Quando Michael Schumacher foi Campeão pela primeira vez: 30 anos é muito tempo

Por a 21 Março 2024 10:43

Passam 30 anos desde que a 13 de novembro de 1994, Michael Schumacher conquistou o seu primeiro título de campeão do Mundo de F1. Até deixar a F1, assinou ainda mais outros seis títulos, que o colocam na Galeria de Ouro da competição. Todavia, nenhum dos outros foi tão polémico e contestado com o primeiro. Afinal, é como o amor – não há como o primeiro. Recordemos então o caminho que Schumacher teve que trilhar durante 16 provas, até ser Campeão do Mundo – nessa altura, o mais jovem de sempre, com 25 anos.

FOTOS WRI/Jean François Galeron

GP DA AUSTRÁLIA: A prova da infâmia

Schumacher chegou a Melbourne na frente do campeonato, com um ponto de vantagem sobre Hill. Para ser campeão do Mundo pela 1ª vez, bastava-lhe controlar o andamento de Hill, ficando sempre na sua frente. E foi isso que fez: liderou sem problemas, até se desconcentrar com a recuperação do seu rival e, na volta 36, sair de pista e acertar com as rodas do lado direito no muro. Regressou ao asfalto mesmo na frente de Hill e, quando este, na curva seguinte, o procurou passar, não hesitou, atirando o seu Benetton contra o Williams, sendo catapultado no ar de forma espetacular e aterrando sobre as rodas. Schumacher ficou logo ali, mas viu Hill continuar. Porém, este tinha danos irreparáveis na suspensão direita esquerda, abandonando, desalentado, nas boxes. Com esta manobra, Schumacher garantiu assim o primeiro dos seus sete títulos na F1. Os comissários decidiram não o penalizar por uma manobra visivelmente propositada e agressiva.

Três anos mais tarde, tentou fazer semelhante coisa a Jacques Villeneuve, em Jerez, palco do GP da Europa, que encerrava então o campeonato (e onde chegou exatamente nas mesmas condições que na Austrália, com 78 pontos, mais um que o canadiano!), mas o tiro saiu-lhe então pela culatra, abandonando no ato. No final do ano, foi mesmo castigado pela FIA, que lhe retirou os pontos conquistados no ano, desclassificando-o do Mundial. Uma nódoa grave num palmarés luxuoso…

Pódio: 1º Mansell; 2º Berger; 3º Brundle

O RAIO-X do primeiro título

A temporada de 1994 teve 16 Grandes Prémios, entre 27 de março e 13 de novembro. Começou no Brasil e encerrou na Austrália. Michael Schumacher venceu 8 GP, quatro deles consecutivos – precisamente os quatro primeiros. Só terminou mais outros dois, mas ambos no 2º lugar do pódio. E, além disso, foi desclassificado por outras duas vezes (Grã-Bretanha e Bélgica).

GP BRASIL (27 de março)

Ayrton Senna, fez a ‘pole’, com o Williams, na frente de Schumacher e de Alesi e tomou o comando na largada. Schumacher subiu a 2º, depois de passar Alesi, na 2ª volta e iniciou-se então um duelo à distância entre os dois pilotos. Na 21ª volta, Schumacher foi primeiro às boxes, foi o mais rápido e voltou à pista na frente. 14 voltas mais tarde, houve um acidente grave, provocado por Irvine e que terminou com Verstappen a capotar várias vezes. A poucas voltas do fim, Senna estava ao ataque, a apenas 5s de Schumacher, quando fez um pião e deixou ‘morrer’ o motor, abandonando.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Hill; 3º Alesi

GP PACÍFICO (17 de abril)

Nova ‘pole’ de Senna. Na largada, Schumacher foi o mais rápido e deixou para trás Senna, Hakkinen e Hill. Hakkinen tentou passar Senna, mas acertou na traseira do Williams, o que levou Senna fazer um pião, sendo então embatido por Nicola Larini, que tinha substituído Alesi na Ferrari, após este ter um acidente em testes, em que magoou o pescoço. Ambos desistiram no local. Com tudo isto, Schumacher foi-se embora e venceu com mais de 1m15s sobre Berger e uma volta sobre Rubens Barrichello.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Berger; 3º Barrichello

