ROOKIES DO ANO DA F1: LANDO NORRIS OU ALEX ALBON?
O universo das votações é assim mesmo: a FIA escolheu Alexander Albon como “Rookie do Ano”, os adeptos da Fórmula 1 escolheram… Lando Norris. E agora, qual é que merece o título? O AutoSport ajuda
Ele há coisas complicadas e ter dois “rookies” num ano não é normal. Porém, a FIA quis premiar a época de Alexander Albon, dividida entre a Toro Rosso e a Red Bull, enquanto que os adeptos entenderam de outra forma e decidiram escolher Lando Norris, piloto da McLaren Renault. O que importa saber é, afinal, qual deles merece ser o “Rookie do Ano” e quem tem razão, a FIA ou os adeptos. Convirá dizer que em 2019 tivemos três “rookies”: Alexander Albon, Lando Norris e George Russell. Curiosamente, este último, nascido há 21 anos no Reino Unido, ganhou em 2017 a GP3 e em 2018 a F2, mas apesar de ser um protegido da Mercedes, não conseguiu mais que um lugar na Williams.
Não marcou um único ponto é verdade, mas dominou, sem problemas, a oposição de Robert Kubica, e aqui e ali tentou dar nas vistas com um carro medíocre.
Não entrou nas contas para a eleição para “Rookie do Ano”, mas dos três é capaz de ser o mais talentoso e aquele que merecia uma oportunidade como a de Albon. Não aconteceu, para o ano continuará na Williams e dificilmente dará nas vistas em 2020. Olhemos, então, aos argumentos de cada eleição, começando com a escolha da FIA e depois dos adeptos.
FIA ESCOLHE ALEXANDER ALBON
Terão sido os 12 meses mais importantes da vida de Alexander Albon, o piloto tailandês nascido em Londres. Acabou a temporada de F2 atrás de George Russell e Lando Norris e aterrou no banco da Toro Rosso no lugar de Brendon Hartley. Logo ele que tinha sido atirado pela janela depois de apenas um ano com o Red Bull Junior Program em 2012. Estava a caminho da Fórmula E quando Helmut Marko, sem pilotos na incubadora da Red Bull, teve de fazer um esforço de memória para recordar o talento de Albon e um ato de contrição, uma cambalhota já habitual por parte do veterano austríaco.
Na época, Franz Tost, responsável da Toro Rosso, referiu: “O Alexander teve uma impressionante temporada de 2018 na F2, ganhou quatro corridas e fechou a competição no terceiro lugar. A forma como ele foi capaz de ultrapassar muitos dos seus rivais mostra que ele já maturou e está pronto para competir na Fórmula 1. Por isso, estamos muito ansiosos para o começo da temporada com dois jovens, muito velozes e competitivos.” O tailandês dizia: “Trabalhei muito e tentei impressionar sempre que me sentava no carro e por isso tenho de agradecer de forma penhorada à Red Bull e ao Dr. Helmut Marko, por acreditarem em mim e me oferecerem esta segunda chance.”
E então, o que fez Alexander Albon nesta temporada de 2019? Primeiro há que lembrar que o piloto nunca tinha pilotado um carro de Fórmula 1 quando foi recrutado pela Red Bull para a Toro Rosso. Mas Albon chegou a Barcelona e deixou claro que estava ali para agarrar com as duas mãos a oportunidade. Impressionou na pista catalã e mal se iniciou o campeonato começou a fazer pressão sobre Pierre Gasly. Como? Sabendo-se da instabilidade típica de Helmut Marko e da forma como Max Verstappen “mastiga” os colegas de equipa, Albon deu indicações de estar pronto para substituir o francês.
Abriu as hostilidades com um nono lugar, seguindo-se um 10º posto na China e um oitavo lugar no Mónaco. Na Alemanha aproveitou o descalabro da maioria e recolheu um sexto lugar, chegando à Hungria com mais um 10º lugar. Os problemas do STR14 custaram-lhe sete corridas sem pontos.
Pierre Gasly, com outros meios, não fez aquilo que a Red Bull esperava e numa das famosas alterações a meio do jogo, Helmut Marko devolveu Gasly à Toro Rosso e promoveu Alexander Albon à Red Bull, ao lado de Max Verstappen. A aventura começou no GP da Bélgica.
Não conseguiu nenhum pódio – Lewis Hamilton “roubou-lhe” um segundo lugar no Brasil ao acertar-lhe na traseira do RB15 e enviando-o para um pião – mas recolheu 92 pontos (16 com a Toro Rosso) e assinou exibições que foram elogiadas por todos. O que foi suficiente para que a Red Bull tivesse prolongado o seu vínculo com a equipa principal ao lado de Max Verstappen em 2020.
