Há vida para lá da SARS-CoV-2: Só falta saber como…

Por a 26 Abril 2020 12:10

Com todas as movimentações que já se perceberam existir no seio do ‘motorsport’ europeu, a época motorizada deve recomeçar numa qualquer data já no verão, cada disciplina com as suas ‘nuances’. Ao que tudo indica a Fórmula 1 pode arrancar de portas fechadas, com corridas a repetirem-se nos mesmos circuitos (Red Bull Ring e Silverstone) para começar.

Começando pela F1, Ross Brawn não esconde que a disciplina quer arrancar o mais depressa possível, mesmo que isso signifique realizar alguns dos primeiros eventos sem adeptos, sendo que tudo se está a preparar para um calendário de 18 ou 19 corridas, que pode prolongar-se até janeiro do próximo ano.

Contudo, há aqui uma grande incógnita que não se reduz somente à Fórmula 1, porque o simples facto de viajar, para as equipas, e para todos os diretamente envolvidos neste grande fenómeno que são as corridas pode e é muito provável que vá ser um dos grandes problemas, podendo mesmo em última análise, impedir todo e qualquer desporto internacional na Europa.

Sendo verdade que a F1 ou uma outra qualquer competição se pode tornar muito autónoma sempre que chega a um local, um circuito, por exemplo, tudo o que fica para lá disso, pode ser problemático.

A Fórmula 1, arrancando na Europa pode realizar corridas, mas como? São fretados aviões para 2.000 pessoas, previamente testadas, são levadas do aeroporto, diretamente para os hotéis onde estão confinadas, daí para o circuito – hotel – circuito, durante quatro dias, fazem a corrida, ficam uma semana fechados nos hotéis, ou vão todos os dias para o circuito preparar a corrida da semana seguinte, onde repetem tudo e no fim, regressam a casa, nos mesmo aviões fretados. Em teoria, isto pode resultar. Mas e os ralis?

A caravana é menor, mas na melhor das hipóteses, têm que estar no local da prova na 3ª feira à noite, os reconhecimentos em estradas públicas são quarta e quinta feira, levam umas ‘sandochas’ ou um furgão de catering atrás para cada equipa? E durante o rali, o público vai para locais previamente escolhidos pela organização com distanciamento social ou liberta-se ao longo dos troços, confiando que vão seguir as regras de distanciamento social? Isto se estivermos a falar desde o início de agosto, onde se prevê que estado de coisas já melhorou muito.

Será assim? Por exemplo, a Finlândia decretou a proibição da concentrações de mais de 500 pessoas até ao final de julho. E se prolongar essa medida? Em teoria, será suficiente para que se realize a prova, que e disputa de 6 a 9 de agosto, mas isso só se saberá mais lá para a frente, até porque esta questão nunca terá somente a ver com o que acontecerá na Finlândia, mas em muitos outros países europeus, sendo que muitos deles estão ainda a ser muito afetados pela pandemia.

Tudo isto para dizer que está em cima da mesa pura e simplesmente anular o campeonato. Os responsáveis do WRC querem disputar o maior número de provas, parece ser perfeitamente possível que isso suceda, mas que não exista a mais pequena dúvida que está em cima da mesa a possibilidade de simplesmente não haver mais WRC este ano. Que fique também claro, que isto, só mesmo em último caso, aliás como em todas as outras competições ‘internacionais’, que requerem viagens extra-fronteiras.

Se tivéssemos que apostar, vai haver algumas provas do WRC europeias, e logo se verá o que acontece às intercontinentais, neste caso por causa dos custos.

Competições nacionais mais fáceis

Se na questão das competições internacionais há para já um problema, que neste momento não se sabe como poderá ser resolvido sem que haja mais informação, já no caso do desporto nacional a questão e diferente. Para já, porque não há fronteiras. E por falar em fronteiras, as nossas três provas internacionais, o Rali de Portugal, que deverá ser cancelado a breve trecho, pois o ACP já informou as Câmaras Municipais que não há condições para fazer o rali, o Azores Rally foi adiado para setembro, mas também neste caso há que deixar passar tempo para perceber se o coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19 vai ‘permitir’ que a ilha de São Miguel possa receber gente de vários países europeus. Neste caso, parece-nos que tudo o que é internacional e requeira transposição de fronteiras, pode ser complicado.

No caso do Rali da Madeira, como se sabe, na sequência de uma normativa emanada pela IASaúde, que determina que grandes certames e consequentes aglomerados, na Madeira, são proibidos até ao fim do mês de agosto de 2020, dificilmente a prova se realizará em 2020. Para já viajar para a ilha significa ter forçosamente que cumprir quarentena, e lá mais para a frente, é bem provável que muitas cautelas continuem a ser tomadas, pois sendo uma ilha, é mais fácil protegerem-se, e por isso é natural que o façam. E neste contexto o Rali da Madeira não é prioridade.

