Willliams F1 foi vendida: Que futuro?

Por a 23 Agosto 2020 09:30

Vida nova para a Willliams F1, depois do anúncio de que a equipa foi vendida à empresa de fundos de investimento privado norte-americana, Dorilton Capital. E agora, qual será o futuro?

Há muito mais perguntas do que respostas neste momento, relativamente a uma das equipas mais importantes da história da Fórmula 1, a Williams. É, apesar de tudo, e destas duas décadas de lento declínio, a segunda equipa com mais títulos de construtores, nove, mais uma que a McLaren, e menos sete que a Ferrari. É a terceira equipa com mais vitórias, 114, atrás da Ferrari (238) e McLaren (182). Terceira equipa em número de pole-positions, 128, atrás da Ferrari (228) e da McLaren (155). Por estes três exemplos se percebe a importância da equipa na história da F1, mas o seu decréscimo dura há muito.

Sir Frank Williams e a sua filha, a vice diretora da equipa, Claire Williams queriam manter a equipa na família, mas também perceberam que não podiam competir financeiramente com os seus rivais. Assim, numa tentativa de assegurar o futuro a longo prazo da equipa, e do seu pessoal, venderam a equipa à empresa de fundos de investimento privado norte-americana, Dorilton Capital.

Vai continuar a correr sob a marca Williams, mantém a referência de chassis inalterada, mas o futuro a médio prazo é incerto, já que os compradores pouco revelaram para além de boas intenções.

Em maio passado, a Williams abriu-se a um processo de venda formal, naquela que disseram ser uma nova revisão estratégica, não tendo demorado muito a surgir potenciais compradores. Com as receitas da equipa a cair, as perdas em nada ajudaram a dar a volta à situação que é cada vez mais complicada. O novo teto orçamental e as novas regras, foram a luz ao fundo do túnel para onde a equipa apontou, de modo a alterar o rumo, mas com a venda e apesar das palavras bonitas, o futuro é incerto: “Quando iniciámos este processo, queríamos encontrar um parceiro que partilhasse a mesma paixão e valores, que reconhecesse o potencial da equipa e que pudesse libertar a sua força. Na Dorilton encontrámos isso, pois compreendem o desporto e o que é preciso para ser bem sucedido. Pessoas que respeitam o legado da equipa e que tudo farão para garantir o seu sucesso no futuro”, disse Claire Williams. É claramente o fim de uma era para Williams, já que a equipa sempre esteve nas mãos da família e a partir daqui deixa de estar. Sobreviver era mais importante.

No papel, a Dorilton é uma empresa de investimento privado que procura adquirir, recapitalizar e apoiar o crescimento a longo prazo de empresas em vários setores da indústria, nomeadamente, saúde e tecnologia alimentar. Matthew Savage, presidente da Dorilton Capital, diz que: “estamos encantados por investir na Williams e entusiasmados com as perspetivas do negócio. Acreditamos que somos o parceiro ideal para a empresa devido ao nosso estilo de investimento flexível e paciente, que permitirá à equipa concentrar-se no seu objetivo, de regressar à frente da grelha. Vamos realizar uma revisão detalhada do negócio e determinar em que áreas os novos investimentos devem ser dirigidos”, concluiu.

Portanto, está aberta a caixa de pandora. Vamos ser como será, há muito trabalho pela frente, a verdade é que já lá vão 23 anos desde o momento em que a Williams venceu o campeonato, de Pilotos e Construtores, em 1997.

Uma das primeiras medidas a decidir passa pela definição do que a Williams quer ser. Um verdadeiro construtor, como são a Mercedes, Ferrari, Red Bull e Renault, ou faz reviver, por exemplo a bem sucedida parceria técnica alargada com a Renault, que tanto deu a ambas as marcas.

É que neste momento na F1, só mesmo a Williams e a McLaren são equipas totalmente independentes. Há quatro construtores, já referidos e quatro afiliadas, Alfa Romeo, Alpha Tauri, Racing Point e Haas.

O negócio

A Williams Grand Prix Engineering Limited (WGPE) foi vendida na totalidade. Desde o negócio da F1, incluindo a sua impressionante coleção de monolugares, e a sede de Grove, a participação minoritária na Williams Advanced Engineering, e todos os outros ativos e passivos comerciais.

De acordo com documentos divulgados à Bolsa de Valores, o “valor empresarial” da empresa é de “152 milhões de euros e as receitas líquidas em dinheiro que foram recebidas pela empresa pelas ações do WGPE, após o reembolso de todas as dívidas de terceiros e despesas de transação, são de “112 milhões de euros”. Sir Frank, que detém 52% das ações, deu o seu “apoio irrevogável” à transação, com a família Williams a deixar de ter uma participação.

O nome Williams permanecerá, bem como a designação de chassis FW. Segundo dizem, os novos investidores querem manter a cultura da equipa e o que Sir Frank e os seus pares passaram mais de 40 anos a construir. Os novos proprietários dizem não ter planos de afastar a equipa da sua base de longa data em Grove, Oxfordshire. Quem irá dirigir a equipa? A curto prazo nada vai mudar, mas acredita-se que isso irá acontecer a médio prazo. Logicamente, a Dorilton irá agora trabalhar com Williams para levar a cabo uma revisão detalhada do negócio para “determinar em que áreas os novos investimentos devem ser dirigidos”. As grandes decisões devem ficar para os peritos. A Dorilton terá um papel a desempenhar na orientação do caminho da Williams, mas a interferência sem conhecimento ou compreensão é inútil. Resta perceber o que o futuro trará. Provavelmente há gente inteligente na Dorilton para perceber que não faz sentido destruir um nome, Williams, que tem mais de 40 anos. A Williams é património da F1. Há que honrar essa história.

A Dorilton diz que uma das suas funções é fornecer o capital para projetos crescerem e o dinheiro pode desbloquear o potencial da Williams. Com as pessoas certas há potencial. Mas há aqui uma questão a que só o tempo nos dará resposta: A Dorilton Capital pretende lucro a longo prazo. Mas como bem sabemos na F1, “chapa ganha é chapa gasta” em maior competitividade. É este o ADN da F1 e isso não se coaduna com uma empresa em que o lucro é o objetivo final.

As palavras são muito bonitas agora, mas o futuro dirá o que acontece. Seja como for, embora a médio prazo se esperem efeitos do facto da Williams passar a ter meios para investir em desenvolvimento e pessoas, dificilmente as coisas mudam numa questão de meses. Para trás ficam anos de sub-investimento, e um ‘marcar passo’ técnico leva tempo a recuperar, a não ser que o investimento fosse um cheque em branco, o que temos a certeza que não acontecerá. É evidente que a Williams passa a ter agora condições para se reerguer, mas não será de um dia para o outro.

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