Verstappen vence e sorte bafeja Hamilton
O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 promete cada vez mais e, depois de um duelo intenso entre Max Verstappen e Lewis Hamilton no Bahrein, no Grande Prémio da Emilia-Romagna assistimos ao seu segundo round e agora com um vencedor diferente – foi o holandês que subiu ao degrau mais alto do pódio.
A Red Bull chegou a Imola como favorita, apesar de a Mercedes ter vencido com o Campeão do Mundo a primeira corrida da temporada, mas logo na sexta-feira verificou-se um W12 mais eficaz e sem o nervosismo que tinha evidenciado em Sakhir.
A formação de Brackley tinha trabalhado ao longo das últimas semanas para tornar o seu monolugar mais eficaz, mas as baixas temperaturas que se sentiram no circuito italiano contribuíram decisivamente para que Hamilton e Valtteri Bottas se mostrassem mais confortáveis com as respectivas montadas.
Ainda assim, Max Verstappen era apontado como o favorito à pole-position para a corrida de domingo, muito embora tenha falhado quase toda a segunda sessão de treinos-livres devido a um semi-eixo partido após uma aceleração mais violenta sobre o corrector da segunda de Rivazza.
Contudo, o holandês assinava uma pouco comum volta com erros e via Lewis Hamilton conquistar a melhor posição da grelha de partida por menos um décimo de segundo. Ainda mais surpreendentemente, Sérgio Pérez, que notoriamente não está ainda a extrair todo o potencial do Red Bull RB16B Honda, conseguiu o segundo posto, batendo o seu colega de equipa por cinquenta e dois milésimos de segundo.
Tarefa complicada para Verstappen
Num circuito em que as ultrapassagens não são um dado adquirido, Verstappen estava em desvantagem face ao seu rival da Mercedes, mas em pior situação estava Valtteri Bottas, que, com mais uma prestação desapontante, não ia além de um humilhante oitavo lugar na grelha de partida a mais de quatro décimos de segundo do seu colega de equipa.
A tarefa do holandês não se afigurava fácil para a corrida e com a chuva a molhar o circuito antes da corrida, o arranque poderia ser determinante para Verstappen, dado que numa pista estreita e de alta velocidade seguir outro carro não é propriamente uma situação confortável.
Consciente deste panorama, o piloto da Red Bull não deixou nada ao acaso e, inteligentemente, realizou a sua partida com o seu monolugar engrenado na sua segunda velocidade. Isto permitia-lhe ter mais tracção, o que o catapultou para o segundo posto em posição de atacar a liderança de Hamilton, por dentro, na aproximação à Variante de Tamburello.
Ambos os pilotos estavam conscientes da importância de liderar a corrida e nenhum deles cedeu na primeira travagem da corrida, acabando por ser Hamilton a levar a pior, que foi obrigado a passar pelos agressivos correctores de Imola, danificando a deriva esquerda da sua asa dianteira.
Ainda assim, conseguia manter o segundo posto face a Sérgio Pérez, que, com um erro na Variante Alta, perdia o terceiro lugar para Charles Leclerc, marcando o tom de uma tarde de pequenas falhas que o atirou para o décimo primeiro lugar final.
A prova, porém, seria rapidamente neutralizada, devido ao toque de Nicholas Latifi em Nikita Mazepin, que enviou o Williams contra os muros de protecção, precipitando o aparecimento do Safety-Car, que se manteve em pista até ao início da sexta volta.
Com a pista ainda bastante molhada, os danos sofridos na asa dianteira da Mercedes eram menos significativos, mas os problemas sentidos em aquecer os pneus com água no asfalto, tal como se verificara na Turquia no ano passado, voltavam a fazer-se sentir, e até à vigésima segunda volta, Hamilton perdeu mais de seis segundos para Verstappen.
Pista seca aproximou Hamilton da frente
Nestas condições, o holandês estava completamente no controlo da situação, mas a pista começou a secar e as dúvidas quanto ao momento certo para montar slicks começou a invadir o “pit-lane”.
