Stefano Domenicali: “O mundo está a mudar rapidamente e nós acreditamos que o som é importante mas a próxima geração pode pensar o contrário”

A Ferrari quer finalmente voltar aos títulos em 2014, depois de um hiato de sete anos e muitos falhanços… por pouco. Com novas regras e com Kimi Raikkonen – no lugar de Felipe Massa – ao lado de Fernando Alonso, os italianos ainda não somaram nenhum pódio nas primeiras duas corridas da época, e por isso Stefano Domenicali já admite que a Scuderia tem que melhorar em várias áreas.

P: Stefano, disse que não iria entrar no jogo das culpas, mas algo correu um pouco mal. Será 2014 outra época difícil?

Stefano Domenicali: Sabíamos desde início que estas com estas mudanças regulamentares o desafio seria enorme, que não seria só uma questão do motor, que acreditamos ser forte, como também de toda a unidade motriz. Outros construtores de motores têm tecnologia avançada porque a estão a usar nos carros de estrada. Mas há outras áreas onde precisamos de melhorar, a aerodinâmica acima de tudo. No passado não conseguimos explorar o máximo dos gases de escape, mas estou confiante que adotámos o caminho certo. É uma questão de tempo, mas diria que temos que ser cautelosos ao chegar a conclusões. A Mercedes tem sido a melhor em termos de desempenho, e é esse o nosso objetivo para agora. Mas ainda é a segunda corrida da época, e recorde-se que após o primeiro teste as pessoas pensaram que a Red Bull estava acabada.

P: Disse que identificou as áreas que são mais fracas no monolugar deste ano. Pode apontá-las?

SD: Basicamente todas, e não acredito que ao reparar um problema se repare o desempenho todo. Precisamos de trabalhar para ter um monolugar mais eficiente e melhores motor e equilíbrio entre potência elétrica e do motor tradicional. Precisar de um novo monolugar é um pouco extremo, não creio.

P: Pode estimar quanto custou à Ferrari construir o novo chassis?

SD: Investimos em novas tecnologias que não tínhamos, por isso o investimento foi incrível. Estou confiante que será útil aos nossos colegas dos GT porque algumas tecnologias irão integrar o mundo dos GT. Esta tecnologia é avançada como foi no passado o controlo de tração e as caixas automáticas. Ninguém acreditava que ia transitar para o outro lado da empresa, mas aconteceu.

P: Ao olhar para os outros dois construtores de motores, têm enormes empresas automóveis por trás. Comparado a eles, a Ferrari é uma boutique. Não tornou as coisas mais difíceis para a Ferrari?

SD: Foi mais difícil para nós e sabemos disso. Mas é a beleza do desafio, temos que lutar com o que podemos.

P: Muito se disse sobre o som destes motores turbo e a Ferrari tem o seu próprio, pode identificar-se só pelo barulho. Com isso a desaparecer, pode dizer-se que parte do ADN da Ferrari desapareceu. Isso fá-lo feliz?

SD: Este ano é diferente, sem dúvida, mas precisamos de ser cautelosos ao fazer julgamentos. O mundo está a mudar rapidamente, nós possivelmente acreditamos que o som é importante, mas a próxima geração pode pensar o contrário.

P: Quão relevante é o novo motor de F1 para a divisão dos carros de estrada da Ferrari? Porquê comprar um Ferrari além do som?

SD: Seguramente a ‘música’ do motor faz parte da adrenalina ao comprar-se um destes carros. Há alguns anos nunca se teria imaginado o KERS num Ferrari, e agora com a LaFerrari temos o KERS desenvolvido pelo nosso departamento de F1.

P: Vocês são a única equipa com dois campeões ao volante. Como vê o desempenho das suas duas estrelas?

SD: A minha preocupação, ou foco, é assegurar-lhes o melhor monolugar possível. É uma necessidade urgente e tem que acontecer muito brevemente. O Fernando mostrou ser rápido de imediato, e o Kimi precisa de algum tempo para perceber o monolugar. Estou seguro que o lado dos pilotos não será um problema.

P: Os desempenhos em Melbourne e Kuala Lumpur foram os esperados após os testes?

SD: Depois dos testes foi claro que a Mercedes estava na frente e por isso as classificações na Austrália e na Malásia não são surpresa. Se a Mercedes mantiver o ritmo será muito difícil apanhá-los. Pouco mudou entre as duas provas, nada de relevante, e há um longo caminho a percorrer do nosso lado para melhorar.

P: O ataque chegará em Barcelona?

SD: Não é uma questão de atacar ou não atacar, precisamos de nos assegurar que desenvolvemos mais o monolugar. Se disse agora que as coisas em Barcelona vão ser radicalmente diferentes, provavelmente viria dizer-me que o disse.

P: Foi prevista por várias vezes a sua saída de chefe de equipa da Ferrari. A quantas situações difíceis poderá mais sobreviver?

SD: Não me preocupo com o que dizem, muitos querem o meu trabalho, é um privilégio. Quando terminar estarei noutro sítio, não aqui, mas noutro lugar. Não é um problema pessoal, e digo às pessoas ciumentas que querem este trabalho para lutarem por ele!

P: Teve uma boa conversa com Sebastian Vettel antes do GP da Malásia. Pode estar ele no seu radar?

SD: O Sebastian é um piloto fantástico, mas nós na Ferrari estamos muito contentes com o que temos e estou certo que o Sebastian também está satisfeito na sua situação, parecendo que pode lutar novamente.