GP SAN MARINO (1 de maio)

Corrida trágica: acidente grave de Barrichello nos treinos de sexta-feira; morte de Ratzenberger na qualificação de sábado; e de Senna, na corrida, quando estava na frente, após mais uma ‘pole’. Mas a corrida tinha sido neutralizada com o ‘safety car’ após um acidente na largada, entre Lamy e JJ Lehto, cujos destroços feriram espetadores na bancada. Schumacher ficou no comando após o acidente de Senna e antes de a corrida ser parada. No reatar, Berger assumiu o comando, mas ficou aí o rouco tempo, pois Schumacher recuperou-o e não mais saiu daí, vencendo com grande vantagem. Durante a corrida, uma roda saltou do Minardi de Alboreto, nas boxes e feriu um mecânico da Ferrari.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Larini; 3º Hakkinen

GP MÓNACO (15 de maio)

Acidente grave de Karl Wendlinger nos treinos livres de quinta-feira, que ficou em coma durante três semanas, com lesões cerebrais, mas sobreviveu. Schumacher conquistou a sua primeira ‘pole’ na F1 e, na corrida, depois de Huill e Hakkinen se terem eliminado logo na primeira volta, o alemão não teve grandes dificuldades em carimbar a sua 4ª vitória consecutiva, uma vez mais com grande vantagem sobre os restantes.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Brundle; 3º Berger

GP ESPANHA (29 de maio)

Entre as corridas do Mónaco e de Espanha, Lamy sofreu um sério acidente, quando testava o Lotus em Silverstone, ficando com severas fraturas nos membros inferiores e superiores, que o arredaram das pistas durante mais de um ano. Na qualificação foi a vez de Montermini assustar, ao bater forte e quebrar ambos os tornozelos – era o sexto acidente grave em menos de um mês na F1! Schumacher fez de novo a ‘pole’ e foi para a frente da corrida na partida, mas depressa começou a ter problemas com a caixa de velocidades, ficando apenas com a quinta. Nas boxes, conseguiu parar sem deixar o motor ir abaixo e regressou à corrida, conseguindo terminá-la em 2º!

Pódio: 1º Hill; 2º Schumacher; 3º Blundell

GP CANADÁ (12 de junho)

Nova ‘pole’ de Schumacher, na frente de Alesi e, na prova, foi o único líder, desde a largada. Foi a quinta vitória de Schumacher, conseguida na frente do seu principal rival, Hill, ficando ambos separados por 33 pontos (56 contra 23). Érik Comas tornou-se no primeiro piloto a ser penalizado por exceder a velocidade no ‘pit lane’, uma das novas medidas de segurança implantadas na sequência do fim-de-semana de Imola. Hill foi 2º depois de lutas acesas com Coulthard, o substituto de Senna na Williams e, mais tarde, com Berger.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Hill; 3º Alesi

GP FRANÇA (3 de julho)

Sétima prova do Mundial, sexto triunfo de Schumacher. Nos treinos, o alemão foi apenas 3º, atrás de Hill e de Mansell, que voltou à F1 e à Williams. Na largada, foi Schumacher quem reagiu melhor e passou de uma assentada os dois Williams, instalando-se definitivamente na frente. Hill foi 2º e Mansell, que seguiu o seu compatriota até às paragens nas boxes, acabou por abandonar com problemas na caixa de velocidades, quando era de novo 3º, após recuperar dois lugares nas voltas anteriores. A diferença entre ‘Schumi’ e Hill aumentou para 37 pontos, a maior do ano.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Hill; 3º Berger

GP GRÃ-BRETANHA (10 de julho)