Para colocar a Red Bull em maior pressão, subitamente, Hamilton conseguira ao aumentar o seu ritmo e Verstappen, com os seus pneus destruídos, não tinha resposta, vendo a sua vantagem reduzir-se para dois segundos, quando estavam cumpridas vinte e seis voltas.
O holandês precisava que o momento para montar pneus slicks surgisse o quanto antes, estando a Red Bull a monitorizar os tempos de Sebastian Vettel e os pilotos da Haas, que foram os primeiros a entrar nas boxes para mudar para borrachas para seco.
Para alívio dos homens de Milton Keynes, o momento surgiu na vigésima sétima volta, mas com a pista bastante fria e muito molhada fora da trajectória, aquecer os pneumáticos da Pirelli não se afigurava uma tarefa fácil, o que poderia dar a Hamilton a possibilidade de realizar o “overcut”.
Quando o inglês entrou nas boxes, na volta seguinte, parecia que o homem da Mercedes conseguiria alcançar a liderança, mas então a sorte favoreceu Verstappen – quando se aprestava para sair do seu “pit-boxe”, estava na via das boxes António Giovinazzi, o que obrigou Hamilton permanecer mais dois segundos parado. O piloto da Red Bull mantinha-se assim no comando.
Porém, nada estava ainda decidido, e o Campeão do Mundo voltou à carga, perseguindo o seu rival, que começava a dobrar um numeroso grupo de pilotos, que incluíam Valtteri Bottas – autor de uma corrida para esquecer – e George Russell, que tentava ganhar um lugar ao piloto da Mercedes.
Na trigésima volta, ao tentar suplantar o inglês da Williams na Tosa, na tentativa de perder o mínimo de tempo possível para Verstappen, Hamilton recorreu a trajectória molhada, acabando fora de pista.
Com a asa dianteira, definitivamente, partida, o heptacampeão mundial teve de rumar às boxes, caindo inúmeros posições e perdendo uma volta para Verstappen. As suas possibilidades de um bom resultado pareciam decididamente diminutas.
Porém, a sorte estava do lado de Hamilton.
Acidente entre Bottas e Russell favoreceu Hamilton
Na trigésima primeira volta, Valtteri Bottas e George Russell desentendiam-se na aproximação à Variante de Tamburello, a cerca de 300 Km/h, batendo e deixando a pista coberta de detritos, o que obrigou a que a corrida fosse interrompida com bandeiras vermelhas.
Subitamente, num dia em que um erro o impediria de alcançar um bom resultado, Hamilton tinha a oportunidade de recuperar a sua volta de atraso e, muito embora a vitória estivesse fora de cogitação, o segundo lugar era ainda uma possibilidade.
Após vinte e cinco minutos de trabalhos na pista, a corrida foi retomada e Verstappen tinha o caminho livre para a sua primeira vitória da temporada. No entanto, o holandês pareceu querer complicar a sua vida, quando perdeu o controlo do seu monolugar na saída da primeira de Rivazza, ao tentar aquecer os seus pneus.
Verstappen conseguiu voltar à pista sem perder o comando e lançou-se para uma ponta final de corrida sem grandes sobressaltos, rumando ao seu primeiro triunfo da época e esperando que Hamilton não conseguisse recuperar até ao segundo posto para garantir a liderança do Campeonato de Pilotos.
Porém, agora com uma asa sem danos, o inglês impôs um ritmo alucinante e fez aquilo que Valtteri Bottas nunca conseguiu enquanto esteve em pista – recuperar posições.
Na sexagésima volta, o piloto da Mercedes ultrapassava Lando Norris, para o segundo posto, tendo ainda tempo para assinar a volta mais rápida.
No pódio ambos os pilotos estavam satisfeitos – Verstappen por ter finalmente concretizado o potencial do seu carro em vitória e Hamilton por ter recuperado após um incomum erro de pilotagem, mantendo a liderança do Campeonato de Pilotos por um ponto, cortesia da volta mais rápida.
Aguardamos agora por mais um round do duelo que marcará a temporada e que deixará todos os adeptos na incerteza do vencedor, sendo o próximo palco o Grande Prémio de Portugal e o espetacular Autódromo Internacional do Algarve.