitos. Estamos atentos a isso, temos capacidade, assim que for possível, de fazer seis a oito provas por fim de semana, mas as provas que vamos conseguir realizar depende da data da retoma e essa é uma pergunta que ninguém para já tem resposta. Mas acho que isto não vai ‘abrir’ antes do verão” disse Ni Amorim, revelando ainda não acreditar que haja a prova de Vila Real: “O circuito faz 90 anos em 2021, mas este ano há muita contingência. A maioria das provas não estão a ser adiadas, mas sim canceladas. Não podemos por em causa 2021, mas este ano ninguém vai escapar ileso, isto é uma guerra autêntica e acho também que vai haver mais problemas com provas de estrada do que provas de circuito” referindo-se por fim às provas internacionais: “A FIA pediu-me para encontrar uma data para o Rali de Portugal, tem que haver hierarquias”, deixando claro que arranjar um data para o Rali de Portugal é prioridade.

Entretanto, a FIA decidiu cancelar as provas do Europeu FIA de Montanha e como consequência, o FIA Hill Climb Masters de 2020.

Portanto, não vai haver em Portugal este ano a Rampa de Boticas, pontuável para o Europeu, nem a Rampa da Falperra pontuável para o Masters, mas a FIA já assegurou que ambas as provas passarão a fazer parte dos calendários em 2021, nos mesmos moldes: “Todos sabemos que há uma enorme dificuldade em gerir calendários. Tanto a FIA como a FPAK têm esse problema, mas as decisões têm de ser tomadas. Vai ser impossível reagendar todas as provas! Não foi uma decisão fácil de aceitar, mas no fundo sabíamos que seria umas das possibilidades. No entanto, nem tudo será mau, pois a FIA assegurou que estas duas provas passarão a fazer parte dos calendários em 2021 tal como estavam programadas para 2020. Temos de ter a capacidade de aceitar que o nosso desporto este ano será atípico”, referiu Ni Amorim.

Entre o turbilhão de más notícias, há outras melhores. O relatório de Impacto Mediático apresentado pela Cision para o Automobilismo e Karting no primeiro trimestre de 2020 apresenta um valor superior a mais de 3,5 milhões de euros face ao igual período de 2019. Apesar de estarmos com a atividade desportiva suspensa desde o início de março, segundo a FPAK: “os valores registados são animadores e mostram o potencial dos nossos campeonatos e do trabalho que tem sido desenvolvido por todos. No entanto, sem atividade desportiva sabemos que o próximo trimestre vai ser desastroso, mas tentaremos compensar assim que a atividade desportiva retome. O importante é não baixar os braços e continuar a fazer o melhor que podemos e sabemos com as condições que nos são apresentadas”.

Baja Portalegre muda de data

De resto, e apesar de ainda não se saber quando será possível fazer ‘corridas’ com segurança, as federações e os clubes trabalham em cenários alternativos, partindo do princípio que bem lá mais para a frente todo este problema atual já passou, e nesse contexto já surgiram novas datas para as provas de todo-o- terreno. Assim sendo, a Baja De Loulé que era suposto ter-se realizado entre 9/11 de abril passado foi adiada com data a designar e assim se mantém.

A Baja TT Capital Dos Vinhos De Portugal, idem, estava agendada para 8/10 maio e foi adiada com data a designar, mas daqui para a frente há novidades.

A Baja TT do Pinhal está reagendada para o fim de semana de 11/13 setembro, sendo que a Baja TT Idanha a Nova, também da Escuderia Castelo Branco passa para 2/4 de outubro. Mas a novidade maior tem a ver com a 34ª Baja Portalegre 500, que passa de 29/31 Outubro para 5/7 de novembro, uma semana depois. Se olharmos para o calendário do WRC, percebemos que há ali agora três fins de semana em aberto, talvez um deles seja para o Rali de Portugal. Seja como for, não há logística fácil a não ser que se mexam em algumas datas do WRC.

Fórmula 1 ‘aflita’

Na Fórmula 1, as coisas andam confusas, já que quanto maior é o barco, maior o buraco. Entre fábricas fechadas, lay off, reduções de salários de pilotos, projeções de corridas sem público e potenciais calendários para todos os gostos, há de tudo.

Na F1 fala-se de um possível calendário completamente revisto: “A nossa intenção é começar a temporada 2020 neste verão. Neste momento, ninguém pode saber exatamente quando a situação vai melhorar, mas quando isso acontecer, estaremos prontos para correr novamente. Estamos todos comprometidos em levar aos adeptos um campeonato. Atualmente, a F1 está a trabalhar num calendário repensado que provavelmente irá ser significativamente diferente do nosso calendário original de 2020”, disse fonte oficial da F1.