Hill conquistou a ‘pole’ no ‘seu’ GP e frente ao seu público. Schumacher ficou em 2º e Berger em 3º. Na volta de formação, o alemão passou Hill, manobra proibida pelos regulamentos. A primeira largada foi abortada quando Coulthard, que voltou à Williams, deixou o motor ir abaixo na grelha. Na segunda partida, que se manteve apesar do motor do carro de Brundle explodir em chamas de forma espetacular, Hill arrancou melhor, na frente de Schumacher, ficando juntos até o alemão receber a primeira penalização de 5s por ter passado o britânico na volta de formação. A equipa apelou e, mais tarde, recebeu uma segunda penalização de 5s, pela mesma manobra e por a equipa ter apelado da decisão anterior. A Benetton ignorou a ordem, porque tinha apelado e Schumacher continuou em pista, em 2º lugar, até receber a bandeira preta, que o desclassificou de imediato, entrando nas boxes diretamente. Hill ganhou e a diferença entre os dois pilotos começou a descer.

Pódio: 1º Hill; 2º Alesi; 3º Hakkinen

GP ALEMANHA (31 de julho)

Início da segunda metade da temporada. Berger fez a ‘pole’, com Alesi em 2º e Schumacher foi 4º, atrás de Hill, que foi 3º. Na largada, depois de Zanardi e De Cesaris terem batido ainda antes da primeira curva, levando consigo Alboreto e Martini, nesta ficaram mais alguns carros, logo na primeira curva, ficaram mais seis carros, quando Hakkinen acertou em Coulthard e este foi embatido por Herbert, provocando mais choques em cadeia, mas a prova não foi parada. Na primeira chicane, foi a vez de Alesi ter problemas, causando a confusão atrás de si, mas sem embates, abandonando de seguida nas boxes. Schumacher ainda tentou ir atrás de Berger, que estava na frente desde a partida, mas desistiu com problemas de motor – a primeira do ano. Hill também não pontuou, pois foi 8º.

Pódio: 1º Berger; 2º Panis; 3º Bernard

GP HUNGRIA (14 de agosto)

Nono GP do ano, mais uma vitória de Schumacher, que fez a ‘pole’ e dominou a seu bel-prazer, cortando a meta com uma vantagem de quase 21s sobre Hill. A diferença entre ambos subiu de 27 para 31 pontos. A prova ficou marcada por uma colisão entre Irvine e Barrichello, a primeira volta, que arrastou também Katayama. Hakkinen não correu, pois foi castigado com duas provas de suspensão, pelo acidente de Hockenheim e por ter chocado com Barrichello em Silverstone (esta com pena suspensa), sendo substituído por Alliot, que desistiu cedo com problemas mecânicos, após ser apenas 14º nos treinos.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Hill; 3º Verstappen

GP BÉLGICA (28 de agosto)

Com a pista alterada na Eau Rouge, onde foi posta uma chicane (!), felizmente apenas desenhada com tinta (/desapareceu em 1995), Barrichello assinou uma ‘pole’ surpresa, batendo Schumacher (2º) e Hill (3º). Na largada, o alemão tomou o comando, na frente de Alesi e Barrichello, que depressa foi batido por Hill, que se instalou em 3º lugar. Alesi abandonou com o motor partido na 2ª volta e, depois das primeiras paragens nas boxes, Schumacher liderava a corrida, com Barrichello, Coulthard e Hill logo atrás. Na 19ª volta, Schumacher fez um pião de 360º em Pouhon, mas não perdeu o comando, que manteve até receber a bandeira de xadrez. Mais tarde, foi desclassificado, porque o fundo plano do Benetton, feito em madeira, estava mais fino, diminuindo a altura do carro ao solo, com alegadas vantagens aerodinâmicas, o que não era permitido pelo regulamento. A equipa ainda tentou provar que esse desgaste tinha sido feito durante o pião, a passar sobre o limitador da pista, mas em vão… Hill herdou o triunfo e ficou a apenas 21 pontos de Schumacher.

