Cofundador da Williams Grand Prix Engineering, Patrick Head foi um inovador incansável cujos feitos ao serviço do desporto motorizado acabam de ser reconhecidos pela Rainha de Inglaterra com o título de cavaleiro da Ordem do Império. Responsável por alguns dos monolugares mais dominadores da Fórmula 1, o britânico inspirou muitos dos engenheiros da modalidade.
André Bettencourt Rodrigues
A consideração de Frank Williams por Patrick Head era de tal forma elevada que o fundador da equipa com o mesmo nome encheu-se de elogios assim que soube que o amigo tinha sido nomeado ‘Sir’ pela Rainha de Inglaterra: “O meu nome pode estar em cima da porta, mas sempre sublinhei que a criação e o subsequente sucesso da Williams foi um esforço de equipa. O meu cofundador Patrick Head foi o génio do design que transformou a nossa pequena estrutura numa força vencedora de campeonatos do mundo”, referiu.
ENORME TALENTO
Entre 1977 e 2011, ano da saída oficial de Patrick Head como diretor técnico da Williams (a família Williams deixou o controlo da equipa em 2020), a parceria entre ambos traduziu-se em sete títulos de pilotos e nove de construtores – números que fazem desta dupla uma das mais famosas e laureadas da história da Fórmula 1, até pelos 113 triunfos festejados em conjunto. “O seu talento na engenharia mecânica teve um papel fundamental para que o Reino Unido se estabelecesse como uma potência global no desporto motorizado e os benefícios que daí decorreram ainda hoje são sentidos, culturalmente e economicamente”, acrescentou Frank Williams sobre o parceiro de uma vida. “Este prémio é sobejamente merecido pela sua contribuição para a engenharia e automobilismo britânicos”, concluiu.
Os automóveis sempre fizeram parte da vida de Patrick Head. O pai, Michael, correu na década de 1950 com modelos desportivos da Jaguar. Por isso, não é de estranhar a sua apetência pelo mundo das corridas. A educação passou pelo Wellington College, uma das escolas públicas mais famosas de Inglaterra, onde também estudaram um certo James Hunt e o antigo engenheiro da Lotus Peter Wright – embora os três tenham surpreendentemente admitido que nunca se cruzaram durante esse período.
Patrick tentou depois uma carreira na marinha britânica, mas cedo percebeu que não estava talhado para a vida no mar. Seguiu então para a universidade, primeiro em Birmigham depois no Technical College de Bournemouth, acabando por concluir a formação em engenharia mecânica num curso à distância da Universidade de Londres, em 1970. O primeiro emprego? Na Lola Cars, na companhia de outro jovem e ambicioso designer – John Barnard, o tal que revitalizou a Ferrari e deu corpo, junto de Ross Brawn, Jean Todt e Michael Schumacher, a um dos períodos de maior domínio da marca italiana na Fórmula 1.
LUGAR DE DESTAQUE
Em 1972, após dois anos na Lola, Patrick decidiu montar o seu próprio negócio como preparador de motores da SuperVee. Foi aí que conheceu Michael Cane, que mais tarde seria manager da Williams, com ambos a trabalharem juntos na construção do Fórmula 2 da Scott. Infelizmente para ele, a situação financeira da equipa foi-se degradando antes de o carro provar o seu potencial e o negócio de preparação de motores teve de ser encerrado quando as oficinas foram destruídas num incêndio. O britânico foi então trabalhar com Ron Tauranac, que tinha vendido a Brabham F1 Team a Bernie Ecclestone e estava agora a construir carros da Trojan para a Formula 5000. Head desenhou-os, incluindo o Fórmula 1 da Trojan que correu em seis Grandes Prémios de 1974, com Tim Schenken ao volante. Mas a falta de sucesso do carro fez com que perdesse o ‘apetite’ pelo desporto.
Desencantado, o inglês passou dois anos a alimentar outra das suas paixões, os barcos, construindo o seu próprio veleiro. Até que, em 1976, Frank Williams convence-o a regressar à competição e à Fórmula 1, propondo-lhe o lugar de engenheiro-chefe da Frank Williams (Racing Cars) Ltd. Submersa em dificuldades financeiras, a equipa seria pouco depois comprada pelo magnata austríaco do petróleo Walter Wolf, com este a nomear Harvey Postlethwaite como projetista-chefe. Patrick manteve-se na estrutura, mas no final de 1976 saiu para, em conjunto com Frank Williams, fundarem a Williams Grand Prix Engineering (hoje Williams F1 Team) – ‘Sir’ Frank com 70% da sociedade e o agora ‘Sir’ Patrick com os outros 30%.
