Sauber: Um projeto que começou mal e que ainda dá muitas dores de cabeça

A transição da Audi para a Fórmula 1 com a Sauber em 2026 enfrenta desafios significativos. Além dos desafios próprios de montar uma estrutura vencedora, as especificidades da Sauber trazem dores de cabeça extra aos homens e mulheres da Audi que vão assumir a batuta no próximo ano.

Um dos principais problemas é a localização da equipa em Hinwil, na Suíça, o que dificulta atrair os melhores talentos devido ao elevado custo de vida e às preocupações com a relocalização. Para resolver este problema, a Audi está agora a considerar uma base no Reino Unido, embora os especialistas acreditem que esta decisão deveria ter sido tomada mais cedo.

No Reino Unido existe o chamado “Motorsport Valley”, uma região no Reino Unido que concentra a indústria do automobilismo, especialmente da Fórmula 1. Localizada na parte central da Inglaterra, abriga cerca de 4.300 empresas e 25.000 profissionais, representando 80% dos engenheiros de topo do setor. A região se destaca pelo alto investimento em pesquisa e desenvolvimento (25-30% da faturação) e pela proximidade de Silverstone, berço do primeiro GP da F1. Nesta área encontramos equipas como a Williams, Alpine, Mercedes, McLaren, Red Bull e Aston Martin. De notar que embora a RB tenha sede em Faenza, Itália, tem já um polo no Reino Unido, perto das instalações da Red Bull. Também a Haas tem um polo nesta região e das dez equipas, apenas a Ferrari e a Sauber não têm nenhuma infraestrutura no Reino Unido. Se no caso da Ferrari, atrair pessoas se torna mais fácil, pelo poderio financeiro. Mais ainda, a localização da Ferrari é também apelativa para qualquer engenheiro pela sua localização.

O Motor Valley italiano, localizado na Emilia-Romagna, é um importante polo industrial e cultural do automobilismo. Abriga marcas icónicas como Ferrari, Lamborghini, Maserati, Pagani, Ducati e Dallara, além de 15 museus, 16 coleções privadas e 4 autódromos. A região gera 64 mil empregos e movimenta 5 mil miilhões de euros anuais, atraindo 1,8 milhão de turistas. Também sedia o Motor Valley Fest e possui 6 centros de formação automóvel. Além da sua relevância industrial, o Motor Valley se destaca como destino turístico, unindo automobilismo, cultura e gastronomia.

A Sauber tem um problema grave. Sediada em Hinwill, na Suíça, é uma área que, comparativamente à situação geográfica das restantes nove equipas, é muito menos apelativa. Depois há a questão do custo de vida e da adaptação a uma nova realidade para engenheiros que têm de mudar completamente de vida para trabalhar na Sauber. No caso do Reino Unido, as vezes nem precisam de mudar de casa para mudar de equipa. É esta realidade que a Sauber enfrenta e por isso a Audi quer criar um polo no Reino Unido para convencer mais engenheiros de topo a juntarem-se ao programa.

Além disso, a Sauber está atualmente sem um diretor de equipa até abril, aumentando a instabilidade. Jonathan Wheatley ainda não iniciou o seu trabalho pela equipa, o que deixa um vazio na estrutura diretiva. O arranque do ano não pareceu prometedor, apesar da dupla de pilotos ser um pouco mais entusiasmante que a dupla que saiu no final de 2024. Nico Hülkenberg e o estreante Gabriel Bortoleto, trazem experiência e potencial de patrocínio, mas a competitividade geral da equipa continua incerta. O arranque do projeto Audi não corre como esperado.

Foto: Philippe Nanchino /MPSA