Quanto às restantes provas do Campeonato de Portugal de Ralis, não deverá haver grandes condicionantes para a realização das provas, sendo certo que vai haver estritas determinações das autoridades de saúde, específicas para cada caso, leia-se, desporto. No caso dos ralis, parques de assistência mais espaçados, eventualmente fechados aos espectadores e público espalhado o mais possível pelos troços.

Aqui convém fazer uma ressalva que está a confundir algumas pessoas, especialmente nas redes sociais, onde como é habitual, as opiniões são extremadas. Quando se fala em permitir que as pessoas, os espectadores se espalhem pelo troços, e se impeça aglomerados, logicamente que se vai ter que contar com o bom senso dessas mesmas pessoas. Não será preciso polícia a cada metro dos troços para verificar se há distanciamento social, mas vai ter que haver polícia, como já existiria de qualquer modo, nos locais onde seja previsível mais fácil acesso aos troços e aí sim, impedi-las de ficarem juntas.

Não se pode esperar que em zonas como o Confurco e o Salto de Fafe – que este ano logicamente já não serão problema porque o Rali Serras de Fafe e Felgueiras já foi e o Rali de Portugal não vai haver – seja permitido que as pessoas se juntem. Para haver ralis seguros terá que estar muito bem intrínseco nos adeptos que não vão poder juntar-se. Eu e qualquer outra pessoa podemos ir ver um rali e não ficar perto de ninguém (eventualmente só a família com quem estamos fechados em casa), ter exatamente os mesmos cuidados que se tem quando se vai a um supermercado, às compras, afastarmos-nos das pessoas.

Abrir a possibilidade de ir um ver um rali ao vivo não é um convite para apanhar o vírus, é tentar viver uma vida o mais normal possível, tendo sempre em mente os cuidados que vamos ter daqui para a frente. Que não haja a menor dúvida que nos próximos meses vamos ser bombardeados com estes cuidados que teremos de ter e por isso não vale a pena as pessoas preocuparem-se com o perigo de ir ver um rali, quando daqui a provavelmente uma ou duas semanas, a grande maioria tem que voltar aos exíguos transportes públicos para ir trabalhar, por exemplo.

Aí sim, será perigoso, se não tivermos os cuidados de nos protegermos o mais possível. Ir ver um rali para o Pinhal de Leiria, ou alto da Fóia? Qual é o problema? Ninguém é obrigado ir para o pé de ninguém, até porque todos podem conversar afastados. Portanto não tenha a mais pequena dúvida. Se há modalidades possíveis de se disputarem sem grande problemas, caso haja os competentes cuidados por parte de todos os intervenientes, são os ralis, o todo-o-terreno, e claro as corridas em pista.

Se calhar não vai haver super especiais citadinas, lógico que não. Não vai haver zonas espetáculo a convidar o público a juntar-se ali. Claro que não. Li em algum lado que “espalhar as pessoas nos troços é um convite à desgraça”. Errado. Se é importante as pessoas saberem-se defender do vírus, é ainda mais importante que as pessoas se saibam proteger e assistir ao rali ou ao TT em segurança, sendo que nunca podem deixar de ser alertadas para esse facto e esse cuidado que têm que ter…

Três de seguida

Voltando à Fórmula 1, o mais provável é um começo europeu em eventos fechados. Ter corridas sem espectadores não é ótimo, mas é bem melhor do que não haver corridas. Temos de nos lembrar que há milhões de pessoas que seguem o desporto sentadas em casa. Muitas delas estão isoladas há mês e meio e ser capaz de manter o desporto vivo e entreter as pessoas seria um enorme bónus nesta crise.

Mas sem esquecer que não podemos podemos correr demasiados riscos. Temos que ir trabalhar. É um risco. Mas se não trabalharmos e colocarmos novamente a economia a mexer, “não morremos do mal, morremos da cura”.

Talvez tenhamos uma F1 com corridas realizadas em três fins-de-semana consecutivos, seguidas de uma pausa, depois mais três, com uma pausa e assim por diante. Eventos reduzidos a dois dias para ajudar na logística de transporte de mercadorias de um país para outro, se chegar a haver essa possibilidade, claro. Oito corridas é o mínimo que podemos ter para um campeonato mundial, de acordo com os Estatutos da FIA.

Pode haver oito corridas a partir de outubro, há a possibilidade de irmos para lá do fim de 2020, tudo isso está a ser explorado.

Resta esperar mais algum tempo, pois é aí que está o segredo disto tudo. Quanto mais tempo passar, mais facilmente vamos saber com o que podemos contar. Ninguém tem certezas de nada este momento. Mas o cenário é bem melhor que há duas ou três semanas, ainda que não nos EUA, que está agora a passar pelo que a Europa já está a começar a deitar para trás das costas…

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