Ricciardo faz bem à F1

Por a 17 Abril 2018 11:15

Se ouvirmos com atenção as queixas de quem afirma que a F1 da actualidade não tem a qualidade do passado, vamos inevitavelmente ouvir um comentário em relação aos pilotos. Os pilotos do passado eram mais carismáticos, talvez mais genuínos e com um aura de “bad boys”. Hoje em dia isso não a acontece e temos infelizmente frases feitas e comportamentos pré-programados. Não é um problema exclusivo da F1, pois os atletas de alta competição representam marcas que pagam bem e exigem um certo tipo de comportamento.

E a F1 é, ainda assim, um desporto onde podemos ver que os pilotos ainda têm alguma liberdade para fazer o que entendem. Kimi acha que sorrir é algo que só deve ser feito em ocasiões muito especiais, Hamilton faz questão de mostrar o seu conceito de moda e temos Ricciardo que é… Ricciardo.

O australiano é uma pedrada no charco e um pontapé no marasmo que as vezes a F1 parece insistir em manter. É o animador de serviço e aquele tipo que gostaríamos de levar a beber um copo com os amigos, sabendo de antemão que os riscos da noite não ser sossegada eram elevados. Ricciardo tem uma postura muito própria de quem está a cumprir o sonho para o qual trabalhou e quer aproveitar ao máximo. A forma como interage com a grande maioria poderia fazer dele uma espécie de bobo querido por todos mas pouco respeitado, no entanto consegue o equilíbrio com prestações fantásticas em pista, como a última na China. Ao volante de um F1, Ricciardo é duro, mas leal, arrisca sempre pela certa, dá o espaço necessário, não faz manobras mais sujas. Um osso duro de roer.

Começou a competir nos karts, seguindo as pisadas do herói Senna e passado poucos anos passou para a Formula Ford onde competiu sempre com carros pouco competitivos, não conseguindo grandes resultados mas conquistando o respeito dos que seguiam a modalidade. No ano seguinte passou para a Fórmula BMW asiática onde começou a dar nas vistas.  Nesse ano também fez uma prova na Formula BMW britânica,  onde conseguiu 3 pontos. No final desse ano participou na BMW World Final onde foi 5º (um tal de Vietoris foi o vencedor).

Em 2007 o australiano mudou-se para o campeonato italiano de Formula Renault mas apenas conseguiu um pódio na série italiana, num ano não muito positivo. Em 2008 manteve a aposta e foi campeão de Formula Renault na taça” West European” e segundo na Eurocup atrás de Valtteri Bottas.

Em 2008 também fez a estreia na Formula 3, competindo em Nurburgring e foi na Formula 3 britânica que competiu em 2009, onde se sagrou campeão. Estreou-se na Formula Renault 3.5 nesse ano fazendo duas corridas preparando o ano seguinte, em que correu a tempo inteiro na categoria, ficando em 2º lugar atrás de Aleshin por apenas 2 pontos.

2009 marcou o início do sonho. Estreou-se ao volante de um F1 em Jérez com a Red Bull, num teste para jovens pilotos e foi o mais rápido dos 3 dias. Nesse ano passou a ser piloto de testes e de reserva, juntamente com Brendon Hartley, ficando com esse papel novamente em 2011 na Toro Rosso. Fez inesperadamente a 2ª metade da época pela HRT ( pago pela Red Bull), ocupando o lugar de Karthikeyan até ao final da época.

Em 2012 passou a ser piloto Toro Rosso, juntamente com Jean Eric Vergne. A dupla da STR era de qualidade, com ambos os jovens a mostrarem muito potencial. Naquela altura  Vergne tinha mais potencial que Ricciardo. A  forma como o francês se evidenciava em pista molhada era clara mas  Ricciardo era muito mais consistente. Em 2014, o carismático Webber saiu da F1 e a equipa teve de tomar uma decisão… Ricciardo foi o escolhido. Para a grande maioria a Red Bull tinha acabado de substituir um australiano com o papel de nº2 para colocar lá outro australiano com a mesma missão, sem nunca incomodar Vettel que era rei e senhor.

 

Nada mais errado. Ricciardo entrou e revolucionou o paradigma da equipa. Mostrou estar ao nível de Vettel e suplantou-o várias vezes no seu primeiro ano de Red Bull. Fez aquilo que nunca ninguém imaginou… encostou Vettel a um canto, foi a estrela da equipa em 2014 e a ultrapassagem a Vettel em Monza foi o retrato fiel do que foi a época na Red Bull. Vettel perdeu o protagonismo e achou que era a altura ideal para sair e Ricciardo assumiu-se como número 1. Teve ainda a concorrência de Kvyat que depois do caso do “tropedo” nunca mais foi o mesmo e agora Max Verstappen. O holandês é claramente possuidor de  um talento fora do normal mas Ricciardo tem mantido a regularidade e tem sido sempre ele a liderar o caminho dos Bulls.

Se há pilotos que são exímios na arte de bem defender, Ricciardo é um dos melhores a atacar e ultrapassar em sítios que outros nem sequer imaginam. É considerado por muito o melhor piloto a atacar e Alonso disse que era o melhor piloto da actualidade (em 2016). Já o vimos passar carros de todas as maneiras sempre no limite mas nunca indo além desse limite. A ultrapassagem a Bottas no último fim de semana é uma ultrapassagem típica de Ricciardo… arriscada, no limite mas sempre bem executada.

Ricciardo tem agora de decidir para que equipa quer ir e tem legítimas ambições de se sentar num carro capaz de lutar pelo título. Para qualquer equipa Ricciardo seria uma opção certa. O potencial de marketing e do piloto em pista estão acima de qualquer dúvida. A sua postura bem disposta encaixa-se melhor na Red Bull que depois dos anos mais sisudos das vitórias consecutivas redescobriu com o australiano a irreverência que a definiu no início.  Seja qual for a decisão que Ricciardo tomar, a certeza de que estará na F1 deveria alegrar qualquer fã de F1.

 

 

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