Noutra latitude, a Alpha Tauri prolongou o encerramento da sua fábrica em Faenza, Itália, até 1 de maio, com o anúncio do governo belga de cancelar todos os grandes eventos até 31 de agosto, o GP da Bélgica poderá não ter lugar, tendo já sido suspensas todas as vendas de bilhetes para a prova.

Vanessa Maes, responsável do promotor de Spa, admitiu que o cancelamento total, e não o mero adiamento, não pode ser descartado.

“Nada é impossível. Todos os cenários, adiamento, corrida à porta fechada, cancelamento, serão estudados. Ninguém pode dizer hoje qual será a situação dentro de 4-5 meses”, acrescentou Maes. “A prioridade absoluta é a saúde dos belgas e dos espetadores que vêm a Spa-Francorchamps. É por isso que apoiamos a decisão do governo.” Também esta semana o GP de França também passou a estar na lista de provas que poderão ser adiadas ou canceladas, com a prolongamento das restrições anunciadas pelo governo francês. Apenas a Áustria, 11ª prova do calendário, logo a seguir à França, admitiu fazer a corrida à porta fechada.

Contratos em cima da mesa

Este período está também a ser utilizado para outras questões, por exemplo a Mercedes e a Ferrari terão exigido respostas a Lewis Hamilton e Sebastian Vettel quanto à sua vontade em permanecerem nas respetivas equipas. Os contratos dos dois pilotos acabam no final do ano e as negociações entre pilotos e equipas já estavam em andamento e tanto Hamilton como Vettel terão propostas em cima da mesa. As equipas querem saber o quanto antes se as suas estrelas querem continuar ou não, para tentarem outras soluções no mercado, caso a resposta seja negativa.

Se no caso de Hamilton, a versão oficial do piloto e de Toto Wolff dizia que o acordo ainda estava a ser discutido, sem pressas, no caso de Vettel foi dito que o alemão recebeu uma proposta de um ano com um corte substancial no seu vencimento. Se as condições forem essas parece pouco provável que o alemão aceite a proposta o que levará a Ferrari a procurar um substituto, sendo Daniel Ricciardo e Carlos Sainz os principais favoritos à suposta vaga.

No caso da Mercedes, Hamilton deverá manter-se na equipa e qualquer cenário que não seja este será surpreendente. No caso de uma saída do britânico, a única opção lógica é a Ferrari. No entanto este cenário parece algo remoto.

Neste contexto, a Renault admite estar atenta ao mercado de pilotos e que não será apanhada de surpresa se Daniel Ricciardo sair. O piloto australiano chega ao fim do acordo de dois ano no fim de 2020 e apesar de ter reconhecido que gostava de ficar na Renault e ter sucesso com a equipa, não fechou as portas à saída. Cyril Abiteboul diz estar preparado, mas: “Numa temporada normal, teríamos avaliado o desempenho do Daniel nas quatro primeiras corridas e começado ou não as primeiras discussões. Mas não fomos para a pista, estamos cegos, mas precisamos planear”.

 

Fait Divers

Neste período, e como sempre, há muitos fait divers a circular. Um deles é o de Max Mosley, que afirma que a única forma de dar certezas às equipas e promotores é abandonar a época 2020: “A situação corre o risco de piorar se esperarmos. Não há garantia de que poderemos competir novamente em julho, é muito incerto. Se cancelarmos a temporada agora, ficará mais claro para as equipas e os organizadores dos Grandes Prémios tomarem medidas e planearem o futuro. Enquanto não soubermos o que a pandemia fará na perspetiva global, é impossível fazer planos racionais para a Fórmula 1”. O cancelamento da época 2020 traria repercussões financeiras tremendas para a F1, as equipas e todos os negócios que dependem da F1. O que a Liberty quer é minimizar as perdas e a vontade de fazer pelo menos 15 corridas é um sinal claro disso mesmo.

 

Mais reações

Sem surpresas, a Fórmula E prolongou a suspensão do campeonato até ao final de Junho, o que implica o adiamento do E-Prix de Berlim.

As medidas de restrição continuam a ser mantidas na maioria dos países e o regresso a normalidade será lento, e com grandes ajuntamentos de pessoas pouco prováveis numa fase inicial. Assim, os responsáveis da Fórmula E decidiram manter a suspensão até ao final de junho. O regresso a competição em julho dependerá da evolução da pandemia e das decisões que os governantes tomarem.

Após o anuncio da proibição de grandes ajuntamentos na Bélgica até 31 de agosto, as 24h de Spa a contar para o  Intercontinental GT Challenge foram adiadas. A prova estava agendada para 25 e 26 de julho, estando a nova data ainda por definir.

Por fim, uma boa notícia para Portugal. O Kartódromo Internacional do Algarve irá receber o Campeonato do Mundo FIA de Karting em Novembro, para as categorias OK e OK Júnior. A prova estava marcada para o Brasil, mas dada a situação global que se vive, houve necessidade de mudar de palco e Portimão foi o local escolhido.

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