Numa primeira fase, a equipa correu com um March desatualizado, inscrito para o piloto belga Patrick Neve. Mas, ao longo de 1977, Frank Williams ‘sacou da cartola’ o hoje famoso contrato de patrocínio com a Saudia Airlines. Tal permitiu a Head e ao seu assistente, Neil Oatley, desenharem o Williams FW06 – o primeiro de uma série de grandes monolugares. O carro saiu-se bem com Alan Jones ao volante, mas seria o FW07 do ano seguinte, criado em função do conceito de efeito de solo, a estabelecer a equipa como uma das operações de topo da Fórmula 1: não só deu a Frank Williams a sua primeira vitória, em Silverstone, com Clay Regazzoni ao volante, como lhe permitiu festejar os títulos de pilotos e construtores de 1980, com o mérito de Alan Jones. Motivos mais do que suficientes para que Head ganhasse para sempre um lugar de destaque na vida Frank Wiliams.
IMPOSSÍVEL DE ESQUECER
Seguiram-se mais títulos em 1981 (construtores) e 1982 (pilotos, com Keke Rosberg), numa fase em que a Fórmula 1 entra numa nova fase – a era dos motores turbo. O sucesso trouxe o apoio da Honda, decisivo para mais três campeonatos (dois de construtores e um de pilotos) em 1986 e 1987, ao mesmo tempo que Head assumia o cargo de diretor técnico da Williams e controlava as operações da estrutura enquanto ‘Sir’ Frank recuperava do acidente que o deixou paraplégico. O império expandiu-se desde então, com o período de maior domínio a situar-se entre 1991 e 1997 – altura em que a Williams, com a ajuda da Renault e de Adrien Newey, venceu 59 corridas, quatro títulos de pilotos e seis de construtores. Mas a entrada no novo milénio foi madrasta para a equipa, e a ausência de troféus acabaria por contribuir para que, em 2011, optasse, finalmente, por deixar a liderança da equipa.
Ao longo dos 37 anos em que esteve diretamente envolvido na Fórmula 1, Patrick Head supervisionou a carreira de muitos dos engenheiros de sucesso da Fórmula 1. Neil Oatley, Ross Brawn, John Barnard e Adrian Newey são alguns deles e com todos demonstrou ter capacidade para fazer compromissos de modo a que a equipa triunfasse. O seu pragmatismo era uma das suas maiores qualidades, optando muitas vezes por delegar a aerodinâmica em jovens e inovadores projetistas enquanto assumia os aspetos mecânicos do carro e a supervisão de todo o projeto.
Mas tal não significa que tenha sido menos inovador: o FW 08B, impossível de cair no esquecimento pelas seis rodas (duas à frente e quatro atrás repartidas por dois eixos traseiros) que possuía e pela transmissão de variação contínua, em substituição da caixa de velocidades convencional, que permitia que o motor mantivesse o regime ideal ao longo de cada volta, só não correu em 1982 porque as outras equipas não o permitiram. Preocupados com o tempo que necessitariam para desenvolver os seus próprios sistemas, os rivais pressionaram a FIA para abolir a tecnologia.
“O meu nome pode estar em cima da porta, mas sempre sublinhei que a criação e o subsequente sucesso da Williams foi um esforço de equipa. O meu cofundador Patrick Head foi o génio do design que transformou a nossa pequena
estrutura numa força vencedora de campeonatos do mundo”
de 1950 com modelos desportivos da Jaguar.
Por isso, não é de estranhar
a sua apetência pelo mundo das corridas.
Ao longo dos 37 anos
em que esteve diretamente envolvido
na Fórmula 1 supervisionou
a carreira
de muitos dos engenheiros
de sucesso da Fórmula 1.
Neil Oatley, Ross Brawn, John Barnard e Adrian Newey são alguns deles
e com todos demonstrou ter capacidade para fazer compromissos de modo
a que a equipa triunfasse.
Patrick Head e Frank Williams venceram 16 títulos e trabalharam com alguns dos melhores pilotos do mundo. Ayrton Senna e Nigel Mansell foram alguns deles, com todos a contribuírem para o mítico estatuto que hoje acompanha a equipa