Pódio: 1º Hill; 2º Hakkinen; 3º Verstappen

GP ITÁLIA (11 de setembro)

Schumacher não alinhou, pois foi castigado com duas corridas de suspensão, ainda por causa do que sucedeu no GP da Grã-Bretanha e foi substituído por JJ Lehto. A corrida italiana chegou a ser cancelada a 12 de agosto, porque os responsáveis pelo Parco di Monza se recusaram a abater 123 árvores na zona da dupla curva de Lesmo, onde não existiam zonas de escapatória dignas desse nome. Uma reunião urgente com Max Mosley resolveu o impasse e a prova teve lugar. Nos treinos, os dois Ferrari foram os mais rápidos, com Alesi a bater Berger. A prova foi interrompida logo na primeira volta, depois de um acidente quando Irvine bateu em Herbert e este fez um pião, espalhando a confusão atrás de si. Na segunda largada, Alesi saltou para o comando, na frente de Berger, Hill e Coulthard. O francês desistiu na 14ª volta, com problemas na caixa de velocidades e, na sua paragem nas boxes, Berger foi bloqueado por outro carro, deixando ‘morrer’ o motor e perdendo mais de 10s, caindo para 3º, atrás de Hill e Coulthard, que ficou na frente ao sair das boxes. Quinze voltas mais tarde, Hill conseguiu passar o seu compatriota e venceu a prova. Ausente, Schumacher perdeu mais dez pontos.

Pódio: 1º Hill; 2º Berger; 3º Hakkinen

GP PORTUGAL (25 de setembro)

Schumacher continuou de fora, a cumprir o castigo e, apesar de Berger ter feito a ‘pole’, a corrida acabou dominada pelos dois Williams, com Hill a conquistar a sua quinta vitória do ano, na frente de Coulthard, que liderou até ser tapado por Comas, o que o obrigou a sair da pista, ocasião então aproveitada por Hill para assumir em definitivo o comando. A diferença entre Schumacher e Hill ficou reduzida a um escasso ponto, com três corridas ainda por realizar. Os dois Ferrari duraram pouco, com Berger a abandonar cedo, quando liderava, com a caixa de velocidades partida e Alsi a envolver-se numa colisão quando dobrava David Brabham.

Pódio: 1º Hill; 2º Coulthard; 3º Hakkinen

GP EUROPA (16 de outubro)

Mansell voltou à Williams, no lugar de Coulthard, para as últimas três corridas. Schumacher fez a ‘pole’, mas o líder, até às primeiras paragens nas boxes, foi Hill. Schumacher assumiu o comando nas voltas seguintes, deixou-o de novo para Hill, enquanto foi outra vez às boxes e, na parte final, foi ele quem esteve na frente, vencendo com autoridade. Mas, com Hill em 2º, a sua vantagem cresceu comente para cinco pontos.

Pódio: 1º Schumacher; 2º Hill; 3º Hakkinen

GP JAPÃO (6 de novembro)

Em Suzuka, as coisas inverteram-se e Hill venceu na frete de Schumacher, fazendo regressar a diferença entre ambos a um ponto, com a vantagem ainda e sempre do alemão. A corrida começou com chuva ligeira, que depois de tornou torrencial e foi parada à volta 14, após Morbidelli e Brundle se terem despistado no mesmo local, em duas voltas separados (os mesmos ‘S’ em que Sutil e Bianchi se despistaram este ano!) e os destroços de um dos carros ter fraturado uma perna de um comissário. Schumacher estava então na frente, com 5,8s de avanço. Cerca de uma hora mais tarde, a corrida recomeçou e Hill esteve sempre na frente, embora a certa altura tenha sido passado por Schumacher no agregado de tempo das duas ‘mangas’. Porém, quando o alemão teve que parar de novo nas boxes, para trocar de pneus, Hill ficou descansado, cruzando a meta com 10,1s de avanço para Schumacher, o que quis dizer que foi ele o vencedor, com 3,3s de vantagem na soma das duas partes. Foi a última vez que uma prova foi assim decidida.

Pódio: 1º Hill; 2º Schumacher; 3º Alesi

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1 Comentário
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Pit Stop
Pit Stop
9 meses atrás

Schumacher ficou logo ali, mas viu Hill continuar. Porém, este tinha danos irreparáveis na suspensão direita esquerda…..
Era melhor dianteira esquerda..

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