Williams pode vender equipa de Fórmula 1

Por a 29 Maio 2020 10:02

A Williams Formula 1 poderá ser vendida no âmbito de uma nova revisão estratégica da empresa. O patrocínio da Rokit, também caiu.

A Williams emanou um comunicado em que refere estar a considerar uma venda parcial ou total da equipa de Fórmula 1, numa medida que faz parte de uma nova direção estratégica destinada a garantir o futuro da empresa. A crescente pressão financeira exacerbada pela pandemia de coronavírus, e depois de dois anos na cauda da tabela, levou a que a equipa de Grove tenha decidido considerar a sua venda, num processo que se inicia agora, de procura de partes possivelmente interessadas.

A Williams é a das equipas que mais abertamente tem admitido problemas financeiros, e o facto de ter vindo a sofrer a nível competitivo nos últimos anos, não ajuda nada. Ainda assim, tem a seu favor o peso do nome e a Williams Advanced Engineering que tem ajudado a superar as dificuldades, mas a verdade é que na declaração da equipa é claro que está tudo em cima da mesa: “As épocas de 2018 e 2019 revelaram-se muito desafiantes para a Williams, com desempenhos dececionantes no Mundial de Fórmula 1, após vários anos de desempenho muito mais fortes. Como resultado, as receitas têm estado sob pressão, devido às menores receitas comerciais resultantes do desempenho da equipa em pista, bem como a uma diminuição dos patrocínios.

O sucesso na Fórmula 1 ao longo da última década tem sido muito ponderado a favor de equipas apoiadas por fabricantes, com orçamentos anuais incomparavelmente elevados. O novo detentor dos direitos comerciais, a Liberty Media, está a introduzir um novo regulamento financeiro a partir do próximo ano que, significativamente, incluirá pela primeira vez um limite de custos. Além disso, espera-se que as receitas comerciais do desporto sejam distribuídas de forma mais equitativa do que atualmente. A direção da Williams Grand Prix Holdings acredita que estas alterações irão abordar a maior desigualdade no desporto e permitirão a todas as equipas competir numa base mais equitativa.

A Fórmula 1 e o órgão dirigente do desporto, a FIA, estão também a introduzir novos regulamentos técnicos para a época de 2022, com o objetivo de garantir corridas muito mais competitivas e emocionantes, no futuro.

Para o efeito, e à luz destes desafios, a Williams Grand Prix Holdings iniciou um programa de renovação que define uma nova direção estratégica, a fim de garantir que estará bem posicionada para tirar partido da nova era da Fórmula 1, que terá início em 2021.

Como primeira etapa deste processo, a Williams Grand Prix Holdings alienou uma participação maioritária na Williams Advanced Engineering em dezembro de 2019, dando um foco renovado nas operações de F1.

A Williams Grand Prix Holdings implementou melhorias operacionais significativas e a organização técnica foi reorganizada de forma abrangente, com novos líderes e designers talentosos a juntarem-se à equipa.

A Williams Grand Prix Holdings assegurou a renovação do contrato a longo prazo para o fornecimento da melhor unidade de potência da classe, a MercedesHPP-AMG. Foi ainda assegurado um financiamento adicional por terceiros, dotando a Williams Grand Prix Holdings dos recursos necessários para a execução do seu novo plano estratégico”, lê na primeira parte do comunicado, que depois passa para a Revisão Estratégica e Processo de Venda Formal: “Como parte desta nova direção estratégica, a administração da WGPH está a proceder a uma revisão de todas as várias opções estratégicas à disposição da empresa. As opções consideradas incluem, entre outras, a obtenção de novos capitais para o negócio, a alienação de uma participação minoritária na WGPH ou a alienação de uma participação maioritária na WGPH, incluindo uma potencial venda de toda a empresa. Embora ainda não tenham sido tomadas decisões quanto ao resultado ótimo, para facilitar as discussões com as partes interessadas, a Companhia anuncia o início de um “processo formal de venda”, lê-se no comunicado, que acrescenta que para já a Williams não recebeu qualquer contacto, confirmando que se encontra em discussões preliminares com um pequeno número de partes relativamente a um potencial investimento na sociedade.

Como se percebe, neste momento não há certezas quanto à realização de uma oferta, nem quanto às condições em que poderá ser feita qualquer oferta sendo que nesse contexto a Williams Grand Prix Holdings pode alterar ou pôr termo ao processo em qualquer altura: “Embora a empresa tenha enfrentado uma série de desafios, a Williams continua atualmente a ser financiada e pronta para retomar as corridas quando o calendário o permitir em 2020. A administração da WGPH acredita que a revisão estratégica e o processo de venda formal é a coisa certa e prudente a fazer, a fim de levar tempo a considerar uma gama completa de opções e colocar a equipa de Fórmula 1 na melhor posição possível para o futuro”, concluiu a missiva.

Este anúncio de revisão estratégica surge quando o grupo Williams revelou os seus números financeiros de 2019, que resultaram num prejuízo de 13 milhões de libras, em comparação com um lucro de 12,9 milhões de libras no ano anterior.

As receitas do grupo diminuíram para £160,2 milhões em 2019, de £176,5 milhões em 2018. As suas receitas de F1 diminuíram para £95,4 milhões, de £130,7 milhões em 2018, com perdas de £10,1 milhões em comparação com um lucro de £16 milhões no ano anterior.

ROKit deixa de ser patrocinador

Paralelamente, a Williams perdeu a Rokit como patrocinador, o que foi confirmado pelo diretor executivo, Mike O’Driscoll, que explicou que tudo se deveu à queda abrupta nos rendimentos, resultante do grande golpe nas receitas dos direitos comerciais, devido à falta de corridas.

O contrato vigorava até ao final de 2023.

Aguentou-se até aqui

Apesar dos momentos de glória da equipa já terem ficado para trás há muito, a equipa tem conseguido manter sempre a sua identidade desde que Frank Williams a fundou em 1977. No entanto, a formação que nasceu em Didcot e hoje está sediada em Grove manteve a sua estrutura acionista praticamente inalterada, permanecendo sob o controlo da família Williams. Mesmo quando a BMW, na primeira década deste século, mostrou interesse em assumir a liderança da equipa, Frank Williams não se deixou seduzir, mesmo tendo esta decisão na altura implicado a perda de motores oficiais para regressar à Cosworth com unidades menos competitivas.

Apesar de ter caído na ordem competitiva, para o meio de tabela, e longe da posição dominante que chegou a ter na década de noventa, estes dois últimos anos têm sido dramáticos. Até aqui, a Williams manteve a sua identidade, talvez de uma forma mais pura que qualquer outra, uma vez que ainda é detida pelo seu fundador. Mas, muito embora o automobilismo seja ainda um mundo onde a paixão ainda vai imperando, é também preciso pagar contas e encontrar financiamento para evoluir. Vamos ver o que acontece, mas este é provavelmente o momento mais difícil da história da equipa. Talvez, tal como sucedeu no passado, volte a dar a volta por cima.

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