Contas feitas, o piloto tailandês cumpriu 21 corridas com duas equipas (Toro Rosso e Red Bull), conheceu dois colegas de equipa (Daniil Kvyat e Max erstappen), fez 1.245 voltas, abandonou apenas uma vez e completou 6.305 km de prova. Não conseguiu nenhum pódio nem nenhuma vitória ou volta mais rápida. A melhor classificação foi um 4º lugar (Japão), marcando 4,38 pontos, em média, por prova, ou seja, uma média de finalização de 8º. Por tudo isto, o jovem piloto recebeu da FIA o título de “Rookie do Ano”, com o troféu a chegar-lhe às mãos na Gala dos Campeões da Federação Internacional do Automóvel.
ADEPTOS ESCOLHEM LANDO NORRIS
A FIA colocou os três “rookies” em liça para que os adeptos da Fórmula 1 escolhessem qual era, para eles, o melhor estreante de 2020. E, contas feitas, foram apurados 86.922 votos, com Lando Norris a recolher 66.240 votos (76%), seguido de Alex Albon com 13.582 votos (16%) e George Russell com 7.100 votos (8%). Lando Norris é um menino – deixou de ser adolescente em novembro – que conheceu uma ascensão facilitada pelo facto do seu pai ser Adam Norris, o 501º homem mais rico do Reino Unido. A sua paixão começou pelas duas rodas. Mas a preocupação dos familiares com os perigos das corridas de motos, levou o pai a proporcionar-lhe uma visita com o seu irmão a uma corrida de karting. O “vírus” infetou de forma definitiva o jovem Lando que aos sete anos começou a sua carreira e logo com uma pole position!
Foi campeão do Mundo de Karting – por acaso o mais jovem campeão do Mundo – e depois apareceu num campeonato de suporte ao BTCC, o Ginetta Junior Championship, onde foi “Rookie do Ano” e terminou em terceiro. No campeonato MSA Formula Series esmagou a concorrência: oito vitórias, 10 pole positions e 14 pódios expressaram a sua superioridade, tendo participado de forma episódica nos campeonatos alemão e italiano de F4. Fez oito corridas com a Mucke Motorsport e ainda recolheu seis pódios. Foi até à Nova Zelândia ganhar, na estreia, o Toyota Racing Series com seis vitórias, regressando à Europa para a Fórmula Renault Eurocup e NEC, ganhando ambas as competições. Ganhou o título europeu de Fórmula 3 em 2017 e foi segundo classificado, atrás de George Russell e após uma luta intensa, na GP2 em 2018.
Mas o passo principal da sua carreira aconteceu em 2017 quando foi escolhido para a equipa júnior da McLaren no mês de fevereiro, sentando-se pela primeira vez num Fórmula 1 em agosto desse ano. Deixou toda a gente de olhar à banda com o segundo melhor tempo do segundo dia de testes. Novembro assinalou a entrada, oficial, de Lando Norris na Fórmula 1 como piloto de testes e de reserva e perante a péssima época de Stoffel Vandoorne, não espantou ninguém que Zak Brown o tenha escolhido para acompanhar Carlos Sainz Jr. na formação de Woking em 2019.
O britânico participou ao volante do McLaren Renault em 21 corridas nas quais recolheu 49 pontos em 11 (Bahrain Azerbaijão, França, Áustria, Hungria, Itália, Singapura, Rússia, EUA, Brasil e Abu Dhabi). O seu melhor resultado foram dois 6ºs lugares (Bahrain e Áustria). Estes 49 pontos significam 2,33 pontos por corrida, ou seja, uma média de finalização de 9º lugar. Conheceu apenas seis abandonos (China, Espanha, Canadá, Alemanha, Bélgica e México) em 2019 e completou 1.102 voltas e 5.657 quilómetros de prova. A melhor qualificação foram dois 5ºs lugares (França e Áustria).
AFINAL, QUEM MERECE SER O “ROOKIE DO ANO”?
Olhando apenas aos resultados obtidos, a entrega do título a Alexander Albon é justa, pois o tailandês fez uma excelente época e teve como bónus um RB15 Honda para as últimas nove corridas da temporada. Deu mostras de talento, mas com um Red Bull teria de ter feito um pouco mais. Por isso mesmo, entendo que a escolha dos adeptos é a mais correta, olhando aos resultados e ao material à disposição do britânico, bem diferente do que tinha nas mãos o tailandês. O “sofrimento” de Norris, ainda por cima em luta com um Carlos Sainz inspirado, foi maior – Max Verstappen é de outro nível e Albon não tinha de disputar nada com ele, Kvyat é mais fraco que Sainz – e o McLaren MCL34 Renault não tem nada a ver com o Red Bull RB15 Honda.
Por isso, contas feitas, o título de “Rookie do Ano” deveria ser entregue a Lando Norris e o infortunado George Russell deveria ter ficado mais perto. O que ele
fez com o Williams não é para todos e se Robert Kubica marcou um ponto, deve-o à sorte de ver dois carros serem desclassificados à sua frente